Homem corajoso, o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo.
É contra tapar a boca da imprensa. Diz coisas razoáveis sobre a
economia. Reconhece problemas no governo. E, hoje, coroando uma
trajetória de sensatez e razoabilidade raríssima entre altas autoridades
do governo lulopetista, disse que “não é novidade” o caso de suposta
espionagem da Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos (NSA) em
relação a interesses do Brasil.
Paulo Bernardo, a continuar assim, acabará sendo demitido — por ser sensato demais.
Sua declaração não significa, obviamente — acentuou o ministro — que o
governo concorde com espionagem sobre interesses brasileiros, tanto e
que ele próprio anunciou medidas, hoje.
“Notícias a respeito de monitoramento a dados e e-mails acontecem há
muito tempo em comunicações alternativas ou mesmo em grandes veículos da
mídia internacional. Portanto, acho que todos nós sabemos que não há
exatamente uma novidade a respeito disso”, afirmou Bernardo, que
participou de audiência pública
na Comissão de Relações Exteriores do Senado. “Se alguém disser que
ficou surpreso com essa história, com certeza estava bem alheio ao
assunto”.
Leia ampla reportagem sobre as declarações do ministro no site de VEJA.
Já escrevi
e repito que, como cidadão brasileiro, não gosto nem um pouco que o
Brasil, seu governo, seus partidos políticos, suas empresas e/ou seus
cidadãos sejam espionados pela NSA. E é correto que o governo brasileiro
peça explicações a Washington e tome outras medidas, como as anunciadas
hoje por Paulo Bernardo.
Agora, pergunto: vocês acham que só a NSA espiona o Brasil?
Vocês acham que, sendo o Brasil um grande país emergente — apesar do
desgoverno e da incompetência gerencial que nos aflige –, tendo a
importância estratégica que tem, sendo uma das dez maiores economias do
planeta, ostentando uma das cinco maiores populações do mundo, não é
espionado, por diferentes formas (eventualmente por espiões propriamente
ditos), por governos como os dos Estados Unidos, da Rússia e da China,
ou mesmo de governos párias como o Irã dos aiatolás atômicos? Ou, de
alguma forma, por países da União Europeia, como o Reino Unido, a França
ou a Alemanha?
O Brasil possui colossais riquezas naturais, ainda não totalmente mapeada por nós.
O Brasil dispõe da maior reserva do planeta em vários minérios, inclusive estratégicos, como o nióbio.
O Brasil é detentor da maior reserva de biodiversidade do planeta, e não apenas (mas principalmente) na Região Amazônica.
Nosso país tem uma indústria de primeira, que perde em
competitividade no mercado mundial não por falta de avanço tecnológico
ou deficiência de mão de obra, mas em razão alto custo Brasil — carga
tributária enorme, mal distribuída e com excesso de normas, falta de
infraestrutura ferroviária, portuária, aeroviária e outras, Estado
pesadão, caro, burocrático e que só atrapalha.
O Brasil tem uma agroindústria que, em diferentes culturas, é de ponta, superando mesmo a de países como os Estados Unidos.
O Brasil tem centros de excelência admiráveis em diferentes terrenos —
como apenas alguns exemplos, empresas, públicas ou privadas, como a
Embraer, a Embrapa (alta e diversificada tecnologia agrícola), a rede
bancária com eficiência superior à dos EUA e da maior parte da Europa, o
CPqD (ex-Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Telebrás, hoje uma
fundação que desenvolve alta tecnologia no campo das comunicações), o
know-how da Petrobras em pesquisar petróleo em águas profundas,
institutos de pesquisas médicas, entidades como a Fundação Oswaldo Cruz
(do Rio) e os Instituto Butantã e Biológico (de São Paulo), os
conhecimentos na área de produtividade de soja, de aprimoramento
genético do gado e de tecnologia de alimentos, sem excluir a área
militar, com, por exemplo, o Centro de Instrução de Guerra na Selva
(Sigs) do Exército, considerado o melhor do mundo em seu gênero etc etc.
O Brasil abriga uma sociedade inquieta, desigual e pulsante, cujos
rumos políticos e sociais ninguém pode dizer que sabe quais serão.
O Brasil, entre outras regiões potencialmente explosivas — como lembrou meu amigo Caio Blinder,
com a pertinência de sempre –, integra a Tríplice Fronteira, onde os
Estados Unidos há tempos desconfiam de que há gente trabalhando para a
rede terrorista Al Qaeda e para outros grupos terroristas que atuam no
Oriente Médio, como o Hamas, na Faixa de Gaza, e o Hezbollah, no Líbano.
Obter informações sobre tudo isso vale ouro puro. Tudo isso pode ser
(e provavelmente, é) alvo de algum tipo de espionagem —
científica, tecnológica, comercial, industrial, econômica,
sócio-política. É produto de ingenuidade imaginar que não.
O ministro Paulo Bernardo tem absoluta razão.
E precisa tomar cuidado: ser sensato, “neztepaiz” e sobretudo neste governo, é perigoso. Ele pode acabar indo para o olho da rua