Quem também se acovardou é Lula.
Ora, ora, ora… Tão logo a tese da elite branca surgiu naquela “emissora
estadunidense”, o Apedeuta saiu a repeti-la pelos cotovelos. Seria tudo
coisa de reacionários. O jornalismo áulico reproduziu a patacoada
segundo a qual as vaias e os xingamentos tinham sido uma beleza para
Dilma. Na minha coluna na Folha
de sexta-feira, tirei o sarro dessa mentira. Escrevi lá: “É evidente
que o lado positivo da vaia é cascata. Essa versão é obra de ‘spin
doctors’, cujo trabalho só é efetivo quando conta com a opinião
abalizada de ‘especialistas’ e com a sujeição voluntária ou involuntária
da imprensa”.
O primeiro
a perceber a armadilha foi Gilberto Carvalho, que correu para negar a
tese da elite branca. Pesquisas do Palácio do Planalto apontam que, ao
contrário da versão que tentaram emplacar, o evento tinha sido ruim para
a presidente, e a versão tornava tudo pior.
Em entrevista nesta quarta ao “Jornal do SBT”, o ex-presidente mudou o tom — e
sem
combinar nada com Trajano, santo Deus! Agora ele afirma que “o governo,
possivelmente, tem culpa” por não ter “cuidado com carinho” das
insatisfações da população. Ah, bom!!! Com aquela sua inclinação natural
para o pensamento de cunho filosófico, afirmou: “Eu
digo sempre que a vaia e o aplauso é só começar que acontecem. Agora,
aqueles palavrões me cheirou a coisa organizada, o preconceito, a raiva
demonstrada. Possivelmente a gente tenha culpa. Vou repetir: que a gente
tenha culpa de não ter cuidado disso com carinho”.
A fala é
ainda um tanto confusa, e não se pode esperar nada melhor do que isso.
Ou bem os palavrões “são coisa organizada” ou bem “o governo tem culpa”.
De qualquer modo, trata-se de uma mudança de tom. Quem também foi
desautorizado é o sr. Alberto Cantalice, vice-presidente do PT, segundo
quem os xingamentos eram consequência da pregação de pessoas como
“Reinaldo Azevedo (este criado que escreve), Augusto Nunes, Diogo Mainardi, Lobão, Demétrio Magnoli, Danilo Gentili, Guilherme Fiuza, Marcelo Madureira e Arnaldo Jabor.”
Não deixa
de ser divertido. Os petistas não perceberam que algo está mudando no
país e que a eterna guerra promovida pelo PT do “nós”, que são eles,
contra “eles”, que somos nós, não funciona mais. O petismo botocudo
achou que poderia usar o episódio do Itaquerão para promover um
arranca-rabo de classes e, se necessário, até um conflito racial, opondo
branco a negros, ricos a pobres, paulistas ao resto do país.
Deu-se
mal. O tiro saiu pela culatra. Os que embarcaram nessa canoa furada
colheram o óbvio: a embarcação virou porque fez água. A versão de que a
vaia era coisa da “elite branca” tornou pior para Dilma o que já estava
ruim.
Eu bem que
adverti aqui, como sabem, que não foi promovendo a guerra de todos
contra todos que o PT chegou ao poder em 2003. Ao contrário: aquela
linguagem beligerante era coisa do tempo
em que o partido só perdia eleições. Lula está tentando consertar o
estrago que ele próprio fez com a ajuda do jornalismo idiota ou
comprado.
De vítima,
a gente sente pena, mas não lhe dá voto. Lula só foi eleito quando
parou de posar de coitado e deixou que toda a sua autoestima, que é
gigantesca, viesse à flor da pele, não é mesmo? O PT aprendeu a lição. E
o jornalismo?