sábado, 13 de julho de 2013

Capitalismo: êxito ou fracasso?

Mailson da Nobrega

O capitalismo é a forma natural e mais bem sucedida de organização econômica desde a Antiguidade. Inexiste substituto melhor. Frei Betto, porém não pensa assim. Ele duvida do êxito do capitalismo. Em entrevista à Rádio CBN (15/06/2013), disse: “Enquanto o Evangelho prega a solidariedade, o capitalismo prega a competitividade ” (ele quis dizer competição, concorrência). Enquanto nós cristãos pregamos que o ser humano tem de estar acima de tudo, com seus direitos preservados, ele prega que a prioridade reside no capital” (não há prova dessa afirmação). Sua conclusão: “O capitalismo é bom apenas para um terço da humanidade. Todo mundo fala no fracasso do socialismo. Engraçado, ninguém fala do fracasso do capitalismo para dois terços da humanidade”.
     Segundo Max Weber (1864-1920), o capitalismo sempre existiu nos países civilizados. Havia empresas capitalistas “na China, na Índia, na Babilônia, no Egito, na antiguidade Mediterrânea e na Idade Média, tanto como na Idade Moderna”. Imagino que os vendilhões que Cristo expulsou no Templo (Mateus 21:12) praticavam um capitalismo primitivo.
      O capitalismo moderno surgiu na Europa entre os séculos XVIII e XIX. Derivou de longa obra institucional, da qual se destacam dois eventos na Inglaterra: a Carta magna (1215) e a Revolução Gloriosa (1688), que eliminaram o absolutismo. A supremacia do poder foi transferido para o Parlamento. O rei perdeu a prerrogativa de demitir juízes e de gastar a seu bel-prazer. O Judiciário independente passou a garantir direitos de propriedade e respeito a contratos. A ordem capitalista começou a emergir da segurança jurídica. Nasceu a liberdade de imprensa. Com a lei de patentes (1624), a propriedade, antes restrita aos bens físicos (finitos), se estendeu às inovações (infinitas). Graças à criação do Banco da Inglaterra (1694), a taxa de juros caiu, e surgiu um amplo mercado de crédito para empresas. A inovação e o empreendedorismo explodiram, desaguando na Revolução Industrial.
     Adam Smith (1723-1790) realçou o papel do mercado na prosperidade. Sua obra A Riqueza das nações (1776) é um portento filosófico que realça as liberdades individuais e destaca a divisão do mercado, a concorrência e a produtividade como motores da expansão econômica e da geração de riqueza. Depois, a pesquisa e o ensino ampliaram o conhecimento sobre o funcionamento da economia. Os governos aprenderam a construir instituições que lidam com os excessos do capitalismo e asseguram a melhor distribuição da riqueza gerada pelo mercado. Na época de Smith, 90% dos europeus ocidentais eram pobres. Atualmente, apenas 10%. Foi a maior revolução social da história até então. A partir de 1978, com o primeiro-ministro Deng Xiaoping (1904-1997), a China protagonizou outra revolução, mais rápida. Quando as reformas de Deng reinstituiram o capitalismo, a renda per capita era um terço da prevalecente na África subsaariana. Em três décadas, a China passaria a país de renda média, retirando da pobreza ais de meio bilhão de pessoas.
     O capitalismo é um gigantesco processo de coordenação de expectativas e de cooperação entre indivíduos, empresas e governo. Não depende de um comando central como no socialismo. Ao contrário deste, incentiva a criatividade, a inovação, o avanço tecnológico e, em última instância, a criação de riqueza.
      O capitalismo não é perfeito. Crises financeiras e de outra natureza provocam recessões que prejudicam a economia e o bem-estar. Sua vantagem é aprender com elas, renovar-se, e promover mudanças que previnem a repetição de erros e suscitam a recuperação. No socialismo  não há tais crises, mas o regime fracassou. A União Soviética morreu. As crises do capitalismo tampouco ocorrem em Cuba e na Coreia do Norte, os sobreviventes, pois não tem sistema financeiro. Lá, o socialismo legou uma economia decadente e igualitária na pobreza.
     Hoje, a pobreza se concentra nos países que não construíram as instituições propícias ao florescimento do capitalismo. Eles constituem a maior parte dos dois terços citados por Frei Betto. Se um dia se transformarem, o capitalismo também lhes trará o êxito. O fracasso ficará para trás.