domingo, 29 de abril de 2012

Se a imprensa brasileira quisesse ser sensacionalista, seria a melhor imprensa sensacionalista do mundo.

Ou: Classe política brasileira seria quase dizimada pelo jornalismo americano, britânico ou italiano Agora que o inquérito sobre Demóstenes Torres foi tornado público — e vou aqui insistir para que se acabe com o falso sigilo de coisas assim: há sempre vazamentos selecionados por escroques — e que resta evidente que a “grande munição” contra a imprensa, com a qual Lula prometia o fim do mundo, era só pó de traque, cumpre fazer algumas considerações sobre a imprensa brasileira. Desde que o PT chegou ao poder, a imprensa está sob ataque. Tudo ficou muito pior depois que veio à luz o escândalo do mensalão e que acadêmicos do PT, liderados por Marilena Chaui, inventaram a falsa tese da tentativa de golpe de estado. A maior contribuição desta estudiosa de Espinoza foi abrigar o pensamento de Delúbio Soares. O partido resolveu mobilizar contra a imprensa seus esbirros na Internet e montou um verdadeiro aparelho para intervir em portais, sites, blogs, redes sociais etc. Anúncios da administração direta e de estatais financiam a intervenção, o que é um acinte à democracia. É por isso que não publico aqui aqueles que chamo, desde sempre, “petralhas”. Não são indivíduos se manifestando, mas funcionários de uma organização. Alguns são remunerados. Outros não! A campanha de difamação é intensa, embora os propósitos da canalha não tenham se realizado. Quem liderava antes continua a liderar — e com a mesma folga. O que há de novo na era petista é essa pistolagem que tenta contrastar a verdade dos fatos com uma “verdade alternativa” — que é um outro nome para a mentira. Aqui e ali, de modo despropositado, falso mesmo!, diz-se que a imprensa brasileira não sabe distinguir o joio do trigo, que escolhe o caminho do sensacionalismo, que é injusta com o poder e com os poderosos. Isso é falso de várias maneiras combinadas. Se algum mal há no setor, é seu alinhamento meio burro, automático, com teses de esquerda — mas deixarei este aspecto de lado agora. A verdade é que a imprensa brasileira está entre as mais bem-comportadas do mundo democrático; talvez seja a mais compreensiva de todas. Explico-me. A grande imprensa brasileira faz uma distinção radical, sem zonas cinzentas, entre o que é privado é o que é de interesse público. No texto em que trata dos princípios da VEJA, Eurípedes Alcântara, diretor de Redação, esmiúça o comportamento da revista — e, na verdade, de toda a grande imprensa — quanto a esse particular. Assim, se um jornalista recebe um arquivo com informações escabrosas sobre a vida sexual de um político por exemplo — refiro-me mesmo a evidências, provas —, isso não é publicado se o dito comportamento não estiver relacionado a algo que diga respeito ao interesse da coletividade ou que fira esses interesses. Todo mundo sabe disso. Lula sabe disso. José Dirceu sabe disso. Por que é assim? Porque se considera, no que eu chamaria de “cultura da imprensa brasileira”, que tal fato não é “político”. Se a grande imprensa brasileira quisesse ser sensacionalista, seria a maior — e melhor — imprensa sensacionalista do mundo. Por um bom tempo ao menos, até que houvesse uma mudança de hábitos. Olhem aqui: quem já se hospedou em alguns hotéis de Brasília — e não estou me referindo a puteiros, não! —, sabe que a capital federal rende quilômetros de textos sobre, como posso chamar?, desregramentos dos costumes de casados, solteiros, anfíbios… O mesmo vale para alguns restaurantes. E, no entanto, há uma espécie de compromisso tácito entre os políticos e funcionários graduados e o jornalismo de que nada daquilo será notícia. Peçam a um congressista american que deixe um restaurante embrigado para vocês verem o que acontece. Em Brasília, isso é rotina. Tudo questão pessoal! A grande imprensa brasileira tende a considerar que isso tudo é o joio. Para ser trigo, tem de envolver o interesse público. O jornalismo só se ocupou do filho que Renan Calheiros tinha fora do casamento quando se descobriu que era uma empreiteira que pagava a pensão à mãe da criança. Como ele era presidente do Senado, restava evidente que havia uma dimensão coletiva no que parecia ser apenas uma questão pessoal. Então se publicou. Lula ficou furioso quando os negócios de Lulinha, o seu “Ronaldinho”, vieram a público. Disse que estavam mexendo com a sua família. Errado! Era a sua família — no caso, um de seus filhos — que estava mexendo com o estado ao receber alguns milhões da Telemar, uma concessionária de serviço público, de que o BNDES era sócio. Não fosse isso, ninguém se importaria se aquele ex-monitor de jardim zoológico tinha ou não se tornado um milionário. José Dirceu, o consultor de empresas privadas que se esgueira em quartos de hotel, ficou bravo com as imagens que VEJA publicou na revista. Ora, estivesse ele recebendo, naquele ambiente, pessoas sem quaisquer vínculos com assuntos da República, ninguém teria dado um pio. Mas não! Com a sua folha corrida, mantinha encontros com o presidente da Petrobras, com o ministro do Desenvolvimento Industrial, com o líder do governo na Câmara… O Zé sabe muito bem que nem VEJA nem outro veículo qualquer teria publicado uma linha a respeito caso ele estivesse por ali para, sei lá, estripulias sexuais. No Brasil é assim. Mas não é assim no mundo, não! No mundo Lembram-se do “bunga bunga” de Berlusconi? Antes que surgissem as suspeitas sobre a idade e a procedência de algumas meninas — o que toca em questões de estado —, a vida dissoluta do então primeiro-ministro, estivesse ou não o interesse público envolvido, era alvo de constantes reportagens, com fotos, artigos, especulações etc. Algumas fotos tiveram que sair com aquele quadriculado ali na região entre o umbigo e as coxas… Na Inglaterra, então, nem se fale. O escândalo que envolveu o ”The News of the World” não mudou a rotina dos tabloides, não. Aquele jornal cometeu crimes para fabricar notícia, coisa muito diferente de noticiar o que se sabe da vida pública ou privada de personalidades da política, da realeza e do mundo do espetáculo. Um arquivo que chegasse a uma redação com folguedos sexuais de um político seria simplesmente notícia. Ponto! Nem se discute se um político ou funcionário graduado flagrado em intimidades num hotel ou num restaurante com namorada (o) ou amante é ou não notícia. É. Boa parte do establishment político brasileiro não sobreviveria à imprensa americana, bem mais comedida do que a inglesa ou italiana, mas muito distante da nossa no que concerne a essa separação rígida entre o público e o privado. Os bacanas que reclamam do nosso jornalismo não sabem, na verdade, o paraíso em que vivem. Na maioria das democracias, compreende-se que o homem público praticamente não tem direito a algumas prerrogativas dos cidadãos privados. Um exemplo: se o “Indivíduo A” tem uma amante, isso só interessa a ele, a ela e à mulher traída. Se, no entanto, ele for um político, isso passa a ser, sim, do interesse coletivo porque se considera que ele representa uma coletividade. Como tal, não pode reivindicar o direito à privacidade. Nos EUA, sabemos, a categoria que mais fulmina pré-candidatos à Presidência são as amantes. Fico cá me perguntando se, por exemplo, os americanos não acertam mais do que nós. Fico cá pensando se Brasília — refiro-me à Brasília como capital administrativa, não aos brasilienses — não seria um lugar de mais trabalho, de mais seriedade, de mais moralidade se os homens públicos soubessem que os jornalistas contarão tudo o que sabem e pronto! Sempre há a alternativa, é óbvio, de o sujeito de vida complicada decidir se manter na esfera privada, hipótese em que se ninguém tem de se meter com seus assunto. Talvez isso, mais do que o Ficha Limpa — que tem muitas portas abertas para o drible e até para a chantagem (trato disso outra hora) —, contribuísse para melhorar a política. O candidato a homem (e mulher, claro) público teria muito claro: “Se a minha história não for reta e se eu não viver conforme digo que vivo, sei que vou quebrar a cara”. Sim, sempre haverá, na democracia, a possibilidade de alguém se apresentar ao eleitorado justamente como aquele que enfia o pé no jaca. Mas, nesse caso, o eleitor será previamente avisado. Se votar, votou. Notem que não há lei proibindo que um sujeito com amante ou que tenha feito uma suruba se candidate nos EUA. Pode se candidatar. Provavelmente, não será eleito. Uma certeza ele tem: se teve amante ou fez suruba e se a imprensa ficar sabendo, isso será notícia. No Brasil, nunca! Generosa A imprensa brasileira, a verdade é esta, está entre as menos sensacionalistas do mundo. Na verdade, ela acaba sendo tolerante em excesso com certos comportamentos que, embora privados na aparência, mesmo não estando relacionados a dinheiro público ou a princípios da administração pública, revelam, no entanto, o político de duas caras, o anfíbio, aquele que diz uma coisa e que faz outra. Há certos comportamentos individuas que são sintomas de mau-caratismo. No homem privado, problema dele e de quem com ele se relacionar; no homem público, pode ser indício de baixa qualidade da representação e de degradação da política. “Mas me diga, Reinaldo, não pode haver um santarrão, com comportamento ilibado no terreno moral, que é, no entanto, um contumaz ladrão do dinheiro público?” Ora, gente, claro que sim! Assim como é possível existir um fauno, com uma penca de amantes, vivendo uma vida dissoluta, que não toca em um centavo do que é alheio. Mas acho que essa é tal curva do sino, entendem? Existe a minoria nos dois extremos. Mas me estendi demais nas eventuais virtudes de termos uma imprensa que conta tudo o que sabe sobre o homem público. Quero voltar ao ponto. A grande imprensa brasileira é generosa, tolerante e paciente. Permite que o fauno se passe por santarrão se considerar que isso é só um problema privado. Uma coisa é certa: a classe política brasileira seria quase dizimada se tivesse de enfrentar uma imprensa americana ou inglesa. E ouso dizer que, num primeiro momento, nem seria por causa do trabalho disso que se convencionou chamar “jornalismo investigativo”, que tenta desvendar as artimanhas dos ladrões de dinheiro público. Bastariam uma câmera fotográfica e alguns arquivos que chegam às redações e que são descartados. E eu lamento constatar que a nossa democracia não é melhor do que a democracia americana ou britânica. Só por causa disso? É claro que não! Mas também por causa disso. Se, amanhã, os grandes veículos anunciarem: “Vamos contar tudo”, aí vocês conhecerão o que é pânico. E eu posso garantir que não farão mal nenhum aos brasileiros se forem pra casa. 
 Por Reinaldo Azevedo

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Conforme o previsto, cotas já venceram; branco, pobre, heterossexual e cristão passa a ser o verdadeiro negro do Brasil

Já votaram pela improcedência da ação contra as cotas os ministros Ricardo Lewandowski, Luiz Fux, Rosa Weber e Carmen Lúcia. A opinião pró-cotas de Ayres Britto, Joaquim Barbosa e Celso de Mello é conhecida. Só aí se contam sete votos. O caso está decidido, conforme o previsto. Pior do que o mérito, que joga no lixo o Artigo 5º da Constituição e faz de brancos pobres sócios do regime escravocrata que vigorou no Brasil — obrigando-os a pagar com a própria pele (!) por aquele processo histórico — são os argumentos. Todos eles atribuem ao tribunal — ou a seus membros —, a competência de fazer justiça com a própria toga. As cotas para negros nas universidades públicas já estão oficializadas. Agora resta às demais minorias, com base naqueles mesmos argumentos que sustentam que se possam suprimir direitos de uns para conceder privilégios a outros “em nome da igualdade e da dignidade humana”, reivindicar o seu quinhão. Eu me sinto, vamos dizer, intelectualmente recompensado porque antevi isso há muitos anos, não? É minha a frase segundo a qual o branco, pobre, heterossexual e cristão passaria a ser o verdadeiro negro do Brasil. Ninguém é por ele, e todos são contra ele. É um sem-ONG, um sem-razão, um sem-direito. Está proibido até mesmo de reivindicar. Caso se mobilize, os bem-pensantes, inclusive os da imprensa, apontarão o dedo: “Fascista!”
 Por Reinaldo Azevedo

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Código Florestal – Os produtores rurais, tratados como bandidos, têm de enfrentar os amigos da natureza, dos sem-terra, dos índios, dos quilombolas, da humanidade… E, não raro, a imprensa!

A votação do Código Florestal ficou para esta quarta. Está marcada uma sessão extraordinária para 11 e depois a regular, à tarde, quando deve começar a votação. O dia foi tenso e demonstrou por que se chegou ao impasse. O governo, os governistas e os que se opõem ao texto têm preferido o caminho da desqualificação, da ameaça e do truque. Vale dizer: tenta-se tudo, menos o diálogo, menos a interlocução. A desqualificação Opta-se pela desqualificação quando se tenta fazer do relator, deputado Paulo Piau (PMDB-MG), mero representante dos “ruralistas”, essa palavra que não abandona o jornalismo. Eu ainda não sei o que é um “ruralista”, com esse sufixo. O “ista” é o sufixo que forma o adjetivo dos substantivos terminados em “ismo”. E o que quer dizer o “ismo”? Designa doutrina, sistema, teoria, tendência, corrente… Assim, o “ista” de um “ismo” é aquele que se alinha com a doutrina, a teoria, a tendência. O que há de querer um “ruralista”? Ora, vai ver pretende que o mundo seja convertido numa grande fazenda, não é mesmo? Vai ver pretende que as cidades cedam lugar às plantações de soja. Vai ver pretende que todo o resto do país — a indústria, os serviços, a literatura, a música —, tudo se subordine à vida rural. Assim o ruralismo seria mesmo uma ideologia, quem sabe uma filosofia. Mais do que isso: um ruralista seria, antes de mais nada, um reacionário, lutando para que a humanidade volte à vida camponesa… Um mínimo de bom senso da imprensa nesse caso — e de cuidado dos editores com a língua e com o combate ao preconceito —, e não se falaria mais de “bancada ruralista”. Qual seria a bancada adversária? A dos “urbanistas”? Quem seria seu porta-voz. Vai ver é Jilmar Tatto, o dono da “tattolândia”, aquela área cercada onde só entra petista… Escolhe-se também o caminho da desqualificação quando se tenta usar, como fez Chico Alencar (PSOL-RJ), com o incentivo indiscreto do PT, os financiadores de campanha de Piau para tentar destituí-lo da relatoria: “Olhem, sua campanha foi financiada pelo agronegócio”. Esperavam o quê? Qual é a sua origem? Queriam que uma fábrica de armas apostasse nele, como apostou, certa feita, em Maria do Rosário, hoje ministra dos Direitos Humanos? Parlamentares que receberam financiamento de bancos e indústrias estão impedidos de lidar com matérias que digam respeito a esses setores? As áreas da economia que estão sendo beneficiadas pelas desonerações fiscais de Dilma Rousseff puseram ou não dinheiro em sua campanha? Esse argumento é ridículo. A ameaça Sem querer conversar, querendo se impor na base do grito, o Planalto manda recado: se passar um texto com o qual a presidente Dilma não concorda, ela veta. Pode vetar, claro! Mas acontece que também existe a figura da derrubada do veto. A depender da temperatura do embate, e dado que o Código é matéria que se define no Congresso, não no Executivo, é a vontade do Legislativo que vai prevalecer. Eu estou apostando que se vai chegar a um acordo, mas estou deixando claro que a ameaça do Planalto pode ser, se os deputados resolverem ficar invocados, nada além de uma bravata. O truque E há também o truque, composto de matéria um pouco mais sofisticada, mas trapaça retórica ainda assim. E esse partiu de Marco Maia (PT-RS), presidente da Casa. O deputado sacou da algibeira um argumento supostamente regimental — e a palavra final pode ser sua (desde que os que se opõem à sua tese não concluam que está violando… princípios regimentais para impor a sua vontade). Vamos ver. O texto do Senado — a íntegra está aqui — estabelece no Artigo 62 critérios para a recomposição, entre 15 metros e 100 metros, da vegetação nativa nas margens dos rios (há uma série de condições, vejam lá se tiverem interesse). Todos estão obrigados à recomposição, tanto o pequeno proprietário (até quatro módulos rurais) como o grande. Piau suprimiu essas exigências, deixando o assunto para lei posterior. Qual é o truque de Maia? Segundo ele, o texto original da Câmara, que seguiu para o Senado, já contemplava aquele conteúdo suprimido. Uma vez mantido pelos senadores, Piau não poderia ser saco pelo relator. Data vênia, Maia está forçando a barra. A íntegra do texto aprovado na Câmara está aqui. Lê-se lá no artigo 35: No caso de áreas rurais consolidadas localizadas em Áreas de Preservação Permanente nas margens de cursos d’água de até 10 (dez) metros de largura, será admitida a manutenção das atividades agrossilvopastoris desenvolvidas, desde que: I - as faixas marginais sejam recompostas em, no mínimo, 15 (quinze) metros, contados da calha do leito regular; Basta comparar o que foi aprovado numa Casa e noutra para constatar que são coisas diferentes. Essa tese de Maia de que um mínimo foi aceito na Câmara e mantido no Senado — e, portanto, não poderia jamais ser mexido — é pura feitiçaria interpretativa. O fato é que o Senado suprimiu o artigo da Câmara e redigiu o seu. E Piau alterou o que foi aprovado no Senado. Ele não tem a obrigação, ao mudar o texto que recebeu da outra Casa, nem de mantê-lo nem de restabelecer o que foi aprovado originalmente na própria Câmara. De resto, haverá uma nova votação na Casa, não é? Não será imposto com baianetas, ameaças, truques, desqualificações… Como Maia está, vamos dizer, a favor da metafísica influente e se mostra em oposição aos terríveis “ruralistas”, aqueles do sufixo lá do segundo parágrafo, a esmagadora maioria da imprensa dirá que ele está certíssimo. Sabem como é… Para defender a natureza, vale tudo, até a mentira e o truque. Negociação Piau deixou claro ontem que está disposto a negociar, que aceita alterar o seu texto, criando alguma exceção na recomposição da vegetação nativa para os pequenos proprietários, já que os grandes já se adequaram à lei, o que é verdade. Esse negócio de que são os grandes proprietários que se opõem à recomposição florestal é uma besteira. Vamos ver. O que ficou evidente mais uma vez é que os proprietários rurais são tratados como a categoria desprezível do Brasil. Afinal, eles não amam a natureza, só pensam em devastá-la. - Produzem alimentos, mas os progressistas não gostam deles. - Respondem pela estabilidade da economia, mas os formadores de opinião não gostam deles. - Estão entre os maiores empregadores do Brasil, mas as esquerdas não gostam deles. - Lideram a economia nas regiões do país em que houve a mais clara e drástica redução da pobreza, mas os pobristas e pobrólogos não gostam deles. - Não contam com os juros subsidiados de setores da indústria que têm até o privilégio de vender mais caro ao governo para enfrentar a concorrência externa, mas os modernos não gostam deles. - São competitivos e disputam o mercado externo sem precisar pedir, com a devida vênia, penico ao papai ou à mamãe governo, mas têm de enfrentar os amigos da natureza, os amigos dos índios, os amigos dos quilombolas, os amigos do sem-terra, os amigos, em suma, dos sem-noção, que tratam a pontapés quem responde, em último caso, pelas ditas conquistas sociais do petismo. Ou, então, retirem os “ruralistas” da equação para a gente ver com quais recursos o modelo vai alimentar a chamada Classe C, que faz as glórias do lulo-petismo e de alguns que usam a “defesa da natureza” como palanque. Ruralistas não existem! Tenham vergonha e respeitem os produtores rurais do Brasil!
Por Reinaldo Azevedo

terça-feira, 24 de abril de 2012

As peças que compõem a CPI do Cachoeira

Por Gabriel Castro, na VEJA Online:

 O prazo para a indicação dos membros da CPI do Cachoeira se encerra às 19h30 desta terça-feira. Enquanto a maioria das legendas já escolheu seus integrantes na Comissão Parlamentar de Inquérito criada para investigar a atuação da quadrilha do contraventor Carlinhos Cachoeira, o PT prefere fazer mistério. Os indicados pela legenda, tanto no Senado quanto na Câmara, serão divulgados no último dia. No caso da bancada dos deputados, uma escolha tem mais peso: a do relator da CPI. Pelo critério da proporcionalidade, a vaga ficará com um petista da Câmara. O líder da bancada do PT na Casa, Jilmar Tatto (SP), disse nesta segunda-feira que a decisão ainda não foi tomada: “Nem o relator sabe que será relator”. Ele afirma que a única exigência prévia é que o indicado não ocupe um cargo de primeiro plano nas eleições municipais - como candidato ou coordenador de campanha. O PT pretende usar a CPI para atingir a imprensa e a oposição. Por isso, a escolha do relator tende para o nome de Paulo Teixeira. Cândido Vaccarezza, outro candidato ao posto, foi colocado em segundo plano porque não é visto como suficientemente agressivo para cumprir a missão proposta pelo líder da bancada. Ao mesmo tempo, a cautela petista na definição dos nomes mostra um receio de que a CPI fuja do controle: o governo do PT no Distrito Federal e os contratos da construtora Delta com a gestão de Dilma Rousseff são alvos da oposição. Ao tentar jogar os adversários contra a parede, os petistas podem sofrer uma reação semelhante. Prioridades - A CPI será composta por 30 titulares e 30 suplentes - metade de uma Casa, metade da outra. Uma análise dos nomes já escolhidos pelas siglas, aliás, revela o interesse de cada uma. Na Câmara, a oposição optou por parlamentares com perfil investigador. O PSDB, por exemplo, escolheu como titulares um promotor de Justiça (Carlos Sampaio) e um delegado da Polícia Federal (Fernando Francischini). No PMDB, por falta de interessados, os dois nomes da linha de frente são do baixo clero: Íris de Araújo pretende atingir o governador de Goiás, o tucano Marconi Perillo, seu adversário político. Luiz Pitiman, do Distrito Federal, mira no governador petista Agnelo Queiroz, seu desafeto. O PSB, que tenta construir pontes com os dois lados da disputa, optou pelo desconhecido Paulo Foleto (ES). O PDT, não tão satisfeito com o governo, indicou um quadro experiente: Miro Teixeira (RJ). O líder do PTB no Senado, Gim Argello, é totalmente cético quanto aos resultados da CPI. Por isso, não viu problemas em escalar Fernando Collor (AL) para compor a comissão. Na Casa, o PMDB escolheu o novato Vital do Rêgo (PB) para presidir a comissão. Mais uma vez, a falta de voluntários guiou a decisão. Também no Senado, o PT se mostra indeciso: “Ainda não sabemos. Isso será decidido amanhã”, disse Wellington Dias (PI) nesta segunda-feira. No fim da tarde, o PDT do Senado confirmou que Acir Gurgacz (RO) será o suplente da bancada na CPI. O titular é Pedro Taques (MT). O parlamentar, ex-procurador de Justiça, tenta ser otimista, apesar de parte do Congresso apostar no fracasso da investigação: “Acho que isso não vai acontecer. A CPI é da República”. Confira a lista completa dos indicados até o momento: Câmara: PMDB - titulares: Luiz Pitiman (DF) e Íris de Araújo (GO). Faltam dois suplentes. PSDB - titulares: Carlos Sampaio (SP) e Fernando Francischini (PR). Suplentes: Domingos Sávio (MG) e Rogério Marinho (RN) DEM - titular: Onyx Lorenzoni (RS). Suplente: Mendonça Prado (SE) PSB - titular: Paulo Foleto (ES). Suplente: Glauber Braga (RJ) PTB - titular: Sílvio Costa (PE). Suplente: Arnaldo Faria de Sá (SP) PR - titular Maurício Quintela Lessa (AL). Suplente: Ronaldo Fonseca (DF) PDT - titular: Miro Teixeira (RJ). Suplente: Vieira da Cunha (RS) PSC - titular: Filipe Pereira (RJ). Suplente: Hugo Leal (RJ) PPS - titular: Rubens Bueno (PR) PV - suplente:Sarney Filho (MA) Senado: PSDB - titular: Alvaro Dias (PR). Suplentes: Cássio Cunha Lima (PB) e Aloysio Nunes Ferreira (SP) PMDB - titulares: Vital do Rêgo Filho (PB), Romero Jucá (RR), Jarbas Vasconcelos (PE)*. Falta um suplente. DEM - titular: Jayme Campos (MT) PTB - titular: Fernando Collor (AL) PDT - titular: Pedro Taques (MT). Suplente: Acir Gurgacz (RO) PP - titular: Ciro Nogueira (PI) PR - suplente: Vicentinho Alves (TO) PSOL - suplente: Randolfe Rodrigues (AP)** * Vaga cedida pelo PSDB ** Vaga cedida pelo DEM 
 Por Reinaldo Azevedo

‘A falência múltipla dos órgãos públicos’,

PUBLICADO NO GLOBO DE 17 DE ABRIL DE 2012

 ARNALDO JABOR

 Os corruptos ajudam-nos a descobrir o País. Há sete anos, Roberto Jefferson nos abriu a cortina do mensalão. Agora, com a dupla personalidade de Demóstenes Torres, descortinamos rios e florestas e a imensa paisagem de Cachoeira. Jefferson teve uma importância ideológica. Cachoeira é uma inovação sociológica. Cachoeira é uma aula magna de ciência política sobre o Sistema do País. Vamos aprender muito com essa crise. É um esplendoroso universo de fatos, de gestos, de caras, de palavras que eclodiram diante de nossos olhos nas últimas semanas. Meu Deus, que riqueza, que profusão de cores e ritmos em nossa consciência política! Que fartura de novidades da sordidez social, tão fecunda quanto a beleza de nossas matas, cachoeiras, várzeas e flores. Roberto Jefferson denunciou os bolchevistas no poder, os corruptos que roubavam por “bons motivos”, pelo “bem do povo”, na base dos “fins que justificam os meios”. E, assim, defenestrou a gangue de netinhos de Lenin que cercavam o Lula que, com sua imensa sorte, se livrou dos mandachuvas que o dominavam. Cachoeira é uma alegoria viva do patrimonialismo, a desgraça secular que devasta a história de nosso País. Sarney também seria ‘didático’, mas nada gruda nele, em seu terno de ‘teflon’; no entanto, quem estudasse sua vida entenderia o retrato perfeito do atraso brasileiro dos últimos 50 anos. Cachoeira é a verdade brasileira explícita, é o retrato do adultério permanente entre a coisa pública e privada, aperfeiçoado nos últimos dez anos, graças à maior invenção de Lula: a ‘ingovernabilidade’. Cachoeira é um acidente que rompeu a lisa aparência da ‘normalidade’ oficial do País. Sempre soubemos que os negócios entre governo e iniciativa privada vêm envenenados pelas eternas malandragens: invenção de despesas inúteis (como as lanchas do Ministério da Pesca), superfaturamento de compras, divisão de propinas, enfrentamento descarado de flagrantes, porque perder a dignidade vale a pena, se a grana for boa, cabeça erguida negando tudo, uns meses de humilhações ignoradas pelo cinismo e pela confiança de que a Justiça cega, surda e muda vai salvá-los. De resto, com a grana na ‘cumbuca’, as feridas cicatrizam logo. O governo do PT desmoralizou o escândalo e Cachoeira é o monumento que Lula esculpiu. Lula inventou a ingovernabilidade em seu proveito pessoal. Não foi nem por estratégia política por um fim ‘maior’ – foi só para ele. Achávamos a corrupção uma exceção, um pecado, mas hoje vemos que o PT transformou a corrupção em uma forma de governo, em um instrumento de trabalho. A corrupção pública e a privada é muito mais grave e lesiva que o tráfico de drogas. Lula teve a esperteza de usar nossa anomalia secular em projeto de governo. Essa foi a realização mais profunda do governo Lula: o escancaramento didático do patrimonialismo burguês e o desenho de um novo e ‘peronista’ patrimonialismo de Estado. Quando o paladino da moralidade Demóstenes ficou nu, foi uma mão na roda para dezenas de ladrões que moram no Congresso: “Se ele também rouba, vamos usá-lo como um Omo, um sabão em pó para nos lavar, vamos nos esconder atrás dele, vamos expor nosso escândalo por seu comportamento e, assim, seremos esquecidos!” Os maiores assaltantes se horrorizaram, com boquinha de nojo e olhos em alvo: “Meu Deus… como ele pôde fazer isso?…” Usam-no como um oportuno bode expiatório, mas ele é mais um ‘boi de piranha’ tardio, que vai na frente para a boiada se lavar atrás. Demóstenes foi uma isca. O PT inventou a isca e foi o primeiro a mordê-la. “Otimo!” – berrou o famoso estalinista Rui Falcão – “Agora vamos revelar a farsa do mensalão!” – no mesmo tom em que o assassino iraniano disse que não houve holocausto. “Não houve o mensalão; foi a mídia que inventou, porque está comprada pela oposição!” Os neototalitários não desistem da repressão à imprensa democrática… E foi o Lula que estimulou a CPI, mesmo prejudicando o governo de Dilma, que ele usa como faxineira também das performances midiáticas que cometeu em seu governo. Dilma está aborrecida. Ela não concorda que as investigações possam servir para que o Partido se vingue dos meios de comunicação e não quer paralisar o Congresso. Mas Lula não liga. “Ela que se vire…” – ele pensa em seu egoísmo, secretamente, até querendo que ela se dane, para ele voltar em 14. Agora, todo mundo está com medo, além da presidente. O PT está receoso – talvez vagamente arrependido. Pode voltar tudo: aloprados, caixas 2 falsas, a volta de Jefferson, Celso Daniel, tantas coisinhas miúdas… A CPI é um poço sem fundo. O PMDB, liderado pelo comandante do atraso Sarney, também está com medo. A velha raposa foi contra, pois sabe que merda não tem bússola e pode espirrar neles. Vejam o pânico de presidir o Conselho de Ética, conselho que tem membros com graves problema na Justiça. Se bem que é maravilhoso o povo saber que Renan, Juca, Humberto Alves, Gim Argello, Collor serão os ‘catões’, os puros defensores da decência… Não é sublime tudo isso? Nunca antes, em nossa história, alianças tão espúrias tiveram o condão de nos ensinar tanto sobre o Brasil. A cada dia nos tornamos mais sábios, mais cultos sobre essa grande chácara de oligarquias. E eu estou otimista. Acho que tudo que ocorre vai nos ensinar muito. Há qualquer coisa de novo nessa imundície. O mundo atual demanda um pouco mais de decência política. Cachoeira, Jefferson, Durval Barbosa nos ensinam muito. Estamos progredindo, pois aparece mais a secular engrenagem latrinária que funciona abaixo dos esgotos da pátria. A verdade está nos intestinos da política. Mas, o País é tão frágil, tão dependente de acasos, que vivemos com o suspense do julgamento do mensalão pelo STF. Se o ministro Ricardo Lewandowski não terminar sua lenta leitura do processo, nada acontecerá e a Justiça estará desmoralizada para sempre

Para devassar todas as catacumbas da quadrilha, é necessária uma CPI da Delta

Um post aqui publicado em 22 de junho de 2011 registrou a repulsa dos brasileiros honestos com o desempenho de Lula num encontro do PT em Sumaré. No Sermão aos Companheiros Pecadores, clímax da missa negra, o mestre ensinou o mestre a seus discípulos que, sem união, nenhum bando escapa de perdas dolorosas. Explicou que Antonio Palocci, por exemplo, perdeu o empregão na Casa Civil não pelo que fez, mas pelo que o rebanho deixou de fazer. Foi despejado não por excesso de culpa, mas por falta de braços solidários. Para ilustrar a tese, o pregador evocou o escândalo do mensalão ─ sem mencionar a expressão banida do vocabulário do bordel das antigas vestais. “Eu sei, o Zé Dirceu sabe, o João Paulo sabe, o Ricardo Berzoini sabe, que um dos nossos problemas em 2005 era a desconfiança entre nós, dentro da nossa bancada”, disse o pregador. “A crise de 2005 começou com uma acusação no Correio, de três mil reais, o cara envolvido era do PTB, quem presidia o Correio era o PMDB e eles transformaram a CPI dos Correios, para apurar isso, numa CPI contra o PT, contra o Zé Dirceu e contra outros companheiros. Por quê? Porque a gente tava desunido”. Com o cinismo dos que espancam a verdade desde o berço, o sumo-sacerdote da seita omitiu o essencial. Foi ele quem entregou o controle dos Correios ao condomínio formado pelo PMDB e pelo PTB. O funcionário filmado embolsando propinas era afilhado do deputado Roberto Jefferson, presidente do PTB, que merecera do amigo presidente “um cheque em branco”. O desconfiado da história foi Jefferson, que resolveu afundar atirando ao descobrir que o Planalto não o livraria do naufrágio. Ao contar o que sabia, desmatou a trilha que levaria ao pântano do mensalão. Não podemos errar de novo, advertiu o embusteiro. Para tanto, é preciso preservar a coesão do PT e da base alugada recorrendo à receita caseira: “A gente se reúne, tranca a porta e se atraca lá dentro”, prescreveu. Encerrada a briga de foice, unifica-se o discurso em favor dos delinquentes em perigo. “Eu tô de saco cheio de ver companheiro acusado, humilhado, e depois não se provar nada”, caprichou na indignação de araque o padroeiro dos gatunos federais. Aos olhos do país que presta, gente como o mensaleiro José Dirceu, a quadrilheira Erenice Guerra ou o estuprador de sigilo bancário Antonio Palocci têm de prestar contas à Justiça. Para Lula, todos só prestaram relevantes serviços à pátria. A lealdade ao chefe purifica. “Os adversários não brincam em serviço”, fantasiou. “Toda vez que o PT se fortalece, eles saem achincalhando o partido”. Milhões de brasileiros não conseguem enxergar qno homem que brinca de xerife o vilão do faroeste de quinta categoria. Ao longo de oito anos, enquanto cuidava de transformar a ignorância em virtude, Lula acelerou a decomposição moral do país. O Brasil deste começo de século lembra um grande clube dos cafajestes sustentado por multidões de sobreviventes para os quais a vida consiste em não morrer de fome. Essa sim é a herança maldita. Se conseguisse envergonhar-se com alguma coisa, o ex-presidente estaria pedindo perdão aos brasileiros por ter institucionalizado a impunidade dos corruptos companheiros. Se não fosse portador da síndrome de Deus, saberia que ninguém tem poderes suficientes para revogar os fatos e decretar a inexistência do mensalão. Como Lula é o que é, continua convencido de que livrará do merecidíssimo castigo os bandidos de estimação. Neste outono, para perseguir inimigos e, simultaneamente, dispersar os holofotes concentrados no processo à espera de julgamento no Supremo Tribunal Federal, o Grande Pastor ordenou ao rebanho que apressasse a instauração da CPI do Cachoeira. Má ideia. As escavações mal começaram e a Delta Construção, a empreiteira que mais lucrou com as licitações bandalhas do PAC, vai assumindo o papel principal na ópera dos ladrões. Uma CPI do Cachoeira abrange as maracutaias protagonizadas por um sócio da empresa que ganhou bilhões na construção do Brasil Maravilha de cartório. Para devassar por inteiro a rede de catacumbas, é necessária uma CPI da Delta. É essencial ouvir o que tem a dizer Fernando Cavendish, porque as coisas vão muito além de Goiás e do Distrito Federal. “Como está o Serginho?”, quis saber Lula de um amigo comum na semana passada. Serginho é Sérgio Cabral, compadre, amigo do peito e parceiro de Cavendish em aventuras bilionárias. Se já não está, logo estará muito mal no retrato. Lula acha que os leais prontuários infiltrados na CPI manterão as investigações sob controle. Vai descobrir outra vez que pode muito, mas não pode tudo. A CPI acabará tropeçando nos incontáveis corruptos de bom tamanho espalhadas pelo caminho. Um dos mais graúdos está no trecho que passa por Belo Horizonte

segunda-feira, 23 de abril de 2012

A falta que um Francis faz

Augusto Nunes

Paulo Francis: o homem amável e de maneiras gentis dava lugar, na hora de lidar com as palavras, ao crítico implacável e ao homem sem medos (Foto de Marcelo Carnaval) O ator principiante não teria ido além da primeira peça caso houvesse recusado a sugestão do agitador teatral Paschoal Carlos Magno: que tal trocar o Franz Paulo Trannin da Matta Heilborn da certidão de batismo por um nome artístico menos tonitruante? E o sofrível coadjuvante seguiria vivendo papéis secundários não se tivesse criado um personagem fadado ao êxito no mundo real: o jornalista Paulo Francis, em tudo diferente do intérprete ─ um homem amável, de gestos suaves e maneiras gentis. O gentleman existia entre um texto e outro. Na hora de lidar com palavras, materializava-se a entidade agressiva, de temperamento beligerante, extraordinariamente hábil no ataque frontal, na ironia desmoralizante, no humor ferino, no sarcasmo impiedoso. O estilo claro e contundente na forma e no conteúdo, a abrangência temática, a independência intelectual e a disposição para a correção da rota fizeram desse Paulo Francis o maior polemista do jornalismo brasileiro moderno. Ele continua no topo do ranking, comprova a leitura de Diário da Corte, coletânea de 76 colunas publicadas pela Folha de S. Paulo entre 1975 e 1990. O país da amnésia endêmica, que esquece a cada 15 anos o que aconteceu nos 15 anteriores, também condena os melhores e mais brilhantes a 15 anos de esquecimento ─ contados a partir da morte física. Francis não escapou dessa temporada no limbo. Em 4 de fevereiro de 1997, quando um enfarte o surpreendeu no apartamento em Nova York, milhares de leitores do colunista dos jornais O Estado de S. Paulo e O Globo e milhões de espectadores do comentarista dos telejornais da Globo e do programa Manhattan Connection haviam transformado o carioca de 66 anos em celebridade nacional. Pois mesmo o mais conhecido jornalista brasileiro teve de esperar até agora pela exumação parcial da obra escrita. Pior os jovens, que poderiam tê-lo encontrado mais cedo. As crônicas reunidas no livro resistiram incólumes à passagem do tempo. Muitos textos parecem ter saído ontem da mente brilhante, e continuam de tal forma contemporâneos que poderiam ser publicados na edição de amanhã, sem retoques ou atualizações. A leitura de Diário da Corte mostra com dolorosa nitidez a falta que um Francis faz. “Se dei uma contribuição ao jornalismo brasileiro, foi a de desmistificar os EUA”, disse em 1983. Fez muito mais que isso. Antes ou depois do correspondente internacional cinco estrelas, existiram o crítico de teatro que achava Paulo Francis “nome de bailarino de teatro de revista”, o crítico de cinema que desancava unanimidades internacionais, o devorador de livros que parecia carregar na cabeça três bibliotecas, o resistente entrincheirado numa página do Pasquim. E houve, sobretudo, o jornalista político que, ao se livrar de cautelas e amarras impostas por patrulhas ideológicas, se transformou, como Nelson Rodrigues, num “ex-covarde”. É preciso coragem para arriscar-se a ser estigmatizado nestes trêfegos trópicos como “direitista”, “reacionário” ou “conservador”. Mas só quem não teme tal perigo conseguirá enxergar o Brasil como o Brasil efetivamente é. SÍMBOLO DA JEQUICE Diário da Corte permite a contemplação de um largo trecho dessa caminhada em direção à maturidade ─ e ao encontro da liberdade que Francis definia com uma citação de Rosa Luxemburgo: “A liberdade é quase sempre, exclusivamente, a liberdade de quem discorda de nós”. Nós nos tornamos amigos no começo dos anos 90, quando consegui levá-lo para o Estadão. Tive o privilégio de vê-lo em ação logo ao lado, exercitando plenamente o direito de discordar de meio mundo ─ e de manifestar a discordância sem firulas nem ambiguidades. Duelou furiosamente com José Guilherme Merquior e Antonio Cândido, brigou feio com Chico Buarque e Caetano Veloso. Não poupou sequer parceiros dos tempos do Pasquim. “Jaguar é um idiota de gênio”, resumiu ao comentar a subordinação do jornal aos interesses eleitorais de Leonel Brizola ─ a quem se aliara no início dos anos 60. Foi uma das muitas mudanças de opinião embutidas na metamorfose maior. Roberto Campos, por exemplo, foi redimido depois de figurar por dez anos entre os alvos preferenciais da ferocidade de Francis. “Escrevi coisas brutais sobre Campos”, penitenciou-se. “São erradas. Retiro-as”. Em 1993, no jantar de encerramento de um seminário em Porto Alegre de que participou como palestrante, sentei-me com meu amigo na mesa em que estava Roberto Campos. Depois de cumprimentar o ex-inimigo à sua esquerda, virou-se para mim e gracejou: “Quem diria, hein? Agora estou à direita até do Roberto Campos”. A disposição para mudar de ideia tinha limites. José Sarney, por exemplo, nunca deixou de ser o símbolo da jequice brasileira, filha da esperteza dos que mandam e da ignorância dos que obedecem. “Um amigo me disse que tubarões andaram à caça de Sarney”, escreveu em 2 de janeiro de 1988. “Já comecei a babar diante dessa possibilidade. Aí está uma solução”. A argúcia excepcional e o ceticismo congênito somaram-se para apressar a decepção com Luiz Inácio Lula da Silva, reiterada na coluna “Admirei Lula quando apareceu”, escreveu em 16 de agosto de 1985. “Enfim, um líder sindical que cuidava do pão e manteiga dos trabalhadores, o que é essencial à modernização capitalista do Brasil. Durou pouco. Lula me parece ter sido envolvido pela grã-finagem esquerdista do Morumbi e adjacências. Hoje, repete as mesmas sandices populistas que ouvimos desde os tempos de Jango Goulart”. Nas eleições de 1989, apoiou Fernando Collor ─ que reduziria a pó depois das bandalheiras que resultaram no impeachment ─ movido pela ojeriza a dois fantasmas muito caros ao PT: a interferência excessiva do Estado e o aparelhamento da máquina pública. Francis antecipou em mais de 20 anos o cenário deste 2012. O que diria o polemista sem medos se sobrevivesse para saber a que ponto pode chegar um país em adiantada decomposição moral? Como trataria os ministros que perderam o emprego por safadeza explícita mas seguem impunes e em liberdade? O que faria depois de confrontado com o primeiro presidente da República que nunca leu um livro nem sabe escrever? Como reagiria aos palavrórios sem pé nem cabeça de Dilma Rousseff? Pena que a morte prematura tenha privado o Brasil decente das respostas a essas e tantas outras perguntas. A jornalista Sonia Nolasco, mulher de Francis, decidiu que o marido seria enterrado com aquele par de óculos de lentes grossas sob a testa. Ele partiu com cara de quem continuaria enxergando as coisas como as coisas são

Estes grandes corruptos presidem a CPI do escandalo Carlinhos Cachoeira

Na CPI mista (senadores e deputados) que investiga a corrupção de Carlinhos Cachoeira, entre titulares e suplentes, estão reunidos Fernando Collor, Gim Argello, Protógenes Queiroz e Alfredo Nascimento (o que deixou o Ministério dos Transportes no início daquela derrubada em série de ministros que levou o nome de “faxina ética”).

O ministro Marco Aurélio agora vive no Brasil do faz de conta que desmascarou no corajoso discurso de maio de 2006

A versão 2006 de Marco Aurélio era bem melhor que o modelo deste ano Depois de informar que não enxerga diferenças entre o processo do mensalão e outros 700 estacionados na fila de espera do Supremo Tribunal Federal, o ministro Marco Aurélio Mello recitou a bravata: “Não devemos ceder à turba, que quer justiçamento, e muito menos à pressão política, que tenta adiar o julgamento”. (Quem tenta protelar o desfecho do grande escândalo é a turma envolvida na bandidagem, com a ajuda dos padrinhos. Os gritos da turba sedenta de sangue só o ministro ouviu). Amparado nesse palavrório anêmico, Marco Aurélio caprichou na pose de presidente do Tribunal do Juízo Final, sublinhou a expressão intrigada com duas rugas perplexas e soltou a pergunta espantosa: “Por que pinçar o processo do mensalão e julgar a toque de caixa?” O Marco Aurélio sem pressa para encerrar um caso há sete anos em busca de algum desfecho deveria aconselhar-se com a versão 2006 de Marco Aurélio. Foi esse o modelo que, ao assumir a presidência do Tribunal Superior Eleitoral, lavou a alma do Brasil decente com um discurso irretocável. Leiam o que disse o ministro no pronunciamento que descreveu o país do faz-de-conta:

O PAÍS DO FAZ DE CONTA Infelizmente, vivenciamos tempos muito estranhos, em que se tornou lugar-comum falar dos descalabros que, envolvendo a vida pública, infiltraram na população brasileira ─ composta, na maior parte, de gente ordeira e honesta ─ um misto de revolta, desprezo e até mesmo repugnância. São tantas e tão deslavadas as mentiras, tão grosseiras as justificativas, tão grande a falta de escrúpulos que já não se pode cogitar somente de uma crise de valores, senão de um fosso moral e ético que parece dividir o País em dois segmentos estanques ─ o da corrupção, seduzido pelo projeto de alcançar o poder de uma forma ilimitada e duradoura, e o da grande massa comandada que, apesar do mau exemplo, esforça-se para sobreviver e progredir. Não passa dia sem depararmos com manchete de escândalos. Tornou-se quase banal a notícia de indiciamento de autoridades dos diversos escalões não só por um crime, mas por vários, incluindo o de formação de quadrilha, como por último consignado em denúncia do Procurador-Geral da República, Doutor Antônio Fernando Barros e Silva de Souza. A rotina de desfaçatez e indignidade parece não ter limites, levando os já conformados cidadãos brasileiros a uma apatia cada vez mais surpreendente, como se tudo fosse muito natural e devesse ser assim mesmo; como se todos os homens públicos, nas mais diferentes épocas, fossem e tivessem sido igualmente desonestos, numa mistura indistinta de escárnio e afronta, e o erro passado justificasse os erros presentes. A repulsa dos que sabem o valor do trabalho árduo se transformou em indiferença e desdém. E seguimos como se nada estivesse acontecendo. Perplexos, percebemos, na simples comparação entre o discurso oficial e as notícias jornalísticas, que o Brasil se tornou um país do faz-de-conta. Faz de conta que não se produziu o maior dos escândalos nacionais, que os culpados nada sabiam ─ o que lhes daria uma carta de alforria prévia para continuar agindo como se nada de mal houvessem feito. Faz de conta que não foram usadas as mais descaradas falcatruas para desviar milhões de reais, num prejuízo irreversível em país de tantos miseráveis. Faz de conta que tais tipos de abusos não continuam se reproduzindo à plena luz, num desafio cínico à supremacia da lei, cuja observação é tão necessária em momentos conturbados. Se, por um lado, tal conduta preocupa, porquanto é de analfabetos políticos que se alimentam os autoritarismos, de outro surge insofismável a solidez das instituições nacionais. O Brasil, de forma definitiva e consistente, decidiu pelo Estado Democrático de Direito. Não paira dúvida sobre a permanência do regime democrático. Inexiste, em horizonte próximo ou remoto, a possibilidade de retrocesso ou desordem institucional. De maneira adulta, confrontamo-nos com uma crise ética sem precedentes e dela haveremos de sair melhores e mais fortes. Em Medicina, “crise” traduz o momento que define a evolução da doença para a cura ou para a morte. Que saiamos dessa com invencíveis anticorpos contra a corrupção, principalmente a dos valores morais, sem a qual nenhuma outra subsiste. Nesse processo de convalescença e cicatrização, é inescusável apontar o papel do Judiciário, que não pode se furtar de assumir a parcela de responsabilidade nessa avalancha de delitos que sacode o País. Quem ousará discordar que a crença na impunidade é que fermenta o ímpeto transgressor, a ostensiva arrogância na hora de burlar todos os ordenamentos, inclusive os legais? Quem negará que a já lendária morosidade processual acentua a ganância daqueles que consideram não ter a lei braços para alcançar os autoproclamados donos do poder? Quem sobriamente apostará na punição exemplar dos responsáveis pela sordidez que enlameou gabinetes privados e administrativos, transformando-os em balcões de tenebrosas negociações? Essa pecha de lentidão recai sobre o Judiciário injustamente, já que não lhe cabe outro procedimento senão fazer cumprir a lei, essa mesma lei que por vezes o engessa e desmoraliza, recusando-lhe os meios de proclamar a Justiça com efetividade, com o poder de persuasão devido. Pois bem, se aqueles que deveriam buscar o aperfeiçoamento dos mecanismos preferem ocultar-se por trás de negociatas, que o façam sem a falsa proteção do mandato. A República não suporta mais tanto desvio de conduta. Ao reverso do abatimento e da inércia, é hora de conclamar o povo, principalmente os mais jovens, a se manifestar pela cura, não pela doença, não pela podridão do vale-tudo, que corrói, com a acidez do cinismo, a perspectiva de um futuro embasado em valores como retidão, dignidade, grandeza de caráter, amor à causa pública, firmeza de propósitos no empenho incondicional ao progresso efetivo, e não meramente marqueteiro, do País. Ao usar a voz da urna, o povo brasileiro certamente ouvirá o eco vitorioso da cidadania, da verdade ─ que, sendo o maior dos argumentos, mais dia, menos dia, aparecerá. Àqueles que continuam zombando diante de tão simples obviedades, é bom lembrar que não são poucos os homens públicos brasileiros sérios, cuja honra não se afasta com o tilintar de moedas, com promessas de poder ou mesmo com retaliações, e que a imensa maioria dos servidores públicos abomina a falta de princípios dos inescrupulosos que pretendem vergar o Estado ao peso de ideologias espúrias, de mirabolantes projetos de poder. Aos que laboram em tamanhas tolices, nunca é demais frisar que se a ordem jurídica não aceita o desconhecimento da lei como escusa até do mais humilde dos cidadãos, muito menos há de admitir a desinformação dos fatos pelos agentes públicos, a brandirem a ignorância dos acontecimentos como tábua de salvação. Incumbe a cada eleitor perceber que o voto, embora individualizado, a tantos outros se seguirá, formando o grande todo necessário à escolha daqueles que o representarão. Impõe-se, nesse sagrado direito-dever, a conscientização, a análise do perfil, da vida pregressa daqueles que se apresentem, é de presumir – repito – para servir com honestidade de propósito e amor aos concidadãos, dispostos, acima de tudo, a honrar a coisa pública. O Judiciário compromete-se com redobrado desvelo na aplicação da lei. Não haverá contemporizações a pretexto de eventuais lacunas da lei, até porque, se omissa a legislação, cumpre ao magistrado interpretá-la à luz dos princípios do Direito, dos institutos de hermenêutica, atendendo aos anseios dos cidadãos, aos anseios da coletividade. Que ninguém se engane: não ocorrerá tergiversação capaz de turbar o real objetivo da lei, nem artifício conducente a legitimar a aparente vontade das urnas, se o pleito mostrar-se eivado de irregularidades. Esqueçam, por exemplo, a aprovação de contas com as famosas ressalvas. Passem ao largo das chicanas, dos jeitinhos, dos ardis possibilitados pelas entrelinhas dos diplomas legais. Repito: não haverá condescendência de qualquer ordem. Nenhum fim legitimará o meio condenável. A lei será aplicada com a maior austeridade possível – como, de resto, é o que deve ser. Bem se vê que os anticorpos de que já falei começam a produzir os efeitos almejados. Esta é a vontade esmagadora dos brasileiros.

Volto para o resumo da ópera. De maio de 2006 para cá, o viveiro de corruptos impunes radiografado nos parágrafos acima não parou de crescer. O Brasil mudou para pior. E Marco Aurélio Mello, pelo que anda dizendo sobre o mensalão, mudou-se para o país do faz de conta

sábado, 21 de abril de 2012

Peluso e Barbosa devem desculpas ao povo, que lhes paga um belo salário para que zelem pela constituição, não para se comportar como arruaceiros de botequim!

O site Consultor Jurídico publicou anteontem uma entrevista com o ministro Cezar Peluso, que deixa o Supremo Tribunal Federal em setembro, quando faz 70 anos. É uma pena que, em uma circunstância ao menos, ele tenha metido os pés pelas mãos. Já chego lá. Fez críticas pertinentes ao autoritarismo do governo federal e apontou, no que está corretíssimo, certo flerte do Supremo com o populismo. Tudo isso passou batido. O que fez mesmo barulho foram as suas considerações sobre o ministro Joaquim Barbosa, a saber: ConJur - Com as oscilações de saúde, o ministro Joaquim Barbosa assume após o ministro Ayres Brito? Cezar Peluso - O Joaquim assume, sim. Viram como ele está comparecendo ao Plenário? Teve uma melhora grande, antes quase não aparecia. Agora, comparece a todas as sessões. Ele não recusará essa Presidência em circunstância alguma, pode ficar tranquilo. Tem um temperamento difícil, não sei como irá conviver, primeiro com os colegas. Não sei como irá reagir com os advogados, pois tem um histórico desde o episódio com o Maurício Correia [ministro aposentado do Supremo. Em 2006, Joaquim Barbosa, no Plenário, sugeriu que o então presidente do STF fazia tráfico de influência]. Também não sei como irá se relacionar com a magistratura como um todo. Isso já é especular. Ele é uma pessoa insegura, se defende pela insegurança. Dá a impressão que de tudo aquilo que é absolutamente normal em relação a outras pessoas, para ele, parece ser uma tentativa de agressão. E aí ele reage violentamente. ConJur - A insegurança para o debate o faz resistir aos advogados? Cezar Peluso - A impressão que tenho é de que ele tem medo de ser qualificado como arrogante. Tem receio de ser qualificado como alguém que foi para o Supremo não pelos méritos, que ele tem, mas pela cor. ConJur - Mas ele tem problema com a coluna? Cezar Peluso - A coluna dele é perfeita, não tem nada de errado, ele tem problema nos quadris. O especialista Paulo Niemeyer no Rio diz que ele não tem problema na coluna, tem problema no quadril. Mas o certo é que alguma coisa ele tem, mesmo. Ter de ficar de pé, ficar tanto tempo de licença… Voltei Eu mesmo, não é segredo pra ninguém, já cheguei a sugerir, dadas as muitas ausências de Barbosa, que ele se aposentasse. Escrevi, então, que lamentava seus problemas de saúde, mas que os brasileiros não podiam arcar com as consequências. Num tribunal com 11 pessoas — durante muito tempo, funcionou com 10 —, um ministro impedido de trabalhar representa 10% da Casa, não é? Vamos lá. Eu posso — e, em muitos sentidos, até devo — fazer essa crítica. Mas não Peluso. É evidente que foi além de suas sandálias, ainda que apontasse uma outra questão real: o temperamento mercurial de Barbosa, muito pouco tolerante com quem discorda dele. Já as considerações sobre a cor da pele do colega são de uma absoluta impertinência. É claro que ninguém mais prestaria atenção ao resto da entrevista. Peluso avançou o sinal? É evidente!. Não seria de Joaquim Barbosa que se esperaria ponderação. Ele já exagerou antes por muito menos. Os sites noticiosos já traziam ontem uma resposta sua, afirmando que o outro estava “se achando e não sabe perder” etc e tal. Na entrevista publicada hoje em O Globo, o tom subiu. Se o ex-presidente do Supremo tinha sido deselegante com seu colega, Barbosa rebaixou o confronto ao bate-boca de boteco. Chamou Peluiso de “ridículo”, “brega”, “caipira”, “corporativista”, “desleal”, “tirano” e “pequeno”. É pouco? Ah, para Barbosa, é. Afirmou ainda que “Peluso, inúmeras vezes, manipulou ou tentou manipular resultados de julgamentos, criando falsas questões processuais ou simplesmente para tumultuar e não proclamar o resultado que era contrário ao seu pensamento”. A acusação seria gravíssima se Barbosa estivesse falando como ministro do Supremo. Mas ele estava??? Mais: “As pessoas guardarão a imagem de um presidente conservador e tirânico, que não hesitava em violar as normas quando se tratava de impor à força a sua vontade”. O novo vice-presidente da corte também afirmou que, durante sua gestão, Peluso “incendiou o Judicário com a sua obsessão corporativista”. Quanto às considerações sobre sua saúde, Barbosa disse que Peluso pratica “supreme bullying”. Bullying contra o povo Um confronto nesses termos é expressão de um rebaixamento da vida institucional brasileira. Não atinge só o Judiciário, não! Também se verifica no Executivo, no Legislativo, na imprensa… Uma baixaria como essa seria impossível em democracias como os EUA, a Alemanha, a França… E também seria impossível em ditaduras como o Irã ou a Arábia Saudita. Isso aponta para o fato de que estamos vivendo num regime de democracia rebaixada. As instituições estão aí, saudáveis na letra da lei, mas submetidas a especulações e ataques constantes — inclusive por parte dos agentes públicos que têm a função de preservá-las. Peluso jamais deveria ter dito o que disse do colega — não, ao menos, enquanto estiver no tribunal. Está a poucos meses, se for o caso, de dizer tudo o que lhe der na telha. Seu papel institucional o impede de fazê-lo hoje. O que praticou nada tem a ver com sinceridade ou transparência. É só depredação do necessário decoro. A resposta de Barbosa é, então, um descalabro total. Está pautada pelo mau espírito que consiste no seguinte: “Ah é? Já que ele me deu um chute na canela, então avanço com a navalha na sua jugular; quem mandou começar?” É isso o que a sociedade brasileira espera de seus ministros do Supremo? Que se comportem como moleques de rua? Contentes estão os mensaleiros. Contenstes estão os vagabundos. Contentes estão os criminosos. Nessa via em que o debate transitou, os meliantes são especialistas. É evidente que o Supremo não passaria incólume à decadência mais geral. Eu só não contava que pudesse mergulhar tão fundo. E algo que me diz que a coisa não vai parar por aí. Vem pela frente o julgamento do mensalão. Vários venenos de efeito retardado foram inoculados na corte. Todos os países que involuíram para regimes de força ou autoritários assistiram antes à decadência do Judiciário. Peçam desculpas aos brasileiros, senhores! Eles lhes pagam um belíssimo salário para que zelem pela Constituição, não para que se comportem como arruaceiros de botequim.
Por Reinaldo Azevedo

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Câmara dos Vereadores de SP aprova a absurda doação de um terreno público para o Instituto Lula

A Câmara de Vereadores de São Paulo aprovou, por 37 votos a 10, a cessão de um terreno público no Centro de São Paulo para a construção do “Memorial da Democracia”, que será um braço do Instituto Lula. O ex-presidente reivindicou a área, o prefeito Gilberto Kassab (PSD) gostou da ideia e mandou a proposta à Câmara. Haverá ainda uma segunda votação. O que No dia 15 de fevereiro, escrevi o que penso desta patuscada. O texto é este. Tenho algumas perguntas a fazer a Lula, a Kassab e aos vereadores que querem doar patrimônio público para o falso “Memorial da Democracia” do PT. Se houver resposta, juro que publico! O Instituto Lula quer construir no Centro de São Paulo, num terreno que fica na antiga Cracolândia, o que chama “Memorial da Democracia”, que reunirá, com especial ênfase, um acervo de documentos e objetos dos oito anos de mandato do Apedeuta. Os petistas agora dizem que pretendem dar atenção também a outros momentos importantes da história, como a luta contra a escravidão, a proclamação da República etc. Para tanto, pediram à Prefeitura de São Paulo a cessão do tal terreno, com o que concordou o prefeito Gilberto Kassab (PSD), que já enviou o pedido à Câmara, onde tem folgada maioria. Então ficamos com o roteiro completo para o triunfo da mistificação: Lula, um ex-presidente bastante popular, pede um terreno ao prefeito; este, que vive uma fase de aproximação com o PT, acha a idéia boa e envia a mensagem à Câmara, onde tem maioria. A maioria dos vereadores tende a concordar: quem não é fiel a Lula é fiel a Kassab. Resta ao Ministério Público demonstrar se tem ou não vergonha na cara e memória histórica ou se também está rendido a um partido político. E por que escrevo assim? O escracho já começa no nome do empreendimento. O inspirador do “Instituto Lula” - que quer privatizar uma área de mais de 4 mil metros quadrados, que pertence a todos os moradores de São Paulo - decidiu, como se vê, privatizar também a democracia. Julga-se no papel de quem pode ser o inspirador de um “memorial”. É uma piada grotesca, típica de asininos enfatuados, de exploradores da boa-fé pública. Se Lula é o senhor de um “Memorial da Democracia”, o que devemos a Ulysses Guimarães, por exemplo? A canonização? Estamos diante de uma pantomima histórica, de uma fraude. Tenho algumas perguntas a fazer a Lula, a Kassab e aos vereadores que estão doidos para cair de joelhos.
1: Constituição - A negativa dos petistas em participar da sessão homologatória da Constituição de 1988, uma das atitudes mais indignas tomadas até hoje por esse partido, fará parte do “Memorial da Democracia”, ou esse trecho será aspirado da historia, mais ou menos como a ministra da Mulher diz que aspirava úteros na Colômbia?
2: Expulsões - A expulsão dos três deputados petistas que participaram do Colégio Eleitoral que elegeu Tancredo Neves, pondo fim à ditadura - Airton Soares, José Eudes e Bete Mendes - fará parte do “Memorial da Democracia”, ou isso também será aspirado da história, como a Universidade Federal de Santa Catarina aspirou a entrevista da agora ministra da Mulher? Em tempo: vi dia desses Soares negar na TV Cultura que tivesse sido expulso. Diga o que quiser, agora que fez as pazes com a legenda. Foi expulso, sim!
3: Governo Itamar - A expulsão de Luíza Erundina do partido porque aceitou ser ministra da Administração do governo Itamar, cuja estabilidade era fundamental para a democracia brasileira, entra no Memorial da Democracia, ou esse fato será eliminado da história junto com os fatos, os fetos, as fotos e os homens que não são do agrado do petismo?
4: Voto contra o Real - A mobilização do partido contra a aprovação do Plano Real integrará o acervo do Memorial da Democracia, ou os petistas farão de conta que sempre apostaram na estabilidade do país?
5: Guerra contra as privatizações - As guerras bucéfalas contra as privatizações - o tema anda mais atual do que nunca - e todas as indignidades ditas contra a correta e necessária entrada do capital estrangeiro em setores ditos “estratégicos” merecerá uma leitura isenta, ou o Memorial da Democracia se atreverá a reunir como virtudes todas as imposturas do partido?
6: Luta contra a reestruturação dos bancos - A guerra insana do petismo contra a reestruturação dos bancos públicos e privados ganhará uma área especial no Memorial da Democracia, ou os petistas farão de conta que aquilo nunca aconteceu? Terão a coragem, já que são quem são, de insistir na mentira e de tratar, de novo, um dos pilares da salvação do país como um malefício, a exemplo do que fizeram no passado?
 7: Ataque à Lei de Responsabilidade Fiscal - Os petistas exporão os documentos que evidenciam que o partido recorreu à Justiça contra a Lei de Responsabilidade Fiscal, tornada depois cláusula pétrea da gestão de Antônio Palocci no Ministério da Fazenda?
8: Mensalão - O Memorial da Democracia vai expor, enfim, a conspiração dos vigaristas, que tiveram o desplante de usar dinheiro sujo para tentar criar uma espécie de Congresso paralelo, alimentado por escroques de dentro e de fora do governo? O prédio vai reunir os documentos da movimentação ilegal de dinheiro?
9: Duda Mendonça na CPI - Haverá no Memorial da Democracia o filme do depoimento de Duda Mendonça na CPI do Mensalão, quando confessou ter recebido numa empresa no exterior o pagamento da campanha eleitoral de Lula em 2002? O museu de Lula terá a coragem de evidenciar que ali estava motivo o bastante para o impeachment do presidente?
10: Dossiê dos aloprados - O Memorial da Democracia que tanto entusiasma Lula e Kassab trará a foto da montanha de dinheiro flagrada com os ditos aloprados, que tentavam fraudar as eleições - para não variar -, buscando imputar a José Serra um crime que não cometera? Exibirá a foto do assessor de Aloizio Mercadante, que disputava com Serra, carregando a mala preta?
11: Dossiê da Casa Civil - Esse magnífico Memorial da Democracia trará os documentos sobre o dossiê de indignidades elaborado na Casa Civil contra FHC e contra, pasmem!, Ruth Cardoso, quando a titular da pasta era ninguém menos do que Dilma Rousseff, e sua lugar-tenente, ninguém menos do que Erenice Guerra?
12: Censura à imprensa - Kassab, que quer doar o terreno, se comprometeria a pedir a Lula que o Memorial da Democracia reunisse as evidências das muitas vezes em que o PT tentou censurar a imprensa, seja tentando criar o Conselho Federal de Jornalismo, seja introduzindo no Plano Nacional de Direitos Humanos mecanismos de censura prévia?
13: Imprensa comprada e vendida - Teremos a chance de ver os contratos de publicidade do governo e das estatais com pistoleiros disfarçados de jornalistas, que usam o dinheiro público para atacar a imprensa séria e aqueles que o governo considera adversários nos governos dos Estados, no Legislativo e no Judiciário?
14 - Novo dossiê contra adversário - O Museu da Democracia do Instituto Lula reunirá as evidências todas das novas conspiratas do petismo contra o candidato da oposição em 2010, com a criação de bunker para fazer dossiês com acusações falsas e a quebra do sigilo fiscal de familiares do candidato e de dirigentes tucanos?
15 - Uso da máquina contra governos de adversários - A mobilização da máquina federal contra o governo de São Paulo em episódios como o da retomada da Cracolândia e da desocupação do Pinheirinho entrará ou não no Memorial da Democracia como ato indigno do governo federal?
16 - Apoio a ditaduras - O sistemático apoio que os petistas empenham a ditaduras mundo afora estará devidamente retratado no Memorial da Democracia? Veremos Lula a comparar presos de consciência em Cuba a presos comuns no Brasil? Veremos Dilma Rousseff a comparar os dissidentes da ilha a terroristas de Guantánamo? Fiz acima perguntas sobre 16 temas. Poderia passar aqui a noite listando as vigarices, imposturas, falcatruas e tentativas de fraudar a democracia protagonizadas por petistas e por governos do PT. As que se lêem são apenas as mais notórias e conhecidas. NÃO! ERRAM AQUELES QUE ACHAM QUE QUERO IMPEDIR LULA - E O PT - DE CONTAR A HISTÓRIA COMO LHE DER NA TELHA. QUEM GOSTA DE CENSURA SÃO OS PETISTAS, NÃO EU! O Apedeuta que conte o mundo desde o fim e rivalize, se quiser, com Adão, Noé, Moisés ou o próprio Deus, para citar alguém que ele deve julgar quase à sua altura. MAS NÃO HÁ DE SER COM O NOSSO DINHEIRO. Kassab tem o direito de doar uma área pública para aquilo que será, necessariamente, um monumento à versão da história de um só partido, com especial ênfase no trabalho de um líder? Não! Essa conversa de que será uma instituição suprapartidária é mentirosa desde a origem. Supor que Paulo Vannuchi - JUSTAMENTE O RESPONSÁVEL POR AQUELE PLANO SINISTRO QUE DIZIA SER DE DIREITOS HUMANOS E QUE PREVIA CENSURA PRÉVIA - e Paulo Okamotto possam ter qualquer iniciativa que não traga um viés petistas é tolice ou má fé. Ou, então, o prefeito transforme o centro de São Paulo numa espécie de Esplanada dos Partidos. Por que só para Lula? Fique de olho, leitor! Se você for petista, deve achar a doação de um terreno a Lula a coisa mais normal do mundo, um presente merecido. Se não for, veja lá o que vai fazer o vereador. Se ele disser “sim” à proposta, estará sendo generoso com o seu dinheiro, com aquilo que lhe pertence. Espalhe este texto. Herói é você, que sobrevive no Brasil mesmo com a classe política que aí está, não Lula. Ele é só um contumaz sabotador de governos alheios, que agora pretende, com a ajuda do prefeito e dos vereadores, tomar um terreno que pertence à população de São Paulo para erguer no lugar o Museu das Imposturas. De resto, basta que ele estale os dedos, e haverá empresários em penca dispostos a lhe encher as burras de grana. Que compre o terreno! E Kassab que transforme esse dinheiro em creches.
Por Reinaldo Azevedo

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Deonísio da Silva: ‘O que os mensaleiros querem é destruir a ordem democrática’

Reincidente? Recalcitrante? Os mensaleiros vão acabar esgotando o estoque de designações na língua portuguesa antes de serem julgados. É de um divertido horror a orquestra que ora montam para ameaçar a ninguém menos do que os ministros do STF. Um dia um aliado deles no próprio STF, ansioso pela prescrição, diz que não vai dar tempo de julgar este ano. É balão de ensaio. Todos vão pra cima dele. Sai outra tentativa: o presidente do PT diz que foi uma farsa o mensalão, que resultou até na criação de uma nova palavra nos dicionários de língua portuguesa. O próprio espanhol criou o neologismo mensalón.

O cenário nos lembra paradoxalmente uma fala de Castello Branco sobre aqueles que rondavam os quartéis à procura de um golpe. Elio Gaspari gosta muito de citar o trecho. Castello se referia aos políticos civis que iam aos quartéis para buscar conchavos com a oficialidade: “Eu os identifico a todos. São muitos deles os mesmos que, desde 1930, como vivandeiras alvoroçadas,vêm aos bivaques bulir com os granadeiros e provocar extravagâncias ao Poder Militar.” Só o que o cerco, que outrora foi ao Exército, agora é à mídia, ao Ministéro Público, ao Judiciário. E vale tudo, sejam embargos escritos ou embargos auriculares.

O sítio é estendido a blogues e colunas independentes como esta! É fácil identificar milicianos subsidiados para o serviço sujo de marcar homem a homem, responder a cada artigo. Augusto Nunes, que é um craque, não começou ontem, sabe onde eles estão. Aqui na coluna “de vez em sempre” aparecem alguns deles. O que querem? Destruir a ordem democrática, evidentemente. Chamam de mentiroso – disfarçamente, é claro – a ninguém menos do que o Procurador Geral da República, que denunciou uma organização criminosa, indicando o líder e os outros 39 dirigentes.

E a imprensa inventou? Não, a imprensa fez e faz seu papel: informou, analisou, repercutiu, levou ao conhecimento da sociedade, como se dissesse: toma, que o filho é teu! Sim, o problema do mensalão não é mais só dos poderes que o denunciaram e dos que agora o julgam. É da sociedade. Se os mensaleiros não forem punidos – até agora só Silvinho Land Rover o foi e por crime confesso! – voltará a máxima do velho Stanislaw Ponte Preta: ou se recupere a moralidade ou nos locupletemos todos

domingo, 15 de abril de 2012

A vontade dos kelpers

Por Pedro Nascimento Araujo

No período em que se relembra os 30 anos do início da breve guerra entre Argentina e Reino Unido sobre a soberania das Ilhas Falkland, iniciada com a invasão platina ao território britânico em 02 de abril de 1982, a diplomacia sulamericana vê-se tomada por uma agenda estridente da presidente argentina, que envergonha a todos os seus vizinhos, notadamente o Brasil. Explico.

A invasão argentina às Ilhas Falklands (nunca é demais relembrar: a Argentina foi a agressora que invadiu as ilhas unilateralmente, o que o Direito Internacional considera violação grave e que enseja resposta armada legítima por parte do agredido) foi condenada pela ONU através da resolução 502 do Conselho de Segurança das Nações Unidas, que era taxativa sobre a retirada das forças argentinas das Ilhas Falkland. A decisão de invadir as Ilhas Falkland foi uma estupidez estratégica de Galtieri, líder da impopular Junta Militar (à decadência econômica argentina, fato inédito no mundo de um país que saiu do primeiro mundo para entrar no terceiro, catapultada por Perón, estava entrando em um período particularmente dramático de hiper-inflação, somava-se a brutal repressão política) que comandava a ditadura do país. De fato, há historiadores que sustentam que, caso as negociações continuassem, o Reino Unido, na época mais difícil da retomada thatcheriana, poderia repassar as Falklands à administração argentina, ainda que com salvaguardas semelhantes àquelas da devolução de Hong Kong à China. Galtieri, todavia, apostando em um imobilismo britânico devido às más situações nos campos político e econômico do arquipélago, preferiu a ação espetaculosa e invadiu as Ilhas Falkland.

Com um efetivo militar absolutamente sucateado e inferior, jovens argentinos, sem treinamento, equipamento e suprimentos adequados, foram presas fáceis dos britânicos e das severas condições climáticas e 942 morreram. Os britânicos, diga-se, trataram os prisioneiros de guerra argentinos de acordo com a lei internacional e com dignidade - segundo relatos de alguns soldados portenhos, melhor que seus próprios comandantes, que os humilhavam e torturavam. Findos os combates, os combatentes argentinos ainda sofreriam uma humilhação maior: no retorno ao lar, foram tratados, segundo relatos dos próprios, não como bravos combatentes que, malgrado as péssimas condições, mantiveram a honra, mas como traidores e covardes. O governo e boa parcela da população argentina os hostilizava e discriminava, como se tivessem sido eles os responsáveis pela decisão estúpida de invadir com soldados maltrapilhos uma localidade defendida por uma das melhores e mais experientes forças armadas do mundo. A vida desses jovens não poderia ser pior: humilhados em combate e na paz. Argentina e Reino Unido romperam relações diplomáticas até 1990. As minas terrestres plantadas pelos argentinos nos poucos dias em que estiveram nas Ilhas Falkland continuam lá e a Argentina continua defendendo seu direito à soberania pelas Ilhas Falkland em fóruns internacionais, com o apoio do Brasil e dos vizinhos. Até aí, tudo bem: reclamar soberania sobre territórios é um pleito legítimo de países.

O problema reside no fato de que, ao defender sua soberania sobre as Ilhas Falkland, o governo argentino ignora o desejo manifesto dos pouco mais de 3 mil habitantes locais, os kelpers, de que as Ilhas Falkland permaneçam como Estado independente associado ao Reino Unido. E isso muda tudo. De fato, a legitimidade do pleito argentino simplesmente derrete diante de um princípio básico do Direito Internacional: a autodeterminação dos povos. E os kelpers querem continuar sendo súditos de Elizabeth II: seu direito à autodeterminação está expresso na atual constituição das Ilhas Falkland, aprovada em 2009. E eis porquê defender o pleito argentino nos envergonha internacionalmente: em todos os momentos, o Brasil sustenta suas posições internacionais com base nos melhores princípios de Direito Internacional, os que compõem o chamado ius cogens, que tem como um dos pilares o direito à autodeterminação dos povos. Ignorar isso é defender colonialismo. Senão, vejamos.

Apoiar a Argentina em seu pleito sobre soberania nas Ilhas Falkland independentemente do que desejam os kelper equivale a defender a partilha da África do Congresso de Berlim de 1885, de onde vem a famosa foto de líderes europeus debruçados sobre um mapa do continente, calmamente escolhendo seus quinhões, alheios às vontades dos povos. Apoiar a Argentina em seu pleito sobre soberania nas Ilhas Falkland independentemente do que desejam os kelper equivale a apoiar a criação dos países do Oriente Médio na Conferência do Cairo de 1921, onde interesses franco-britânicos e de líderes locais decidiram quais seriam as fronteiras, juntando inimigos milenares nos mesmos países. Apoiar a Argentina em seu pleito sobre soberania nas Ilhas Falkland independentemente do que desejam os kelper equivale a apoiar o Pacto de Moscou (Ribbentropp-Molotov), no qual Hitler e Stálin decidem onde ficarão as fronteiras de seus países dentro do território da Polônia. Apoiar a Argentina em seu pleito sobre soberania nas Ilhas Falkland independentemente do que desejam os kelper equivale a apoiar a anexação do Tibete pela China em 1950. Enfim, apoiar a Argentina em seu pleito sobre soberania nas Ilhas Falkland independentemente do que desejam os kelper equivale a ir contra princípios que o Brasil e seus vizinhos - Argentina inclusive! - defendem em fóruns mundiais: não-intervenção e autodeterminação dos povos. O Brasil, então, faz inúteis malabarismos diplomáticos para tentar manter o apoio ao seu ex-rival e atual [e, esperamos, para sempre] aliado. Não precisamos ser incoerentes para manter a amizade argentina. Melhor faremos se formos corretos e coerentes: respeitemos a vontade dos kelpers.

Pedro Nascimento Araujo é economista.

Querem apagar os crimes do mensalão


Com o julgamento do mensalão pelo Supremo a caminho, os petistas lançam uma desesperada ofensiva para tentar desviar a atenção dos crimes cometidos por eles no que foi o maior escândalo de corrupção da história brasileira

Daniel Pereira e Hugo Marques

Cartilha Stalinista: Rui Falcão, presidente do PT (ao lado), e Marco Maia, presidente da Câmara: para tentar apagar os crimes cometidos por petistas no mensalão, a ordem é mentir até parecer verdade (Ag. Globo)

Josef Stalin, o ditador soviético ídolo de muitos petistas, considerava as ideias mais perigosas do que as armas e, por isso, suprimiu-as, matando quem teimava em manifestá-las. O PT até que tenta se arejar, exercitar certo pluralismo, mostrar respeito às leis e conduzir as instituições do país que ele governa não como propriedade particular do partido, mas reconhecendo-as como conquistas da sociedade brasileira. Mas basta uma contrariedade maior para que o espírito de papai Stalin baixe e rasgue a fantasia democrática dos petistas parcialmente convertidos ao convívio civilizado. A contrariedade de agora é a proximidade do julgamento pelo Supremo Tribunal Federal (STF) da maior lambança promovida pelos petistas com dinheiro sujo, que produziu o escândalo entronizado no topo do panteão da corrupção oficial brasileira com o nome de mensalão. Sussurre esse nome aos ouvidos de um petista nos dias que correm e ele vai reagir como se uma buzina de ar comprimido tivesse sido acionada a centímetros de seus tímpanos. A palavra de ordem emanada do comitê central sairá automaticamente: "Isso é invenção da oposição e da imprensa!".

O julgamento do mensalão: entenda o trâmite do processo

Rede de escândalos: os grandes casos de corrupção do país

Como formigas guiadas por feromônios, os militantes de todos os escalões, de ministros de estado aos mais deploráveis capangas pagos com dinheiro público na internet, vão repetir disciplinadamente o mantra de que o mensalão "foi uma farsa". Ele vai ser martelado sobre os cinco sentidos dos brasileiros na tentativa de apagar os crimes cometidos pelos petistas e, seguindo a cartilha stalinista, fazer valer as versões sobre os fatos, transmutar culpados em inocentes e, claro, apontar bodes expiatórios como responsáveis pelas próprias misérias morais que eles infligiram ao país, a si próprios e a sua reputação, firmada quando na oposição, de paladinos da ética. Esse processo perverso de reescrever a história está em curso em Brasília, em pleno século XXI. Sua mais recente iniciativa é a iminente instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista do Congresso Nacional, a primeira do governo Dilma Rousseff. O objetivo declarado — e desejável — da CPI é elucidar os limites da atuação no mundo oficial do contraventor Carlos Cachoeira, que explorava o bingo ilegal em Goiás e se encontra trancafiado em presídio de alta segurança. Acusado de receber dinheiro para defender os interesses do contraventor no governo e no Legislativo, o senador Demóstenes Torres, do DEM, está a caminho de perder o mandato. Razões para uma investigação republicana, portanto, não faltam. O problema está nos objetivos subalternos da CPI, que os petistas e seus aliados mal conseguem esconder nas conversas: criar um fato novo e, assim, desviar o foco da atenção da opinião pública do julgamento do mensalão. Eles esperam que as investigações produzam imagens que ajudem a demonstrar a tese central do presidente Lula sobre o mensalão, a de que o PT fez apenas o que todo partido político sempre fez. Esperam também criminalizar jornalistas para quem Carlos Cachoeira serviu de fonte sobre o que ia nos subterrâneos da corrupção no mundo oficial em Brasília, terreno que ele frequentava com especial desenvoltura.



Em resumo, o PT espera desmoralizar na CPI todos que considera pessoal ou institucionalmente responsáveis pela apuração e divulgação dos crimes cometidos pelos correlegionários no mensalão — em especial a imprensa. Por quê? Principalmente porque o esquema de compra de apoio parlamentar pelo governo do PT começou a ser desbaratado em 2005, após uma reportagem de VEJA mostrar um funcionário dos Correios cobrando e recebendo propina em nome do PTB. Depois disso, o presidente do partido, o ex-deputado Roberto Jefferson, revelou ao país que parlamentares recebiam dinheiro na boca do caixa para votar com o Planalto. O chefe do esquema era o então ministro da Casa Civil José Dirceu, que vivia repetindo o bordão segundo o qual não fazia nada sem o conhecimento do presidente Lula. Tanto a CPI dos Correios quanto a Procuradoria-Geral da República deixaram claro que parte do dinheiro que financiou o mensalão saiu dos cofres públicos. Durante as investigações, o então marqueteiro de Lula, Duda Mendonça, admitiu ter recebido dólares por fora, no exterior, por serviços prestados na campanha do presidente. Foi tão grave e acintosa a agressão dos petistas às leis brasileiras no mensalão que, tecnicamente, o presidente Lula poderia ter sofrido um processo de impeachment. Seu mandato foi preservado por falta de apetite da oposição e pelo cálculo, que se mostraria redondamente equivocado, de que Lula definharia no poder, sangrando pouco a pouco em consequência do mensalão. Nada disso ocorreu. Lula deu uma magnífica volta por cima, reelegeu-se, fez a sucessora e saiu do Palácio do Planalto da mesma forma que entrou — nos braços do povo.

Agora o fantasma do mensalão volta a ameaçar a hagiografia do líder petista — e a ordem de cima é atropelar quaisquer escrúpulos para preservar Lula. "A bancada do PT defende uma CPI para apurar esse escândalo dos autores da farsa do mensalão. É preciso que a sociedade organizada, movimentos populares, partidos políticos comprometidos com a luta contra a corrupção, como é o PT, mobilizem-se para impedir a operação-abafa e para desvendar todo o esquema montado por esses criminosos, falsos moralistas que se diziam defensores da moral e dos bons costumes", declarou Rui Falcão, deputado paulista, presidente nacional do PT. A forma cristalina pela qual Falcão explica os objetivos do partido na CPI parece a transcrição perfeita de uma cartilha de propaganda soviética. Dado que os companheiros cometeram crimes no mensalão e que esse fato é devastador para o partido que no passado empunhou a bandeira da ética para vencer a antipatia e a desconfiança da classe média brasileira, vamos tentar mudar a percepção da realidade e acionar os companheiros para ver se cola a ideia de que o mensalão foi uma armação cujos responsáveis, vejam só que coincidência, estão todos orbitando em torno de um contraventor cujas atividades vão ser investigadas por uma CPI.

A lógica política de Falcão é irretocável — até certo ponto. Esse truque funcionou na União Soviética, funcionou na Alemanha nazista, funcionou na Itália fascista de Mussolini, por que não funcionaria no Brasil? Bem, ao contrário dos laboratórios sociais totalitários tão admirados por petistas, o Brasil é uma democracia, tem uma imprensa livre e vigilante, um Congresso eleito pelo voto popular e um Judiciário que, apesar de fortemente criticado recentemente, tem demonstrado independência e vigor doutrinário. Isso significa que para o delírio de Falcão se materializar é preciso neutralizar as instâncias democráticas, calando-as ou garantindo que a estridência radical petista supere as vozes da razão e do bom-senso.

Uma CPI dominada pelo PT e seus mais retrógrados e despudorados aliados é o melhor instrumento de que a falconaria petista poderia dispor — pelo menos na impossibilidade, certamente temporária para os falcões, de suprimir logo a imprensa livre, o Judiciário independente e o Parlamento, fósseis de um sistema burguês de dominação que está passando da hora de ser superado pelo lulopetismo, essa formidável invenção tropical diante da qual empalidecem todos os demais arranjos político-sociais do mundo atual. Mas, enquanto o triunfo final não vem, os falcões petistas vão se contentar em usar a CPI para desmoralizar todos os personagens e forças que ousem se colocar no caminho da marcha arrasadora da história, que vai lançar ao lixo todos os que atacaram o PT e, principalmente, seu maior líder, o ex-presidente Lula.

Não por acaso, a estratégia que a falconaria petista está executando disciplinadamente em Brasília saiu da cabeça de Lula. Em novembro de 2010, a menos de dois meses do término de seu segundo mandato, o então presidente recebeu o ex-ministro e deputado cassado José Dirceu para um café da manhã no Palácio da Alvorada. À mesa, Lula prometeu a Dirceu, o mais influente quadro da engrenagem petista, que lançaria uma ofensiva para desmontar "a farsa do mensalão" tão logo deixasse o cargo. Não era bravata. Conforme prometido, essa cruzada para abafar o maior escândalo de corrupção da história recente do país começou a se materializar em pequenos movimentos. Foi ela que levou à eleição do petista João Paulo Cunha, um dos 36 réus no processo do mensalão, para a presidência da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara em 2011, o que garantiu a ele uma posição privilegiada para dialogar com a cúpula do Poder Judiciário. Foi ela também que resultou na nomeação do petista José Genoíno, outro réu no processo, para o cargo de assessor especial do então ministro da Defesa, Nelson Jobim, ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), justamente a corte que julgará o caso.



Dida Sampaio/AE Beto Barata/AE Ailton de Freits/Ag. Globo Beto Barata/AE AE

O esquema: O então deputado Roberto Jefferson contou ao Congresso como o governo do PT criou o mensalão, o esquema de suborno de parlamentares que era operado pelo publicitário Marcos Valério. As revelações provocaram decepção e choro de alguns parlamentares petistas, ameaçaram a continuidade do governo Lula e resultaram no processo que acusa 36 pessoas de crimes de formação de quadrilha, corrupção ativa, peculato, evasão de divisas e lavagem de dinheiro
Esses dois movimentos da reação capitaneada por Lula foram costurados nos bastidores. Fizeram parte de uma estratégia silenciosa destinada a reabilitar publicamente as estrelas petistas envolvidas até o pescoço com os desvios de dinheiro público para abastecer o caixa partidário. Uma tática deixada de lado na semana passada, quando o PT partiu para uma espécie de vale-tudo a fim de varrer para debaixo do tapete o esquema de compra de apoio parlamentar que funcionou durante o governo passado. A estratégia evoluiu para o uso da Operação Monte Carlo da Polícia Federal, que deu origem à CPI. A ação da PF desbaratou um esquema de exploração de jogos ilegais comandado por Carlinhos Cachoeira e revelou uma rede suprapartidária de políticos envolvidos com ele. Além do senador Demóstenes, as investigações atingiram o governador de Goiás, o tucano Marconi Perillo, desafeto de Lula desde que declarou, em 2005, que alertara o então presidente da existência do mensalão.

Lula viu na CPI a oportunidade política de mostrar que todos os partidos pecam. Que todos são farinha do mesmo saco e, por isso mesmo, o mensalão não seria um esquema de corrupção inaudito, muito menos merecedor de um rigor maior por parte do Judiciário e da sociedade. Para os petistas, apagar a história neste momento é uma questão de sobrevivência. Seus caciques sustentam que, com a aproximação da data prevista para o julgamento do mensalão e diante da hipótese de uma condenação, não há o que perder na arriscada aposta em tentar menosprezar a inteligência das pessoas, zombar das autoridades que investigaram o caso durante anos, impor constrangimentos aos ministros do Supremo que se preparam para julgar o processo. É tamanha a ânsia de Lula e dos mensaleiros para enterrar o escândalo que, se preciso, o PT rifará o governador do Distrito Federal, o petista Agnelo Queiroz, que também aparece no arco de influência dos trambiques da máfia do jogo.

Lula e os falcões petistas viram também abrir-se para eles a retomada de um antigo, acalentado e nunca abandonado projeto de emascular a imprensa independente no Brasil. Os projetos de censura da imprensa que tramitaram no PT foram derrotados não por falta de vontade, mas porque o obscurantismo cobriria a imagem do Brasil de vergonha no cenário mundial. Surge agora uma oportunidade tão eficiente quanto a censura, com a vantagem de se obter a servidão acrítica da imprensa sem recorrer a nenhum mecanismo legal que possa vir a ser identificado com a supressão da liberdade de expressão. Não por coincidência, na semana passada a Executiva Nacional do PT divulgou uma resolução pedindo a regulamentação dos meios de comunicação diante "da associação de parte da imprensa com a organização criminosa da dupla Cachoeira-Demóstenes". Dando sequência à diretriz do comitê central do partido, o comissário Marco Maia, presidente da Câmara, complementou: "Todas as informações dão conta de que há uma participação significativa de alguns veículos de comunicação nesse esquema montado pelo Cachoeira. A boa imprensa, que está comprometida com a informação e a verdade, vai auxiliar para que a gente possa fazer uma purificação, separar o joio do trigo".



A oportunidade liberticida que apareceu agora no horizonte político é tentar igualar repórteres que tiveram Carlos Cachoeira como fonte de informações relevantes e verdadeiras com políticos e outras autoridades que formaram com o contraventor associações destinadas a fraudar o Erário. A nota da Executiva Nacional do PT e a fala do comissário Maia traem o vezo totalitário daquela parte do PT que não tem a mínima noção do papel de uma imprensa livre em uma sociedade aberta, democrática e que tenha como base material a economia de mercado. Papai Stalin ficaria orgulhoso dos pupilos. Caberá a eles agora, aos "tropicastalinistas" do PT auxiliados pelos impolutos José Sarney e Fernando Collor, "purificar" a imprensa, decidir qual é a boa e a ruim, o que é joio e o que é trigo nas páginas dos órgãos de informação e apontar que repórteres estão comprometidos com a informação e a verdade. Alguém com mais juízo deveria, a bem do comissário Maia, informá-lo de que quando governos se arvoram a "purificar" seja o que for — a população, a imprensa ou a literatura — estão abrindo caminho para o totalitarismo. Quem diria, comissário, que atrás de óculos modernosos se esconde uma mente tão arcaica.

Os petistas acham que atacar o mensageiro vai diminuir o impacto da mensagem. Pelo que disse Marco Maia, eles vão tentar mostrar que obter informações relevantes, verdadeiras e de interesse nacional lança suspeita sobre um jornalista. Maia não poderia estar mais equivocado. Qualquer repórter iniciante sabe que maus cidadãos podem ser portadores de boas informações. As chances de um repórter obter informações verdadeiras sobre um ato de corrupção com quem participou dele são muito maiores do que com quem nunca esteve envolvido. A ética do jornalista não pode variar conforme a ética da fonte que está lhe dando informações. Isso é básico. Disso sabem os promotores que, valendo-se do mecanismo da delação premiada, obtêm informações valiosas de um criminoso, oferecendo-lhe em troca recompensas como o abrandamento da pena. Esses são conceitos de difícil digestão para os petistas acostumados a receber do comitê central as instruções completas sobre o que devem achar certo ou errado, bom ou ruim, baixo ou alto. Fora da bolha ideológica, porém, a vida exige que bons jornalistas falem com maus cidadãos em busca de informações verdadeiras. Motivo mesmo para uma CPI seria investigar os milionários repasses de dinheiro público que o governo e suas estatais fazem a notórios achacadores, chantagistas e manipuladores profissionais na internet. Fica a sugestão.

sábado, 14 de abril de 2012

Em 14 tópicos, Reynaldo-BH reduz a frangalhos o embusteiro canastrão

por REYNALDO-BH

1 ─ Se o mensalão SEQUER existiu, de que material eram feitos os pacotes de dinheiro entregues a Roberto Jefferson?

2 ─ Se o mensalão não existiu, onde foram parar os milhões que seriam legitimamente de propriedade de quem nele colocasse as mãos?

3 ─ Na mesma linha, como o STF tem entre seus juízes (no mais alto posto do Judiciário) um completo pateta como Joaquim Barbosa, visto que o mesmo está há anos debruçado sobre esta que seria a maior das ficções já produzidas no Brasil?

4 ─ Como o mensalão foi somente uma farsa, o que quereria dizer Lula quando afirmou ter sido “traído” no episódio que nunca existiu? Excesso de álcool ou falta de vergonha?

5 ─ Já que nunca houve mensalão, por que Delúbio Soares afirmou que este era somente outro nome de caixa 2?

6 ─ Como foi tudo fruto de fantasia coletiva, por que Tarso Genro chegou a propor a refundação do PT?

7 ─ Se a oposição brasileira é tão forte a ponto de criar esta farsa, como conseguiu perder as eleições?

8 ─ Como o mensalão foi uma farsa, o “Lulinha Paz e Amor” também foi? Afinal, Duda Mendonça – marqueteiro oficial do PT – atesta a existência dos dois. Em depoimento.

9 ─ Se o mensalão do PT foi uma farsa, por que os petistas exigiram que a outra “farsa” (a de Arruda) fosse punida com a cassação do bandido do DEM?

10 ─ Como farsa montada, qual o papel do carequinha Marcos Valério? Foi cooptado pelas oposições ou era um personagem de comédia em meio a uma farsa?

11 ─ Já que tudo não passou de uma fantasia, certamente houve veiculação de propagandas do BB nas TVs e jornais, embora ninguém as tenha visto. (Outro caso exemplar de delírio coletivo: a propaganda que foi feita, paga, mas nunca foi veiculada.)

12 ─ Segundo a ave de rapina Falcão, a farsa montada deturpou o fato de João Paulo ter ido a um shopping de Brasília pagar uma reles conta de TV a Cabo. Como pagou cash, teve troco de R$ 50.000,00.

13 ─ Como o mensalão é uma farsa, o início da mesma foi a montagem de um vídeo com o injustiçado Waldomiro acertando uma partidinha de futebol com o Cachoeira. A fita teve montagem posterior com inserção de áudio para justificar a farsa. Seguido de outra filmagem, de um pobre e dedicado servidor dos Correios que pegou uma “petequinha”, transformada nesta farsa, em um suborno em dinheiro.

14 ─ Como farsa, o ex-senador e atual deputado Eduardo Azeredo (PSDB) foi também mais uma vítima de algo que foi montado pelo PSDB para atingir o PT… peraí, me perdi… Ou perdi um pedaço da história…

Entendo Rui Falcão. Homem culto, letrado, ex-jornalista. Conhecedor das artes. Entre as mesmas, o teatro. Que define FARSA como: “gênero dramático predominantemente baixo cômico, de ação trivial, com tendência para o burlesco (cômico; ridículo). Inspira-se no cotidiano e no cenário familiar e é o mais irresponsável de todos os tipos de drama. Caracteriza-se por seus personagens e situações caricatas. Distingue-se da comédia e da sátira por não preocupar-se com a verossimilhança nem pretender o questionamento de valores. Busca apenas o humor e, para isso, vale-se de todos os recursos; assuntos introduzidos rapidamente, evitando-se qualquer interrupção no fio da ação ou análises psicológicas mais profundas; ações exageradas e situações inverossímeis. Sua estrutura e trama são baseadas em situações em que as personagens se comportam de maneira extravagante, ainda que pelo geral mantenha uma quota de credibilidade. Seus temas e personagens podem ser fantásticos, mas podem ser críveis e verossímeis.”

O problema é que nas FARSAS os palhaços estão no palco.

Nunca na plateia. Menos ainda nos assentos de juízes.