sábado, 31 de março de 2012

Jornalista Amaury Ribeiro Jr., autor de "Privataria tucana" é indiciado por 4 crimes pela Polícia Federal

O jornalista Amaury Ribeiro Júnior foi indiciado nesta segunda, 25, pela Polícia Federal por quatro crimes: violação de sigilo fiscal, corrupção ativa, uso de documentos falsos e por dar ou oferecer dinheiro ou vantagem à testemunha. Amaury prestou depoimento na superintendência da Polícia Federal em Brasília, das 10h30 às 17h de hoje, ao delegado Hugo Uruguai, que comanda investigação sobre a violação do sigilo fiscal de vários dirigentes do PSDB e de pessoas ligadas aos tucanos, entre eles, Verônica Serra, filha do candidato à presidência da República, José Serra.
O jornalista é suspeito de ter encomendado e pago a terceiros pela invasão desse sigilo em computadores da Receita Federal. Amaury Júnior ratificou as informações já dadas por ele à Polícia Federal, mas silenciou diante das novas perguntas feitas hoje pelo delegado. Existem algumas dúvidas a serem esclarecidas sobre as primeiras informações prestadas pelo jornalista como, por exemplo, a fonte dos R$ 12 mil que ele teria pago ao despachante Dirceu Garcia, de São Paulo, em outubro de 2009 para a obtenção ilegal dos dados, e de R$ 5 mil que foram pagos depois como “cala-boca” para o despachante.

Em nota, Amaury Júnior havia negado as acusações e afirmou que “jamais pagaria pela obtenção de dados fiscais sigilosos de qualquer cidadão”. O advogado do jornalista, Adriano Bretas, disse que deve falar com a imprensa logo mais. Ele e Amaury Júnior ainda estão no prédio da Superintendência da Polícia Federal.

Demóstenes e José Dirceu: dois casos emblemáticos da República.

Ou: Como reagem os moralmente doentes e os moralmente saudáveis diante do caso
Peço que vocês leiam com muita atenção este texto

Já escrevi vários posts sobre a situação do senador Demóstenes Torres (DEM-GO). Publiquei, aliás, a primeira entrevista com ele tão logo veio a público reportagem da VEJA — e foi a VEJA a primeira a tratar do assunto em letra impressa — sobre o caso. Sabia-se bem menos do que hoje a respeito. Algumas das perguntas feitas então:
- O senhor é um dos mais severos críticos dos desmandos do petismo. Não pega mal para alguém com esse perfil ser flagrado conversando com Carlinhos Cachoeira?
- O senhor já foi secretário de Segurança de Goiás, entre 1999 e 2002. Não é impróprio alguém nessa posição ter amizade com um contraventor?
- Mas que tanto o senhor tinha para falar com Cachoeira?

Alguns vagabundos, que hoje são empregados do quadrilheiro-chefe da República, tentaram ligar meu nome às acusações contra Demóstenes. Ele seria “a fonte” e o “interlocutor” de Reinaldo Azevedo, como se falar com políticos não fosse uma obrigação do jornalista — e olhem que até falo pouco… O que é impróprio para jornalista é ser cúmplice de criminosos. Aliás, jornalistas falam com políticos e com o resto da humanidade — inclusive com aquela parte que chamo “imprópria para consumo… humano”. Boa parte das falcatruas que são reveladas, o que serve para proteger os cofres públicos, nasce da denúncia de pessoas envolvidas em esquemas que têm interesses contrariados. Conversar com uma fonte não é se comprometer com ela. Esse caso está ainda no começo. Eu posso lhes assegurar que os decentes da imprensa rirão por último. Mas, até lá, cumpre fazer algumas observações importantes.

As perguntas que lhe fiz, reproduzidas acima, nada tinham de “levantada de bola”. Ele só está numa situação muito difícil porque não tem boas respostas pra elas e porque o que vazou até agora indica que elas são pouco satisfatórias. Sim, eu lamento profundamente a desgraça política de Demóstenes porque, em si, independentemente do mérito (e falarei, sim, do mérito), o fato é ruim para o Brasil. Qualquer democracia do mundo precisa de uma oposição atuante. É a sua existência que demonstra, como lembro sempre, que o regime é democrático. Governos existem também nas ditaduras, mas só os regimes que asseguram as liberdades públicas e individuais contam com oposições organizadas e legais.

Lamento a situação de Demóstenes — e não sou o único — POR AQUILO QUE SE CONHECIA DE SUA ATUAÇÃO, não por aquilo que não se conhecia. A essa altura, ele próprio deve saber que dificilmente conseguirá se recuperar politicamente. Em certa medida, nem o ex-governador José Roberto Arruda, do DF, caiu de tão alto. Havia um halo de desconfiança que cercava Arruda em razão dos episódios ligados à quebra de sigilo do painel eletrônico do Senado. Mais: a política no Distrito Federal tem algumas características próprias que a tornam especialmente perversa mesmo para os padrões da lambança geral. Demóstenes estava em outro patamar e certamente sabe disso.

Os moralmente saudáveis e os doentes
Há uma reação de justa indignação dos moralmente saudáveis com a derrocada de Demóstenes. Não eram poucos os que acreditavam na sua pregação e que, atenção!, ainda acreditam naqueles valores que ele anunciava. E fazem muito bem! Eram e são bons valores. Se ele próprio, como apontam os indícios, não levava o que dizia na ponta do lápis, isso não depõe contra aqueles fundamentos, não! Eles continuam corretos.

Essas são pessoas de bem! Ninguém, até agora, me enviou comentários afirmando que isso tudo é só uma tramoia do PT; que Demóstenes foi obrigado a fazer essas coisas para sobreviver politicamente; que ele age como agem todos; que há também petistas — e os há!!! — na lista de políticos amigos de Cachoeira. Aliás, nota à margem: existe um vídeo em que o contraventor promete dinheiro a um deputado do… PT!!!

Não! Os antigos admiradores de Demóstenes não recorreram a essas estratégias. Isso é desculpa de petista! Isso é desculpa de petralha! Isso é desculpa do JEG (Jornalismo da Esgotosfera Governista)! Isso é desculpa de quem dá trela para José Dirceu! Os ex-admiradores de Demóstenes estão sinceramente decepcionados e não se mostram dispostos a perdoá-lo, AINDA QUE ELE TENHA SIDO ALVO DE UMA ILEGALIDADE CONTINUADA, ao contrário do que diz o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo (já chego lá). Ocorre que essa ilegalidade não muda a natureza e o conteúdo dos diálogos.

O senador é um homem inteligente. Sabe que aqueles que o elegeram e que o admiravam não o perdoarão politicamente. E é por isso que, segundo leio, teria comentado com pessoas de seu círculo que está politicamente liquidado. Salvo um evento formidável, vindo de outra esfera, não creio que consiga se sair bem desse inferno.

Essa é a reação das pessoas saudáveis. Mais: elas querem que Demóstenes, confirmadas as ligações com Cachoeira, pague pelo que fez. Não há votos em favor da impunidade, não! Os que o admiravam são muito diferentes dos, como é mesmo, “amigos de José Dirceu”. Estes querem impunidade mesmo! Estes acham que o Zé só estava comandando a “revolução petista” por outros meios; estes acham que o Zé só estava agindo como agem todos, mas em favor do “lado certo”, o PT.

O SENADOR DEMÓSTENES TORRES SABE QUE, HOJE, O SEU PIOR INIMIGO É A SUA PRÓPRIA ATUAÇÃO NO SENADO, A PARTE CONHECIDA, QUE ERA EXCELENTE! E SEU SEGUNDO PIOR INIMIGO SÃO EXATAMENTE AS PESSOAS QUE O ADMIRAVAM EM RAZÃO DESSES VALORES. No caso de Dirceu é diferente: os valores dos seus admiradores o protegem porque iguais aos seus. Trazida à luz a relação de Demóstenes com Cachoeira, ele caiu em desgraça. Pego com a boca na botija, o Zé virou herói.

Acho que a carreira de Demóstenes está acabada. Já o Zé, como a gente viu, fez fama e fortuna. Não estivesse com os direitos políticos suspensos, haveria petistas bastantes para elegê-lo deputado. Afinal, o Zé, processado no STF por formação de quadrilha, cassado pela Câmara por corrupção, virou até “colunista político”, além de “consultor de empresa privada”.

A reação daqueles que tendem a inviabilizar a carreira política de Demóstenes é a reação de pessoas moralmente saudáveis. A reação daqueles que garantiram a sobrevivência de Dirceu — que o transformaram, pasmem!, em oráculo, que ainda votariam nele e que agora vibram com a desgraça do senador do DEM — é moralmente doente.

Mais sobre os doentes
E são justamente esses doentes, inclusive no colunismo político — coisa de vigaristas mesmo! — que tentam estabelecer conexões entre as ligações de Demóstenes com Cachoeira e sua oposição ao governo Dilma, como se só pessoa com víncuações suspeitas pudessem se opor ao PT. É mesmo?
- Então ninguém pode se opor ao PT do mensalão por bons motivos?
- Então ninguém pode se opor ao PT dos aloprados por bons motivos?
- Então ninguém pode se opor ao PT de Erenice Guerra, ex-braço-direito da própria Dilma, por bons motivos?
- Então ninguém pode se opor ao PT das lanchas de Santa Catarina (ver posts abaixo) por bons motivos?

Uma ova!

São exatamente as pessoas que não aceitam a moral elástica do petismo que estão a dizer a Demóstenes: “Assim não dá, senador! Isso é coisa da turma do lado de lá! Não somos petistas! Não justificamos os malfeitos das pessoas que estão do lado de cá!”

Polícia política
Tão logo o senador Demóstenes foi capturado na rede de influências de Carlinhos Cachoeira, seu caso deveria ter sido remetido ao STF. “Ah, não era ele o alvo da escuta…” Isso é conversa mole! No que diz respeito à questão propriamente criminal, dificilmente as eventuais provas contra Demóstenes não serão impugnadas. Ocorre que, politicamente — e Demóstenes é político —, isso não tem a menor relevância.

Quero chamar a atenção de vocês para outro aspecto. Repararam que o método empregado com Demóstenes é muito parecido com aquele que destruiu Arruda? Faz-se uma operação secreta, vão se colecionando provas ou indícios e depois começa o trabalho de vazamento, de modo que a pessoa colhida não tem para onde correr. Não por acaso, os “peixões” capturados são justamente lideranças da oposição.

Fizeram coisa errada? Que paguem! Quanto a isso, não há a menor dúvida. Quem gosta de impunidade são os amigos do Zé Dirceu! Mas por que essa mesma PF não emprega igual método contra petistas? Quantos resistiram a essa forma de investigação? Digamos que a Polícia Federal não tenha cometido uma só ilegalidade nessa ação. Diremos, então: eis aí uma instituição que serve ao Estado. Ocorre que começa a ficar caracterizado que os alvos são seletivos. SER DE OPOSIÇÃO NO PAÍS PASSOU A COMPORTAR UM RISCO ADICIONAL. E esse particular não caracteriza uma polícia de estado, mas uma polícia política.

Dado o andamento dos fatos, pergunta-se: de quais garantias dispõem os demais senadores da República — na verdade, o conjunto dos parlamentares — de que não estão sendo monitorados, sob a desculpa de que não são eles os alvos da investigação? A resposta: nenhumas! (o certo é “nenhumas” mesmo…). Fica uma advertência no ar: “Tomem cuidado!”

Caminhando para a conclusão
Que Demóstenes pague pelo que fez. Aliás, os vazamentos todos já caracterizam uma antecipação de pena, é evidente. É a correta atuação do senador — a parte que conhecíamos — que, entendo, inviabiliza o seu futuro político. Mas é justamente a atuação asquerosa de um Zé Dirceu (e de outros mensaleiros que estão de volta à Câmara) que lhe dá um futuro político! Não é mesmo um paradoxo interessante?

Os crimes dos adversários do PT crimes são! E isso é correto! Os crimes do PT, ora vejam!, transformam-se em virtudes, em atos de resistência! E isso é um crime adicional — no caso, moral. Ou não lemos ontem na coluna de Mônica Bergamo, da Folha, que os amigos do Zé (quem? quem?) pensam até em recorrer à OEA caso ele seja condenado???

Vigaristas atuando a soldo na rede, notórios bandidos que vivem de joelhos para o poder, esbirros de mensaleiros, tentam comprometer até mesmo o jornalismo que se dedica ao trabalho honesto, como ficará evidente pela enésima vez. É gente que está vibrando com a destruição de Demóstenes não porque cultive bons princípios, mas porque a serviço de bandidos que estão no poder.

Encerro reafirmando aos leitores que o senador Demóstenes está numa situação crítica NÃO PORQUE TENHA VIVIDO CONFORME O QUE PREGAVA, mas porque, é bem provável, DEIXOU DE FAZÊ-LO. Não havia e não há nada de errado com aqueles princípios. Eles continuam bons. Em suma, os maiores algozes de Demóstenes são aqueles que ele conseguiu conquistar com a sua atuação, tanto quanto os maiores defensores de Dirceu são aqueles que ele também conseguiu conquistar!

Por Reinaldo Azevedo

sexta-feira, 30 de março de 2012

Cadáveres ilustres

IVAN LESSA
COLUNISTA DA BBC BRASIL

Impossível não falar de Millôr. Passaremos algumas décadas ouvindo-o e vendo-o.

Tudo que se pode ser dito sobre Millôr, Millôr já disse antes.

Forçando um pouco a barra, tudo que pode ser dito sobre tudo já foi dito antes pelo Millôr.

Nesse caixão, recuso-me a pegar carona. Questão de amizade e respeito.

A imprensa fazer o escarcéu que anda fazendo é correto. Millôr merece.

Depois, como tudo e todos mais, esquecê-lo, pois dessa barra fomos feitos.

O que acho mais curioso é o número de gente de luto berrando inanidades, choramingando e sobrepondo-se ao morto, dando a impressão de que vão se jogar no caixão e, em seguida, no crematório com o que restou do Millôr.

Gente que era só cinzas e continuará cinzas.

Notei ainda que, desde o começo da doença de Millôr, ele e a família insistiram em cobrir o evento com o véu da discrição. Sabiam, na certa, o que estavam fazendo e porquê o estavam fazendo.

Agora, em matéria de depoimentos, o que houve foi uma malhação do Judas ao contrário.

Impossível ainda, em nome de tanta coisa, não deixar de citá-lo com uma só de suas frases, dessas do tamanho do cadáver ("Do tamanho de um cadáver", peça do Millôr de 1955, encenada logo ali no Teatrinho de Bolso da Praça General Osório, em Ipanema): "A ocasião em que a inteligência do homem mais cresce, sua bondade alcança limites insuspeitados e seu caráter uma pureza inimaginável é nas primeiras 24 horas depois de sua morte."

No que passamos ao morto seguinte na fila. Aliás, morta. Foi-se, no mesmo dia 28 de março, Ademilde Fonseca, a "Rainha do Choro", 91 anos segundo parte da imprensa.

Ademilde era potiguar, mas, muito talentosa, logo remediou a situação embaraçosa de sua origem vindo para o sul e especializando-se na vocalização com letra no que talvez seja o mais puro e mais erudito de nossos gêneros musicais: o choro, ou chorinho.

O choro é e foi estudado e apreciado pelas mentes e ouvidos mais perfeitos do século que passou. De Villa-Lobos a Darius Milhaud.

Sem falar nos inúmeros catedráticos e praticantes do gênero em que Ernesto Nazareth, Chiquinha Gonzaga, Pixinguinha, Zequinha de Abreu e tantos outros botaram todas suas fichas no que um violão de 7 cordas, junto a outro mais modesto, juntamente com bandolim, flauta, cavaquinho e pandeiro são capazes de criar.

Vez por outra uma boca no trombone para fazer comentários ou lamentos debochados.

Há um Dia do Choro na França e no Japão. Agora, no dia 23 de abril, teremos, enfim, o Dia Nacional do Choro. Só que Luis Americano, Jacob do Bandolim, Waldir Azevedo, Abel Ferreira, Garoto e Radamés Gnatalli continuarão jogando num segundo time perdendo de lavagem para Lady Gaga, Rihanna e Beyoncé e ninguém os tuitará, por desconhecer o que músicos de jazz, disciplina severa complicada e livre, toda chegada a improvisos, como o choro e com ele disputando raízes, apreciam muito mais, quando apresentados (Horace Silver e Dizzy Gillespie que eu tenha visto e me lembre), do que o nhém-nhém-nhém da bossa nova, hoje uma tradição nos elevadores Otis e Schindler.

O choro tem a energia e a improvisação do jazz.

Voltando a Ademilde, botei um vinil no aparelho de som nos últimos dias, para ver o tamanho da defunta. Incrível, fantástico, extraordinário, o que Ademilde fazia com o "Galo Garnizé", do Almirante, "Tico-tico no fubá", do Zequinha de Abreu, que ela foi a primeira a cantar com letra, "Rato, rato", "Urubu Malandro", "Brasileirinho", "Pedacinhos do céu". Aquilo tudo estava vivo e pulsante, a nossa cara, mais do que lobos bobos ou rolleiflexes. Ademilde destruía.

Impressionante a velocidade com que disparava pela estrada complicada dessas enredadas trilhas sonoras. 200 km por hora fácil.

Lembrei-me, por ser inevitável e nada depreciativo, da Annie Ross, do grupo Lambert, Hendrix & Ross, ou Anita O'Day em seus melhores dias.

E agora, por ser fim de semana, descansemos todos e deixemos, principalmente, os mortos, em paz.

ESTA É A DEMOCRACIA DELES


Acima, mais uma foto (de Fábio Motta/AE) de uma representante da democracia e do estado de direito perseguindo um militar da reserva. Aquele rapaz, com ar e procedimento civiizados, é um dos comandados espirituais de Maria do Rosário, a ministra dos Direitos Humanos nomeada por Dilma Rousseff. Esta é a democracia deles.

‘Poeminha: Última Vontade’

MILLÔR FERNANDES

Enterrem meu corpo em qualquer lugar.
Que não seja, porém, um cemitério.
De preferência, mata;
Na Gávea, na Tijuca, em Jacarepaguá.
Na tumba, em letras fundas,
Que o tempo não destrua,
Meu nome gravado claramente.
De modo que, um dia,
Um casal desgarrado
Em busca de sossego
Ou de saciedade solitária,
Me descubra entre folhas,
Detritos vegetais,
Cheiros de bichos mortos
(Como eu).
E, como uma longa árvore desgalhada
Levantou um pouco a laje do meu túmulo
Com a raiz poderosa,
Haja a vaga impressão
De que não estou na morada.
Não sairei, prometo.
Estarei fenecendo normalmente
Em meu canteiro final.
E o casal repetirá meu nome,
Sem saber quem eu fui,
E se irá embora,
Preso à angústia infinita
Do ser e do não ser.
Sol e chuva ocasionais,
Estes sim, imortais.
Até que um dia, de mim caia a semente
De onde há de brotar a flor
Que eu peço que se chame
Papáverum Millôr

‘A incompetência virou elogio’, por Marco Antonio Villa

MARCO ANTONIO VILLA

O governo Dilma Rousseff lembra o petroleiro João Cândido. Foi inaugurado com festa, mas não pôde navegar. De longe, até que tem um bom aspecto. Mas não resiste ao teste. Se for lançado ao mar, afunda. Não há discurso, por mais empolgante que seja, que consiga impedir o naufrágio. A presidente apresenta um ar de uma política bem-intencionada, de uma tia severa e até parece acreditar no que diz. Imagina que seu governo vai bem, que as metas estão cumpridas, que formou uma boa equipe de auxiliares e que sua relação com a base de sustentação política é estritamente republicana. Contudo, os seus primeiros 15 meses de governo foram marcados por escândalos de corrupção, pela subserviência aos tradicionais oligarcas que controlam o Legislativo em Brasília e por uma irritante paralisia administrativa.

Inicialmente, a presidente vendeu a ideia que o Ministério não era dela, mas de Lula. E que era o preço que teria pagado por ser uma neófita na política nacional. Alguns chegaram até a acreditar que ela estaria se afastando do seu tutor político, o que demonstra como é amplo o campo do engodo no Brasil. Foi passando o tempo e nada mudou. Se ocorreram algumas mudanças no Ministério, nenhuma foi por sua iniciativa. Além do que, foi mantida a mesma lógica na designação dos novos ministros.

Confundindo cara feia com energia, a presidente continuou representando o papel de hábil executiva e que via a política com certo desprezo, como se os seus ideais de juventude não estivessem superados. Como sua base não é flor que se cheire, acabou até ganhando a simpatia popular. Contudo, não se afastou deste jardim, numa curiosa relação de amor e ódio. Manteve o método herdado do seu padrinho político, de transformar a ocupação do Estado em instrumento permanente de negociação política. E ainda diz, sem ficar ruborizada, que não é partidária do toma lá dá cá. Dá para acreditar?

O Ministério é notabilizado pela inoperância administrativa. Bom ministro é aquele que não aparece nos jornais com alguma acusação de corrupção. Para este governo, isto basta. Sem ser enfadonho, basta destacar dois casos. Aloizio Mercadante teve passagem pífia pelo Ministério da Ciência e Tecnologia. Se fosse demitido na reforma ministerial ─ aquela que a presidente anunciou no último trimestre do ano passado e até hoje não realizou ─, poucos reclamariam, pois nada fez durante mais de um ano na função. Porém, como um bom exemplo do tempo em que vivemos, acabou promovido para o Ministério da Educação. Ou seja, a incapacidade foi premiada. O mesmo, parece, ocorrerá com Edison Lobão, que deve sair do Ministério de Minas e Energia para a presidência do Senado, com o beneplácito da presidente. O que fez de positivo no seu ministério?

Numa caricata representação de participação política, Dilma patrocinou uma reunião com o empresariado nacional para ouvir o já sabido. Todas as reclamações ou concordâncias já eram conhecidas antes do encontro. Então, para que a reunião? Para manter a aura da Presidência-espetáculo? Para garantir uma fugaz manchete no dia seguinte? Será que ela não sabe que não tem o poder de comunicação do seu tutor político e que tudo será esquecido rapidamente?

Uma das maiores obras da atualidade serve como referência para analisar como o governo trata a coisa pública. Desde quando foi anunciada a transposição de parte das águas do Rio São Francisco, inúmeras vozes sensatas se levantaram para demonstrar o absurdo da proposta. Nada demoveu o governo. Além do que estava próxima a eleição presidencial de 2010. Dilma ganhou de goleada na região por onde a obra passaria ─ em algumas cidades teve 92% dos votos. Passaria porque, apesar dos bilhões gastos, os canteiros estão abandonados e o pouco que foi realizado está sendo destruído pela falta de conservação. Enquanto isso, estados como a Bahia estão sofrendo com a maior seca dos últimos 30 anos. E, em vez de incentivar a agricultura seca, a formação de cooperativas, a construção de estradas vicinais e os projetos de conservação da água desenvolvidos por diversas entidades, a presidente optou por derramar bilhões de reais nos cofres das grandes empreiteiras.

A falta de uma boa equipe ministerial, a ausência de projetos e o descompromisso com o futuro do país são evidentes. O pouco ─ muito pouco ─ que funciona na máquina estatal é produto de mudanças que tiveram início no final do século XX. A ausência de novas iniciativas é patente. Sem condições de pensar o novo, resta ao governo maldizer os países que estão dando certo em vez de aprender as razões do êxito, reforçando um certo amargor nacional com o sucesso alheio. No passado a culpa era imputada aos Estados Unidos; hoje este papel está reservado à China.

Como em um conto de fadas, a presidente acredita que tudo terá um final feliz. Mas, até agora, o lobo mau está reinando absoluto na floresta. Basta observar os péssimos resultados econômicos do ano passado quando o Brasil foi o país que menos cresceu na América do Sul. E a comparação é com o Paraguai e o Equador e não com a Índia e a China.

Não é descabido imaginar que a presidente foi contaminada pelo “virus brasilienses”. Esta “espécie”, que prolifera com muita facilidade em Brasília, tem uma variante mais perigosa, o “petismus”. A vacina é a democracia combinada com outra forma de governar, buscando a competência, os melhores quadros e alianças programáticas. Mas em um país marcado pela subserviência, a incompetência governamental se transformou em elogio.

Mais de 15 alunas agridem estudante em Eunápolis (BA), diz polícia.Em Salvador, garota de 13 anos foi agredida a facadas na frente da escola.

Mais de quinze alunas do colégio Monte Pascoal agrediram uma estudante da escola Fernando Alban, ambas localizadas em Eunápolis, no Extremo Sul da Bahia, informou a Polícia.

De acordo com a polícia a briga teria acontecido por causa de um desentendimento momentos antes, dentro de um ônibus escolar. A menina agredida formou um grupo e foi para o colégio Monte Pascoal, no Centro da cidade, onde houve nova confusão.
Muitos alunos incentivaram a briga. O tumulto só terminou depois da chegada da PM. Nenhum dos estudantes foi apreendido. Segundo a polícia, esse tipo de briga se tornou comum em Eunápolis. Os estudantes filmam tudo para depois colocar na internet.

Em Salvador
Uma garota de 13 anos foi agredida a facadas por uma colega de 14 anos, quando chegava à escola na tarde desta quinta-feira (29), no bairro de Castelo Branco, em Salvador. De acordo com a 47ª CIPM, uma guarnição da Polícia Militar esteve no local, mas a vítima já havia sido socorrida pelo Samu e encaminhada para o Hospital do Subúrbio. As duas meninas estudam na Escola Municipal Dona Arlete Magalhães.
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A suspeita de agredir a menina foi encaminhada para a Delegacia do Adolescente Infrator (DAI). Os pais da vítima também foram à unidade policial para registrar a ocorrência. A polícia ainda não tem informações do que motivou o crime.
Em nota, a Secretaria Municipal da Educação, Cultura, Esporte e Lazer (Secult) lamenta o ocorrido e informa que os golpes de faca atingiram a vítima de raspão. Ainda em nota, a Secult diz que a adolescente foi medicada no Hospital do Subúrbio e liberada em seguida. De acordo com a Secretaria, as duas garotas começaram a discussão fora da escola. A Secult informou que aguarda depoimento das adolescentes à polícia "para definir qual será a posição da comunidade escolar"

quarta-feira, 28 de março de 2012

O maior de todos: primeiro album de Dylan faz 50 anos.

ABORTO - Jornalista da Folha, que é cadeirante, se espanta com fala eugenista de procurador. Ou: Reacionário é legislar sobre a morte.

Jairo Marques, jornalista da Folha, é cadeirante. Ele escreve hoje um artigo no jornal sobre proposta encaminhada ao Senado por “juristas”, de que um procurador da República foi o relator. É aquele texto que defende, abertamente, o aborto caso se constate a deficiência do feto. O procurador em questão, cujo nome não é citado no artigo, é Luiz Carlos dos Santos Gonçalves. Segundo ele, caso se verifique que a criança por nascer é portadora de “graves e incuráveis anomalias que inviabilizem sua vida independente”, o aborto tem de ser permitido. Quando escrevi a respeito, apontei o aspecto intolerante da proposta, marcada por adesão escandalosa à eugenia, muito própria dos fascismos.

Ocorre que eu, segundo os “progressistas” e “modernos”, tenho um grave defeito: sou católico! Quando se é católico, você necessariamente tem de ser a favor do aborto (!) ou se calar a respeito para que não o acusem de estar tentando impor a sua religião aos outros. Se você é católico, não tem nem mesmo autonomia para contestar uma fala boçal e perigosa, como a desse procurador.

Jairo, um cadeirante, se espanta com a afirmação, como me espantei. É bem verdade que ele parece flertar com o aborto, mas não estou certo. Escreve: “Dar o devido poder à mulher sobre seu corpo me parece ir ao encontro de uma sociedade moderna e justa, assim como poupá-la de gerar uma cria com chance nula de sobrevivência.” Não sei exatamente o que pretende dizer com isso. No Brasil e mundo afora, a expressão “poder da mulher sobre seu corpo” (quem é tão cretino a ponto de negá-lo?) é só uma forma eufemística e perifrástica para falar “aborto”.

Os portadores de deficiências físicas — ou de “necessidades especiais”, como se diz no universo politicamente correto — do Brasil e do mundo inteiro fiquem atentos. Uma das formas de ser do suposto “progressismo”, hoje em dia, REDUZ, NA PRÁTICA, A HUMANIDADE DOS DEFICIENTES. No tal artigo em que aquela dupla defendia o infanticídio, a Síndrome de Down, por exemplo, era tratada como motivo mais do que suficiente para abortar.

Muito bem: não sou mulher, não sou cadeirante, não sou “minoria”… Eu pertenço àquela que já foi uma saudável maioria: a que RECONHECIA o direito que qualquer ser humano tem à vida; a que CONSIDERAVA que a vida do homem era inviolável e que preservar esse princípio nos PROTEGIA das eventuais e mutáveis vontades do poder.

Hoje em dia, não obstante, gente como Vladimir Safatle, também articulista da Folha, entende que a vida humana é histórica e socialmente determinada. Se, num determinado momento, a história e a sociedade, então, convergirem para a eliminação dos deficientes, por que não? Leiam o artigo de Marques. Volto para encerrar.

*
Estava com o pé do ouvido no rádio, quando o locutor começou a entrevistar um defensor de mudanças nas regras de não punição ao aborto, hoje restritas a salvar a vida da gestante ou para preservar a honra da mulher após um estupro.

Em um dos pontos da fala, encafifei: dar direito a retirar o feto nos casos em que houver comprovação de que ele padece de “graves e incuráveis anomalias que inviabilizem sua vida independente”.

O procurador da República que defendia a proposta foi categórico ao dizer que não há subjetividade possível no conceito e que ninguém irá morrer a troco de nada (uia!).

Catei meu bloquinho de repórter e fui atrás de doutores ninjas sobre o tema. Se for pela objetividade, minha turma “mal-acabada” está na roça sem jegue e sem enxada.

O conceito de vida independente na medicina é “a realização de atividades -motoras ou cognitivas- sem a necessidade de outras pessoas ou de instrumentos de apoio, desde que de forma segura”.

De maneira empírica, digo que a perspectiva do que seja “independência” é fatalmente contaminada e imposta por experiências alheias àquelas de quem aprende a se virar, a criar mecanismos de compensação de não conseguir desenvolver uma tarefa física, sensorial ou intelectual.

Digo isso a bordo de uma cadeira de rodas, veículo onde já me despejam fracassos e impossibilidades diversas que, para mim, são risíveis. O mesmo atrevo a estender às pessoas com síndrome de Down, paralisadas cerebrais, vítimas de doenças raras, prejudicados dos cromossomos e demais “anômalos”.

Qual a expectativa de autonomia para gente que nasce só o “cotoco”? Há más-formações de nascença que fazem bebês darem as caras ao mundo sem as pernocas e sem os bracinhos.

Ligeiramente, a tendência é achar que ficarão a vida toda em caixas de sapato recebendo papinha da mamãe e bilu, bilu do papai. Mas nada mais espetacular do que o poder da natureza, que cria atalhos no sentido lógico de viver.

Há “cotocos” que, com o apoio da tecnologia, da reabilitação, do estímulo familiar, se transformam em mestres, em procuradores, em jornalistas, em plenos cidadãos.

Mara Gabrilli, primeira deputada federal tetraplégica do Brasil, tem uma frase “maraviwonderful”: “Quanto mais tecnologia se oferece para a pessoa com deficiência, menos deficiências ela tem”.

A medicina genética galopa em um puro-sangue na descoberta de genes que vão determinar até quantas vezes na vida a gente vai ter dor de cabeça, se o indivíduo vai gostar de coelhinho da Páscoa.

Penso que os avanços são salvaguardas para preparar o porvir, para buscar soluções antecipadas. Não servem para determinar quem deve viver, quem deve morrer.

Dar o devido poder à mulher sobre seu corpo me parece ir ao encontro de uma sociedade moderna e justa, assim como poupá-la de gerar uma cria com chance nula de sobrevivência.

Mas assusta o bumbo do discurso pró-aborto para caminhos em que só os perfeitinhos serão aceitos. Ter um bebê fora da curva da normalidade é de chorar pelado no asfalto, mas diversidade humana tem de ser defendida além da cor da pele ou do tamanho do pé.

Voltei
É evidente que concordo com quase no tudo o que vai no artigo de Marques, exceção feita ao flerte que, entendo, ele ainda faz com o aborto. Não sei se entendi direito. Não especulo sobre motivações subjetivas, mas há uma possibilidade de que, afinal, ele não queira ser reconhecido como um “reacionário”, que não reconhece o “direito da mulher ao corpo”. Pensar na contramão do “consenso progressista” é um fardo enorme. Nem todo mundo topa a parada.

O que sei, Marques, por um império da lógica, é que, se estabelecermos em que condições um feto está ou não apto a continuar vivo, um marco estará sendo criado. Como todo marco, ele é móvel. Como marco móvel, está sujeito às mudanças propugnadas por grupos de pressão. Pronto! A vida passou a ser um valor sob especulação!

A única coisa, Marques, que nos protege — brancos, pretos, vermelhos, mulheres, homens, bichas, cadeirantes — é a vida como cláusula pétrea.

Progressista é a vida!
O resto é legislar sobre o direito de matar.

Por Reinaldo Azevedo

O rebanho da seita que acoberta bandidos de estimação quer furar a fila do tribunal

Com o olho rútilo e o lábio trêmulo, aos uivos, urros, berros e zurros, os milicianos do partido que virou quadrilha exigem a imediata condenação do senador Demóstenes Torres à danação eterna. O país que presta, que já o castigou com o confisco da credibilidade, entende que o parlamentar goiano deve pagar pelos pecados cometidos. Mas não é de bom tom furar a fila do tribunal. Demóstenes acabou de juntar-se ao imenso bloco cuja comissão de frente, à exceção do tucano Eduardo Azeredo e do governador José Roberto Arruda, eleito pelo DEM, é constituída exclusivamente por prontuários forjados nas catacumbas do PT e da base alugada.

O grupo de obscenidades à solta inclui José Dirceu e seus mensaleiros, Valdomiro Diniz, Antonio Palocci, Benedita da Silva, José Genoíno, Alfredo Nascimento, Orlando Silva, Wagner Rossi, Delúbio Soares, Pedro Novais, Renan Calheiros, Fernando Collor, José Sarney e Famiglia, Erenice Guerra e seus filhotes, Anderson Adauto, Ideli Salvatti, Ana Júlia, Gilberto Carvalho, Edison Lobão, Edison Lobinho, Agnelo Queiroz, Paulo Okamotto, Carlos Lupi, Aloízio Mercadante e seus aloprados, Sílvio Pereira, Walfrido dos Mares Guia, Humberto Costa, Saraiva Felipe, Matilde Ribeiro, Romero Jucá, Silas Rondeau, Mário Negromonte, Severino Cavalcanti e Fernando Pimentel, fora o resto.

Se a lei valesse para todos, se a Justiça brasileira funcionasse, se fosse estendido aos cardeais da seita dos devotos de Lula o castigo que o rebanho reivindica apenas para Demóstenes Torres, a multidão encarcerada seria suficientemente numerosa para disputar com o PCC o controle das gaiolas. Mas não haveria confrontos. Em nome da governabilidade das cadeias, as duas organizações criminosas logo tratariam de celebrar uma aliança que garantisse a justa divisão dos lucros.

terça-feira, 27 de março de 2012

Anotações para uma reedição da história universal da infâmia

PUBLICADO EM 10 DE NOVEMBRO DE 2009

Em novembro de 1984, por não enxergar diferenças entre Paulo Maluf e Tancredo Neves, o Partido dos Trabalhadores optou pela abstenção no Colégio Eleitoral que escolheria o primeiro presidente civil depois do ciclo dos generais. Em janeiro de 1985, por entenderem que não se tratava de um confronto entre iguais, três parlamentares do PT ─ Airton Soares, José Eudes e Bete Mendes ─ votaram em Tancredo. Foram expulsos pela direção.

Em 1988, num discurso em Aracaju, o deputado federal Luiz Inácio Lula da Silva qualificou o presidente José Sarney de “o grande ladrão da Nova República”. No mesmo ano, a bancada do PT na Constituinte rejeitou o texto da nova Constituição.

Em 1989, derrotados no primeiro turno da eleição presidencial, Ulysses Guimarães, candidato do PMDB, e Mário Covas, do PSDB, declararam que ficariam ao lado de Lula na batalha final contra Fernando Collor. Imediatamente recusado, o apoio acabou aceito por insistência dos parceiros repudiados. Num comício em frente do estádio do Pacaembu, Ulysses e Covas apareceram no palanque ao lado do candidato do PT. Foram vaiados pela plateia companheira.

Em 1993, a ex-prefeita Luiza Erundina, uma das fundadoras do partido, aceitou o convite do presidente Itamar Franco para assumir o comando de um ministério. Foi expulsa. Em 1994, ainda no governo de Itamar Franco, os parlamentares do PT lutaram com ferocidade para impedir a aprovação do Plano Real. No mesmo ano, transformaram a revogação da providencial mudança de rota na economia numa das bandeiras da campanha presidencial.

Entre o começo de janeiro de 1995 e o fim de dezembro de 2002, a bancada do PT votou contra todos os projetos, medidas e ideias encaminhados ao Legislativo pelo governo Fernando Henrique Cardoso. Todos, sem exceção. Uma das propostas mais intensamente combatidas foi a que instituiu a Lei de Responsabilidade Fiscal.

Em janeiro de 1999, mal iniciado o segundo mandato de Fernando Henrique, o deputado Tarso Genro, em nome do PT, propôs a deposição do presidente reeleito e a convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte. O lançamento da campanha com o mote “Fora FHC!” foi justificado por acusações, desacompanhadas de provas, que Tarso enfeixou num artigo publicado pela Folha de S. Paulo. Trecho: Hoje, acrescento que o presidente está pessoalmente responsabilizado por amparar um grupo fora da lei, que controla as finanças do Estado e subordina o trabalho e o capital do país ao enriquecimento ilegítimo de uns poucos. Alguns bancos lucraram em janeiro (evidentemente, por ter informações privilegiadas) US$ 1,3 bilhão, valor que não lucraram em todo o ano passado!

O que diriam Tarso, Lula e o resto da companheirada se tal acusação, perfeitamente aplicável ao atual chefe de governo, fosse subscrita por alguém do PSDB, do DEM ou do PPS? Coisa de traidor da pátria, inimigo da nação, gente que aposta no quanto pior, melhor, estariam berrando todos. “Tem gente que torce pra que tudo dê errado”, retomaria Lula a ladainha entoada há quase sete anos.

Faz sentido. Desde a ressurreição da democracia brasileira, a ação do PT oposicionista foi permanentemente orientada por sentimentos menores, miúdos, mesquinhos. É compreensível que os Altos Companheiros acreditem que todos os políticos são movidos pelo mesmo combustível de baixíssima qualidade.

Desfigurado pela metamorfose nauseante, o chefe de governo não teria sossego se o intratável chefe da oposição ainda existisse. O condutor do rebanho não tem semelhanças com o Lula do século passado, mas continua ouvindo o som dos balidos aprovadores. O caçador de gatunos hoje é padroeiro da quadrilha federal. O parlamentar que recusou a conciliação proposta por Tancredo é o presidente que se reconcilia com qualquer abjeção desfrutável. O moralizador da República presidiu e abafou o escândalo incomparável do mensalão.

Mas não admite sequer criticas formuladas sem aspereza pelo antecessor que atacava com virulência. É inveja, Lula deu de gritar agora. O espelho reflete o contrário. Nenhum homem culto prefere ser ignorante, nenhum homem educado sonha com a grosseria, gente honrada não quer conversa com delinquentes.

Lula não esquece que foi derrotado por FHC duas vezes, ambas no primeiro turno. E sabe que o vencedor nunca inveja o vencido.

‘Da fala ao grunhido’

PUBLICADO NA FOLHA DE S. PAULO DESTE DOMINGO

FERREIRA GULLAR

Desconfio que, depois de desfrutar durante quase toda a vida da fama de rebelde, estou sendo tido, por certa gente, como conservador e reacionário. Não ligo para isso e até me divirto, lembrando a célebre frase de Millôr Fernandes, segundo o qual “todo mundo começa Rimbaud e acaba Olegário Mariano”.

Divirto-me porque sei que a coisa é mais complicada do que parece e, fiel ao que sempre fui, não aceito nada sem antes pesar e examinar. Hoje é comum ser a favor de tudo o que, ontem, era contestado. Por exemplo, quando ser de esquerda dava cadeia, só alguns poucos assumiam essa posição; já agora, quando dá até emprego, todo mundo se diz de esquerda.

De minha parte, pouco se me dá se o que afirmo merece essa ou aquela qualificação, pois o que me importa é se é correto e verdadeiro. Posso estar errado ou certo, claro, mas não por conveniência. Está, portanto, implícito que não me considero dono da verdade, que nem sempre tenho razão porque há questões complexas demais para meu entendimento. Por isso, às vezes, se não concordo, fico em dúvida, a me perguntar se estou certo ou não.

Cito um exemplo. Outro dia, ouvi um professor de português afirmar que, em matéria de idioma, não existe certo nem errado, ou seja, tudo está certo. Tanto faz dizer “nós vamos” como “nós vai”.

Ouço isso e penso: que sujeito bacana, tão modesto que é capaz de sugerir que seu saber de nada vale. Mas logo me indago: será que ele pensa isso mesmo ou está posando de bacana, de avançadinho?

E se faço essa pergunta é porque me parece incongruente alguém cuja profissão é ensinar o idioma afirmar que não há erros. Se está certo dizer “dois mais dois é cinco”, então a regra gramatical, que determina a concordância do verbo com o sujeito, não vale. E, se não vale essa nem nenhuma outra ─ uma vez que tudo está certo ─, não há por que ensinar a língua.

A conclusão inevitável é que o professor deveria mudar de profissão porque, se acredita que as regras não valem, não há o que ensinar.

Mas esse vale-tudo é só no campo do idioma, não se adota nos demais campos do conhecimento. Não vejo um professor de medicina afirmando que a tuberculose não é doença, mas um modo diferente de saúde, e que o melhor para o pulmão é fumar charutos.

É verdade que ninguém morre por falar errado, mas, certamente, dizendo “nós vai” e desconhecendo as normas da língua, nunca entrará para a universidade, como entrou o nosso professor.

Devo concluir que gente pobre tem mesmo que falar errado, não estudar, não conhecer ciência e literatura? Ou isso é uma espécie de democratismo que confunde opinião crítica com preconceito?

As minorias, que eram injustamente discriminadas no passado, agora estão acima do bem e do mal. Discordar disso é preconceituoso e reacionário.

E, assim como para essa gente avançada não existe certo nem errado, não posso estranhar que a locutora da televisão diga “as milhares de pessoas” ou “estudou sobre as questões” ou “debateu sobre as alternativas” em vez de “os milhares de pessoas”, “estudou as questões” e “debateu as alternativas”.

A palavra “sobre” virou uma mania dos locutores de televisão, que a usam como regência de todos os verbos e em todas as ocasiões imagináveis.

Sei muito bem que a língua muda com o passar do tempo e que, por isso mesmo, o português de hoje não é igual ao de Camões e nem mesmo ao de Machado de Assis, bem mais próximo de nós.

Uma coisa, porém, é usar certas palavras com significados diferentes, construir frases de outro modo ou mudar a regência de certos verbos. Coisa muito distinta é falar contra a lógica natural do idioma ou simplesmente cometer erros gramaticais primários.

Mas a impressão que tenho é de que estou malhando em ferro frio. De que adianta escrever essas coisas que escrevo aqui se a televisão continuará a difundir a fala errada cem vezes por hora para milhões de telespectadores?

Pode o leitor alegar que a época é outra, mais dinâmica, e que a globalização tende a misturar as línguas como nunca ocorreu antes. Isso de falar correto é coisa velha, e o que importa é que as pessoas se entendam, ainda que apenas grunhindo.

segunda-feira, 26 de março de 2012

Medicamento proibido -
U R G E N T E - RISCO DE VIDA

O Ministério da Saúde através da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, suspendeu por meio da Resolução 96, a fabricação, distribuição, manipulação, comercialização e armazenagem de medicamentos com o principio ativo denominado FENILPROPALAMINA.

A medida foi tomada depois que a 'Food and Drug Administration', (FDA), dos Estados Unidos, constatou que a substância vinha provocando adversos FATAIS em usuários americanos (hemorragia cerebral). No Brasil a suspensão é preventiva, uma vez que não existem casos relatados.

AFENILPROPALAMINA está presente em 21 medicamentos, especialmente nos anti-gripais. Os medicamentos suspensos são os seguintes:

1)Bernadryl dia e noite..

2)Contac

3)Naldecon Bristol

4)Acolde

5)Rinarin Expectorante

6)Deltap

7)! Desfenil

8)HCl de fenilpropalamina

9)Naldex

10)Nasaliv

11)Decongex Plus

12)Sanagripe

13)Descon

14)Descon AP

15)Descon Expectorante

16)Dimetapp

17)Dimetapp Expectorante

18)Ceracol Plus

19)Ornatrol

20)Rhinex AP

21)Contilen


Solicito, pois, a todos que estejam utilizando qualquer medicamento da lista acima, que

suspendam a medicação e procurem o seu médico para maiores detalhes.

Atenciosamente,
MAURICI ARAGÃO TAVARES
Médico do Trabalho
CRM.SP.33006

48 anos depois, há gente querendo cassar de novo os direitos políticos de Serra

O principal adversário do tucano José Serra na eleição para a Prefeitura de São Paulo não é o candidato do PT, do PMDB ou de outro partido qualquer. Seu principal oponente é a cobertura política de boa parte da imprensa paulistana. O viés de certo jornalismo que se quer isento já ultrapassa a fronteira do ridículo. Nas prévias realizadas ontem, Serra obteve 52,1% dos votos — José Aníbal ficou com 31,2%, e Ricardo Trípoli, com 16,7%. Bastaria 33% mais um, certo? Ele superou, no entanto, a soma dos outros dois. Leiam jornais de São Paulo, e vocês ficarão com a impressão de que Serra foi derrotado. E tal perspectiva, claro!, é atribuída a seus próprios “assessores”, que estariam esperando mais… A sorte de Serra é que existem os eleitores!

Ora, se a perspectiva fosse uma vitória com, sei lá, 70% ou 80% dos votos, então prévias para quê? José Aníbal e Ricardo Trípoli só mantiveram suas respectivas postulações — Andrea Matarazzo e Bruno Covas desistiram como parte do entendimento político que juntou parcela do PSDB — porque, afinal, as prévias se mostraram um processo efetivo, que, de fato, mobilizou o partido. O evento deveria, em si, independentemente de méritos e deméritos dos postulantes, estar sendo aplaudido. Por virtuoso, necessariamente afastava a possibilidade de um esmagamento. Um observador que ignorasse como se andam a fazer salsichas no Brasil ficaria estupefato: “Esperem aí: esse cara obteve 52,1% dos votos, e estão dizendo que o resultado é ruim?” A sorte de Serra é que existem os eleitores.

Quanto tempo vai demorar para que alguém lance suspeitas sobre a legitimidade de Dilma Rousseff? Afinal, havia 124 milhões de eleitores no Brasil em 2010, e ela obteve “apenas” 55.752.529 — 44,9% dos votos. Entenderam? Nada menos de 55,1% dos brasileiros habilitados a votar NÃO VOTARAM NELA. Mas esse é o tipo de conta que não se faz com petista porque logo se lança a suspeita de que o analista é um golpista. Com um tucano, tudo bem! A sorte de Serra é que existem os eleitores.

Talvez seja chegada a hora de os senhores editores e diretores de redação refletirem um tantinho se não estão passando da conta. Até quando a candidatura de Serra ficará refém do samba de uma nota só da renúncia à Prefeitura em 2006 — como se os próprios eleitores não tivessem se posicionado a respeito, inclusive os da cidade de São Paulo, ao elegê-lo governador? Elegeram-no porque reprovaram a sua gestão? Dos outros pré-candidatos não se cobram propostas, descumprimentos de promessas, passado, nada… Toda a severidade do chamado “jornalismo crítico” está reservada ao tucano. A sorte de Serra é que existem os eleitores.

O que mais esperam que diga? Por qual nova explicação anseiam? Em 2006, aconteceria uma de duas coisas: ou o PSDB lançava Serra candidato ao governo de São Paulo, ou Aloizio Mercadante, do PT, seria eleito. O que, afinal de contas, esses setores do jornalismo censuram nos tucanos? A “traição” de terem impedido a vitória de Mercadante? Teria sido legítima se tivesse acontecido — apesar do dossiê dos aloprados… —, mas não aconteceu. Qual foi o pecado do PSDB? Não ter escolhido a derrota? A sorte de Serra é que existem os eleitores.

Caso vença a eleição, não há no horizonte circunstância que force Serra a disputar um outro cargo em 2014. Esse jogo está jogado. A insistência no tema, é indisfarçável, integra um trabalho que já não tem mais nada a ver com jornalismo: é militância política. Não por acaso, a questão é hoje o único tema de que se ocupam o petista Fernando Haddad e o neopeemedebista Gabriel Chalita. Ambos, aliás, podem fazer propostas escancaradamente anti-sociais — a exemplo do que disseram sobre a inspeção veicular —, e não se lê uma só linha de crítica, nada! É que é preciso voltar a 2006, ao papel, ao esforço de criminalizar politicamente o que crime não é; à tentativa de condenar Serra por algo que a população aceitou. A sorte de Serra é que existem os eleitores.

E é justamente porque os eleitores existem que se faz esse trabalho incansável: quem sabe eles mudem de ideia, não é? Analistas ditos “isentos”, que fingem estar preocupados apenas com a “ciência política”, são ouvidos para falar sobre a política e pregam — sem citar nomes, claro! — o que chamam “renovação”. Os renovadores, então, seriam Gabriel Chalita e Fernando Haddad. Como ninguém aposta no taco do primeiro, trata-se de campanha eleitoral para o segundo — conta-se com o outro apenas como esbirro do projeto. O homem da renovação é aquele que foi feito candidato porque o coronel Lula mandou.

Cada um escreva o que bem entender. Faço o mesmo. Eu estou aqui apontando a existência de uma pauta direcionada, fanaticamente anti-Serra, que preserva os demais candidatos de qualquer abordagem crítica, que consegue transformar a vitória nas prévias eleitorais numa espécie de derrota. Afinal, disputando com dois outros, ele obteve “apenas” 52,1% dos votos. Sabem como é… 47,9% não votaram nele, assim como 55,1% dos brasileiros NÃO VOTARAM EM DILMA!

Gilberto Dimenstein tinha todo o direito de tentar eleger Aloizio Mercadante, seu ex-cunhado, tio de seus filhos, em 2006. Aquela pequena ceninha que ele armou não precisava, no entanto, ter virado categoria de pensamento. Chegou a hora de a imprensa paulistana se ocupar dos problemas da cidade. Serra já teve os direitos políticos cassados em 1964. Nao será a democracia a cassá-los de novo!

Por Reinaldo Azevedo

Cuba prende 70 antes de chagada do papa

Por flávia Marreiro, na Folha:

A menos de 24 horas da chegada do papa Bento 16 a Cuba, opositores do governo comunista da ilha afirmaram ontem que ao menos 70 de seus apoiadores, entre eles 25 mulheres do grupo Damas de Branco, foram detidos por agentes do Estado. A maior parte das prisões aconteceu em Santiago de Cuba, no leste, cidade onde desembarcará o papa hoje. Os números são da ilegal, mas tolerada Comissão Cubana de Direitos Humanos e Reconciliação Nacional e das Damas de Branco, que protestaram ontem em Havana.

As detenções parecem não ser suficientes para dissuadir os opositores de irem às missas celebradas por Bento 16 -hoje em Santiago e a segunda e última em Havana, na quarta-feira. Ontem, na capital, a porta-voz das Damas de Branco, Berta Soler, exortou suas companheiras a desafiarem o governo e participar das atividades ignorando advertências feitas por policiais e cercos formais e informais nas casas das ativistas. “Casa não é calabouço. Se quiserem nos impedir, que nos prendam”, disse Soler.

“Eles apareceram na minha casa às 6h da manhã e disseram que eu não viesse que ia ser candela [ia pegar fogo], que eu ia ficar presa até o papa ir embora”, disse Elza Sarduy, 27, também “dama”. “Não vamos lá fazer política”, disse Soler, que voltou a pedir audiência de “ao menos um minuto” com o papa.

Momentos antes, Soler liderara a marcha silenciosa das mais de 30 mulheres de branco presentes pelo canteiro central da 5ª Avenida de Miramar, coalhada de representações diplomáticas. O cortejo foi seguido por ao menos o dobro de jornalistas, cinegrafistas e fotógrafos, uma não usual profusão de imprensa estrangeira credenciada oficialmente para registrar a visita de Bento 16. A manifestação é um dos mais emblemáticos e resistentes símbolos da diminuta e pulverizada oposição

sábado, 24 de março de 2012

Lula, o Marechal Tito de uma Iugoslávia chamada PT

Pode parecer normal, coisa do jogo político, mas, lamento, não é. Ao contrário: estamos diante da expressão de uma crise. Hoje foi a vez de Fernando Haddad visitar Lula e ter uma foto da dupla divulgada pelo Instituto Lula. Nem a rainha da Inglaterra — para usar a metonímia (viu, Pedrinho?) da realeza — tem sua vida tão documentada. A razão é simples. Não temos mais monarquias absolutistas no mundo, exceção feita à Arábia Saudita e a alguns paisecos que se tornaram folclóricos. Lula é o monarca absolutista com maior visibilidade no Ocidente.

Por enquanto, o ex-presidente não pode falar. Então ele envia recados por intermédio de suas visitas: Lula acha isso; Lula pensa aquilo; Lula quer aquele outro. Lula é, em suma, um elemento perversamente unificador da política. Escrevo “perversamente unificador” porque nada cresce à sua sombra, como se vê. Diga o que se quiser de Dilma — que é intolerante com a corrupção (pode ser), com o fisiologismo (pode ser), com os oportunistas (pode ser) —, só não se diga que ela é uma liderança política. Se vai ser ainda, veremos.

A verdade é que a crise que está aí instalada — e, convenham, sem um motivo muito claro; não para que seja tão crispada ao menos — é fruto de um notável autoritarismo de Lula e, como dito, de seu absolutismo. Dilma, a exemplo do próprio Haddad em escala municipal, é uma invenção sua. Dá pra discutir se o PT tinha ou não tinha outros nomes viáveis; dá pra debater se a escolha obedecia a uma equação ditada pelo marketing; dá para indagar se havia ou não gente mais competente no próprio PT… Uma coisa, no entanto, é absolutamente indiscutível: Lula tinha experiência política para governar (goste-se ou não de sua gestão). Dilma era uma aposta, na origem, de impressionante irresponsabilidade política.

Esclareço o que digo, já que, hoje em dia, o sentido das palavras parece viver uma certa falência. Não acho que Dilma esteja fazendo um governo temerário ou irresponsável, não! É medíocre, é fraco, não tem eixo nem rumo. Mas estamos muito longe do caos, é evidente. O que quero dizer com isso é que, dada a sua brutal inexperiência no jogo político e óbvia inabilidade, ela até que se sai bem. Ao contrário da fala do Gigante Adamastor (Os Lusíadas), com Dilma, o dano é menor do que o perigo — este era imenso; até que está saindo barato.

Como tudo está em transe na base governista e como a oposição vive seu momento silencioso (o DEM acuado pelas denúncias contra o senador Demóstenes Torres; o PSDB nacional, parece, pela falta do que dizer ), Lula, que ainda não pode falar em público, se torna a única voz ainda firme da política; aquele de quem se espera algum norte, alguma articulação mágica, alguma resposta.

Que coisa! Em meio a tanta barulheira, a política se tornou refém do silêncio de Lula. É um sinal de fraqueza da oposição, sim!, incapaz de articular uma reação mesmo a um governo descoordenado. Mas também é evidência de que o PT é, assim, uma espécie de Iugoslávia do Marechal Tito. A balcanização o espreita. É questão de tempo.

Por Reinaldo Azevedo

sexta-feira, 23 de março de 2012

A última de Maria do Rosário, a provocadora vulgar. Ou: A Musa do Desarmamento que recebeu contribuição de campanha da Taurus!

A ministra Maria do Rosário (Direitos Humanos) não passa de uma provocadora vulgar, uma criadora de casos, uma pequena usina de crises inúteis. Ela só não é mais perigosa porque a democracia QUE ELA NÃO AJUDOU A CONSTRUIR garante a saúde institucional do país. Seu proselitismo é de segunda categoria; sua ignorância jurídica chega a ser comovente; sua parcialidade é escandalosa; sua amoralidade no exercício do cargo expõe o governo ao ridículo.

Amoralidade? À frente de uma pasta chamada “Direitos Humanos”, tocadora de tuba da banda do revanchismo, ao se manifestar sobre Cuba, disse não ver razões para condenar a política de direitos humanos naquele país. Convidada a falar sobre o assunto, preferiu disparar besteiras sobre o embargo americano à ilha, como se este não fosse hoje uma bênção para Raúl Castro, o anão homicida que governa a parte daquela prisão que tem déficit de proteína — na outra parte, Guantánamo, os terroristas comem bem… O embargo é uma bênção para Raúl porque ele pode usá-lo como desculpa para o desastre econômico que assola o país.

Maria do Rosário finge ignorar que o resto do mundo negocia com Cuba — inclusive o Brasil. Não há uma só carência, um só sofrimento, uma só dificuldade que o povo da ilha enfrenta que decorram do embargo. O que vocês querem que eu diga? Se ela tivesse compromisso com a verdade, não seria petista. Só se é PT, reitero, por equívoco (ignorância) ou malandragem.

Maria do Rosário é a principal responsável por um vexame por que passam a presidente Dilma Rousseff e Celso Amorim. Foram as suas declarações estúpidas, juridicamente infundadas e politicamente desastradas, que geraram dois documentos redigidos por militares da reserva — um deles é um abaixo-assinado. Quando a presidente e seu ministro mandaram, CONTRA A LEI, punir os signatários, eram 98 os militares, 13 deles oficiais-generais. Agora, num manifesto com 2.443 assinaturas, nada menos de 1.362 são “milicos” (como eles gostam de dizer) — 117 oficiais-generais. A “ordem” de punição foi passada aos respectivos Comandos das Três Forças. Não será cumprida porque ninguém tem a obrigação de executar uma ordem ilegal. Na prática, obra de Maria do Rosário!

Como a ministra não está aí para promover paz, reconciliação, entendimento ou o que seja, manteve ligado o radar do besteirol e decidiu apontar mais uma. O Brasil tem mais de 500 mil presos — 498.500, segundo o Censo Penitenciário de 2010. Uma larga parcela — eu me arriscaria a dizer que a larga maioria — vive em condições subumanas. O partido que esta senhora representa prometeu ajudar os estados a vencer essa dificuldade, mas o plano, também este, nunca saiu do papel. As cadeias vivem uma rotina de horror. Sempre que petistas se manifestam sobre o assunto, dizem tolices: “O Brasil prende demais!” É mentira! Não prende, não! São Paulo, com 22% da população, tem quase 40% desse grupo. Isso certamente ajuda a explicar o fato de que a taxa de homicídios no Estado despencou 80% em pouco mais de 10 anos (25º entre os 27; a capital é a que menos mata no país). A relação é direta: estados que prendem mais são mais seguros. Os humanistas do pé quebrado detestam essa evidência. Mas não quero perder o foco. Volto ao ponto.

Se Dona Maria do Rosário quer investigar as condições dos “direitos humanos” nas prisões Brasil afora, não lhe faltará o que fazer. E vai encontrar o inferno. Mas ela quer deixar essa tarefa pra depois. De resto, pra que arrumar confusão com governadores aliados, não é? As piores prisões do país estão em estados administrados por governadores da “base de apoio”. Aí o radarzinho da criadora de casos apitou: “Diga que você quer fazer blitz em presídios militares. Demonstre que você é uma pessoa corajosa”. O projeto que tramita na Câmara, enviado pela preclara, inclui visitas-surpresa aos quartéis.

Em nota, claro!, a secretaria nega que o objetivo seja esse — assim como Maria do Rosário não é uma revanchista… Leiam trecho:
“Trata-se de um mecanismo abrangente, voltado ao enfrentamento da tortura. O objetivo que orientou a construção deste Projeto de Lei é enfrentar a violência em instituições como as delegacias de polícia, penitenciárias, instituições de longa permanência de idosos, hospitais psiquiátricos e instituições socioeducativas para adolescentes em conflitos com a lei, onde há o maior número de denúncias”.

A campanha do desarmamento e a arma
Maria do Rosário é mesmo um exemplo de retidão e coerência. Quando o governo lançou a sua ridícula campanha em favor do desarmamento, a ministra foi uma sua propagandista, a sua verdadeira musa. E saiu dizendo por aí que os mais de 50 mil homicídios no Brasil decorrem, entre outras coisas, da venda legal de armas, que caem nas mãos de bandidos. É mentira, obviamente. Muito bem! Talvez ela não pensassem isso em 2008, quando se candidatou à Prefeitura de Porto Alegre e foi também musa da Taurus. A empresa, que fabrica armas, doou R$ 75 mil para a sua campanha.
Que se note: eu sou contra a proibição da venda de armas legais. A tese não passa de mistificação. E sou diferente de Maria do Rosário, claro! Eu NÃO PEGO dinheiro da Taurus, mas favorável à venda e compra de armas legais; Maria do Rosário pega, mas se diz contrária. É que Maria do Rosário é petista. Eu sou só corintiano.

Fala o que dá na telha
Esta senhora fala o que dá na telha sem compromisso com os fatos. No ano passado, denunciou o que seria uma onda de extermínio de lideranças camponesas no Pará, com cinco mortes. O tema ganhou os principais jornais do mundo. Dilma criou uma comissão de cinco ministérios só para cuidar do assunto. Nota: Dilma nunca criou uma comissão de cinco ministérios para tratar dos mais de 50 mil homicídios que há por ano no Brasil. Mas aqueles cinco a deixaram muito tocada. Poderiam ser, afinal de contas, companheiros! E faz tempo que eles acham que os mortos “deles” têm pedigree, ao contrário dos mortos dos outros, que são apenas vira-latas. Para os mais de 50 mil vira-latas, nada!

Pois bem… Não havia nem onda nem extermínio. Investigados os cinco casos, tratava-se de ajuste de contas pessoais — um dos mortos era um bandido foragido. Dois deles, um casal, morreram em confronto com outro assentado, sendo que o marido já havia participado, indiretamente, do assassinato de um rival!

A esta senhora está confiada a pasta dos Direitos Humanos. O governo Dilma é fraco — se é popular ou não, pouco me importa. Exceção feita ao governo Collor, a verdade é que a governanta tem, dado o conjunto da obra, o pior ministério desde a redemocratização — e olhem que isso inclui o governo Sarney! Maria do Rosário é um emblema dessa ruindade.

Por Reinaldo Azevedo

INDIGÊNCIA INTELECTUAL, POLÍTICA E MORAL - Senado cobra fim da prisão de Guantánamo e do embargo a Cuba. Atenção! Foi o Senado Brasileiro! Mas isso é

Ah, meu Jesus Cristinho! Eis um daqueles momentos em que o ato de dar a notícia já provoca na gente um profundo sentimento de vergonha. Leiam o que informa a Agência Senado. Volto em seguida:
*
A Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE) decidiu, nesta quinta-feira (22), fazer um apelo aos Estados Unidos para que “suspendam o bloqueio econômico e comercial a Cuba”. Logo em seguida, no entanto, a comissão rejeitou a proposta de solicitar ao governo de Cuba a concessão de um indulto aos presos políticos que ainda estão nas cadeias daquele país e a autorização para que a blogueira Yaoni Sánchez possa viajar a outras nações, como o Brasil.

As duas medidas foram sugeridas em requerimentos do mesmo senador, Eduardo Suplicy (PT-SP), e receberam o apoio do senador Pedro Simon (PMDB-RS), relator em ambos os casos, Durante a votação, porém, apenas o primeiro requerimento foi aprovado. Na votação do segundo requerimento, dos 10 senadores presentes, apenas três - Suplicy, Simon e Ana Amélia (PP-RS) - manifestaram-se pela aprovação.

Ao defender os dois requerimentos, Simon fez uma dura crítica à manutenção do embargo econômico a Cuba, que se mantém por mais de 50 anos. Ao mesmo tempo, o relator considerou justo pedir a Cuba que “avance no sentido das liberdades”, permitindo a entrada e a saída de cidadãos cubanos do país e a libertação de prisioneiros políticos. Ele considerou interessante que os dois requerimentos fossem votados ao mesmo tempo.

Logo em seguida, a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) anunciou sua posição favorável apenas ao primeiro requerimento. Em sua opinião, o bloqueio econômico a Cuba pode ser considerado um “atentado aos direitos humanos”, por prejudicar a população do país. Por outro lado, perguntou quem estaria financiando o trabalho da blogueira Yaoni Sánchez e criticou a proposta de Suplicy para que o governo cubano libertasse os prisioneiros políticos da ilha.

“Respeito Cuba e não gostaria que entrássemos em questões internas daquele país”, afirmou Vanessa. O mesmo argumento foi utilizado pelo senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), para quem os dois requerimentos tinham naturezas diferentes. Segundo ele, o Senado brasileiro estaria “invadindo a soberania cubana” ao dizer àquele país quem deve ou não permanecer preso. Simon argumentou, por sua vez, que a aprovação simultânea dos dois requerimentos estaria no contexto de uma proposta de “pacificação geral” nas relações entre Estados Unidos e Cuba. Suplicy também pediu a aprovação das duas propostas. “Nos Estados Unidos dizem que, se Cuba der sinais de maior liberdade, vão acabar o embargo mais rapidamente. O embaixador de Cuba não responde mais a meus telefonemas, mas faço isso como amigo do povo cubano”, disse Suplicy.

O presidente da comissão, senador Fernando Collor (PTB-AL), previu que a aprovação do segundo requerimento poderia se tornar uma “mensagem mal entendida pelo governo cubano”. O pedido, em sua opinião, poderia distanciar o Brasil de Cuba e “dificultar um diálogo mais fluido com aquele país”. Da mesma forma, o senador Delcídio do Amaral (PT-MS) disse que o texto proposto por Suplicy poderia ser considerado “uma intromissão em assuntos internos de um país com o qual o Brasil tem boas relações”. O requerimento aprovado pela comissão pede ainda ao governo dos Estados Unidos que liberte cinco cubanos presos em seu território, acusados de espionagem, além do fechamento da base militar de Guantánamo, mantida pelo governo americano em território cubano.

Voltei
Pois é… Achei que o mal de Suplicy fosse uma “idiopatia”, se me permitem o neologismo (para entender o significado, buscar no dicionário o sentido de “id” e “pata”). Mas não! Noto que o mal é contagioso. Se bem que, com uma exceção ou outra, o grupo ali não inspirava mesmo grande confiança, especialmente quando o assunto é política externa…

Então vamos ver. O Senado brasileiro acha que está a seu alcance cobrar dos EUA — essa ditadura asquerosa, certo? — que suspenda o embargo contra aquele exemplo de democracia que é Cuba. Também quer o fim de Guantánamo, onde — falamos sobre isso ontem — estão presos terroristas. Encanta-me, adicionalmente, o senso de oportunidade: no dia em que Mohammed Merah foi morto pelas forças de segurança francesas. Nota: ele foi preso pelos americanos no Afeganistão e entregue à França, que o deixou solto… Uma pena que não tenha sido mandado para Guantánamo. Mas vamos seguir.

A maioria da tal comissão achou que lhe cabia fazer essas cobranças aos EUA, mas se negou a pedir a libertação dos presos políticos. Atenção! Cuba é um dos poucos países do Ocidente em que há prisioneiros de consciência. Também não quis votar uma moção em favor da viagem de Yoani Sánchez. Como a “idiopatia” de Suplicy é ideologicamente orientada, é claro que essa proposta era o emprego da virtude em favor do vício. Para todos os efeitos, ele propôs coisas dos dois lados; os outros é que não aceitaram, entenderam?

Vejam que lindo! A senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) não quis pedir a libertação dos presos de consciência porque alegou que “tem muito respeito por aquele país”. Ora, por que não teria? Pensa o mesmo o tal Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) — que, se cubano, certamente estaria trabalhando, debaixo de chicote, em um canavial.

Cuba está entre os países que têm os presídios mais insalubres e precários do mundo; pessoas que cometeram o crime de pedir democracia são confinadas junto com bandidos comuns. Em comparação com as instalações prisionais do país, Guantánamo é um paraíso. Aliás, os terroristas que estão presos ali vivem melhor do que os prisioneiros do outro pedaço a ilha — refiro-me à população como um todo.

Os senadores foram fundo na impostura. Não pediram que Cuba liberte seus presos de consciência porque consideraram que isso seria intromissão em assuntos internos, certo? Não obstante, cobraram que os EUA soltem cinco cubanos presos no país, a saber: Ramón Labañino, René González. Tony Guerrero, Fernando González e Gerado Hernández Nordelo.

São, comprovadamente, agentes da ditadura cubana detidos nos EUA.

Entenderam a moral dos nossos valentes? Não se deve exigir que Cuba liberte inocentes porque isso seria uma intromissão inaceitável em seus assuntos internos. Mas lhes parece razoável que se exija que os EUA libertem culpados.

A indigência intelectual e moral em que chafurda a política brasileira assume dimensões absolutamente inéditas.

Nunca antes na história da própria indigência!

Por Reinaldo Azevedo

quinta-feira, 22 de março de 2012

Crise demonstra que Dilma ainda não existe. E, sem Lula, quem não existe é o PT

Alguém andou soprando maus conselhos aos ouvidos da presidente Dilma Rousseff: “Mande bala, Soberana; não dê bola pra esse pessoal do Congresso, não, um bando de fisiológicos! Todos curtidos na cultura do toma lá da cá, sem ideologia, sem valor, que jamais pensam no bem comum!”

E a Soberana esqueceu, então, as juras de amor que havia feito justamente a esses que passaram a ser demonizados por parte ao menos da turma que a cerca. Atenção, hein: não é que muitos ali não mereçam… Há gente que não vale mesmo um tostão furado! Mas foi a eles que Dilma apelou para vencer as eleições, não? Foi quando conquistou essa turma que o petismo, lá atrás, constituiu a maioria necessária para vencer a eleição. Ou alguém já esqueceu que parte do PMDB, em 2002, debandou da candidatura Serra, migrando pra Lula?

Se vocês procurarem, encontrarão um discurso em que o Apedeuta se jactava, justamente diante de peemedebistas, de ser muito diferente de FHC; com um petista no poder, sugeria, era pedir e levar! O lulo-petismo — e a eleição de Dilma fez parte desse pacote — alçou o modo peemedebista de fazer política à condição de coisa sublime. Lula era o arquiteto desse arranjo.

“Mas me diga, Reinaldo, Dilma faz mal em querer moralizar?” Vênia máxima, “moralizar exatamente o quê?” A presidente diga qual é o pleito ilegítimo da tal “base aliada”, que não fizesse parte do pacote, e eu, então, teria condições de responder. Por enquanto, o que se tem é certo conversê dos que advogam a existência de um “jeito Dilma de governar”, segundo o qual ela não condescenderia com práticas danosas para a República. Quais “práticas danosas”? Eu, até agora, não entendi, por exemplo, o sentido da ida de Marcelo Crivella (PRB) para o Ministério da Pesca, por exemplo. A ação faz parte do pacote moralizante da presidente ou foi só um ato de vontade? Até agora, o máximo que deu para saber é que ele pretende aprender a botar minhoca no anzol (uma metáfora, Pedrinho…).

Lula, com efeito, sabia fazer mais agrados à tal base aliada e coisa e tal, mas isso certamente tem menos peso do que o fato de que ele estava com o caixa mais gordo para gastar, o que é sempre uma farra, dada a forma como o estado brasileiro é loteado entre os partidos. Com a grana curta, a receita desandou. Mas não se deve menosprezar o fator “incompetência”, não. A forma como Dilma substituiu os líderes na Câmara e no Senado era evidência de que estava sob a influência de um mau conselho. Apontei isso aqui — apenas por amor à lógica. Se a base lhe tinha mandado um pequeno recado com a recusa de um nome para uma agência reguladora, cumpria ver até que ponto não tinha condições objetivas de dar um recado mais duro. E tinha.

Trapalhões
Que o governo reúna hoje um bom grupo de trapalhões, isso é inegável. O episódio da liberação da venda de bebida alcoólica nos estádios o prova mais do que qualquer outra coisa. Há tempos não se via algo semelhante. Mas nem mesmo aquela que parecia ser a solução — uma estupenda manifestação de covardia — bastou.

O governo anda um tanto descolado da realidade. Hoje, antes da derrota sofrida na Câmara, Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência e homem mais importante no PT depois de Lula, previa um dia tranquilo. Pois é…

Essa crise tem nomes: “Lula e Dilma”. Certa feita, em 2010, o então presidente da República afirmou que, pela primeira vez desde 1989, a urna não traria o seu nome entre os postulantes à Presidência da República — evidência de que o PT não se renovava, não é? E emendou que, onde se leria “Dilma”, dever-se-ia ler “Lula”. Ocorre que ela, como se vê, definitivamente, não é ele. A rigor, ela ainda não é nem mesmo “Dilma”, como personalidade política autônoma e capaz de liderar o processo político. Vai ser algum dia?

Torço para que o indivíduo Lula se recupere — há quem não acredite nisso, claro! Paciência! Quem me conhece sabe que falo a sério. Minha torcida tem um aspecto humano, nada instrumental. Os petistas, no entanto, sem prejuízo de eventualmente compartilharem desse sentimento altruísta, têm motivos pragmáticos, muito oportunistas, para ansiar pela volta do seu líder.

Sem Lula, o PT, definitivamente, não existe.

PS: Os fazedores de notícia do Planalto já espalham que novas pesquisas indicam que a popularidade de Dilma aumentou: estaria sendo vista como aquela que, depois de combater a corrupção, combate também a fisiologia. Já escrevi a respeito. Se os “dilmistas” acham que esse tipo de proselitismo é um bom caminho, dou a maior força, hehe. Noto, até em benefício da governanta, que Lula sempre usou a sua popularidade contra a oposição. Se alguém acha uma boa idéia usá-la contra os aliados, só me resta dizer: “Vá em frente, Soberana!”

Por Reinaldo Azevedo

O lado bom da rebelião - CCJ aprova PEC que obriga a passar pelo Congresso a demarcação de terras indígenas e quilombolas e a definição de Aréas de Pr

Mas há reacionários que não gostam disso…

Leiam o que informa Evandro Éboli, no Globo.

O governo saiu derrotado por sua própria base em votação no início da tarde desta quarta-feira, na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara. O PT bem que tentou protelar com obstrução, apresentação de requerimentos e pedidos de suspensão da sessão, mas, dessa vez, conseguiu. Por 38 a 2, foi aprovada a admissibilidade de uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que determina que passe pelo Congresso Nacional a demarcação de terras indígenas, o reconhecimento de terras quilombolas e a definição de áreas de preservação ambiental. Agora, será criada uma comissão especial que vai discutir a proposta e votar seu relatório. Somente depois irá a Plenário. Mas até lá, o PT promete continuar obstruindo. Mais cedo o secretário geral da Presidência, ministro Gilberto Carvalho, chegou a dizer que a crise com a base estava superada.

Alessandro Molon (PT-RJ) anunciou, no final, que o partido irá recorrer na Casa mas que pode até ir ao Supremo Tribunal Federal (STF) para que seja declarada a inconstitucionalidade da matéria. A sessão durou cerca de três horas e, no final, foi marcada pelo tumulto. Grupos indígenas do Pará e de Minas Gerais, pintados e com cocares, apoiados por dirigentes de ONGs, protestaram o tempo inteiro e, no momento da votação do mérito, intensificaram o barulho. Após a votação, houve tumulto e início de briga entre seguranças e indígenas, que, com intervenção de deputados, conseguiram atravessar toda a Câmara. Eles dançavam e gritavam palavras de ordem contra a PEC.

O PT contou apenas com o apoio do PV, do PSB, do PCdoB e do PSOL na sessão. PMDB, PSD, PSDB, PTB, PDT, PPS e PP votaram contra o governo. O PT usou a mesma estratégia de terça, quando conseguiu impedir a votação da proposta e a sessão foi encerrada por falta de quórum. Nesta quarta, o clima esquentou e houve bate-boca entre deputados que tinham posições distintas sobre o assunto. O líder do PV, Sarney Filho (MA), disse que, a decisão da CCJ vai levar violência ao campo. “É uma decisão perigosa que vai gerar violência ao campo, nas áreas indígenas e nos quilombos”, disse Sarney.

Ivan Valente (PSOL-SP) também criticou a decisão: “Prevaleceu o interesse dos ruralistas e os interesses econômicos dos grileiros, das mineradoras e dos reacionários. É a turma da motosserra”, disse Valente. Roberto Freire (PPS-SP), que votou contra o governo, defendeu que a demarcação de terras passe pelo Congresso. “É um assunto relevante demais para a Nação e que não pode ficar concentrado na mão de uma única pessoa, a presidente da República”, disse Freire. Zenaldo Coutinho (PSDB-PA) votou a favor da proposta. “Há um cinismo, um terrorismo por parte do governo, quando diz que, com a aprovação da PEC, as demarcações serão revistas e diminuídas. Não há hipótese que isso aconteça”, disse Coutinho.

O relator do projeto, que deu parecer favorável, foi o deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), que é um dos vice-líderes do governo. Ano passado, o relator da matéria era o deputado Luiz Couto (PT-PB), que deu parecer contrário. Ele foi destituído pelo governo. “Fui indicado relator e fui retirado porque dei parecer contrário. Uma falta de respeito”, disse Couto. Na votação, como o PT e outros partidos entraram em obstrução, seus votos não contaram.Vejam como um pouco de rebelião no Congresso pode fazer bem e até lembrar que, numa República, os Poderes são independentes. As esquerdas estão fazendo um barulho danado com essa proposta e tentarão impedi-la de chegar à votação a qualquer custo. Vejam lá o deputado Ivan Valente, que acusa a turma da “motosserra”. Ele não sabe o que fala. Na China maoista, seria enviado para um estágio no campo… Lamento tanto que ele não tenha de conhecer no lombo o ’socialismo com liberdade”…

Comento

A sinistra está fazendo terror, afirmando que estaria aberto o caminho para a revisão de demarcações. Mentira! Não há como rever coisa nenhuma. Se a proposta vira lei, o Congresso passa a opinar, o que é o certo. Afinal, trata-se apenas da destinação do território brasileiro para este ou para aquele fim.

Nada menos de 13% do território brasileiro são destinados a reservas indígenas. Parece que é hora de o conjunto do povo brasileiro, por meio do Congresso, decidir até onde se quer chegar com isso. Permitir que um presidente da República continue a cuidar do assunto sozinho, como se fosse um monarca absolutista, bem, isso, sim, é que é agressão à democracia!

Foi a rebelião que produziu esse bem? Então viva a rebelião! Mas calma! Por enquanto, trata-se apenas de uma votação na CCJ.

Por Reinaldo Azevedo

quarta-feira, 21 de março de 2012

Lei prevê 400% de aumento em serviços cartoriais

Usuários de cartórios no estado da Bahia terão que gastar mais dinheiro com o Poder Judiciário. Isso porque a Lei (12.373) que aumenta as taxas de prestação de serviços e de poder de polícia no âmbito do Poder Judiciário, cria uma nova taxa chamada de fiscalização judiciária, que entra em vigor no próximo dia 26 de março. A Lei prevê que atos mais comuns como impetrar um mandado de segurança, intimação e certidão negativa fiquem em média 150% mais caros. Quando os serviços de tabeliães forem utilizados, a taxa de fiscalização judiciária será exigida simultaneamente com os emolumentos representando um aumento excessivo em relação aos valores atuais.

“Um processo que tenha o valor da causa fixado entre R$ 46,00 e R$70,59 paga atualmente uma taxa de R$14,80. Pela nova tabela, entretanto, terá que pagar R$250,00, ou seja, uma majoração entre 443% no primeiro caso e 254% no segundo”, explica Helcônio Almeida, presidente do Instituto dos Auditores Fiscais do Estado da Bahia (IAF). De acordo com a Lei estadual 11.631 que ainda vigora, o reajuste anual das taxas é de no máximo 6,56%, o que corresponde ao Índice de Preços ao Consumidor Amplo - IPCA, apurado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2011.

Se, por exemplo, 10 escrituras forem lavradas por dia com valores compreendidos entre R$352.000,00 e R$ 528.000,00 reais, o cartório teria um faturamento bruto em torno de R$19.292,00 que, multiplicado pelos 22 dias úteis significaria o recolhimento de cerca de R$424.424,00 por mês, cabendo ao cartório R$275.594,00 a título de gratificações e R$148.830,00 como “taxa de fiscalização judiciária” que deverá ser transferida para o Poder Judiciário.

Para Almeida, algumas questões precisam ser levantadas: “A Lei que instituiu tal tributo não “definiu” como será feita esta fiscalização, deixando assim de cumprir uma exigência da Constituição Federal (§1º do Art. 236). Quem vai ser o responsável para apurar possíveis denúncias contra o serviço privatizado? Haverá um órgão especial para receber essas reclamações? Elas irão para o Corregedor do Poder Judiciário ou teremos um órgão especial para receber estas reclamações? O cidadão contribuinte continuará desassistido sendo obrigado a aceitar possíveis “custos extras”?” questiona

Aguinaldo Silva revela segredo de Ricardo Teixeira

PROJAC - O autor de novelas Aguinaldo Silva revelou ontem o segredo de Ricardo Teixeira à revista Futilidades. "Teixeira é mais malvado que Tereza Cristina, mais bochechudo que Jabba the Hutt e mais discreto que Susana Vieira", explicou enquanto fazia suspense. Após beliscar dois amendoins, Aguinaldo subiu o tom de voz e, triunfante, relevou pausadamente como será a cena: "Após três exames de DNA, Teixeira descobrirá que é pai de Andrés Sanchez. A revelação causará estupor em Juca Kfouri que caminhará, atordoado, por uma região erma até ser atropelado por Edmundo. Adriano chegará ao local com duas periguetes e, surpreso, dará um tiro na mão de Juca. Andrés herdará a fortuna do pai e se casará com uma das Mulheres Ricas que torce para o Corinthians".

Animado com a repercussão da imprensa, Aguinaldo resolveu contar todo o final da novela Ti-ti-ti na CBF: "Crô terminará num carro com Ronaldo a caminho da Barra da Tijuca. Todos os outros personagens se casarão", anunciou.

Ao final da tarde, José Maria Marin foi visto colocando o roteiro do último capítulo no bolso

terça-feira, 20 de março de 2012

Pecado original

DORA KRAMER - O Estado de S.Paulo

Se o líder do governo no Senado, Eduardo Braga, foi fiel às palavras de Lula, se não pretendeu só apresentar uma versão mais bem acabada do que lhe teria dito o ex-presidente sobre a necessidade de alterar os "paradigmas" da coalizão governamental, estamos diante de um profundo exercício de autocrítica.
Ou da materialização do "faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço".
Braga foi visitar o ex-presidente na sexta-feira e diz ter ouvido dele o seguinte raciocínio: "O País vive uma nova realidade política e social, por isso é fundamental a renovação e a instituição de novos métodos e práticas políticas".
Nova realidade, conforme o explicado, em relação à época em que o PT assumiu a Presidência. Nove anos atrás, imbuído da disposição de reinventar o Brasil.
Entre as novidades, introduziu no cenário a legitimação do aprofundamento de velhos vícios sob a justificativa de que seria essa a única maneira de se governar o País.
De lá para cá muita coisa mudou. O uso do caixa dois em campanhas eleitorais, por exemplo, virou argumento de defesa e comportamentos tidos como desviantes passaram a ser vistos explícita e assumidamente como imperativos indispensáveis ao bom andamento dos trabalhos governamentais.
Nos dois casos, alterações decorrentes da interpretação do próprio Lula sobre a vida e suas circunstâncias no poder. Quanto ao caixa dois, o "todo mundo faz" foi adotado pelo então presidente como baliza de conduta na inesquecível entrevista dada em Paris com o fito de enquadrar os crimes contidos na rubrica "mensalão" na moldura das infrações de caráter eleitoral.
A respeito dos meios e modos de funcionamento de uma base de sustentação partidária no Congresso, ele falou claro à Folha de S.Paulo em outubro de 2009.
A pergunta era sobre as críticas de Ciro Gomes à tolerância de Lula e Fernando Henrique ao uso de bens públicos como instrumentos privados na prática do fisiologismo.
Resposta do presidente: "Qualquer um que ganhar as eleições, pode ser o maior xiita ou o maior direitista, não conseguirá montar o governo fora da realidade política. Entre o que se quer e o que se pode fazer tem uma diferença do tamanho do Oceano Atlântico. Se Jesus Cristo viesse para cá e Judas tivesse a votação (sic) num partido qualquer, Jesus teria que chamar Judas para fazer coalizão".
Naquela altura já haviam transcorrido quase oito anos da posse de Lula e o que se via era a aceitação não o inconformismo com a situação posta. Desde então, passaram-se menos de três anos e o que se fala agora é na chegada de um "momento de transformação" imposto por uma "nova realidade".
É de se perguntar qual realidade nova. As únicas mudanças visíveis são as decorrentes do acúmulo de deformações resultantes dos termos do contrato desde lá atrás firmado com os partidos, e renovado não faz muito tempo pelo próprio Lula
Seja quando da campanha para eleger Dilma ou mesmo depois, na formação do ministério feita conforme as mesmas regras. Na hora da eleição ou da distribuição inicial dos cargos, nenhuma das agremiações envolvidas foi informada sobre uma possível alteração nos mandamentos.
Compreende-se o desconforto da presidente com a sistemática da chantagem permanente, com a necessidade de reservar tempo para dar atenção aos condôminos do latifúndio que comanda, das imposições de uma arte que não lhe é familiar.
Mas não é aceitável crer que depois de oito anos no topo do governo ela não soubesse onde pisava ou não tivesse ideia do preço da construção de um edifício enorme (80% do Congresso) erigido sob os alicerces frágeis da cooptação.
Louvável, e necessário, que a presidente queira mudar as regras do jogo. Só não pode é fazer de conta que as ignorava - tanto que aceitou jogar de acordo com elas - nem tentar mudá-las na base da queda de braço com os parceiros.
Ou bem enfrenta de fato o problema mediante a reformulação clara dos termos do pacto ou mais cedo ou mais tarde terá de ceder às cláusulas do velho contrato em vigor