Aos 96 anos, Dona Cleo, xodó dos amantes da literatura, abre sua biblioteca, recita de cabeça poemas de Fernando Pessoa e dá uma lição de sensibilidade e energia
Aos 7 anos, Cleonice Berardinelli escreveu seu primeiro poema –
definido por ela como “minúsculo e ridículo, naturalmente, próprio de 7
aninhos de idade”. Hoje, aos 96, é uma das professoras de literatura
mais reconhecidas e queridas do Brasil. Dona Cleo, como é carinhosamente
chamada, brinca ao dizer que é meio carioca, meio paulista e muito
portuguesa. Sua relação com Portugal não se restringe à paixão pela
literatura de lá – ela é especialista em Camões e Fernando Pessoa –, mas
pelos muitos amigos portugueses que ainda cultiva. Alguns, inclusive,
fizeram questão de prestigiá-la quando tomou posse na Academia
Brasileira de Letras, em 2010. Ela ocupa a cadeira de número 8.
Formada pela USP em 1938, é professora emérita da UFRJ e da PUC do Rio. Foi orientadora de 74 dissertações de mestrado e 42 teses de doutorado. É unânime. Zuenir Ventura, seu ex-aluno, a apelidou de “divina Cleo”. E de Carlos Drummond de Andrade ganhou poema, cujos versos dizem: “Até Fernando Pessoa, com respeitoso carinho/ trago pois, minha oferenda/ de bem humilde vizinho/ nesta ensancha prazenteira/ a justiça que me impede/ à genuína fazendeira/ Cleonice Berardinelli.”
Formada pela USP em 1938, é professora emérita da UFRJ e da PUC do Rio. Foi orientadora de 74 dissertações de mestrado e 42 teses de doutorado. É unânime. Zuenir Ventura, seu ex-aluno, a apelidou de “divina Cleo”. E de Carlos Drummond de Andrade ganhou poema, cujos versos dizem: “Até Fernando Pessoa, com respeitoso carinho/ trago pois, minha oferenda/ de bem humilde vizinho/ nesta ensancha prazenteira/ a justiça que me impede/ à genuína fazendeira/ Cleonice Berardinelli.”
Recentemente, atraiu olhares de todo o Brasil ao dividir uma mesa, na
Flip, com sua mais nova fã, Maria Bethânia. Durante uma hora e meia,
leram poemas de Pessoa selecionados por Dona Cleo. A simpatia do público
pelo carisma da professora foi imediata. O carinho foi retribuído nos
autógrafos de seu novo livro, Antologia Poética, na mesma noite. “Fiquei
exausta, mas virei notável, foi um sucesso”.
A professora recebeu a coluna, em seu apartamento, em Copacabana, na
zona sul do Rio, antes da vinda do papa Francisco ao Brasil. Católica,
ela se disse contente. “Ele é de uma falta de atavios, uma simplicidade
impressionante. E escolheu o nome de Francisco. Amo a oração de
Francisco”, diz.
No seu escritório, montou uma biblioteca – batizada de “Galeria
Camões”. Os livros, diz, deixará para a Academia Brasileira de Letras,
para que sejam bem cuidados. Além deles e das inúmeras fotografias dos
netos e bisnetos espalhadas pela biblioteca, Dona Cleo coleciona uma
séria de prêmios e honrarias, acumulados ao longo de sua carreira: “Das
profissões, professora é a que dá mais gratificação amorosa. Tenho mais
de mil ex-alunos”.
Ela impressiona pela memória. Não esquece um verso de qualquer poeta,
recitando tudo de cor. A boa saúde, explica, tem dois grandes motivos: a
família e a religiosidade: “Tenho conversas particulares com o pai do
céu. Enquanto eu estiver vivendo como estou… eu gosto de viver”