segunda-feira, 30 de julho de 2012

Carlos Brickmann: a estranha história do empregão da primeira-dama da Bahia

PUBLICADO NA COLUNA DE CARLOS BRICKMAN
O problema dessas histórias mal explicadas é que precisa ser tudo bem combinado: se alguém erra, dá a impressão de que todos estão mentindo. Imagine!
Pois descobriu-se que a primeira-dama da Bahia, Fátima Mendonça, enfermeira de profissão, esposa do governador petista Jaques Wagner, tem salário mensal de R$ 14.632, como assessora de supervisão geral da Coordenação de Assistência Médica do Tribunal de Justiça de Salvador. Aí as peças começam a se desencaixar: a assessoria de Imprensa de Fátima Mendonça diz que ela está licenciada desde 2007, quando assumiu o comando das Voluntárias Sociais, cargo tradicionalmente reservado às primeiras damas. A assessoria de Comunicação do Tribunal diz que ela não está licenciada, não: desenvolve projetos relacionados a menores “em situação de vulnerabilidade”, e que ser presidente das Voluntárias Sociais “não a descredencia de suas atividades profissionais”. Licenciada ou não, o salário continua sendo pago à esposa do governador. E é um belo reforço à receita do casal: somando-se o que ambos recebem do Estado, dá uns R$ 40 mil.
É um acréscimo muito bem recebido. Jaques Wagner está pagando a residência onde vai morar no fim de seu mandato, em 2014, no Corredor da Vitória, elegantíssima região de Salvador. O preço da Mansão Leonor Calmon, segundo informações oficiais, foi de R$ 3,7 milhões.
Para quem começou como técnico de manutenção de petroquímica, entrou no PT e em sindicatos e depois só exerceu cargos públicos, é um bom exemplo de quem se esforçou e cresceu na vida

sábado, 28 de julho de 2012

A carta do comandante-geral da PM de SP e as verdades que a imprensa engajada tenta omitir. Ou: 100 mil jornalistas seriam, no conjunto, mais decentes do que 100 mil policiais?

O coronel Roberval Ferreira França, comandante-geral da Polícia Militar do Estado de São Paulo, divulgou uma carta no Facebook que tem apenas um defeito. Embora seja a voz de seu comandante-geral, o texto deveria estar ainda mais claramente caracterizado com a voz da instituição. Tem de ser um documento oficial da PM. O texto é tão esclarecedor, diga-se, que poderia vir assinado também pelo secretário de Segurança e pelo próprio governador do estado. Leiam. Volto em seguida.

Carta ao Povo de São Paulo e do Brasil
A Polícia Militar defende e protege 42 milhões de pessoas que residem no estado de São Paulo. Para quem pergunta se a população confia na Polícia, os números falam por si: no último ano, atendemos a mais de 43 milhões de chamados de pessoas pedindo ajuda, socorro e proteção; realizamos 35 milhões de intervenções policiais, 12 milhões de abordagens, 310 mil resgates e remoções de feridos e 128 mil prisões em flagrante (89 mil adultos e 39 mil “adolescentes infratores”); apreendemos 70 toneladas de drogas e mais de 12 mil armas ilegais; recuperamos 60 mil veículos roubados e furtados. De janeiro a junho, a população carcerária do estado cresceu de 180 mil para 190 mil presos, o que representa 40% de todos os presos do Brasil.
O estado de São Paulo ocupa o 25º lugar no Mapa da Violência 2012, publicado em maio pelo Instituto Sangari e registra hoje uma taxa de 10 homicídios/100 mil habitantes, uma das mais baixas do país. Só para ilustrar, o Rio de Janeiro registra a taxa de 30 homicídios/100 mil habitantes, e Alagoas chegou à impressionante taxa de 73 homicídios/100 mil habitantes. Tudo isso parece incomodar muito algumas pessoas, que tentam, por várias medidas, atacar e enfraquecer uma das mais bem preparadas e ativas polícias do nosso país. Essas pessoas ignoram muitos fatos e verdades. Neste ano, tivemos mais de 50 policiais militares assassinados covardemente e temos hoje mais de 5 mil policiais militares que ficaram inválidos na luta contra o crime.
Mesmo assim, não iremos nos acovardar. A Polícia Militar de São Paulo continuará sendo a força e a proteção das pessoas de bem que vivem em nosso Estado. Como policial, tenho orgulho de fazer parte dessa grande instituição e, como comandante, tenho orgulho dos 100 mil profissionais que trabalham comigo na luta contra o crime.
Peço a todas a pessoas de bem que acreditam em nosso trabalho que divulguem essa carta.
Muito obrigado!!!
Roberval Ferreira França
Coronel PM
Comandante Geral
VolteiConsidero um dever passar essa carta adiante e tornar públicos os números sobre a atuação da Polícia Militar, que são, como pude apurar, verificáveis porque devidamente registrados. Notem: além do combate ao crime, nada menos de 310 mil resgates e remoções de feridos. Não há instituição no Brasil desse porte. Aliás, duvido que haja coisa igual no mundo.
Essa polícia tem problemas? Tem, sim! Mas também se apresenta, com muita frequência, como a solução. O coronel faz muito bem em chamar a atenção para os números, que indicam não só uma segurança pública sob controle como uma evidente melhoria no atendimento. Não obstante, estão tentando massacrá-la. Há uma soma infausta de esquerdismo bocó, eleitoralismo rastaquera e, infelizmente, bairrismo — anti-São Paulo!!! — que tenta transformar uma instituição virtuosa numa espécie de estorvo.
A determinação de um procurador da República, apaixonado pelos holofotes, de pedir o afastamento do comando é, em si mesma, uma indignidade e, ela sim, uma violência com o povo de São Paulo.
O crime existe? Existe! Está aí! Tem de ser combatido. A PM faz a sua parte. E o faz com mais eficiência do que suas congêneres na esmagadora maioria dos outros estados, inclusive naqueles que teriam motivos para ter menos problemas na área de Segurança Pública. Uma corporação de 100 mil homens está, no entanto, sujeita a problemas, especialmente quando lida com o crime e reúne pessoas armadas? Ora, esse é um dado estrutural das forças policiais no mundo inteiro, mesmo nos países mais socialmente justos do que o Brasil.
Houvesse cem mil jornalistas no país, teríamos, entre eles, bandidos infiltrados. Aliás, existem penas de aluguel — uma forma de jaguncismo com as letras — em grupo bem menor do que esse, não é mesmo? Reúnam-se 100 mil professores, 100 mil padres, 100 mil pastores, 100 mil ongueiros, 100 mil procuradores da República, 100 mil defensores públicos… Na verdade, dividam esses grupos todos por 100, fiquemos com mil de cada categoria, e vamos avaliar a moralidade média.
A PM tem combatido tanto os seus bandidos como os excessos daqueles que, não sendo bandidos, erram gravemente no seu trabalho. Qual dessas corporações pune imediatamente o “companheiro” por uma falha grave no trabalho?
Respondam àquilo que escrevoAlguns reclamam: “Você não está publicando críticas ponderadas à PM nos comentários”. Algumas estão sendo publicadas. Recuso aquelas que respondem àquilo que não escrevi. E eu não escrevi em nenhum momento que devemos aplaudir os índices de violência de junho. Mas eu escrevi, sim, que, tudo o mais constante (e a tendência é que não seja), São Paulo ainda estará na rabeira da violência. Isso eu escrevi. Por que não contestam? Eu escrevi, sim, que, se os índices de violência do Brasil fossem os mesmos de São Paulo, quase 30 mil vidas seriam poupadas por ano. Por que não me contestam? E eu NÃO ESCREVI que a PM agiu certo no caso daquelas duas mortes. Logo contestar-me nisso é uma estupidez e uma ociosidade.
Eu estou preparado para discutir com pessoas que têm pensamento lógico e que se apegam aos fatos, não aos preconceitos. Eu estou preparado para discutir com pessoas que entendem que o papel da Polícia Militar é, principalmente, reprimir o crime, e não se dedicar a especulações sobre a justiça ou injustiça social, que é outro departamento. E não que a PM a tanto não se dedique: 310 mil resgates e remoções num único ano são uma prova de dedicação ao outro.
Essa PM tem de melhorar? Tem, sim! Mas, se o senhor Gilberto Dimenstein decreta a “calamidade” num estado com esses números, o que ele tem a dizer sobre o resto do país. A taxa de homicídios do Brasil, excetuando-se São Paulo, é quase o triplo da do estado. E o que diz esse valente? Vai decretar a falência do país? Ora, tenham a santa paciência!
Parabéns ao comandante-geral pelo texto. Que seja mesmo reproduzido estado e Brasil afora. Não é a primeira vez que o crime procura um alinhamento objetivo com a política e com a imprensa — procurem o que quer dizer “alinhamento objetivo”; não se trata, necessariamente, de uma conspiração — para fazer a pauta e, assim, tentar impor a sua vontade.
Por Reinaldo Azevedo

Mensaleiros em ação – Gilmar Mendes: “Pensei que eles fossem me acusar de ter matado Celso Daniel…” Ou: Atenção, ministros do STF: A quadrilha os está chantageando! Ou vocês fazem o que ela quer ou ela promete difamá-los

O jogo é pesado! Aquele negócio que se confunde com imprensa e que hoje atua a serviço do petismo, do governismo e dos mensaleiros perdeu a noção de qualquer limite. Nadando na dinheirama de governos petistas e das estatais e certa da impunidade — apostando, de resto, na lentidão da Justiça —, essa gente publica qualquer coisa, o que lhe der na telha, o que o chefe mandar.
A Carta Capital, comandada pelo notório Mino Carta, cuja independência é conhecida, certo? — resolveu anunciar a existência de uma suposta lista de beneficiários do chamado “mensalão mineiro”. Nela estariam o ministro Gilmar Mendes (claro!), a Abril (por que não? Duas parcelas de R$ 49,5 mil!!!), ministros de FHC e o próprio ex-presidente.
É estupefaciente! Há indícios de que o papelório foi forjado pela mesma quadrilha que falsificou a lista de Furnas. Saibam os senhores: bandidos estavam tentando emplacar essa nojeira na imprensa séria faz algum tempo. Todos sentiram o cheiro da farsa e caíram fora. Menos a “Carta Capital”, que, afinal, tem uma missão. Exatamente porque conhece o cheiro da farsa.
O jogo é conhecido. A revista lança a porcaria,  a rede suja na Internet, igualmente financiada por dinheiro público, encarrega-se de pôr a coisa pra circular, a difamação se espalha, gera movimento e, depois, ninguém mais fala do assunto. Trata-se de um último esforço para tentar tirar Mendes do julgamento do mensalão.
Eu não sei qual será o voto do ministro. Só ele sabe. Se Zé Dirceu tem motivos para temê-lo — daí o esforço para tirar o ministro do julgamento —, não deve ser diferente com Marcos Valério, certo? Nessa perspectiva, ele próprio poderia desejar o mesmo. Não obstante, sua defesa divulgou uma nota, que reproduzo abaixo. Volto em seguida:
NOTA À IMPRENSAA defesa de Marcos Valério Fernandes de Souza manifesta sua perplexidade com o teor de matéria publicada nesta data pela Revista Carta Capital. Trata-se, lamentavelmente, de reportagem baseada em documentos e informações falsas. Ao que tudo indica, documentos provavelmente produzidos por pessoa notoriamente conhecida por seu envolvimento em fraudes diversas em Minas Gerais, que recentemente esteve preso acusado de estelionato e que, inclusive, seria beneficiado, de forma no mínimo curiosa, no próprio documento falsificado.
A defesa de Marcos Valério reitera seu respeito e confiança no Poder Judiciário, especialmente no Supremo Tribunal Federal, manifestando seu repúdio a qualquer dúvida que seja levantada sobre a credibilidade, a capacidade jurídica e a imparcialidade do Ministro Gilmar Mendes. Trata-se de magistrado que exerce suas funções de forma exemplar, dignificando seu exercício no Pretório Excelso.
Repita-se: a matéria baseia-se em documentos e informações falsas, cujo teor são veementemente rechaçados por Marcos Valério Fernandes de Souza. Os dois documentos constantes da publicação não foram produzidos ou assinados pelo mesmo, parecendo ser mais uma montagem do conhecido falsário.
Marcos Valério aguarda, com serenidade, o início do julgamento da Ação Penal nº 470 pelo Supremo Tribunal Federal.
Belo Horizonte, 27 de julho de 2012
Marcelo Leonardo
Advogado Criminalista e defensor de Marcos Valério
VolteiO curioso é que a lista reproduzida na revista não traz o nome do ministro, apresente só na peça difamatória que circula na Internet. Até onde essa gente pode ir, alimentada com dinheiro público? Eis uma boa questão. Falei há pouco com o ministro. Não resta outra reação que não a ironia:
“Nossa! Que coisa! Cheguei a pensar que eles fossem me acusar de ter matado o prefeito Celso Daniel… Mas acho que eles sabem que não fui eu, como sabem que essa lista é uma farsa, coisa de bandidos!”
STF refémA quadrilha que faz essas coisas está mandando um recado aos ministros do Supremo: aqueles que não votarem “direitinho” poderão ser vítimas da rede de difamação. E, como a gente vê, eles não distinguem verdade de mentira.
Que coisa asquerosa!
Esse mercado deve operar mais ou menos com a lógica vigente no submundo dos matadores de aluguel, cangaceiros e pistoleiros. A depender do serviço, sobe o preço. Tudo bem! O dinheiro público dá conta do recado. É um saco sem fundo. Tudo vale a pena se a grana não é pequena.
De resto, havendo uma condenação na Justiça, tem quem paga: nós!
Por Reinaldo Azevedo

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Obras de Bispo do Rosário que dialogam com esportes são exibidas em Londres

Curador Wilson Lázaro escolheu 80 obras que mostram a faceta esportista do artista
Flávia Guerra - O Estado de S. Paulo
Um artista em constante movimento. Atento às marés que movem as paixões humanas mesmo internado em um manicômio (a Colônia Juliano Moreira, no Rio) em uma época em que TV era artigo de luxo, Arthur Bispo do Rosário teceu faixas de misses, simbolizando a representação dos países diante da competição entre as mais belas do mundo. Criou também barcos a vela, tacos de golfe, mesas alvo, raquetes de tênis, argolas de ginástica olímpica, entre outros "artigos esportivos". Não é por acaso que a grande exposição dedicada a um artista brasileiro pelo Victoria & Albert Museum, para celebrar os Jogos Olímpicos de 2012, escolheu Bispo do Rosário para representar o Brasil.
Bispo será também homenageado deste ano na Bienal de São Paulo, a partir de 7 de setembro - Divulgação
Divulgação
Bispo será também homenageado deste ano na Bienal de São Paulo, a partir de 7 de setembro
Na maior exposição que ele já ganhou no exterior, parte da programação do London 2012 Festival, que irá levar à capital inglesa a obra de artistas de todo o mundo para celebrar os Jogos Olímpicos, o que o público do mundo todo verá é exatamente esta faceta esportista de Bispo do Rosário. Foi este recorte de 80 obras que o curador Wilson Lázaro, do Museu Bispo do Rosário, escolheu para levar a um dos mais importantes museus da Europa. "A obra do Bispo se renova por ela mesma. Não tem uma data, nenhum nome. Ele sempre esteve em movimento. Mais que isso, foi um esportista na vida, campeão de boxe, praticante de exercícios físicos quando integrou a Marinha. O esporte e o movimento sempre fizeram parte de seu imaginário e de suas obras", conta Lázaro, que a partir do dia 4 de agosto, trabalhará diretamente no V&A para cuidar dos ajustes finais da exposição, com abertura para o público no dia 13.
"O Bispo é um presente para o curador. E uma surpresa. A equipe que está restaurando a obra que vai para o V&A (uma roupa azul clara) e também as que vão para a Bienal está fazendo um estudo. Há o mundo em sua obra", diz Lázaro sobre a escolha do viés esportivo da exposição londrina. "Eu a vejo como uma caixa de relíquias importantes para a vida. As obras com as barras, por exemplo. A priori, pensamos que são de ginástica porque têm argolas, mas, ao mesmo tempo, uma delas já não tem mais. É o imaginário de quem vê que cria o restante."
É o imaginário do público internacional que será desafiado neste ano. Depois de 28 de outubro, a mostra segue para Lisboa. Antes disso, Bispo será também homenageado deste ano na Bienal de São Paulo, a partir de 7 de setembro. "A Bienal, que atrai gente de todo o mundo, vai contar com 340 obras dele. Destas, sete estão sendo restauradas. Cinco são inéditas. E uma das inéditas, um carro, com revistas, foi a grande surpresa deste processo", conta o curador. "Quando os restauradores retiraram algumas, encontraram revistas pornôs. Isso muda tudo. As pessoas sempre o colocaram como uma pessoa assexuada, que só teve um amor platônico, que foi a psicóloga Rosângela Maria. Mas a revista estava dobrada em determinadas páginas. Sinal de que foi lida sim."
Para Lázaro, estamos presenciando o surgimento de um novo Bispo, que ganha mais força com outra descoberta. "Em uma das pernas do mesmo carro, ele escreveu a palavra Ateliê. E me parece uma pesquisa dele para criar as outras obras. É algo inédito."

Para o Pepedo e ele sabe porque


 

O jornalista José Nêumanne Pinto
CARLOS BRICKMANN
Samuel Wainer x Carlos Lacerda. Paulo Prado x Júlio Mesquita. Conceição da Costa Neves x Paulo Duarte. Paulo Francis x José Guilherme Merquior. Os meios de comunicação sempre abrigaram notáveis debates, de alto ou de baixo nível, sobre os mais diversos temas, sempre com uma característica comum: os debatedores se identificavam e tinham orgulho de defender suas posições. Mesmo os patrulheiros faziam questão de mostrar publicamente suas bandeiras.
Na Internet, com todo o potencial que tem para democratizar as informações e a distribuição da opinião, está sendo distorcido o conceito de debate: escondidas atrás do anonimato, confiando na lentidão da Justiça e no custo financeiro para encontrá-las, há pessoas que passaram a dedicar-se à difamação pura e simples do adversário. Basta xingar, inventar, injuriar. E, como muitas vezes a manobra é combinada, enquanto o covarde anônimo não é encontrado grupos organizados usam a acusação para tentar desmoralizar a vítima.
Este tipo de distorção tem ocorrido contra políticos dos mais diversos partidos: ora é o parente de um líder petista que comprou caríssimas fazendas (e não adianta informar que o próprio dono da fazenda nega que a tenha vendido: a difamação se espalha sozinha, porque o adversário político está louco para acreditar nela), ora é uma enorme armação segundo a qual dirigentes do PT são parentes e usam a organização familiar para enriquecer ilicitamente; ora são fotos montadas em que o ex-presidente Lula aparece lendo um livro de cabeça para baixo ou com marca de urina na calça. E há os ataques difamatórios a jornalistas que ousam discordar do pensamento dos Covardes Anônimos.
O caso mais recente é o de José Nêumanne Pinto, editorialista, articulista, comentarista de rádio e TV, cujo crime maior, ao que se saiba, foi ter publicado um livro em que põe em dúvida a infalibilidade do ex-presidente Lula. Algum maluco acusou Nêumanne de ser pedófilo e de ter estuprado uma menina de nove anos, em Campinas, SP, com boletim de ocorrência, processo e tudo.
Não é verdade, claro. Não há qualquer registro dessa invencionice no Judiciário ou na Polícia, o que seria obrigatório caso houvesse processo ou boletim de ocorrência. Mas, no caso, o movimento era orquestrado: chegou a haver comentários em Brasília de que, finalmente, haviam conseguido pegar o Nêumanne.
Que acontece em seguida? A vítima procura a Delegacia de Crimes Virtuais, que identifica o provedor de Internet do difamador e solicita seu nome. O provedor, talvez para não desagradar o cliente, ou tentar não se envolver, adia ao máximo a resposta, até ser forçado por nova medida judicial a fornecer a informação. Leva tempo, custa caro; e, enquanto o tempo passa, a difamação continua circulando.
Brasil247 publicou boa matéria sobre o tema, do competente Cláudio Tognolli. Na entrevista, Nêumanne conta o que está acontecendo com ele e pede leis eficientes e duras para eliminar a praga da difamação anônima pela Internet (nos comentários à entrevista, muitos o acusam de não aceitar que o contraditem. É falso: nada do que escreve sugere isso. Que o contradigam à vontade, mas identificando-se, como ele se identifica).
Nêumanne participou também de audiência pública na Câmara dos Deputados, na Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado e ali contou sua história.
É impressionante: existem pessoas que, por paixão política, estão dispostos a destruir reputações e vidas, desde que para isso tenham a proteção do anonimato. E existem empresas que estão dispostas a desafiar a Justiça para proteger os covardes anônimos. A Internet é ótima: permite o acesso livre de multidões ao fornecimento de informação precisa. Mas, só vai funcionar se puder ser utilizada sem covardia, sem anonimato, de preferência com urbanidade. Entrar na discussão sem perder a educação. Será pedir muito?

terça-feira, 24 de julho de 2012

‘Falta alguém no banco dos réus do mensalão


PUBLICADO NO BLOG DE RICARDO NOBLAT NESTA SEGUNDA-FEIRA

Paulo Okamotto e Lula
RICARDO NOBLAT
Marcos Valério, um dos cérebros do mensalão, voltou a ameaçar Lula, segundo a VEJA desta semana. Em pânico com a possibilidade de vir a ser condenado pelo Supremo Tribunal Federal, que começará a julgar no próximo dia dois os 38 réus do mensalão, Valério se disse disposto a contar que esteve com Lula várias vezes, o que Lula sempre negou.
Foi Paulo Okamoto, uma espécie de diligente tesoureiro informal da família Lula, que de novo dobrou Valério. Naturalmente, Okamoto nega que Valério tenha feito qualquer ameaça a Lula. Ou dito que antes do estouro do escândalo do mensalão estivera com ele na Granja do Torto, uma das residências oficiais do presidente da República. ”[Valério] queria me encontrar porque às vezes quer saber das coisas. Em geral, ele quer saber como está a política, preocupado com algumas coisas”, justificou Okamoto. Foi claro? Adiante.
Coube também ao advogado Luiz Eduardo Greenhalgh, outra peça importante da engrenagem do PT, agir para sossegar o espírito atribulado de Valério.
Ponham-se no lugar do ex-publicitário mineiro. Era rico, riquíssimo antes de se meter com o PT de Delúbio Soares, Genoino e José Dirceu. Tinha duas agências de propaganda. E inventara uma forma de lavar dinheiro por meio de bancos para engordar o caixa 2 de políticos às vésperas de eleições. Eduardo Azeredo, do PSDB, foi um deles.
Procurado para fazer pelo PT o que fizera por Azeredo, imaginou ter tirado a sorte grande.O governo Lula estava nos seus meses iniciais. E a turma à frente do partido em busca do tempo perdido. De repente, todas as portas se abriram para Valério. E ele passou a “fartar os olhos” admirando o dinheiro que entupia as suas burras.
Teria dado certo ─ não fosse o tresloucado gesto de Roberto Jefferson, presidente do PTB, que por pouco não pôs o governo a pique. Em um sábado de junho de 2005, depois de tomar uns goles a mais na Granja do Torto, Lula falou em renunciar ao mandato. Ficara sabendo que Valério admitira envolvê-lo no escândalo.
José Dirceu, então chefe da Casa Civil da presidência da República, foi chamado às pressas em São Paulo. Escalado para dar um jeito em Valério, deu sem fazer barulho. Naquele dia postei em meu blog que Lula falara em renúncia ─ embora eu não soubesse por que. Nunca recebi tantos desmentidos de porta-vozes e amigos do governo.
Ainda no segundo semestre de 2006, Valério voltou a atacar. Procurou um político de forte prestígio junto a Lula. Queixou-se de estar quebrado. Acumulava dívidas sem poder honrá-las. Seus bens haviam sido bloqueados. Caso não fosse socorrido, daria um tiro na cabeça ou faria com a Justiça um acordo de delação premiada.
O político pediu uma audiência a Lula. Recebido no gabinete presidencial do terceiro andar do Palácio do Planalto, o político reproduziu para Lula o que ouvira de Valério. Em silêncio, Lula virou-se para uma das janelas do gabinete que lhe permitia observar parte do intenso movimento nas vizinhanças do palácio.
Então perguntou ao visitante: “Você falou sobre isso com Okamoto?” O visitante respondeu que não. E Lula mais não disse e nem lhe foi perguntado. Seria desnecessário. O diligente Okamoto, aquele que pouco antes pagara do próprio bolso cerca de R$ 30 mil devidos por Lula ao PT, apascentou Valério.
Falta alguém em Nuremberg!
Quero dizer: falta alguém na denúncia oferecida pela Procuradoria Geral da República sobre a “organização criminosa” que tentou se apossar do aparelho do Estado. Desviou-se dinheiro público ─ e não foi pouco. Pagou-se para que deputados votassem como queria o governo. Comprou-se o apoio de partidos.
Nada será capaz de reparar o mal produzido pelos que chegaram ao poder travestidos de legítimos hierarcas da decência ─ falsos hierarcas como se revelariam mais tarde.
Mas se a Justiça só enxergar inocentes entre eles, isso significará que também foram bem-sucedidos na tarefa de trucidar a esperança

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Um dos mais importantes dissidentes cubanos morre num estranho acidente de carro


Morreu neste domingo, num acidente de carro, em circunstâncias  estranhas, o dissidente cubano Oswaldo Payá. Em sua página na Internet, lê-se o seguinte comunicado, assinado por Regis Iglezias Ramirez:

“Às 16h deste 22 de julho se confirmou a notícia fatal: a morte do líder do Movimento Cristão Libertação Oswaldo Payá, e de Harold Cepero, líder jovem do MCL. As circunstâncias da morte não estão claras, e todas as hipóteses estão abertas. Pedimos, portanto, à Junta Militar cubana uma investigação transparente e conclamamos todos os amigos solidários com a causa da libertação dos cubanos para se mantenham em alerta, apoiando-nos nesse pedido.
Somos um movimento e seguiremos trabalhando até conseguir alcançar o sonho de Oswaldo e de milhares de cubanos: viver em um país livre.
O MCL agradece as condolências que estão chegando de todo o mundo, de governos, políticos e cidadãos, o que anima o movimento a seguir o trabalho que começou há 20 anos.
São momentos dolorosos para as respectivas famílias de Oswaldo e Harold, e nossas orações e pensamentos estão com eles. São momentos dolorosos para o Movimento Cristão Libertação, mas seguiremos com nosso compromisso e nosso trabalho dentro e fora da ilha, até que a soberania e a liberdade sejam devolvidas ao povo cubano.”
Não foi o primeiroPayá, um dos mais importantes dissidentes cubanos, já havia sofrido um acidente de carro bastante suspeito. Um caminhão acertou o seu carro, tirou-a da pista, e ele capotou. Leiam o que informa Agência Efe.
O opositor cubano Oswaldo Payá, um dos mais destacados líderes da dissidência interna da ilha, morreu neste domingo em consequência de um acidente de trânsito na província oriental de Granma, informaram diversas fontes. Uma funcionária do hospital Carlos Manuel de Céspedes da cidade de Bayamo confirmou à Agência Efe por telefone a morte de Payá, informada também na rede social Twitter pela conhecida blogueira Yoani Sánchez e inclusive pelo internauta governista conhecido como Yohandry. Além disso, um porta-voz do Arcebispado de Havana disse à Efe que o cardeal cubano Jaime Ortega falou esta tarde com a esposa de Payá, que lhe confirmou a trágica notícia.
Sem que ainda se saibam detalhes do fato, as diversas fontes consultadas pela Efe explicaram que Payá morreu após um acidente de trânsito que sofreu nas proximidades da cidade de Bayamo o veículo no qual viajava com outras três pessoas.
O site oficial “Cubadebate” qualificou “lamentável” o acidente no qual morreu Oswaldo Payá, em uma incomum nota onde assegura que as autoridades do país averiguam as causas do acidente. A nota deste site oficial diz que o acidente aconteceu às 13h50 (horário local, 15h50 de Brasília) deste domingo na localidade conhecida como La Gavina, situada a 22 quilômetros da cidade de Bayamo, na província oriental de Granma.
Detalha que os mortos “são os cidadãos cubanos Oswaldo Payá Sardiñas, morador em Havana, e Harold Cepero Escalante, oriundo de Ciego de Ávila”. Além disso, informa que ficaram feridos o espanhol Ángel Carromero Barrios e o sueco Jens Aron Modig, que sofreram ferimentos leves e recebem assistência médica no hospital Clínico Cirúrgico Docente “Carlos Manuel de Gramados” de Bayamo.
O opositor cubano Oswaldo Payá, de 60 anos, era um dos mais destacados líderes da dissidência interna da ilha, foi o fundador do Movimento Cristão Libertação e o promotor do denominado “Projeto Varela”, uma iniciativa que apresentou ao Parlamento cubano em 2002 após recolher 11.020 assinaturas em apoio de um referendo para introduzir reformas à Constituição.
Em outubro de 2002, o Parlamento Europeu lhe outorgou o prêmio Sajarov para os Direitos Humanos e a Liberdade de Pensamento, em reconhecimento a sua luta pacífica a favor da transição à democracia em Cuba

sexta-feira, 20 de julho de 2012

VERGONHA E IMPUNIDADE – Ana Arraes, mãe do governador Eduardo Campos, dá a sua grande contribuição à impunidade dos mensaleiros; TCU se desmoraliza!

A história que vocês lerão abaixo tem aspectos verdadeiramente sórdidos e é coisa típica de República bananeira. A ministra Ana Arraes, ministra do Tribunal de Contas da União que foi, vamos dizer, “nomeada” pelo filho, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), armou uma patuscada no tribunal e foi seguida por seus pares. Leiam o que narra Marta Salomon, no Estadão. Volto depois.

O Tribunal de Contas da União considerou regular o contrato milionário da empresa de publicidade DNA, de Marcos Valério Fernandes de Souza, com o Banco do Brasil. O contrato é uma das bases da acusação da Procuradoria-Geral da República contra o empresário mineiro no julgamento do mensalão, marcado para agosto. A decisão referente ao contrato de R$ 153 milhões para serviços a serem realizados pela agência em 2003 foi tomada pelo plenário do TCU no início deste mês, a partir de relatório da ministra Ana Arraes – mãe do governador de Pernambuco e presidente do PSB, Eduardo Campos.
O acórdão do tribunal pode aliviar as responsabilidades de Marcos Valério no julgamento do Supremo Tribunal Federal. Principal sócio da agência DNA, o empresário mineiro é apontado como operador do mensalão. De acordo com a denúncia da Procuradoria-Geral da República, contratos das agências de publicidade de Marcos Valério com órgãos públicos e estatais serviam de garantia e fonte de recursos para financiar o esquema de pagamentos de políticos aliados do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Trata-se da essência do escândalo, revelado em 2005. As denúncias desencadeadas pelo então deputado Roberto Jefferson (PTB) provocaram a queda das cúpulas do PT, do PP e do PL (hoje PR), além da cassação do mandato do denunciante e do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, segundo quem não houve compra de votos, apenas caixa 2 de campanha.
Em seu relatório, Ana Arraes argumenta que uma lei aprovada em 2010 com novas regras para a contratação de agências de publicidade pela administração pública esvaziara a irregularidade apontada anteriormente pelo próprio TCU. Um dos artigos da lei diz que as regras alcançariam “contratos já encerrados”. Esse artigo foi usado pela ministra do tribunal para considerar “regulares” as prestações de contas do contrato do Banco do Brasil com a DNA Propaganda Ltda.
DivergênciaO voto de Ana Arraes, acompanhado pelos demais ministros do TCU, contraria o parecer técnico do tribunal. Procurador do Ministério Público junto ao TCU, Paulo Bugarin, defendeu, assim como o relatório técnico, que fosse reafirmada a condenação das contas em decorrência da apropriação indevida das chamadas “bonificações de volume”, uma espécie de gratificação paga pelos veículos de comunicação, valores que a agência DNA deveria ter repassado ao Banco do Brasil.
“Não vislumbro no presente caso a aplicação da lei que alterou o ordenamento jurídico, indicando como receita própria das agências de publicidade os planos de incentivo concedidos por veículos de divulgação”, afirmou ontem o procurador. “Não somente porque o contrato foi formalizado e executado antes da edição da nova lei, como em face da existência de expressa cláusula contratual que destinava tal verba ao Banco do Brasil”, completou Bugarin.
(…)
O TCU investigou 17 contratos de publicidade com órgãos e empresas da administração pública no período de cinco anos, entre 2000 e 2005. Relatório consolidado apontou prejuízo aos cofres públicos de R$ 106,2 milhões, produto de falhas de contrato ou irregularidades, como o superfaturamento de serviços. O relatório, aprovado em 2006, chegou a pedir o fim das publicidades institucionais no País.
(…)
VolteiDe uma coisa essa gente não pode ser acusada: de falta de método. Ao contrário: a determinação com que se organiza para transformar o Brasil num curral é impressionante. Que prova de talento! Sabem quem foi o autor da lei que abriu a brecha para Ana Arraes dar o seu “parecer”? José Eduardo Cardozo, atual ministro da Justiça. Sabem quem a sancionou? Luiz Inácio Lula da Silva, em 2010.
O que é a tal “bonificação por volume”? São descontos oferecidos pelos veículos de comunicação às agências para a veiculação de anúncios. Pela lei anterior, eles deveriam ser repassados às estatais . O TCU constatou que a agência de Marcos Valério — o empresário era a fonte dos recursos do mensalão — não fazia o repasse. O prejuízo aos cofres públicos só nessa operação, segundo o TCU, foi de R$ 106,2 milhões. Pois bem, a “lei” inventada por Cardozo mudava a regra: as agências poderiam ficar com o dinheiro do desconto e pronto! Pior: a lei passaria a valer também para contratos já encerrados. Entenderam? José Eduardo assinou um projeto, sancionado de bom grado por Lula, que, na prática, tornava legal a ilegalidade praticada por Valério.
José Eduardo Cardozo é magnânimo. Uma lei não pode retroagir para punir ninguém. Mas pode retroagir para beneficiar. E ele fez uma que beneficia Marcos Valério. É por isso que é considerado uma das reservas morais do petismo, ora essa! Dilma o chamava, carinhosamente, de um dos seus “Três Porquinhos”. Os outros dois eram Antonio Palocci, que deixou o governo, e José Eduardo Dutra, que está pendurado numa diretoria da Petrobras.
Qual é o busílis?O desenho era óbvio, não? Marcos Valério pegava a dinheirama das estatais e depois fazia “empréstimos” para o PT. Uma das estatais era justamente o Banco do Brasil. Agora Ana Arraes, com endosso de outros ministros, diz que tudo foi regular, entenderam? Quer-se, assim, reforçar a tese de que o dinheiro do mensalão não era público. É evidente que os advogados dos mensaleiros tentarão usar isso a favor dos seus clientes. Eles não tinham uma notícia tão boa desde que o processo começou.
Ana Arraes demonstra que não foi nomeada por acaso e que Lula sabia bem o que estava fazendo quando entrou com tudo na sua campanha. Só para registro: Aécio Neves também foi um entusiasmado cabo eleitoral da ministra. Campos é apontado por muitos como uma espécie de novidade e de renovação da política. É mesmo? Eis um episódio a demonstrar que ele é jovem, mas não novo!
Nada mais antigo do que o que se viu no TCU. Manobras dessa qualidade fariam corar a República Velha. A 15 dias do início do julgamento do mensalão, uma das operações mais descaradas de desvio de recursos públicos para os mensaleiros recebeu a chance de “nada consta” do TCU. É a nossa elite política “progressista”! Caberá ao STF dizer se existe pecado do lado de baixo do Equador! Se decidir que não há, não vai adiantar Deus ter piedade dos brasileiros.
Por Reinaldo Azevedo

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Diário da Dilma: Casa onde mulher manda até galo bota ovo


PUBLICADO NA EDIÇÃO DE JULHO DA REVISTA PIAUÍ

1º de junho ─ Lula no Ratinho. Não sou especialista, mas acho que o tratamento afetou o juízo dele. O homem deu para dizer que concorrerá em 2014 se eu não quiser. Avisei à Abin: na eventualidade de eu dizer que não quero, eles têm ordem para checar se o Dirceu implantou um chip no meu cérebro enquanto eu cochilava numa dessas reuniões do PT.
2 de junho ─ Fim de semana no sofá. Comprei um estoque de scones, stilton com molho inglês e fish and chips. Não quero perder um detalhezinho do Jubileu da rainha. Titia só fala nisso há uma semana. Enquanto assisto, dou um jeito nas cutículas.
3 de junho ─ Menina, a rainha ficou umas cinco horas sem fazer xixi! Mamãe diz que ela deve usar fraldão. Não acredito. Pedi ao Patriota que a embaixada de lá investigue. Se for técnica, quero aprender. Será uma bênção no próximo discurso do Lula. Lindinho, lindinho o vestido da Kate. É daquele rapaz tão simpático que se matou, coitado. Ideli me ligou para falar mal. Parecia uma gralha: chamativo demais, onde já se viu ofuscar a rainha, falta de senso de noção, blá-blá-blá. Ela acha que me engana. Não gostou porque é acinturado. Se ela usar, morre sufocada.
4 de junho ─ Hoje recebo o rei da Espanha. Como é o penúltimo dia do Jubileu, achei o timing péssimo. Daí pensei: quem sabe ele não assiste um pedacinho comigo para me explicar aquele protocolo todo? Tenho essa lacuna. Na minha juventude, importante era ler o 18 Brumário e O Estado e a Revolução. Desperdício que só. Juan e eu achamos Kate muito à vontade com aquele chefe de protocolo bonitão. Ali tem coisa. Ou vai ter.
5 de junho ─ Agnelo veio pedir uns conselhos antes de depor na CPI. Batuquei aquele samba do seu Jorge: “Papagaio que acompanha joão-de-barro, se enrola/ Vira ajudante de pedreiro.”
Finalmente despachei essa Lei Geral da Copa. Tentei, mas não consegui proibir jogos narrados pelo Galvão Bueno. Governar é aceitar limites.
Lembrete: negociar com os Marinho a entrada do Lacombe antes e depois de cada partida, se possível de short e camiseta.
7 de junho ─ Feriadão. Aproveitei para fazer um teste da revista Nova que avalia o quociente emocional da gente e promete nos transformar num “Einstein do amor”. Pedi uma caneta para mamãe e me concentrei. Resultado: “Ficou de recuperação.” Liguei para o Guido e mandei pôr a Receita em cima da diretora de redação.
8 de junho ─ A China também cortou a taxa de juros. Estamos dando lições ao mundo.
10 de junho ─ Larguei a Carminha e o Tufão para trás. Minha amiga de Porto Alegre baixou Revenge No pen drive e me mandou. Que série! É Avenida Brasil passada nos Hamptons. De um chique! Com aquela mocinha que trabalhou no Brothers & Sisters, namorada do irmão problemático. Chega de subúrbio! Já não basta governar o Brasil?
11 de junho ─ Sabe que graça me fez o Lobão? Me mandou 1 quilo de grana padano. Que homem encantador. Que sensibilidade.
13 de junho ─ A Cristina K. enfrentou um panelaço daqueles. Me disse o Patriota que ela ficou tão nervosa que quase perdeu os cílios postiços. Esse pessoal do Itamaraty sabe cada bastidor!
14 de junho ─ Se o Corinthians ganhar essa Libertadores, o Lula vai ficar in-su-por-tá-vel. Dále, Boca!
15 de junho ─ Acordei bem-humorada e fui me encontrar com alguns atletas que vão participar das Olimpíadas de Londres. Perguntada sobre economia, tive um instante de inspiração e, num trocadilho que julguei genial, disse que o PIB vai merecer uma medalha. Ninguém riu. Anotei direitinho o pessoal seco da primeira fila. Na próxima reforma ministerial, tem gente que vai receber cargo comissionado em Roraima. Interior, não capital.
À tarde, para desanuviar, negociei investimentos com o setor “sucroalcooleiro”. Acabei de conhecer essa palavra. Vou repetir várias vezes para ver se impressiona.
16 de junho ─ Toda vez que ouço a palavra sustentabilidade lembro de reforçar o laquê.
17 de junho ─ Onde anda o João Santana que não dá um jeito naquela foto de quando eu fui presa? É péssima! Custava fazer um Photoshop? Parece que eu tenho mais bigode que a Frida Kahlo.
18 de junho ─ Pelo amor de Dadá, alguém me faça o favor de limpar a Juliana Paes! Parece que a menina fez bronzeamento artificial com um maçarico e depois foi mergulhada em Nutella! A Iriny não vai botar a boca no trombone, não?
Envelheceu bem, esse Humberto Martins.
19 de junho ─ Não digo em voz alta, mas sempre achei que índio brasileiro não era confiável. Com Lula dando abraço no Maluf, a prioridade deles é dar flechada em segurança do BNDES?
20 de junho ─ Coquetel de abertura da Rio+20. Teve brinde com suco de luz e canapé macrobiótico. Os guardanapos eram feitos de papel-semente para poderem ser plantados depois. Ai, que preguiça. Pedi para a Gleisi reservar uma churrascaria ali perto.
Estou virando uma frasista e tanto. Depois do “Joãozinho do Passo Certo”, agora inventei o “Inexorável da Silveira” para falar da obrigação dos europeus em dar um jeito no latifúndio deles. Por muito menos, o Churchill é citado a torto e a direito. Dilminha rocks!

21 de junho ─ Fui obrigada a enquadrar aquela norueguesa do nome esquisito, Gro não sei das quantas. Veio me criticar sobre essa coisa de direito reprodutivo que ela queria porque queria incluir no documento final. Quem sabe a receita de canjica e caipirinha também pudesse constar no documento, né? Soltei um “Minha querida” multicultural no coco dela.
Para exorcizar a vergonha do abraço no Maluf, o Lula se materializou do meu lado e pediu aos fotógrafos que tirassem uma “foto ambientalmente correta”. Correta? Com aquele bigode?
22 de junho ─ Não gostei nada da coincidência: eu e a Michelle Bachelet na capa dos jornais com um terninho da mesmíssima cor. O consolo é a diferença entre os nossos penteados. A Bachelet usa aquela coisa lisa, lavada, tipo freira da Teologia da Libertação. I have Kamura.
Agora me explica: que posto o Lula ocupa para oferecer um jantar no Palácio da Cidade em homenagem aos chefes de Estado africanos? Respondo: ex-presidente em exercício. Está cada dia mais espaçoso e só quer do bom e do melhor. Ir para o Paraguai salvar a pele do Padre Amaro guarani, isso ele não faz.
23 de junho ─ Hillary chegou no Brasil sem ninguém saber. Estava crente que ela vinha para a Rio+20, mas a danadinha escapuliu para o São Paulo Fashion Week. Essa Hillary sempre consegue o que quer. Casa onde mulher manda até galo bota ovo.
A Marcela deu uma boa mão fazendo sala para a mulherada que não tinha o que fazer. Recebeu para almoçar no barco do Eike, serviu chá no Itamaraty, promoveu desfile de moda, de joia, um farrão. Fofa como sempre!
25 de junho ─ Agora que acabou essa maratona ecochata, vou fazer um peeling. Ainda bem que estou mais liberada nesse fim de mês. Tem Gabriela às onze da noite, estreia do programa da Fátima, e o gostosão do Bial vai ter um programa só dele. Já prometeu que toda edição vai terminar com uma daquelas crônicas sensíveis que só ele sabe escrever. Que delícia!
26 de junho ─ Oswaldo Montenegro esteve aqui para receber a Condecoração da Sociedade Brasileira no Grau Cavalheiro de Comendador como Membro Honorário da Ordem JK. Já não era sem tempo. Desmarquei tudo na esperança de que ele cantasse Léo e Bia olhando para mim e para o Lobão

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Tem gente que se acha muito importante em seu apartamento de dois quartos de classe média.


Uma das coisas mais terríveis é o chamado “receptor da mídia”, seja ele leitor, seja telespectador. Talvez o segundo seja ainda pior do que o primeiro porque para ler você precisa ser um pouco menos ignorante.
   Certa feita perguntaram a um astronauta americano que esteve na Lua o que ele achava das teorias conspiratórias segundo as quais o homem não teria ido à Lua. Ele respondeu que existem pessoas que se levam muito a sério. Nada pior do que essas pessoas que não sabem nada, mas não sabem que não sabem nada, e levam suas vidas banais (toda vida é banal, mas a classe média com sua infinita baixa autoestima não sobrevive a esse fato) como se tivessem algum grande valor que não foi descoberto pelos outros. Não digo isso com a intenção de afirmar que, se leu cem livros, você seja supertop por isso. Você pode ter lido muito e ser um bobo do mesmo jeito. Mas o tipo médio de leitor de jornal ou do telespectador de TV é um medíocre que se acha o máximo, principalmente quando leva muito a sério suas opiniões sobre o mundo. Quase sempre não entende nada e vocifera seu não entendimento como parte da democratização do conhecimento.
    Sou um quase descrente na capacidade da televisão de fazer algo que preste pela cultura (não sou 100% descrente pois acredito em milagres), porque a televisão entra em todos os lares e por isso mesmo lida com aquele idiota ao qual fiz referencia antes. Sua ruidosa ignorância banhada em autoestima criada pela fé na democracia gera a crença em si mesmo, e é isso que, creio, o astronauta americano tinha em mente quando respondeu à questão sobre aqueles que acham que a ida à Lua foi feita para ele, em sua “brilhante” inteligência, “descobrir” como farsa.
    Na verdade é duro ser gente mesmo. E a maioria de nós é irrelevante mesmo, se arrasta pelo mundo como uma raça de abandonados que riem com pó entre os dentes. Mas o politicamente correto nos proíbe de dizer esta verdade: o leitor e o telespectador são idiotas, e no fundo nós, que “somos a mídia”, pouco os levamos em conta porque quase nada do que eles dizem valem a pena. Não fosse pela desgraça do mundo capitalista (que nos obriga a ouvir esse sujeito porque ele é consumidor), não precisaríamos dele e poderíamos dizer-lhe esta verdade insuperável: você é um idiota e, se não fosse consumidor de nosso produto, esqueceríamos que você existe.

Luis Felipe Pondé 

O mundo do intelecto é uma moradia que tem muitas casas. E quase todas tomadas por canalhas


Luis Felipe Pondé

Sou professor e gosto de dar aulas, coisa rara na área. Na maioria dos casos, professores de universidade (ou não) são pessoas que, além de não gostar dos alunos, têm uma inteligência mediana e foram, quando jovens, alunos medíocres, que fizeram ciências humanas porque sempre foi fácil entrar na faculdade em cursos de ciências humanas. Claro que quase todos pensavam em si mesmos como Marx ou Freud ainda não revelados. Ao final, o que se revela com mais frequência é alguém fracassado que ganha mal e odeia os alunos. Professores normalmente não gostam de ler ou de estudar, mas dizem que esse pecado é apenas dos alunos. Há um enorme sofrimento na maioria dos professores porque têm de fingir o tempo todo que acreditam na importância do que fazem. A maioria sucumbe.
    Se adicionarmos uma pitada de insegurança à própria capacidade intelectual (refiro-me a uma insegurança maior do que aquela que todos nós temos em alguma medida), teremos o perfil da maior parte dos “funcionários da educação, da arte, da cultura e do intelecto”, e não só dos professores. Tal insegurança associada à quase absoluta falta de originalidade (as quais normalmente vêm juntas) explica em grande parte a razão de o politicamente correto encontrar entre esses “funcionários” seu lar ideal. Claro, afora a covardia, sempre necessária para você se transformar em alguém que persegue os outros que pensa diferente de você ou porque é melhor do que você. Nada é mais temido por um covarde do que a liberdade de pensamento. Toda forma de totalitarismo (o politicamente correto é uma forma de totalitarismo, e essa forma está presente na palavra “correto”) sobrevive graças às hordas de inseguros, medíocres e covardes que povoam a educação e o mundo da cultura e da arte. 
    Na escola, a mediocridade vem regada à busca de novas teorias pedagógicas (normalmente com baixíssimo impacto); na universidade, vem vestida de burocracia da produtividade e corporativismo de bando; na arte, nos discursos contemporâneos sobre a “destruição da forma”. Modos distintos de “fazer nada” ocupando tempo e gerando institucionalização e papo-furado cheio de jargão técnico. Mas ela não para aí. Engana-se quem supõe que a mediocridade não se reproduz de várias formas apenas porque aparentemente a espécie não teria sobrevivido se fosse apenas de covardes. Digo isso por dois argumentos. O primeiro porque os medíocres são maioria, e isso pode ser indicativo de que a covardia foi adaptativa  em grande medida. O segundo porque as baratas parecem ser bem adaptadas ao mundo e são maioria absoluta, como já suspeitava Kafka.
    A suspeita de que a mediocridade reina entre os funcionários da educação e do intelecto aparece, por exemplo, na obra de dois grandes intelectuais do século 20, o crítico canadense Northrop Frye e o historiador  do pensamento conservador americano Russel Kirk.
   Frye afirma na introdução do seu monumental Código dos Códigos, seu livro sobre a Bíblia como grande Matriz da literatura ocidental, que a universidade é tomada por pessoas de personalidade insegura e medíocre que se escondem atrás de teorias consagradas a fim de garantir seu espaço “intelectual” nas instituições do conhecimento. Não apenas as universidade, mas também a mídia é povoada por pessoas que afirmam que a maioria quer ouvir, porque isso garante adesões e reduz riscos de confronto. O politicamente correto é um caso típico de opção, por gerar adesões a um discurso autoritário. Basta analisarmos grande parte do que se fala na academia e na mídia para perceber o quanto se repete o mesmo papinho “do bem” que está longe de descrever a realidade, quase sempre intratável ao “Bem”.
    Para pegar um exemplo da mídia, basta pensarmos em figuras como o atual presidente dos Estados Unidos, Obama, e o ex-presidente do mesmo país, Jimmy Carter (ambos claramente incompetentes em assuntos domésticos e internacionais e “líderes para mulherzinhas”), para ter exemplos claros do que é dizer coisas legais para receber as palmas de jovens e feministas. Ambos são gente “muito esperançosa” que mais atrapalha do que ajuda, na medida em que desconhece as realidades à sua volta. A incapacidade, por exemplo, de ambos entenderem o Oriente Médio é sofrível. A mídia muitas vezes parece uma reunião de centro acadêmico de ciências sociais na forma de simplificar o mundo ao nível de uma menina de 12 anos.
     Já Russel Kirk, historiador do pensamento conservador anglo-saxão, nos anos 50 percebia que a universidade corria o risco de virar espaço onde gente “sem posses” busca ascensão social. O que aconteceu. Aqui o que importa não é tanto o “número” de propriedades que alguém tem em seu nome, mas a atitude de “bancário” ou “burocrata” para com a vida universitária. Sujeito “sem posses”, como descreve Kirk, são pessoas que se apropriam da máquina institucional da universidade a fim de garantir seu (e de seus amigos) futuro salarial. O “sem posse” aqui implica antes de tudo a ausência de posse intelectual enquanto tal. Kafka diria: cara de rato, alma de barata. Um funcionário como esse teme antes de tudo a inteligência, por isso age de modo violento quando a percebe, muitas vezes em nome do “coletivo” e da burocracia. Desconfio de todo mundo que usa a palavra “coletivo” numa reunião de professores.
    Juntado os dois argumentos, chegamos à mediocridade enturmada que caracteriza a vida intelectual e acadêmica. Nada há de se esperar da universidade. As ciências duras ainda podem entregar remédios e robots, as ciências humanas não têm nada para entregar. Quando algo de importante nelas acontece, é à revelia das instituições que as sediam. Todos estão quase sempre ocupados com seus miseráveis salários, mas dizem que não. O cotidiano é, assim, corroído pelo esforço do autoengano e da hipocrisia.