quarta-feira, 31 de julho de 2013

O pum assassino – I

Falar de certas coisas exige muita habilidade para não chocar as almas sensíveis. Tome-se como exemplo o ato de expelir gases intestinais em suas duas formas: a ruidosa e a silenciosa. A ruidosa dá-se o nome de peido e a silenciosa de bufa.  Quando esses atos são praticados em público todos se afastam do centro irradiador da catinga mas ninguém ousa pronunciar as palavras nojentas já relacionadas para designar o crime cometido. Essa atitude visa manter a aparência de civilidade sem a qual seria difícil sustentar as relações sociais. Mas alguém tem de levar a culpa. Nesse caso a vitima é o cachorro ou o gato.
Mas nesse sertão a falta de respeito é grande e nada disso vigora por aqui. Basta um elemento soltar um pum e logo vão apontado o dedo para o autor assim que é identificado. Inclusive, para desespero do sujeito, chamam-no logo de bufão.  Desse jeito não há dignidade que se sustente diante de um palavrão desses. E do jeito que vão as coisas, é pior que ser chamado de ladrão. Para que a vergonha possa ser suportada, adere-se então a esculhambação geral.
 Mas nos centros civilizados (a galera que nos desculpe) o ato de soltar gases dá-se o nome de traque e pum. Se a palavra peido causa horror a palavra bufa é inadmissível em qualquer ambiente. Quando alguém pronuncia esse palavrão, as mães aflitas retiram as crianças da sala. Todos riem ou se escandalizam quando alguém é chamado de bufão, o que no dicionário significa sujeito vaidoso e de prosa ruim, um palhaço em suma. De qualquer modo peido e bufa estão banidos da alta sociedade e até desconfia-se que a comida de rico não produza gases. A matéria sólida então deve ser algo quase invisível.
Fazendo minha pesquisa no dicionário descobri que peido-alemão é um barbante embebido num produto químico que ao ser queimado, solta um fedor insuportável, o qual me levou a conclusão que os alemães são campeões nessa matéria.
Mas toda essa introdução mal cheirosa é para falar de um cara que se deu bem na vida soltando seus traques de derrubar quarteirão. Tão fedorentos eram seus gases intestinais que peido-alemão nem chegava perto. E ele começou bem cedo, ainda bebê. A babá sentiu logo o seu poder criminoso um dia ao trocar suas fraldas. A pobre coitada quase desmaiou ao sentir o odor daquele gás quase tão venenoso quanto o gás mostarda. Mas continuou em seu ofício na esperança de que aquele episódio fosse apenas esporádico e talvez as tripinhas do garoto se recuperassem de algum mal desconhecido e voltasse a soltar seus traques, se não inodoros, ao menos toleráveis. Logo ela pediu demissão do emprego porque o menininho não deu trégua. Era só ela ameaçar trocar as fraldas e lá vinha tiro. E assim aconteceu com todas que se habilitaram ao emprego.
Sem entender o motivo de tanta deserção por parte das empregadas, a mamãe não teve outra alternativa a não ser cuidar do seu bebê. E um dia, após tirar as fraldas e passar talquinho no bumbum do garoto, ela começou a fazer cafuné com o nariz bem na porta de saída dos gases, como fazem todas as mamães. E foi naquele momento que o bebezinho querido soltou um pum tão fenomenal que mamãe ficou com o rosto todo branco coberto pelo talco. Ela, ao receber aquele petardo bem no nariz, primeiro ficou paralisada pelo impacto, depois caiu de costas em coma profundo. O médico ao constatar a gravidade do quadro ordenou sua internação numa UTI, o que levou alguns dias para mamãe se recuperar. Foi aí então que ela compreendeu porque nenhuma empregada queria cuidar daquela fofura. Daí em diante, com grande constrangimento, mamãe mandou providenciar uma máscara contra gases, não aquela descartável que se vende em farmácias, mas uma profissional com duas ventosas do lado.
Nem vou relatar as desventurar dos seus familiares ao ter de conviver com aquele garoto. Basta dizer que seu quarto era separado dos irmãos e à mesa era vigiado ferozmente por seu pai. O banheiro era lá no quintal para afastar o perigo de asfixiar toda a família. Ele que já tinha descoberto o poder que tinha em mãos (ops, no traseiro), não sofreu bullying na escola. Era só um coleguinha desprevenido vir com ares de valentia para agredi-lo que ele soltava um dos seus traques meia bomba para afugentar a vítima. E ele era tão sádico que primeiro deixava o agressor agarra-lo para depois acionar seu sistema de defesa. Ninguém ousava se aproximar, tão fulminante era sua capacidade gasosa. Professor que ousasse lhe dar nota baixa estava exposto a experimentar o que muitos evitavam apavorados. E assim completou seus estudos com relativa tranquilidade tirando notas excelentes.
Só havia uma nota triste nessa história: a solidão que ele sofria. Todo mundo o evitava, até as garotas temerosas de serem vitimadas pelo pum criminoso. Mas como em todo lugar há os perdedores, ele tinha lá sua turma. Eram os garotos da escola, fregueses contumazes do bullying. Andando com ele ninguém ousava se aproximar. Ao completar seu período escolar foi para a capital tentar melhor sorte.

 Lauro Adolfo

(No próximo post, a segunda parte da trajetória de nosso personagem

terça-feira, 30 de julho de 2013

Diário da Dilma - Malandro é o canguru, que já nasce com Bolsa Família

1º DE JUNHO_Junho, mês gostoso: festas, quentão, sossego. Vade retro, maio! Xô, MP dosportos!
 2 DE JUNHO_“Anarriê.” Estou animada para a festa junina que o Instituto Lula está organizando no Torto. Combinei com a pândega da Ideli que vamos nos encher de sangria com paçoca. Lá pras tantas, vou puxar a quadrilha: “Olha o Pibinho! É mentira!”
 3 DE JUNHO_Fui pessoalmente a Natal assinar o ato de entrega de 101 retroescavadeiras e setenta motoniveladoras. Rapaz, a infraestrutura brasileira está tinindo!Antes de entrar no avião, analisei com calma o plano de voo. As condições não eram boas e demos a volta pelo Suriname.
 4 DE JUNHO_Achei que o Dia da Independência dos Estados Unidos era hoje e liguei para o Patriota pedindo confirmação. Dez minutos depois, recebo um e-mail da Casa Branca com a lista completa dos feriados de lá. Estranho. Ao menos por ora, tomarei o partido dos índios. Belo Monte vai esperar. Vamos ver se o Moreno entende a chantagem emocional.
 5 DE JUNHO_Estava eu toda Marina Silva no Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas quando me chega um bilhetinho alarmado dele. “Os americanos estão tendo acesso aos nossos e-mails! Não creio que Belo Monte seja o que mais lhes tem chamado a atenção.” Que seja. Não pretendo mais esconder do mundo os abismos do meu coração.
 7 DE JUNHO_Aprendi a fazer um escalda-pés dionisíaco com lima-da-pérsia, água tônica termal e Leite de Rosas. Ajudou bastante a circulação no joanete. Eu estava inchada como um paquiderme.
Eike se despencou até aqui para perguntar quais são os requisitos para se habilitar ao Bolsa Família. Não está fácil para ninguém.
 8 DE JUNHO_Partiu, Portugal. Podia ser Paris, mas não reclamemos. Mês passado eu estava na Etiópia. A verdade é que em junho até as viagens melhoraram. Patriota percebeu que a jiripoca estava piando para o lado dele e encerrou o roteiro miséria/mosquito/artesanato local.
Problema: Temer e Renan Calheiros também estão pelo mundo. Catei o Henrique Alves e fui enfática: “Meu querido, se você for para a Rússia, quem assume é o Joaquim Barbosa. Vai que o homem faz alguma coisa certa? Melhor não arriscar.” Ele ficou lívido e até rasgou o passaporte.
 9 DE JUNHO_Descobri que o Moreira Francoé ministro! Estou bege! Ele também? E tem um Aguinaldo não sei das quantas que pediu audiência. Diz que é ministro das Cidades. E tem esse ministério?
 10 DE JUNHO_Alguma coisa não está cheirando bem. Perguntei para o Gilbertinho o que é esse tal de Passe Livre. Ele fez aquela cara de beato no deserto e disse que eu não precisava me preocupar porque estava tudo dominado.
 11 DE JUNHO_Véspera do Dia dos Namorados é sempre difícil. Os americanos não divulgaram nada e há dias não despacho com ele. Comprei um potão de sorvete de flocos e fiquei assistindo aGrey’s Anatomy. Chorei um pouquinho.
 12 DE JUNHO_Sei que não devia, mas foi mais forte do que eu. Despenteei o topete, pus uma daquelas máscaras e me joguei na manifestação. Gritei palavras de ordem contra o Alckmin, desafiei a polícia e pichei o Palácio dos Bandeirantes. Foi revigorante. Às tantas, cheguei até a puxar um “Caminhando e cantando”, mas ninguém acompanhou. Só contei para titia, que me perguntou se na próxima eu me importava de saquear um Blu-ray para ela.
 13 DE JUNHO_Haddad e Alckmin em Paris. É Cabral fazendo escola. Na dúvida, Paris.
 14 DE JUNHO_Início da secura de Brasília. Ô, cidade enjoada! Meu nariz começa a coçar e eu fico fazendo cara de Feiticeira. E meu humor, que já não anda bom, fica péssimo!
Mas que gente mala! Não é que esses índios resolveram pescar carpas de arco e flecha no meu laguinho? E eles lá conhecem carpa?
 15 DE JUNHO_Me aprontei toda, ajeitei o cabelo, mandei fazer vestido novo para abrir a tal da Copa das Confederações, e veja o que recebo: vaias! Como se não bastasse, ainda sofri a humilhação de ser defendida por aquele suíço com cara de druida reumático. Tudo isso é invenção do Lula. Odeio futebol, e estou me lixando para a Confederação, que nem sei o que é. Preferia estar em casa jogando uma biribinha com as meninas, tomando um Campari e comendo amendoim.
 16 DE JUNHO_Nossa, a Ticiane e o Justus se separaram!
 17 DE JUNHO_Hum, mais manifestação contra o aumento da passagem. Pobre acha tudo caro! Que Marx me perdoe, mas o Lula tem culpa nesse cartório. Essa cabecinha do ABC acredita que, se não despejar carro particular na rua, a economia não cresce. É desoneração em cima de desoneração. Daí o trânsito encrenca e quem leva vaia sou eu, que nem sei distinguir um Gordini de uma Rural Willys.
 18 DE JUNHO_Acho até que mandei bem. O Brasil acordou mais forte depois das manifestações. Como eu mesmo acordei mais fraca, chispei para São Paulo atrás do Lula e do Fernandinho. Mandei o piloto tirar uma reta e não se preocupar com as nuvens. Fernandinho está tremendo que nem vara verde. Levou um esculacho do Lula e teve que voltar atrás na passagem. E mais não se disse, pois ninguém sabe que geringonça é essa. Lula faz que não é obrigação dele entender: “Sou apenas um metalúrgico, não tenho curso superior...” Malandro é o canguru, que já nasce com Bolsa Família.
 19 DE JUNHO_Cansei de falar para o João Santana que não era para enfeitar tanto o pavão. Todo dia a gente anuncia que o Brasil está melhor, mais lindo, mais rico, com a saúde de Primeiro Mundo... uma hora alguém ia desconfiar. Deu nisso! E quem mandou o Lula inventar que brasileiro feliz é brasileiro com crediário?
Será que se eu criar um Ministério dos Ônibus a turma se acalma?
 20 DE JUNHO_Tive que adiar minha viagem ao Japão. Todo mundo ficou chateado. A Ideli tinha feito umas encomendas, mamãe estava contando com um daqueles chinelinhos de pano, e titia, que está começando a me preocupar, me pediu sushi. Vão ter que se contentar com os CDs do Roberto Leal que eu trouxe de Lisboa.
 21 DE JUNHO_Reuni todo mundo e falei tudo que estava atravessado na garganta. Ô, bando de incompetente! Ninguém se lembrou de dar um ministério para essa Mayara? E custava?
O jeito foi ir à tevê. Na falta de coisa melhor, lancei um Plano Nacional de Mobilidade Urbana, prova de que até o João Santana está me faltando. PNAMÚ?! Francamente, nem na época do Geisel. Dito isso, não posso reclamar muito. Estava prestes a gravar com um vestidinho vermelho quando o João começou a gritar “Sem partido!”, “Sem partido!”. Fui de amarelo canarinho.
 23 DE JUNHO_Reuni o velho núcleo duro atrás de saídas para a crise de mobilidade. Silvinho propôs um Bolsa Land Rover. Dirceu estranhou que os manifestantes não peçam helicópteros emprestados para deslocamentos mais longos. Delúbio sugeriu falar com um publicitário amigo dele. Desisti.
 24 DE JUNHO_A mulambada quer opinar? Então tome plebiscito. Ou constituinte, sei lá. Se quiserem restituir a monarquia, proclamar um califado ou convocar eleições para Grão-Vizir, estou pouco me lixando. Que se explodam.
 25 DE JUNHO_Ideia: E se eu der asilo para esse menino americano? O povo nas ruas vai amar, e eu ainda peço para ele vazar os e-mails do Moreno.

segunda-feira, 29 de julho de 2013

“A carreira de professora é a que dá maior gratificação amorosa”

Aos 96 anos, Dona Cleo, xodó dos amantes da literatura, abre sua biblioteca, recita de cabeça poemas de Fernando Pessoa e dá uma lição de sensibilidade e energia 

Foto: Wilton Júnior/Estadão

Aos 7 anos, Cleonice Berardinelli escreveu seu primeiro poema – definido por ela como “minúsculo e ridículo, naturalmente, próprio de 7 aninhos de idade”. Hoje, aos 96, é uma das professoras de literatura mais reconhecidas e queridas do Brasil. Dona Cleo, como é carinhosamente chamada, brinca ao dizer que é meio carioca, meio paulista e muito portuguesa. Sua relação com Portugal não se restringe à paixão pela literatura de lá – ela é especialista em Camões e Fernando Pessoa –, mas pelos muitos amigos portugueses que ainda cultiva. Alguns, inclusive, fizeram questão de prestigiá-la quando tomou posse na Academia Brasileira de Letras, em 2010. Ela ocupa a cadeira de número 8.
Formada pela USP em 1938, é professora emérita da UFRJ e da PUC do Rio. Foi orientadora de 74 dissertações de mestrado e 42 teses de doutorado. É unânime. Zuenir Ventura, seu ex-aluno, a apelidou de “divina Cleo”. E de Carlos Drummond de Andrade ganhou poema, cujos versos dizem: “Até Fernando Pessoa, com respeitoso carinho/ trago pois, minha oferenda/ de bem humilde vizinho/ nesta ensancha prazenteira/ a justiça que me impede/ à genuína fazendeira/ Cleonice Berardinelli.”
Recentemente, atraiu olhares de todo o Brasil ao dividir uma mesa, na Flip, com sua mais nova fã, Maria Bethânia. Durante uma hora e meia, leram poemas de Pessoa selecionados por Dona Cleo. A simpatia do público pelo carisma da professora foi imediata. O carinho foi retribuído nos autógrafos de seu novo livro, Antologia Poética, na mesma noite. “Fiquei exausta, mas virei notável, foi um sucesso”.
A professora recebeu a coluna, em seu apartamento, em Copacabana, na zona sul do Rio, antes da vinda do papa Francisco ao Brasil. Católica, ela se disse contente. “Ele é de uma falta de atavios, uma simplicidade impressionante. E escolheu o nome de Francisco. Amo a oração de Francisco”, diz.
No seu escritório, montou uma biblioteca – batizada de “Galeria Camões”. Os livros, diz, deixará para a Academia Brasileira de Letras, para que sejam bem cuidados. Além deles e das inúmeras fotografias dos netos e bisnetos espalhadas pela biblioteca, Dona Cleo coleciona uma séria de prêmios e honrarias, acumulados ao longo de sua carreira: “Das profissões, professora é a que dá mais gratificação amorosa. Tenho mais de mil ex-alunos”.
Ela impressiona pela memória. Não esquece um verso de qualquer poeta, recitando tudo de cor. A boa saúde, explica, tem dois grandes motivos: a família e a religiosidade: “Tenho conversas particulares com o pai do céu. Enquanto eu estiver vivendo como estou… eu gosto de viver”

domingo, 28 de julho de 2013

J. R. Guzzo: O “volta Lula” é coisa de uma multidão de gente que quer salvar o próprio couro


Sindicalistas usaram faixas para pedir volta de Lula à Presidência, em festa de 1º de Maio (Foto: Epitácio Pessoa / Estadão)
Sindicalistas usaram faixas para pedir volta de Lula à Presidência, em festa de 1º de Maio (Foto: Epitácio Pessoa / Estadão)

VAI PASSAR

Nunca se viu até hoje o caso de dois cachorros que tenham trocado, de livre e espontânea vontade, o osso de um pelo osso do outro, ensina Adam Smith. Ninguém como o velho Smith para dizer certas verdades.
No caso, ele falava do livre-comércio — uma característica exclusiva do ser humano, assim como a palavra, a escrita e outras coisas que distinguem os homens dos animais. O pensador escocês que informou ao mundo, mais de 200 anos atrás, que o capitalismo existia, explicou como funcionava e demonstrou por que era indispensável para a evolução racional da sociedade, ia direto ao ponto em matéria de economia — mas sua clareza é a mesma quando transportada para a política.
Nenhum partido, em nenhuma democracia do mundo, entra numa eleição para perder. Não quer trocar seu osso com ninguém, quando está no governo — e quando está fora não quer trocar nada, e sim tirar o osso de quem está dentro. O Brasil, é claro, vive segundo essa mesma regra. Mas a história, aqui, é muito mais quente, porque o osso em disputa é muito maior.
Perder uma eleição lá fora é ruim — mas no fim é apenas isso, uma derrota. Aqui não. Se o PT perder a eleição presidencial de 2014, seja com a presidente Dilma Rousseff ou com o ex-presidente Lula, vai haver um terremoto na vida pessoal de dezenas de milhares de pessoas, possivelmente muito mais, a começar por seus bolsos. No caso, iriam embora o governo, os anéis e os dedos.
É disso, e só disso, que se trata. Fala-se uma enormidade, e cada vez mais, sobre o “quadro sucessório”; todo mundo “trabalha com a hipótese” de alguma coisa. (É uma das curiosidades da nossa atual linguagem política: aboliu-se o verbo “pensar”. Hoje o indivíduo não pensa — só “trabalha com a hipótese”.)
Mas o que está valendo mesmo, no jogo a dinheiro, é a corrida de uma multidão de gente para salvar o próprio couro. Até dois ou três meses atrás, esse era um problema inexistente: o governo tinha certeza de que Dilma “estava eleita já no primeiro turno”. Mas a coisa mudou de repente, e o medo de perder invadiu o PT e a base aliada.
Já apareceu um “volta Lula”, tramado no escuro por ele mesmo, para desmanchar a candidatura de Dilma à reeleição; e os aliados, assim que sentiram o primeiro cheirinho de pólvora no ar, voltaram ao bazar de compra e venda do seu apoio.
As perdas materiais, aí, envolvem gente que não acaba mais. Quantos serão? É difícil saber ao certo. Entram, logo de cara, além dos 39 ministros que pretendem estar no próximo governo, perto de 25 000 funcionários de “confiança” nomeados livremente pelo presidente e sua turma — aos quais se devem somar os empregos que podem dar nas empresas estatais.
Muitos desses cargos são coisa de cachorro grande: a prova mais recente foi a batalha que o senador Fernando Collor (“aliado”) travou para substituir os ocupantes de dois empregos na Petrobras por gente sua. Brigou e levou: Dilma, que já não tinha escolhido os dois que estavam lá, também não escolheu os seus substitutos, em mais um belo retrato de como funciona seu governo.
Some-se a isso a grossa maioria dos 594 deputados federais e senadores, e a miudeza política que sobrevive nos subúrbios mais distantes do poder central. Não se pode esquecer, é claro, todo o mundo multibilionário e opaco dos fundos de pensão gerenciados pelo PT e chefes sindicais — adicione-se a eles, aliás, a nata do mundo sindical petista.
Multiplique-se, enfim, tudo isso pelo número de parentes, amigos, amantes, sócios etc. dessa turma, e já estamos falando numa quantidade de gente na casa dos seis algarismos. O leitor fica convidado a fazer sua conta pessoal.
Falta acrescentar, ainda, os privilégios dos donos do poder, e que valem tanto quanto dinheiro sonante. Um caso, entre milhares, ajuda a entender com perfeita clareza por que é indispensável, para o PT e a base aliada, manter o governo em 2014. Trata-se da última obra que o governador Sérgio Cabral, do Rio de Janeiro, colocou em sua biografia.
Cabral, que há anos vive ajoelhado diante de Lula, mandou buscar seu cachorro “Juquinha”, em sua casa de praia em Mangaratiba, num Agusta AW109 Grand New que faz parte da frota de sete helicópteros do governo estadual, mantidos ao custo estimado de 10 milhões de reais por ano.
República? Está mais para corte de Maria Antonieta tropical. Ao povão do Rio, nessa fantasia, fica reservado o papel dos barões famintos e napoleões retintos que desfilam no samba Vai Passar, de Chico Buarque.
Talvez esteja aí, no fundo, o problema real da política brasileira de hoje. Se o PT cair fora, quem vai mandar o helicóptero buscar “Juquinha” em Mangaratiba?

quinta-feira, 25 de julho de 2013

‘Eles estão de brincadeira’, os espantosos gastos do STJ

MARCO ANTONIO VILLA

No já histórico junho de 2013, as ruas foram ocupadas pelos cidadãos. Foi um grito contra tudo que está aí. Contra os corruptos, contra os gastos abusivos da Copa do Mundo, contra a impunidade, contra a péssima gestão dos serviços públicos, contra a violência, contra os partidos políticos.
Dois poderes acabaram concentrando a indignação popular: o Executivo e o Legislativo. Contudo, o Judiciário deve ser acrescido às vinhas da ira.
Neste mesmo espaço, em 13 de dezembro de 2011, escrevi um artigo (“Triste Judiciário“) tratando do Superior Tribunal de Justiça, o autointitulado tribunal da cidadania.
Um ano e meio depois resolvi consultar o site do tribunal para ver se tinha ocorrido alguma modificação nas mazelas que apontei. Para minha surpresa, tudo continua absolutamente igual ou, em alguns casos, pior.
Busquei inicialmente o número de cargos. Vi uma boa notícia. Eram 2.741 em 2012 e em 2013 tinha diminuído para…. 2.740. Um funcionário a menos pode não ser nada, mas já é um avanço para os padrões brasileiros. Porém, ao consultar as funções de confiança, observei que nos mesmos anos tinham saltado de 1.448 para 1.517.
Fui pesquisar a folha dos funcionários terceirizados. São 98 páginas. Mais de 1.550 funcionários! E tem de tudo um pouco. São 33 garçons e 56 copeiras. Afinal, suas excelências têm um trabalho desgastante e precisam repor as energias. No STJ ninguém gosta de escadas. É a mais pura verdade. São 34 ascensoristas: haja elevadores! Só de vigilantes ─ terceirizados, registre-se ─ são 264. Por ironia, a empresa contratada chama-se Esparta. E se somarmos os terceirizados mais os efetivos, teremos muito mais dos que os 300 espartanos que acompanharam Leônidas até as Termópilas, longe, evidentemente, de comparar suas excelências com o heroísmo dos lacedemônios.
Resolvi consultar a folha de pagamentos de junho. Fiquei só na letra A. Não por preguiça. É que preciso trabalhar para pagar os impostos que sustentam os salários das suas excelências.
Será que o tribunal foi isento da aplicação do teto constitucional? Dos cinco ministros que abrem a lista, todos recebem salários acima do que é permitido legalmente.
Vamos aos números: Antonio Carlos Ferreira recebeu R$ 59.006,92; Antonio Herman de Vasconcelos e Benjamin, R$ 36.251,77; Ari Pargendler, R$ 39.251,77; Arnaldo Esteves Lima, R$ 39.183,96; e Assusete Dumont Reis Magalhães, R$ 39.183,96. Da lista completa dos ministros, a bem da verdade, o recordista em junho é José de Castro Meira com o módico salário de R$ 63.520,10. Os ministros aposentados também recebem acima do teto. Paulo Medina, que foi aposentado em meio a acusações gravíssimas, recebeu R$ 29.472,49.
O STJ revogou o artigo 5º da Constituição? Ou alterou a redação para: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, exceto os ministros do STJ”?
O tribunal é pródigo, com o nosso dinheiro, claro. Através do que chama de aviso de desfazimento, faz doações. Só em 2013 foram doados dezenas de veículos supostamente em estado “antieconômico.” Assim como refrigeradores, mobiliário, televisores e material de informática. É o STJ da felicidade. Também, numerário não falta. Para 2013 o orçamento é de 1 bilhão de reais. E estamos falando apenas de um tribunal. Só para pagamento de pessoal e de encargos sociais estão alocados 700 milhões. Sempre pródiga, a direção do STJ reservou para a contribuição patronal da seguridade social dos seus servidores a módica quantia de 100 milhões (mais que necessário, pois há servidores inativos recebendo R$ 28.000,00, e pensionistas com R$ 35.000,00).
O tribunal tem 166 veículos (dos quais 20 são ônibus). Por que tantos veículos? São necessários para o trabalho dos ministros? Os gastos nababescos são uma triste característica do STJ. Só de auxílio-alimentação serão destinados R$ 24.360.000,00; para assistência médica aos ministros e servidores foram previstos R$ 75.797.360,00; e à assistência pré-escolar foram alocados R$ 4.604.688,00. À simples implantação de um sistema de informação jurisdicional foi destinada a fabulosa quantia de R$ 22.054.920,00. E, suprema ironia, para comunicação e divulgação institucional, o STJ vai destinar este ano R$ 14.540.000,00.
A máquina do tribunal tem de funcionar. E comprar. Em um edital (e só consultei os meses de junho e julho) foram adquiridos 1.224 copos. Noutro, por R$ 11.489,00, foi contratada uma empresa de eventos musicais. Estranhamente foram adquiridos 180 blocos para receituário médico, 50 blocos para ficha odontológica e 60 pacotes ─ cada um com 100 unidades ─ de papel grau cirúrgico (é um tribunal ou um hospital?).
É difícil entender a aquisição de 115 luminárias de uma só vez, a menos que o prédio do tribunal estivesse às escuras. Pensando na limpeza dos veículos foram adquiridas em julho 70 latas de cera para polimento. Tapetes personalizados (o que é um tapete personalizado?) custaram R$ 10.715,00 e de uma vez compraram 31 estiletes.
Não entendi, sinceramente, a razão de adquirir 3.360 frascos de 1.000 ml cada de álcool. E o cronômetro digital a R$ 1.690,00? Mas, como ninguém é de ferro, foi contratada para prestar serviço ao STJ a International Stress Manegement Association.
Mas, leitor, fique tranquilo. O STJ tem “gestão estratégica”. De acordo com o site, o tribunal “concentra esforços na otimização dos processos de trabalho e na gestão da qualidade, como práticas voltadas à melhoria da performance institucional e consequentemente satisfação da sociedade”. Satisfação da sociedade? Estão de brincadeira.

sábado, 20 de julho de 2013

Federação de médicos rompe com governo e recorre ao STF contra MP

JOHANNA NUBLAT
DE BRASÍLIA

A Fenam (Federação Nacional dos Médicos), que agrega entidades médicas sindicais, anunciou que vai deixar seis comissões que integra na esfera do governo federal e outros cinco colegiados do Conselho Nacional de Saúde (órgão vinculado ao Ministério da Saúde).
A decisão é uma reação à medida provisória que criou o Mais Médicos --programa do Executivo para distribuir médicos estrangeiros e brasileiros no interior do país, e aumentar o curso de medicina com dois anos de serviços prestados no SUS-- e aos vetos da lei do "Ato Médico" --que regulamenta a medicina.
A entidade integra colegiados que discutem uso racional de medicamentos, inclusão de procedimentos no rol dos planos de saúde, vigilância sanitária, entre outros.
Também nesta sexta-feira (19), a entidade informou que vai ingressar com duas ações judiciais com o objetivo de suspender os efeitos da medida provisória do Mais Médicos.
Até terça-feira, uma ação civil pública deve ser apresentada à Justiça Federal questionando a dispensa da realização de concursos públicos, a dispensa da revalidação dos diplomas para atuação no país, e se há urgência, de fato, para as mudanças propostas serem feitas via medida provisória.
A ideia também é, nos próximos 15 dias, apresentar uma ação direta de inconstitucionalidade ao STF (Supremo Tribunal Federal) com questionamentos semelhantes.
Além disso, a Fenam promete uma batalha nos Estados contra o Mais Médicos, pois vai orientar que sindicatos médicos analisem ações judiciais locais e que os médicos inscritos no programa ingressem com ações cobrando direitos trabalhistas não previstos na medida do governo.
Em junho, entidades médicas classificaram como "inócua, paliativa e populista" a medida de trazer médicos do exterior para que trabalhem no SUS.
SAÍDA DE COMISSÕES
A entidade resolveu deixar os 11 colegiados, porque parte deles se mostrou "meramente decorativa", diz o presidente da Fenam, Geraldo Ferreira Filho. Ele cita como exemplo o grupo de trabalho formado pelo Ministério da Saúde, em 19 de junho, para "elaboração de proposta de provimento e fixação de profissionais médicos em situação de escassez no SUS" no prazo de 60 dias.
Menos de três semanas depois de criado o grupo, a presidente Dilma Rousseff anunciou o programa Mais Médicos.
"Foi criado um grupo de trabalho de fantasia, uma enrolação para os médicos. O governo atropelou, é um desrespeito", critica o presidente da Fenam.
A saída dos colegiados do Conselho Nacional de Saúde, explica, deve-se ao fato de a presidência do conselho ter se mobilizado a favor do veto a trechos do "Ato Médico". "Deveria ter discutido antes com as entidades médicas."
A saída de dez comissões será oficializada nesta sexta-feira; a última deve ser oficializada na próxima semana, após a conclusão de uma discussão sobre a extensão da residência médica de pediatria, diz Ferreira Filho.
NO CONGRESSO
A Fenam promete se mobilizar, no Congresso, para reverter os vetos ao "Ato Médico" e para derrubar a medida provisória do Mais Médicos. "Não aproveitamos nada dessa medida", afirma o presidente da entidade.
Os médicos questionam, no programa, a inexistência de parte dos direitos trabalhistas (por se tratar de uma bolsa e, não, de um contrato de trabalho); a abertura do país a médicos estrangeiros sem revalidação do diploma pelo governo; e a ampliação do curso de medicina, com dois anos extra de trabalho na rede pública.
"Por trás de tudo isso está a campanha eleitoral, evidentemente", dispara Ferreira Filho.

sexta-feira, 19 de julho de 2013

O social da rede




por RENATO TERRA


Nome: Rodrigo Rodrigues. Moro em: Facebook. Em relacionamento sério com: Twitter. Religião: Orkut. Gênero: on-line. Sobre mim: “Sorria sempre, seus lábios não precisam traduzir o que acontece em seu coração” (Clarice Lispector).
Como vocês já devem ter visto em meus perfis pessoais, sou ator, jornalista, cineasta, blogueiro e diretor de arte de uma agência de propaganda. Minha vida, aliás, é um Facebook aberto. Uso aplicativos para informar meus seguidores onde estou, quantas colheres de açúcar coloco no café e quanto tempo falta para cortar as unhas do pé novamente. Todo mês, transmito o banho do meu pug ao vivo. Ontem mesmo, abri uma discussão para decidir se colocava roupa branca ou escura na máquina de lavar. Cento e setenta e nove pessoas comentaram.
Toda vez que saio de casa, publico fotos. Sem exceção. Não raro, saio de casa apenas para publicar fotos. No bolso, celular com câmera 5.1 megapixels, e o dedo mais lépido que o Papa-Léguas para acionar o plano de dados. Não deixo passar um pôr do sol. Plac! O celular é o melhor amigo do homem social. É o cachorro que cabe no bolso.
Tenho mais amigos que Luciano Huck e mais seguidores que Buda. Numa das vezes que fui às ruas em 2012, aliás, notei que um homem me encarava. Escaneei, em vão, minha memória em busca de uma imagem que pudesse associar àquele rosto. Arquivo não encontrado. Resolvi desviar o olhar, mas não consegui bloqueá-lo. Ele se alçou em minha direção e, qual um Angry Bird, materializou-se na minha frente. Ofegante, estendeu a mão e perguntou: “Você não é o Rodrigo Rodrigues do Facebook?” Aturdido, fiz sinal de positivo com o dedo indicador. Ele sacou o celular para uma foto.

oje tenho tantos seguidores e solicitações de amizade que minha vida social prescinde de interface humana. Quando estou on-line, tenho controle total da linha do tempo da minha vida. Nem que, para isso, seja preciso ler as políticas de privacidade de cabo a rabo. Nas redes sociais não envelheço, não titubeio, não tenho cólica ou remela. E tenho o Photoshop sempre à mão. Meu perfil fica cada vez mais bonito com o passar dos anos.
No começo, mamãe estranhava minha opção pelo virtual e implorou para eu procurar um psicólogo. Encontrei um que atendia via Skype e aceitava pagamentos via PayPal. Marcamos sessões semanais. As primeiras conversas foram produtivas, mas em pouco tempo encontrei um aplicativo grátis que desempenhava a mesma função.
Cheguei a fazer incursões esporádicas numa realidade sem configurações antispam. Aos 15 anos, conheci uma simpática avatar num site de relacionamentos e cometi o erro de marcar um encontro ao vivo. Por que eu não me contentei com o mural de fotos? Para piorar, ela se comunicava em mais de 140 caracteres e não tinha um filtro para bloquear o mau hálito. Tentei reinicializar. Em vão. Resultado: desde que surgiu a função “cutucar”, passei a flertar apenas on-line.
Hoje vivo sempre a curtir. Ver aquele dedo polegar levantado em sinal de positivo funciona como um bálsamo para a autoestima. Anos de análise não quebrariam tantas barreiras do subconsciente, complexos de inferioridade e desejos reprimidos de aceitação social.
O oposto também tem funções terapêuticas. Em dias carentes, qual um Roberto Shinyashiki randômico, atualizo meu status com trovoadas motivacionais. Atuo como um polinizador de utopias. Frases como “Mude, mas comece devagar, porque a direção é mais importante que a velocidade” são de arrepiar a alma. Quem não repensa toda uma vida depois de ler uma síntese como essa? Cada vez que um amigo clica em “curtir”, me sinto abraçado.
Treinei como um pequeno Yoda para potencializar meus dotes sociais e criei dogmas que faço questão de seguir. Eles são tão importantes que copiei e colei no meu perfil.
Regra #1: É fundamental fragmentar a atenção. Faço exercícios diários nesse sentido. Quando me pego lendo mais de dois parágrafos de um texto ou vendo filmes com mais de um minuto, desvio o olhar para outra coisa. Sou capaz de postar uma mensagem enquanto dirijo, mesmo que esteja conversando, ouvindo música e mexendo no GPS.
Regra #2: Olhe para as redes sociais como um Lévi-Strauss 2.0. É fundamental compreender as características antropológicas de cada uma. Use o Orkut para compartilhar piadas de salão. No Twitter, tente sempre parecer inteligente e, no Facebook, aja sempre como a pessoa que você gostaria de ser.
Regra #3: Encarne o Cesar Maia e interaja efusivamente com seus seguidores. Comente, curta, compartilhe. Separe vinte minutos pela manhã e escreva recados carinhosos para seus amigos aniversariantes.
Regra #4: Todo mundo tem um lado ruim. Para dar vazão a esse lado, crie um perfil falso.

m social da rede que pretende causar buzz não pode olhar apenas para seu umbigo. É preciso antever as novidades, ter suas fontes e construir uma rede de contatos. Nunca se sabe quando um apresentador de telejornal fará uma nova trapalhada ou quando uma experiência fofinha envolvendo crianças será filmada novamente. A sociedade on-line dá crédito àquele que divulga rapidamente um comercial engraçado, uma notícia sobre os benefícios da cerveja ou a expertise de um bebê com seu tablet.
Modéstia à parte, creio que sou reconhecido – quiçá internacionalmente – pela ampla capacidade de mobilização em prol de temas humanitários. Se a gente não se fizer o bem, quem o fará? Recentemente, cativei todos os meus contatos, durante um mês, a assinar uma petição on-line contra uma enfermeira que espancou um ornitorrinco até a morte numa pet shop em Madagascar. Os jovens de 1960 quiseram salvar o mundo real. Minha geração, menos ingênua, não foge da luta: está disposta a pegar em armas virtuais para salvar os bichinhos com um clique no mouse. É uma utopia, mas os sonhos não envelhecem.
O bom é que posso me indignar sem ficar zangado. Basta compartilhar um vídeo do Arnaldo Jabor, uma imagem de um cachorro maltratado ou um texto incisivo sobre o assunto do momento. Já questionei os patrocinadores do Big Brother por bancarem um programa que estimula o estupro, enviei e-mails para o governo do Congo cobrando atitudes para melhorar aquele IDH chinfrim e publiquei fotos denunciando a clonagem de bonecas infláveis no sudoeste do Suriname. Nem Gandhi fez tanto!
Aliás, gostei desse texto. Pena que o autor é desconhecido. Vou postar no meu perfil dando crédito ao Verissimo para ver se alguém lê.

O pit bull de passeata




por RENATO TERRA

Antes de mais nada, quero deixar claro que não tenho esse papo de ideologia política. Quando chego nas paradas de manifestação e protesto, enfio a mão esquerda em barbudinho radical e finalizo coxinhas nervosinhos com um cruzado de mão direita. Sou democrático.
Isso não impede que eu esteja sempre antenado nas demandas dos jovens brasileiros. Tenho uma puta consciência. Primeiro, veio a tendência globalizada das músicas gringas nas boates, e eu lá no agito. Depois, a anarquia das micaretas, muita mulherada e cerveja gelada. Aí veio o conservadorismo das quintas-feiras com música sertaneja, e depois o hedonismo meio babaca das raves. Agora o que está bombando são as passeatas. Depois dizem que a juventude é acomodada, parceiro. Estamos sempre ligados nesses lances.
O maneiro é que todos esses eventos acontecem exatamente da mesma maneira: a mulherada pira e a testosterona ferve. Eu, enquanto macho alfa, saio esbarrando na galera à caça das gatinhas ou de uma encrenca. Não necessariamente nessa ordem. Meus heróis morreram de overdose – de anabolizantes – e meus inimigos vão sentir o poder do meu punho fechado.
Atravessei a juventude sempre lendo os códigos exigidos para cada ocasião. Se antes vestia camisa polo, chapéu de vaqueiro ou abadá, agora saio de subversivo, escondendo o rosto com a camisa. A mulherada, aliás, tem até olhado mais para mim. As mina pira nos subversivos. Beijei muito uma loura do PCR, que gritava “Revolução, revolução, vem pro meu partido!”. Uma militante do PCO deu mole pra mim, mas não me amarrei na estampa da criatura. Cabeluda demais nos lugares errados. A esquerda costuma ser peluda demais.

emana passada, fiz um cercadinho na concentração da avenida Rio Branco e cobrei 15 reais de consumação mínima. Uns camaradas do PSOL chegaram com um papo de centavos e eu deitei dois logo de cara. Comuna pé de chinelo não dá. A gente não quer só centavos. Por que não uns dólares? O ingresso no meu quadrado era uma camiseta da Brahma com uma estampa do Che Guevara, filho do Fidel. Ficou irado. A partir de meia-noite, tinha coquetel molotov e uísque com energético à vontade.
Fiquei tão amarradão que fiz até uns cartazes no pré-night aqui em casa: “É catraca livre ou roleta-russa” e “Abaixo o sarrafo”. Fiz uns molotov com as garrafas de Absolut que sobraram.
O foda é que um comuna do PSTU resolveu desafiar minha livre-iniciativa e arranquei a barba dele na unha. Devia era ter tirado com uma foiçada de direita e uma martelada de esquerda. Para minha surpresa, a galera começou a gritar “Sem partido!”, “Sem partido!”. Para contrabalançar, sapequei uma rasteira num engomadinho que pedia o impeachment da Dilma. O cara queria golpe. Não precisou pedir duas vezes. Já disse que meu movimento de punho é apartidário.
Ainda fiz uma versão maneiríssima da musiquinha “Eu sou baderneiro/ com muito orgulho/ com muito amor” com batida eletrônica. Vandalizei nas carrapetas. No fim da noite a coisa ficou embaçada, só sei que estava na esquina da avenida Paulista com a rua Uruguaiana. Fiquei em dúvida se era Rio ou Sampa. O bagulho ficou louco. Fiquei alienado. No dia seguinte já amanheci com uma dor de consciência política de rachar. Tive que tomar três Cefalives.

alvez alguns invejosos com meu sucesso, uns afetadinhos sem testosterona, tentem abafar meus ventos viris de mudança. Mal sabem eles que aprendi a aplicar estrangulamentos no padrão Fifa. Um desses camaradas me viu quebrando uma vitrine e me jogou um xaveco. Disse que eu não tinha consciência, que eu era um contrarrevolucionário. Enfiei logo um perfume Jequiti no olho dele. Vai derrubar a Bastilha, mané! Se não fosse o sargento do Bope me botar pra dormir com uma bala de borracha na testa, eu detonava o cara.
Confesso que tenho predileção em mirar minha energia revolucionária naqueles camaradas brancos que ficam mugindo “Sem violência”, “Sem violência”. Não quer violência, vai pra Disney! Tá com medo? Chama o papai! Devem ser vegetarianos, ecochatos. São do tipo inofensivos, criados pela avó. Com esses, eu faço strike.
Fico também atento a situações que despertam meu interesse. Quando pego um hippie de butique oferecendo uma flor para um policial, o sapeca-iá-iá-na-fuça vai com gosto. O que mais me irritou esta semana foi um cara dizendo que era da Terceira Internacional dando porrada num que era da Quarta. Que babado é esse? Eu sou Grêmio, o cara me vem com Internacional? Tá maluco? E não é que chegou um bando com bandeiras vermelhas com uma estrela branca? Ah, meu irmão, deve ser a organizada independente. Desci o porrete. Me chamaram de fascista. São uns bananas. Porrada faz parte, pô. Malandros mesmo são aqueles carecas que pintaram com canivete e corrente. A barra pesou, atropelei uns três. Me chamaram de comunista. Que papo mais mariola. Eu sou é democrata! Dei neles e nos inimigos deles, os moicanos. Esses são de esquerda, mas não aguentam o tranco. Tudo florzinha. Tiranizei de mão aberta. Vão quebrar banca de jornal, bando de trouxas!
A coisa foi nessa base a semana toda. Me amarrei na exibição de músculos da democracia brasileira. Queria nocautear uns deputados, uns vereadores, meia dúzia de senadores, mas não rolou. Os caras não pintaram na área. Mas confesso que estou cansado. Bater nesses pés de pano me deu até distensão muscular. Meu bíceps está um caco, véio.

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Ministério Público no DF abre apuração sobre suspeita de sonegação envolvendo a Rede Globo

Publicado por Agência Brasil (extraído pelo JusBrasil) - 1 dia atrás
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Débora Zampier
Repórter da Agência Brasil

Brasília - A Procuradoria da República no Distrito Federal (PR-DF) confirmou hoje (16) que abriu apuração criminal preliminar para investigar suspeitas de sonegação envolvendo a Rede Globo. O procedimento foi iniciado na segunda-feira (15), com a distribuição do caso para um procurador responsável.
A apuração foi solicitada na última sexta-feira (12) por 17 entidades da sociedade organizada, entre elas, o Centro de Estudo das Mídias Alternativas Barão de Itararé, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra e o Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação. Eles alegam que o Ministério Público deve agir porque há indícios de lesão a bens federais.
De acordo com o grupo, as apurações tornaram-se necessárias devido a divulgação recente de documentos, até então sigilosos, sobre multa de mais de R$ 600 milhões à Rede Globo pela tentativa de sonegar impostos relativos à exibição da Copa do Mundo de 2002. Ainda segundo o grupo, também há suspeita de lavagem de dinheiro, de crimes contra órgãos da administração direta e indireta da União e de estelionato.
Com a abertura de procedimento preliminar, o Ministério Público tem prazo de 90 dias, prorrogáveis pelo mesmo tempo, para apurar as informações. Se houver indícios suficientes de crime, é aberto inquérito. Caso negativo, o procedimento é arquivado. A Procuradoria do DF ainda poderá encaminhar os documentos para o Rio de Janeiro, onde fica a sede da empresa.
Na semana passada, o Ministério Público Federal no Rio de Janeiro divulgou nota informando que acompanhava o caso desde 2005 e que não pediu abertura de inquérito policial por impeditivos legais relativos à restituição de valores fiscais. "Quanto aos demais tipos criminais aventados na mídia, o MPF entende que o enquadramento não seria aplicável por ausência de indícios". O órgão também confirmou que documentos do caso foram extraviados por uma servidora da Receita Federal, que já foi processada e condenada pela Justiça.
Em nota, a Rede Globo disse que já não tem qualquer dívida em aberto com a Receita e que apenas optou, na época, por "uma forma menos onerosa e mais adequada no momento para realizar o negócio, como é facultado pela legislação brasileira a qualquer contribuinte". A empresa informou que, após ser derrotada nos recursos apresentados à Receita, decidiu aderir ao Programa de Recuperação Fiscal da Receita Federal e fazer os pagamentos.
A empresa ainda destacou que desconhecia os fatos relativos a desvios de documentos no processso fiscal, pois não figurava como parte no processo. Segundo a Globo, os documentos perdidos foram restituídos com a colaboração da própria empresa, que desconhece os motivos que levaram a servidora a agir dessa forma.

Ambiente de pessimismo'

BRASÍLIA - Enquanto a presidente Dilma Rousseff insistia no natimorto plebiscito para a reforma política, o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, dava entrevista a Fernando Rodrigues, da Folha, defendendo o fim de 14 ministérios.
Parece briga de marido e mulher, mas é disputa entre Poderes e entre partidos aliados, com troca de provocações cada vez mais escancaradas.
Dilma e o ministro Gilberto Carvalho insistem "teimosamente" na estratégia marqueteira de dizer que o governo quer dar voz ao povo, mas o Congresso, esse malvado, não deixa.
Henrique Alves dá o troco. Vocaliza a pressão geral e o pedido formal do PMDB por uma reforma ministerial drástica, em nome da "redução de custos e da austeridade". A presidente, teimosa, e o governo, esse fraco, é que não têm coragem de fazer.
Convenhamos: nem Dilma está tão desesperada pelo plebiscito nem o nosso PMDB cansado de guerra (e cheio de cargos) parece tão preocupado com a moralidade pública e o corte de ministérios. Ambos apenas dizem o que a população quer ouvir e se esforçam em jogar a culpa um no outro por não dar certo.
O que se vê é Dilma e o Congresso testando forças, num momento de enorme fragilidade mútua e com o PT nitidamente dividido: um PT apoia o governo, o outro PT se alia ao PMDB contra o governo.
Dilma despenca nas pesquisas, fazendo um esforço enorme para mostrar que tudo está ótimo e atribuindo as críticas (à economia e à gestão) a quem quer criar um "ambiente de pessimismo". Já Henrique deixa claro o grau de compromisso e de lealdade ao Planalto e ao projeto Dilma: entre o governo e o Congresso, ele fica com o Congresso (e com o futuro).
O clima, portanto, é de guerra, mas de uma guerra interna no próprio governo e nos partidos governistas. E quem criou e alimenta o pessimismo não foram e não são os adversários. Foram e são a própria Dilma, o seu governo, a sucessão de erros e sua balofa base (não tão) aliada.
eliane cantanhêde
Eliane Cantanhêde

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Para a Bolívia, o Brasil é um grandalhão medroso que reage a afrontas com outro gesto de carinho e o sorriso dos palermas





Disfarçado de Assessoria de Comunicação Social do Ministério da Defesa, o polivalente Celso Amorim divulgou nesta tarde os seguintes ─ aspas obrigatórias ─ “esclarecimentos”.
A propósito de informações veiculadas na edição de hoje (16/07) do jornal Valor Econômico, na matéria intitulada “Bolívia revistou avião de Amorim em busca de opositor”, o Ministério da Defesa esclarece o seguinte:
1 ─ Não procede a informação de que o avião da FAB utilizado nesta viagem oficial, no dia 3 de outubro de 2012, foi vistoriado por autoridades bolivianas no aeroporto de Santa Cruz de La Sierra;
2 ─ Houve, no segundo semestre de 2011, ações por parte de autoridades bolivianas que configuraram violações de imunidade de aeronaves da FAB, uma delas envolvendo o avião que levou o ministro da Defesa em viagem oficial a La Paz no final de outubro de 2011;
3 ─ O ministro da Defesa brasileiro nunca autorizou tal vistoria;
4 ─ Os episódios ocorridos em 2011 foram objeto de nota de reclamação encaminhada pela embaixada do Brasil em La Paz à chancelaria boliviana;
5 ─ No documento, a embaixada informou que a repetição de tais procedimentos abusivos levaria à aplicação, pelo Brasil, do princípio da reciprocidade;
6 ─ Desde o envio da nota, a FAB não registrou novos episódios de vistorias em suas aeronaves por autoridades bolivianas.
Tradução: Amorim jura que não foi agora que o governo de Evo Morales ordenou à polícia que desse uma geral no avião que o transportava. A humilhação ocorreu em 2011, garante. Num rasgo de bravura, o Pintassilgo do Planalto deixou claro que não foi ele quem determinou a revista (nem a entrada de cães farejadores estrangeiros no jato da FAB). De volta ao lar, o ministro que comanda as Forças Armadas pediu que o embaixador em La Paz comunicasse ao presidente Morales que ficara muito triste com a vistoria.
(Lula vivia dizendo que seus ministros jamais tirariam os sapatos na alfândega americana. Esqueceu de recomendar-lhes que não ficassem de quatro em aeroportos de países vizinhos).
A notícia confirmada pelo jornal Valor (e detalhada pelo próprio Amorim) acrescentou mais um andor vergonhoso à procissão de afrontas iniciada em maio de 2006, quando os bolivarianos do leste expropriaram os ativos da Petrobras e sugeriram ao Planalto que se queixasse ao bispo.
De lá para cá, entre outros abusos, o companheiro Morales elevou unilateralmente o preço do gás fixado no contrato com o Brasil, trancafiou numa cela 12 torcedores corintianos, soltou sete depois de 100 dias, mantém cinco presos sem acusação formal, ignora sistematicamente as cláusulas dos acordos para a proteção das fronteiras, vive amedrontando investidores brasileiros e se recusa a permitir que o senador oposicionista Roger Pinto Molina, asilado há mais de um ano na embaixada em La Paz, embarque rumo a Brasília.
Desde a chegada de Evo Morales ao poder, o Brasil é tratado como um grandalhão medroso que se ajoelha ao som do primeiro grito. “Devemos ser generosos com a Bolívia, é um país muito sofrido”, recitava Lula a cada insulto. Dilma prefere ser humilhada em silêncio. Com Antonio Patriota no comando do Itamaraty, o Planalto decidiu que é melhor apanhar sem contar a ninguém.  A cada pancada desferida pelo Lhama-de-Franja, o governo lulopetista revida com mais um gesto de carinho e o sorriso inconfundível dos palermas.

Afastamento do juiz do caso Monte Santo deve ser votado na quarta-feira

Luiz Roberto Cappio já foi afastado cautelarmente, por 90 dias, em abril.

Magistrado foi o responsável por determinar retorno de 5 crianças adotadas.

O julgamento do afastamento do magistrado Luiz Roberto Cappio, que ficou conhecido após julgar favorável o retorno das crianças adotadas Monte Santo, sertão baiano, está previsto na pauta de quarta-feira (17) do Pleno do Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA). Cappio já tinha sido afastado cauterlamente por unanimidade, durante 90 dias, em 17 de abril deste ano. O G1 tentou contato com Cappio nesta terça-feira (16), mas não obteve sucesso.
A sessão está marcada para começar às 8h30, na sede da Justiça. O corregedor do interior e relator do processo disciplinar, desembargador Antônio Cardoso, deve pedir ao presidente do TJ-BA, desembargador Mário Alberto Simões Hirs, que o Pleno dê prioridade no julgamento, segundo informou a Corregedoria.
Apenas o presidente pode decidir se a ação administrativa vai ser apreciada ou não durante a sessão. Na ocasião, os desembargadores vão votar dois novos nomes para ocupar as vagas disponíveis na segunda instância do judiciário estadual.
O pedido de afastamento foi feito pelo procurador-geral adjunto do MP-BA, Rômulo Moreira, com os argumentos de que houve "indisposição" do juiz com os três promotores da comarca de Monte Santo, com serventuários da Justiça e com delegado de polícia. Além disso, ainda defendeu para a Justiça a "baixa produtividade" do magistrado.
Em abril, em entrevista ao G1, o corregedor Antônio Cardoso disse que a medida cautelar foi tomada com base em "problemas de relacionamento" e na quantidade considerada baica de sentenças proferidas por ele na Vara Crime de Euclides da Cunha.
Silvânia Maria da Silva; bahia (Foto: Reprodução/TV Bahia) 
Silvânia Maria da Silva (Foto: Reprodução/TV Bahia)
 
Defesa
O juiz revisou os processos de adoções na cidade do interior baiano e apontou irregulariades, o que motivou as decisões favoráveis à família baiana. As crianças foram retiradas da cidade no mês de junho de 2011, por ordem do juiz Vitor Bizerra.
À CPI do Tráfico de Pessoas, Vitor Bizerra alegou que, para a concessão, se embasou em relatórios do Conselho Tutelar e do Ministério Público do estado. Por denúncias de insegurança, a dona de casa Silvânia da Silva deixou a cidade de Monte Santo no mês de maio com seus seis filhos, cinco deles envolvidos no processo de adoção.
Sobre o afastamento, Cappio afirmou que simboliza o início de uma "guerra" e avaliou que os desembargadores do TJ-BA foram conduzidos ao erro pela argumentação do MP-BA. "Não se afasta um magistrado dessa forma. Não vou deixar de me defender. As pessoas que estão por trás disso vão ter que responder civil e criminalmente. É absurso e inadimissível", disse, à época, o juiz.
 Cappio acredita que a decisão do TJ-BA foi baseada em provas forjadas do MP-BA, entre elas, versões deturpadas da discussão que travou com um promotor, que, segundo ele, é suspeito de envolvimento com o tráfico de pessoas. "Muito me desagrada essa postura solidária a todos os suspeitos. Foi uma discussão, evidentemente, sem ofendê-lo. Eu falei com muita veemência o que eu pensava. Eles distorceram todos esses fatos e apresentaram isso ao Pleno do Tribunal, que foi induzido ao erro. Faz parte do jogo. Eu confio na seriedade do TJ. É algo absolutamente contornável com muito equilíbrio e confiança. Até já esperava que isso pudesse acontecer, eu estou lidando com uma quadrilha, uma organização criminosa", afirmou.
 
Tráfico de pessoas

Para Cappio, Monte Santo e Euclides da Cunha, onde mora atualmente, fazem parte de uma rota de tráfico de pessoas, entre elas, de crianças. "Tenho certeza absoluta, não só eu, como autoridades federais, membros da CPI. Essas cidades estão no roteiro do tráfico de pessoas, de adoções irregulares, e o judiciário é usado para fins ilícitos. Estamos falando de vidas de crianças indefesas que estão sendo coisificadas, não são tratadas como sujeitos. É preciso acompanhar mais de perto. Bastou um juiz enfrentar com destemor esses agentes públicos para ser afastado cautelarmente, o que dá veracidade ao que eu acabo de afirmar. Isso é inadimissível", avaliou.
O presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Câmara dos Deputados que apura os casos de tráfico de pessoas no país, Arnaldo Jordy (PPS-PA), disse estar convicto que Monte Santo e Euclides da Cunha são rotas do crime. "Há uma rede criminosa de tráfico de crianças para fins de adoção ilegal. O que estamos ultimando é a extensão dessa rede e os personagens", diz, em entrevista ao G1.
O parlamentar afirma que há indícios de benevolência de membros do judiciário no processo. "A capa legal dessa rota do crime organizado conta com a cumplicidade da estrutura da organização judiciária da Bahia. Tem uma postura estranha envolvendo cartórios, fóruns, pessoas", comenta.  A atuação dos juizes na adoção irregular na Bahia é investigada pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ).