sexta-feira, 29 de março de 2013

Após prejuízo recorde, Eletrobras está perto de virar uma Petrobras

Com planos de um dia se tornar uma Petrobras, como queria a então ministra Dilma Rousseff, a Eletrobras tem no maior prejuízo da sua história, e da história do país, a chance de chegar mais perto desse objetivo.


Assim como a estatal do petróleo fez no plano de negócios, a holding do setor elétrico trouxe o seu balanço para a realidade das novas regras do setor de energia elétrica, sofrendo um baque negativo de R$ 10 bilhões na reavaliação dos ativos.
E, assim como a estatal do petróleo, a transparência em reconhecer as perdas no resultado do ano passado agradou ao mercado, que ontem deu um voto de confiança ao plano de investimentos de R$ 52 bilhões com a alta expressiva das ações.
O plano tem como base o aumento de receita com novos projetos, possíveis privatizações das distribuidoras de energia deficitárias e um plano de demissões voluntárias, que já estava na gaveta havia pelo menos um ano. Uma cesta de boas notícias para uma empresa apelidada pejorativamente de "elefante".
Criticada pela vocação para nomeações políticas e nem sempre alinhadas com a eficiência, a Eletrobras mudou seis vezes de presidente durante os governos Lula e Dilma, lançando a cada novo titular esperanças de mudanças nunca concretizadas. Uma delas, a internacionalização da empresa, apesar de aprovada no Congresso, caminha lentamente.
Assim como a Petrobras sofre com os preços defasados da gasolina em relação ao mercado internacional, a Eletrobras teve a sua geração de caixa comprometida pela redução das tarifas elétricas.
E teve que assumir as superobras estruturantes do setor elétrico, da mesma forma como a Petrobras precisa impulsionar a indústria nacional de fornecedores.
Sem a presença da estatal nos consórcios, nenhuma privada entraria em projetos como as hidrelétricas do rio Madeira ou Belo Monte.
Agora, obrigada a ser mais enxuta, talvez a empresa perca o apelido pejorativo de "elefante" no mercado. E, assim como está acontecendo com as ações da Petrobras, talvez passe a fazer parte da carteira de acionistas de longo prazo, que vão apostar no aumento da receita que os novos projetos devem proporcionar. Assim como acontece com o pré-sal.

Alex Argozino/Editoria de Arte/Folhapress
Eletrobras
Eletrobras

quinta-feira, 28 de março de 2013

Imprensa golpista?


A respeito desse assunto fazemos a seguinte pergunta: quais os nomes da “meia dúzia de famílias poderosas” que, segundo o presidente do PT, deputado Rui Falcão, decidem “o que o nosso povo pode ler, ouvir e assistir”? Daria para o deputado, por cortesia, informar de onde ele tirou este número, “meia dúzia”, num país que tem no momento quase 10 000 estações de rádio, mais de 500 emissoras de televisão, cerca de 5 500 revistas e 2 700 jornais? Estaria ele reprovando o fato de que há veículos com audiência e circulação muito maiores que os demais, porque o público, por sua livre e espontânea vontade, prefere ver, ouvir e ler mais uns do que outros? Que culpa têm os veículos que fazem mais sucesso, ou que ilegalidades cometem por serem os preferidos pela maioria do público?

Lula para a Academia Brasileira de Letras, pela obra de ficção, e também para a Academia Brasileira de Ciências

Xiii…

Agora o bicho vai pegar. Ou o PT mobiliza os seus simpatizantes para promover um quebra-quebra na Academia Brasileira de Letras, ou é grande a chance de FHC, candidato à cadeira nº 36, ser eleito. Essa cadeira diz alguma coisa de mais perto a este escriba. João de Scantimburgo, que morreu na sexta-feira, era de Dois Córregos. Onde fica? Procurem ali pelo centro do estado de São Paulo — todo o resto é periferia, não sei se me fiz entender, hehe.
E agora? FHC vai ter uma honraria que Lula não pode ambicionar… Em tese ao menos. Se a Academia busca distinguir a produção intelectual, literária ou não, poucos são tão merecedores da láurea como FHC, não é?, goste-se ou não do seu pensamento. A sua carreira política acabou deitando uma sombra na obra do intelectual.
Todo mundo que está lá ou que passou por lá merecia a distinção? Vamos ser francos: nem todos honraram ou honram Machado de Assis. Se a academia, no entanto, só distinguir os bons, acabará sendo um bom lugar.
Alguém conte a Lula, por favor, que é a obra de FHC que o autoriza a sentar lá, não a condição de ex-presidente. Como Sarney também é acadêmico, o Apedeuta pode começar a ter ideias.
Leiam o que vai na VEJA.com. Volto em seguida.
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso é candidato a ocupar a cadeira de número 36 da Academia Brasileira de Letras, que ficou vaga em virtude da morte do jornalista João de Scantimburgo, na última sexta-feira. A formalização da candidatura foi feita na tarde desta quarta-feira, após a sessão da saudade em homenagem a Scantimburgo, que se encerrou por volta das 17 horas.
O acadêmico Celso Lafer levou de São Paulo a carta formalizando a candidatura de FHC. O secretário geral da academia, Geraldo Holanda Cavalcanti, no exercício da presidência da ABL, determinou à secretaria que considere oficialmente inscrito ex-presidente.
Conforme adiantou a coluna Radar on-line, de Lauro Jardim, a candidatura de FHC partiu de um convite feito por José Sarney, que levou o assuntos para análise dos demais acadêmicos. O ex-presidente já teria garantidos os votos de Eduardo Portellaos, Celso Lafer, Paulo Coelho, Merval Pereira, Geraldo Hollanda Cavalcanti, Antônio Carlos Secchin, Sergio Paulo Rouanet, Alberto da Costa e Silva, Sábato Magaldi, Hélio Jaguaribe, Marcos Villaça e José Murillo de Carvalho.
Voltei
Se bem que estou cá a pensar. Se é a obra do sociólogo FHC que o habilita a uma cadeira na Academia Brasileira de Letras, não merecerá também Lula a distinção por sua obra de ficção? Nunca antes na história destepaiz alguém inventou tantas histórias, não é mesmo? E imaginação não falta. Por esta intervenção (ver vídeos), ele deveria integrar também a Academia Brasileira de Ciências.

Reinaldo Azevedo

terça-feira, 26 de março de 2013

As virtudes dos nossos vícios

João Pereira Coutinho

Assisti finalmente a "Lincoln". Gostei das discussões sobre a escravatura. No século 19, havia quem defendesse a emancipação dos escravos. E havia quem considerasse a afirmação aberrante, para não dizer blasfema. Um negro igual a um branco? Onde é que o mundo iria parar? Moral da história: pense duas vezes, leitor, antes de fuzilar opiniões politicamente incorretas. No século 19, os antiescravagistas eram os politicamente incorretos de serviço, dizendo o que o maioria não queria escutar.
Aliás, essa é a virtude de opiniões que remam contra a maré dominante. Quando se discute a "liberdade de expressão", repete-se muitas vezes o clichê conhecido (e circular) de que a liberdade é importante, e blá-blá-blá.
Certo. Mas esse não é o argumento fundamental. Fundamental mesmo é lembrar que, sem liberdade de expressão, não existe possibilidade de progresso moral na sociedade. Sem opiniões politicamente incorretas, os negros teriam demorado mais tempo a sair das senzalas.
Um livro recente ajuda a entender isso. Foi escrito pelo filósofo Emrys Westacott e só o título é todo um programa: "The Virtues of Our Vices: A Modest Defense of Gossip, Rudeness and Other Bad Habits" ("as virtudes dos nossos vícios: uma modesta defesa da fofoca, da rudeza e de outros maus hábitos").
O livro de Westacott, que o autor apresenta como um tratado em "microética", não compra a hipocrisia vitoriana de que os vícios privados devem ser substituídos por virtudes públicas. Pelo contrário: os vícios privados já são virtudes públicas.
Em teoria, a rudeza pode ser um vício. Mas há momentos em que a violação de convenções sociais, causando propositadamente dano a terceiros, é necessária.
Não duvido que, para as grandes plantações do sul, perder mão de obra escrava nos Estados Unidos fosse um dano "patrimonial" objetivo. Mas a emancipação dos escravos era mais importante do que a alegada sobrevivência econômica do sul.
O mesmo com o esnobismo. Para a sensibilidade politicamente correta, o elitismo associado à palavra --a ideia intolerável de que você se considera melhor que seu vizinho em matéria de gostos e desgostos-- pode ser uma falha de caráter.
Mas sem esse elitismo não haveria progresso na cultura e nas artes. Mais: não haveria sequer progresso na apreciação crítica da cultura e das artes.
Dizer que Guimarães Rosa é melhor que Daniel Galera não é esnobismo. É uma posição racionalmente válida que procura separar a qualidade do lixo. É, no fundo, uma forma de você preservar o seu julgamento crítico quando o mundo em volta conspira para o "relativizar" e o silenciar.
Quando um turista visita o Louvre ou a National Gallery, ele não visita apenas museus. Ele recebe como herança o resultado do elitismo de terceiros: dos que produziram obras na busca da excelência; e dos que souberam selecionar e preservar essa excelência.
E que dizer do humor? Sobretudo do humor doentio, que usa estereótipos capazes de ofender grupos ou minorias?
Responder a essas perguntas só é possível com outras perguntas: você preferiria viver num mundo onde só existisse uma única "melodia moral"?
Ou o humor, e mesmo o humor doentio, tem uma função importante ao testar as suas convicções, ao torná-las mais fortes (ou menos fortes) --e a definir a sua identidade?
Sim, é possível imaginar uma cultura onde ninguém expressa preconceitos, fraquezas, insultos. Basta imaginar as culturas tribais do passado, dominadas por tabus, e onde qualquer dissonância era sacrificada para apaziguar a fúria dos deuses.
Sem humor, e sobretudo sem humor subversivo, a vida sob regimes autoritários seria ainda mais insuportável. Sem humor, e sobretudo sem humor transgressivo, as nossas existências, marcadas pela doença e pela morte, seriam travessias ainda mais desérticas.
Aplaudir Emrys Westacott não é uma apologia da brutalidade pela brutalidade. É reconhecer que a brutalidade pode transportar um bem maior: repensar conceitos e preconceitos na busca interminável da verdade. Mesmo que alguns sejam condenados à cicuta por causa disso.
Caro leitor, você pode não gostar de ouvir certas coisas. Mas é importante para a sua sociedade que você continue a ouvir o que não gosta.

quinta-feira, 21 de março de 2013

TEXTO ATUALIZADO: O freguês precisa urgentemente ficar bem no retrato? A solução està à venda na banca de pesquisas do Feirão da Bandidagem



A gerência do Brasil Maravilha autoriza, subsidia, estimula e financia a compra e venda de produtos cuja comercialização, em países sérios, dá cadeia. Nas bancas do Feirão da Bandidagem, por exemplo, estão à disposição da freguesia:



deputados federais ou estaduais
resultados de jogos de futebol
vereadores
contratos para execução de obras públicas
licitações do PAC
senadores
guardas da esquina
empregos no primeiro escalão
empregos no segundo escalão
sindicalistas
dirigentes estudantis
seitas religiosas
ONGs
biografias
sigilos fiscais, telefônicos e bancários
dossiês
consultores públicos para negócios privados
governadores de Estado
partidos políticos
carteiras de habilitação
policiais rodoviários
guardas de trânsito
alvarás
delegados de polícia
habeas corpus
policiais militares
eleições proporcionais
eleições majoritárias
exames vestibulares
concursos públicos
fiscais do município, do Estado ou da União
jornalistas
manchetes de jornais
blogueiros
juízes de Direito
juízes de futebol
promotores de Justiça
lugares em filas
estacionamento na rua
multas a perdoar
bilhetes premiados
liberação de construções ilegais
inspeções veiculares
loterias
cargos comissionados
noticiários de rádio
telejornais
programas de entretenimento
transplantes de órgãos
diplomas de doutor honoris causa
cursos de doutorado
questões do Enem
ministros de Estado
audiências em Brasília
pareceres de agências reguladoras
desfiles de escolas de samba
licenças ambientais
vagas em comitivas presidenciais
ex-presidentes da República
concursos de miss
e, fora o resto, pesquisas de popularidade. Custam um pouco mais quando as coisas vão mal, e o preço fica especialmente salgado se o freguês parece tão perdido quanto plural em discurso de Lula. Mas vale a pena. Funciona muito mais que foto ao lado do Papa.

segunda-feira, 18 de março de 2013

‘Que elites, que esquerda?’, um artigo de João Ubaldo Ribeiro


PUBLICADO NO ESTADÃO DESTE DOMINGO

JOÃO UBALDO RIBEIRO

A cada instante e cada vez mais, somos alvejados por milhares de informações de todos os tipos, muitas delas procurando, como consequência final, alterar nosso comportamento, seja para pormos fé nas lorotas pseudoestatísticas e conceituais que nos pregam os fabricantes de remédios, pastas de dentes e produtos de farmácia em geral, seja para acreditarmos que determinado partido político, ao pedir com fervor nossa adesão, realmente tem alguma identidade que não seja a que lhes emprestam seus tão frequentemente volúveis caciques. Aparentemente, nossos cérebros se defendem de ser entulhados com essa tralha e grande parte dela é esquecida.
Mas em algum lugar da mente ela permanece e afeta talvez até nossa maneira de ver o mundo. Se prestarmos atenção aos comerciais de tevê e fizermos um esforçozinho de abstração, veremos que temos plena ciência de que quase todos eles, ou mesmo todos, se apoiam em pelo menos uma mentira ou distorção. O xampu não produz cabelos como aqueles, a empresa não dá o atendimento ao cliente que apregoa, o plano de saúde falha na hora da necessidade, a velocidade da banda larga não chega nem à metade do que contrata, o sistema de saúde que descrevem como o nosso parece gozação com o pessoal que estrebucha em macas no hospital, o banco professa carinho e oferece gravações telefônicas diabólicas, o lançamento imobiliário mente sobre as vantagens do bairro e a segurança da construtora, a moça não é bonita como aparece, o sinal da operadora não é confiável, a prestação sem juros é enganação, a garantia do carro não vale nada para a concessionária. Tudo, praticamente, é mentira e sabemos disso. Mas, mistérios desta vida, agimos como se não soubéssemos, numa postura acrítica e já meio abestalhada.
Em relação à política, talvez nossa situação possa ser até descrita em termos mais drásticos. As afirmações mais estapafúrdias são divulgadas e ninguém se preocupa em examiná-las. Não me refiro a chutes que prostituem a estatística e fazem dela, como já se disse, a arte de mentir com precisão. Os números nos intimidam desde a escola primária e qualquer embusteiro se aproveita disso para declarar que 8.36% (quanto mais decimais, melhor) de alguma coisa são isso ou aquilo e ver esta assertiva ser recebida reverentemente, como se não fosse possível desconfiar de tudo, da coleta dos dados, às categorias empregadas e os cálculos feitos. Média, então, é uma festa e eu sempre penso em convidar o dr. Bill Gates para morar em Itaparica e me transformar em nativo do município de maior renda média do Brasil, cuíca do mundo.
Não, não me refiro a números, mas a alegações estranhas. Por exemplo, esse negócio de o governo ser de esquerda. Só se querem dizer que a maior parte do nosso cada vez mais populoso bando ministerial é constituído de canhotos. O presidente Lula, que não quis ser presidente emérito e prefere continuar sendo presidente perpétuo mesmo, já disse ─ e creio que com sinceridade ─ que não é, nem nunca foi, de esquerda e que não usa mais nem a palavra “burguesia”. E que é que o governo fez que caracterize uma posição de esquerda? Apoiar Chávez com beijos e abraços, ao tempo em que respalda os bilhões de dólares de negócios brasileiros na Venezuela? Manter boas relações com Cuba, o que não quer dizer nada em matéria de objetivo político? Ser da antiga turma que combatia o governo, no regime militar? E já perguntei aqui, mas pergunto de novo: o PMDB é de esquerda? Quem é esquerda, nesse balaio todo? Furtar, desviar, subornar, corromper são de esquerda? Zelar por valores éticos e morais é de direita?
É gritaria da direita reclamar (e pouca gente reclama) do descalabro inacreditável em que se tornaram as trombeteadas obras do rio São Francisco, hoje uma vasta extensão de ruínas e destroços, tudo abandonado ao deus-dará, em pior estado do que cidades bombardeadas na Segunda Guerra? Ou o que está acontecendo com a Petrobras, que, da segunda posição entre as petrolíferas, despencou para a oitava e pode despencar mais, acrescida a circunstância de que ninguém explica direito qual é mesmo a situação do hoje já não tão radioso pré-sal? E combater a miséria nunca foi de esquerda ou direita. Ter altos índices de popularidade tampouco.
Também se diz que as elites dominantes querem derrubar o governo. Que elites dominantes? A elite política, que se saiba, é a que exerce o poder político. O Poder Executivo é exercido pelo governo que está aí e que, presumivelmente, não atua contra si mesmo. O Poder Legislativo está sob o controle da base do governo. E o Judiciário, por mais que isso seja desagradável aos outros governantes, não pode associar-se à ação política no sentido estrito. Já as elites econômicas não parecem empenhadas em subverter uma situação em que os bancos têm lucros nunca vistos, conforme o próprio presidente perpétuo já frisou, e as empreiteiras estão muito felizes e, convocadas pela presidente adjunta, prometeram fazer novos investimentos. Qual é a elite conservadora que está descontente e faz oposição ao governo? É justamente o contrário.
Finalmente, temos a imprensa golpista. Que imprensa golpista? Que editorial ou comentário pediu golpe? Comportamento golpista é o de quem acusa o Judiciário de ser agente de armações politiqueiras, quem chega a esboçar desobediência a ordens judiciais, quem se diz vítima de linchamento, quando foi condenado em processo legítimo e incontestável. A imprensa sempre se manifesta contra o desrespeito à Constituição e a desmoralização das instituições democráticas e tem denunciado um rosário sem fim de ações lesivas ao interesse público. Golpista é quem busca silenciá-la ou controlá-la, não importa que explicações se fabriquem e que eufemismos inventem.

sexta-feira, 15 de março de 2013

A imprensa e a democracia. Ou: Sou um extremista

A cobertura que a imprensa ocidental fez da morte de Hugo Chávez, a nossa também — e vocês conhecem as exceções —, foi asquerosa. Mais uma vez se voltou àquela fraude moral e intelectual que consiste em opor como termos ou permutáveis ou mutuamente compensáveis a ditadura e a melhoria das condições de vida da população. Assim, não estava claro se alguns coleguinhas consideravam que “Chávez era um ditador, mas melhorou a vida dos mais pobres” ou se “Chávez melhorou a vida dos mais pobres, mas era um ditador”. O sujeito que diz a primeira frase é só um admirador ainda envergonhado de ditaduras. Um dia perde a vergonha e solta a louca chavista que existe em seu interior. O segundo é só um crítico envergonhado de ditaduras. Teme que a patrulha de vagabundos o tome por reacionário, então fica com essas adversativas compensatórias, com receio de dizer claramente que ditadura, como método de governo, é injustificável e ponto final.
O primeiro tipo é, sem dúvida, mais asqueroso, de convivência impossível, com quem não se pode partilhar nem mesmo um café. O segundo já passa por boa-praça; é, na verdade, até bem-intencionado. Mas é também inútil para a causa democrática. Tenho, em verdade, mais desprezo intelectual pelo segundo do que pelo primeiro. Aquele que, sabendo mais e tendo mais clareza do processo, condescende com regimes de força e acaba se esforçando para buscar neles alguma virtude é pior do que o idiota que nem sabe direito o nome do que defende.
É por isso que, entre certos bananas e oportunistas, este escriba ficou com a fama ou de “exagerado” ou de “radical demais”. Radical em quê? Na defesa da democracia, na defesa da pluralidade, na disposição de chamar ditadura de “ditadura”, mesmo quando vem com o embrulho da consulta democrática? A grande desgraça, a grande porcaria, também no nosso jornalismo, é que ele está de tal sorte contaminado pelo pensamento politicamente correto que alguns tontos nem se dão mais conta do que escrevem. Já volto à Venezuela. Antes, algumas outras considerações.
Vimos a imprensa brasileira espalhar, por exemplo, a calúnia asquerosa do jornalista Horacio Verbitsky, um palhaço do kirchnerismo, contra o papa Francisco. Ele não tem nenhuma evidência, prova ou indício de que o agora Sumo Pontífice colaborou com a repressão. Há não mais do que a impressão e o achismo de um jesuíta então preso. Ao contrário: o que está devidamente evidenciado é que o Jorge Bergoglio atuou para tentar libertar alguns encarcerados. E isso ensejava contatos com a cúpula militar — o mesmo aconteceu no Brasil. Muito bem! A esmagadora maioria dos veículos que tratou do assunto omitiu o fato — NOTEM: É FATO, NÃO BOATO — de que Verbitsky foi um terrorista montonero. Um pouco de honestidade intelectual lhe resta: admite o fato — até porque não teria como negá-lo. Foi apresentado como “próximo” da Cristina Kirchner, a Louca da Casa Rosada. Errado! É um propagandista do governo, do regime. Mais do que isso: é um assessor informal da presidente que persegue abertamente a imprensa.
Mas quê… O suposto passado colaboracionista do agora papa é exposto, ainda que a informação seja atribuída a Verbitsky, mas sobre o passado do próprio jornalista, nada! Que critério é esse? Então a vida pregressa do terrorista e o presente do áulico têm de ser escondidos dos leitores, dos internautas?  O que aconteceu com os editores de alguns grandes veículos? Passam o dia tomando café, pensando na morte da bezerra, administrando borderôs? Estou cobrando apenas apreço aos fatos. Por que é assim? Só pode ser porque, no fim das contas, se considera que ser montonero era estar “do lado certo da batalha”. A explicação alternativa é a burrice pura e simples. Mas, como sempre se é burro de um lado só, considero que é método demais para tão pouca inteligência. A burrice metódica vira uma escolha ideológica — além de ser uma sabotagem aos interesses do leitor, do telespectador, do ouvinte, do internauta.
O mesmo se dá com a cobertura, que já ultrapassou o limite da baixaria, da pressão contra o deputado Marco Feliciano (PSC-SP). Duvido que alguém faça a ele mais restrições de natureza intelectual, política e até bíblicas do que eu. Não penso o que ele pensa. Não comungo de suas ideias. Mas é uma barbaridade, um acinte ao bom senso, uma ofensa aos fatos, afirmar que ele foi racista ou homofóbico em suas declarações. A acuação de racismo consegue ser a mais exótica. E se ele tivesse certado na referência bíblica e se referido aos cananeus, descendentes de Canaã, amaldiçoado por Noé? Quem deveria estar acusando o pastor de “racista”? Santo Deus! A mãe deste senhor é negra. Ele próprio é negro segundo os critérios dos racialistas. Seria contemplado pela lei das cotas que esses ditos “progressistas” defendem.
Lamento! A cobertura de certa imprensa lembra uma matilha hidrófoba. Do que é mesmo que acusam o deputado? De intolerante? Por isso não o deixam falar? De agressivo? Por isso não aceitam seu pedido de desculpas? De resto, se a Comissão existe apenas para homologar as reivindicações dos grupos militantes, que seja dada, então, por extinta e as matérias aprovadas sem exame. Esse tipo de procedimento emburrece gerações. Não são poucos os veículos de comunicação que estão abrindo mão, de forma clara e lastimável, da pluralidade e até do direito de defesa. EU SEMPRE SOU MUITO CLARO E MUITO DURO COM O PENSAMENTO QUE REPUDIO. MAS JAMAIS ATRIBUO, MESMO À PESSOA MAIS DETESTÁVEL, O QUE ELA NÃO FEZ OU DISSE. SE DETESTÁVEL MESMO, CERTAMENTE ENCONTRAREI RAZÕES PARA CONTESTÁ-LA POR AQUILO QUE FEZ E DISSE. “Ah, é que você pega leve com os evangélicos.” Pego? Perguntem a Edir Macedo.
Não é assim, não! Há uma perda quase generalizada de referências. Este blog existe porque a Internet está aí. Mas a imprensa não pode ser mera caudatária desse processo, até porque, há muito tempo, também as redes sociais não são livres. Estão sendo monitoradas por grupos organizados, por difamadores profissionais, por militantes a soldo.  O que entendemos por democracia? É a força de quem grita mais? Ninguém precisa testar a sua tolerância com pessoas com as quais concorda, não é mesmo?
Quais são, no fim das contas, os valores que orientam esse jornalismo?
Volto à Venezuela
Sempre fico muito irritado quando leio um tonto ou outro a afirmar que, afinal, a Venezuela não pode ser considerada uma ditadura porque há oposição, porque funciona um Parlamento, porque há eleições… Bem, então não houve ditadura militar no Brasil. Simples assim. Não houve???
Nicolás Maduro, ex-motorista de ônibus, resolveu voltar a seu passado de “trabalhador”. Afinal, o marqueteiro de Lula e Dilma, João Santana, está lá e é seu orientador. Conduziu pessoalmente um grupo de eleitores para uma solenidade de entrega de 352 casas. Também estreou num programa de televisão. A oposição, evidentemente, não tem acesso à TV e não pode participar da entrega de prebendas. “Quase ditadura”? “Democracia diferente?” Não! A Venezuela é uma ditadura, e são, portanto, delinquências políticas estas duas frases:
“Chávez era um ditador, mas melhorou a vida dos mais pobres”;
“Chávez melhorou a vida dos mais pobres, mas era um ditador”.
Até porque essa melhoria consistiu na distribuição de alguns caraminguás do petróleo. Cobrou um preço por isso: o controle do Legislativo, o controle do Judiciário, o fim da imprensa livre — décadas serão necessárias para recuperar o país desse desastre. “E as elites antigas, que nunca distribuíram nem os caraminguás?”, poderá indagar alguém. Sua estupidez não justifica a miséria política a que o ditador conduzir o país.
Encerro assim
Em matéria de defesa da democracia, só um ponto de vista é moral: o extremista.
Por Reinaldo Azevedo

terça-feira, 12 de março de 2013

Um homem de confiança


A novela O Bem Amado, distribuído hoje em DVD e que quase a população inteira do Brasil conhece, fez muito sucesso devido a seus impagáveis personagens folclóricos; dentre eles o Dirceu Borboleta, o homem de confiança do prefeito Odorico Paraguassu. Dirceu é aquele puxa saco típico: ingênuo, medíocre, humilde, sempre pronto para qualquer tarefa que o prefeito lhe mandar executar. Ele não é daqueles que em passeatas e finais de discursos, coloca o prefeito no ombro para sentir o saco no cangote. Ele não tem força para tanto. Ele tem uma constituição frágil e é até um cara bom, o pobrezinho. Mas os puxa sacos de agora não são nada ingênuos, humildes e bonzinhos. São arrogantes, mandões e presunçosos.
Tomemos como exemplo o evento da posse do prefeito em seu segundo mandato. Tudo seguia o figurino normal nessas ocasiões, com discursos, abraços e elogios mútuos em profusão, quando aparece um Dirceu Borboleta da vida para fazer um panegírico exaltando as qualidades morais e administrativas do prefeito. Ninguém entendeu aquela puxação de saco  tão acintosa e explícita. Normalmente os baba ovos são mais discretos, mas aquele não, aquele não teve sequer um pingo de simancol e desandou a ler seu atestado de cara de pau irremediável. Foi constrangedor, para dizer o mínimo. Depois, quando da nomeação dos secretários municipais e sua atuação a partir daí é que se entendeu o propósito daquela patacoada.
Vejamos quem é esse Dirceu Borboleta versão século XXI.
Ao contrário da música de Roberto Carlos, esse cara é totalmente o contrário do romântico cantado pelo nosso Rei. Além disso, tem uma característica inconfundível que o torna o sujeito mais antipatizado de nossa cidade: a empáfia. Você olha para ele e vê um indivíduo com uma postura de quem se considera o bom da bocada; alguém com um formidável talento para alguma coisa que desconhecemos. Talvez para ator, e medíocre por sinal. Nada nele é autêntico, verdadeiro, tudo é postiço. Seu riso é um esgar que deixa transparecer uma alma profundamente imbuída de um sentimento de superioridade em relação aos comuns dos mortais. Até para falar no celular ele faz pose. E ai de quem for vítima de sua antipatia; não existe sujeito mais vingativo e perseguidor, principalmente com aqueles por quem se sente humilhado. Nada lhe traz mais rancor do que o sucesso alheio. 
Ele gostaria de escrever  bem mas a falta de intimidade com a língua portuguesa o impede de praticar a escrita. Seu maior sonho era ter um jornal: influente, bem diagramado, muito bem escrito. Mas a mediocridade e a falta de traquejo para o ramo são obstáculos invencíveis. Mas acima de tudo, de qualquer sonho ou desejo ele gostaria de ser rico, de ter posses, muitas posses. Além da falta de talento para outros ramos, há a de comandar a política alcançando postos de mando. Quem sabe eleger-se prefeito? Com aquela postura? É ruim, hein? Por isso a busca incessante por dinheiro, o sucedâneo do poder. 
Então um dia a sorte lhe sorriu: seu primo se elegeu vereador e foi eleito presidente da Câmara. Mas o que teria isso de bom para ele, posto que o irmão desse primo também fora eleito vereador? É que aquele nunca lhe deu oportunidade. E o novo presidente da Câmara nomeou-o seu homem de confiança, dando-lhe todas as prerrogativas pelas compras daquela casa legislativa. E ele passou então a executar seu plano de vingança contra seus desafetos que não eram poucos. E depois o primo foi eleito prefeito e se reelegeu. E ele lá, responsável pelo controle das compras. Não poderia haver melhor arranjo do que esse, ele que perseguira tanto o dinheiro fugidio. A prefeitura só compra de quem ele quiser. E isso nos provoca alguns pensamentos maledicentes. Mas houve uma mudança sutil; ele não é mais o Dirceu Borboleta, agora é papagaio de pirata. E o que vem a ser isso? É aquele sujeito que está sempre colado na alta autoridade para aparecer nas fotos. E sorrindo, aquele seu sorriso postiço que até aquele menino do nariz cagado nota logo. E quanto mais a conta bancária cresce, aumenta também a empáfia.
Quem sabe se algum dia um puxa saco qualquer, diante de tanta arrogância, não possa confundi-lo com uma autoridade e vá carrega-lo nos ombros? Para ele seria a suprema glória. Um puxa saco-mor  que ascendeu na carreira e agora é levado por outro nos ombros. Talvez ele até queira nomear um homem de sua confiança. Na duvide, na política os medíocres tem futuro brilhante.

A democracia deles – “Acossado”, último canal crítico ao chavismo será vendido; homem de maduro anuncia que a TV passará a ser “vermelho-vermelhinha”

“Estamos acossados”. Assim o presidente e acionista majoritário do canal privado venezuelano Globovisión, a única emissora do país que ainda mantém uma linha crítica ao governo “bolivariano” iniciado com Hugo Chávez, resumiu a situação da empresa nesta segunda-feira. Em carta aos funcionários, Guillermo Zuloaga declarou que está negociando a venda do canal, confirmando rumores dos últimos dias, embora tenha negado que o veículo já foi vendido. A razão da venda, segundo ele, é a “inviabilidade” da Globovisión diante da pressão chavista e do combalido mercado de anunciantes na Venezuela.

“Somos inviáveis economicamente, porque nossa receita já não cobre nossas necessidades de caixa. Somos inviáveis politicamente porque estamos em um país totalmente polarizado e do lado oposto a um governo todo-poderoso que quer nos ver fracassar. Somos inviáveis juridicamente porque temos uma concessão que termina (em dois anos), e não há intenção (do governo) de renová-la. Pelo contrário, estamos acossados pelas instituições do estado, apoiadas por um TSJ (Tribunal Superior de Justiça) cúmplice que as ajuda e colabora em tudo aquilo que possa nos prejudicar”, explica Zuloaga no comunicado.
A derrota da oposição nas eleições de outubro, quando a Globovisión apoiou Henrique Capriles, explicou Guillermo Zuloaga, pôs a emissora “em uma situação muito precária como canal e como empresa, somando-se a isso o acúmulo de processos judiciais movidos pelo governo”.
A carta aberta de Zuloaga – que vive exilado nos Estados Unidos – foi enviada depois que seu filho e vice-presidente do canal, Carlos Zuloaga, afirmou. em um breve transmissão. que havia “uma oferta de compra formal” e “uma intenção de venda”. A negociação, segundo o dono da Globovisón, estava pronta para ser fechada nesta semana, mas ele pediu que só fosse concretizada depois das eleições presidenciais de 14 de abril, convocadas após a morte de Hugo Chávez. O provável comprador é o empresário do setor financeiro Juan Domingo Cordero, ex-proprietário de uma corretora de ações fechada após a intervenção do governo chavista no mercado de capitais que, com autorização do governo, abriu recentemente uma seguradora – sinal de que possui a aprovação oficial.
Opinião pública
Especializada em notícias, a Globovisión só transmite com sinal aberto em Caracas e na cidade de Valencia, a oeste da capital, mas chega ao resto do país como TV por assinatura e pela internet. Apesar de ser um canal relativamente pequeno, influencia a formação da opinião pública ao oferecer uma linha diferente da oficialista. Isso pode acabar com a eleição de Nicolás Maduro, o candidato governista à sucessão de Chávez, ficando a Venezuela com seis canais estatais permanentemente a serviço do governo e nenhum onde ele seja criticado abertamente.
Os outros dois principais canais privados de alcance nacional, Venevisión e Televen, reduziram ao máximo o espaço do jornalismo para não entrar em choque com o governo, que usa contra a Globovisión o apoio do canal à tentativa de golpe de 2002, que tirou Chávez do poder por dois dias. Cerca de 80% da Globovisión pertencem a duas famílias – a Zuloaga tem a maior parte, que está sendo vendida. Os 20% restantes foram confiscado pelo governo três anos atrás, e o antigo dono desse percentual luta na Justiça contra o estado para recuperá-lo.
Voltei
Andrés Izarra, ex-ministro das Comunicações e um dos homens de confiança de Maduro, comemorou a notícia e disse que, em breve, a emissora será “roja-rojita” — “vermelho-vermelhinha”.
O vermelho é a cor oficial do chavismo.
Por Reinaldo Azevedo

segunda-feira, 11 de março de 2013

Negro e racista? Desta vez, a patrulha quebrou a cara. Não foi por falta de aviso, né?


Vejam esta foto.
Acima, vocês veem o pastor Marco Feliciano abraçado ao padrasto, que é negro, e à mãe — que eu chamo de “mestiça”, mas que os movimentos militantes chamam de “negra” também. Feliciano é, pois, enteado de um negro, filho de uma negra e, segundo os critérios que orientam as leis de cotas no Brasil, também é… negro! Não obstante, querem acusá-lo de racismo por uma frase tonta escrita no Twitter. Ele próprio divulgou a foto no Facebook.
Há um monte de branco raivoso apontando o dedo para o negro Feliciano. Já demonstrei aqui que ele apenas citava uma passagem do Gênesis — e ainda errava sobre a origem bíblica dos africanos. Na democracia, as pessoas são livres para falar e escrever tolices.
Já escrevi dois textos a respeito. Ontem (vejam acima), publiquei o vídeo em que ele pede votos para Dilma Rousseff em 2010. Como demonstro ali, Feliciano, com toda essa visibilidade, também é obra do PT, não é mesmo? Também é obra de Dilma. Ou por outra: enquanto ele puxava votos para o partido e cumpria a tarefa de diminuir a rejeição dos evangélicos ao nome da petista, era útil. Agora, não pode presidir uma comissão. Vamos pensar mais um pouco.
A conexão entre a chamada “grande imprensa” e os movimentos militantes acaba criando alguns “heróis” que são do gosto de ambos, mas, às vezes, a receita desanda, e acontece o inverso do esperado. Os gays e esquerdistas não gostam de Feliciano. É um direito deles. Decidiram pedir a sua destituição da presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara. Ok. Também podem. Neste domingo, leio no Globo, foram atazaná-lo na porta de um templo, em Franca. Houve protesto, gritaria, seu carro foi cercado. Aí não dá. Aí já passou dos limites. Isso não pode. É constrangimento ilegal.
Nos textos que escrevi no sábado, observei que esses protestos marcados por intermédio do Facebook têm o condão de transformar minorias em aparentes maiorias. E antevi o óbvio. Acuado, o pastor também pode mobilizar os seus seguidores. É o que ele decidiu fazer. Leio no Globo (em itálico):
Pelas rede sociais, o parlamentar, pastor e fundador da Tempo de Avivamento, convocou líderes religiosos para discutir, nesta segunda-feira à noite, o futuro das igrejas diante do que chama da “batalha contra a família brasileira”.
Feliciano pretende usar o culto que costuma celebrar às segundas-feiras no maior templo de sua igreja, em Ribeirão Preto (interior paulista), para responder às acusações de racismo e homofobia a estelionato que vem recebendo. “Estamos vivenciando a maior de todas batalhas contra a família brasileira, e a igreja está sendo bombardeada pelas mentiras insinuadas por grupo de bandeira LGBT (gays, lésbicas, bissexuais e travestis), que planeja dividir e destruir nossas igrejas e famílias, usando a política e a discriminação como arma”, diz o comunicado de convocação, publicado na página do deputado no Facebook, sábado à tarde.
“O deputado-pastor Marco Feliciano pede a presença de todas as lideranças evangélicas e católicas de Ribeirão Preto e região para a reunião a fim de discutir o futuro de nossas igrejas diante desse grande embate”, prossegue o comunicado. No texto, também é destacado que toda a “imprensa estará presente, precisamos mostrar a nossa união”. Ainda nas redes sociais, Feliciano afirmou ontem estar “abatido” pelo que chama de “perseguições”. “Cheguei em casa essa madrugada abatido pelas perseguições. Mas, ao receber o carinho da minha esposa e minhas filhas, a minha alma se renovou”, escreveu ele na página do microblog
.
Retomo
Já escrevi e reitero: Feliciano é da turma “deles”, não da minha, como revela aquele vídeo em que pede voto para Dilma. Pode ter as ideias mais atrasadas e impróprias sobre isso e aquilo, mas não foi racista e duvido que tenha sido homofóbico — não basta, para justificar essa acusação, que o sujeito seja contra o casamento gay. Posso reprovar as ideias dele e mesmo o pouco que vi de sua prática religiosa, e reprovo — SEMPRE DESTACANDO QUE PEDIR DINHEIRO A FIÉIS, QUE SÓ DÃO SE QUISEREM, É COISA MUITO DIFERENTE DE ROUBAR DINHEIRO PÚBLICO —, mas o movimento que está em curso, lamento, é autoritário.
E se o pastor conseguir reunir bem mais gente em seu apoio? Se 500 ou 600 pessoas contra ele são tomadas, por setores da imprensa, como critério de relevância, caso ele reúna 5 mil ou 6 mil, será a relevância multiplicada por dez? Ou, nesse caso, a maioria será ignorada e considera, sei lá, qualitativamente inferior? O jornalismo que está dando trela à patrulha está, involuntariamente, elegendo um herói. O deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ), por exemplo, já percebeu quantos votos lhe rende o ódio que militantes devotam contra ele. Esse tipo de intolerância não tem nada a ver com democracia.
Encerrando
Eu não sabia, é evidente, que o padrasto e a mãe de Feliciano são negros. Creio que ele não os considere, e a si mesmo, amaldiçoados, não é? Quando afirmei que aquele seu tuíte não era expressão de racismo, eu o fiz com base apenas no seu conteúdo e na referência bíblica. Agora, diante desse fato, a acusação fica ainda mais ridícula. Já tinham quebrado a cara, nesse particular, com Bolsonaro. Ele também seria um racista militante… Até que se descobriu que sua mulher é o que a própria militância chama “negra”.
É preciso parar com essa prática asquerosa de criminalizar a divergência. Se o sujeito é contra a PLC 122, que estabelece discriminações inaceitáveis, então é “homofóbico”; se é contra cotas, então é “racista”; se é contra qualquer forma de censura à imprensa, então defende a “mídia golpista”; se é crítico da forma como se dá o Bolsa Família, então é “contra os pobres”. ESSA GENTE NÃO QUER DEBATER IDEIAS. QUER É CALAR O OPONENTE, ELIMINÁ-LO SE POSSÍVEL.
Poucos sabiam da existência de Feliciano até outro dia. Agora, tornou-se uma personagem nacionalmente conhecida. E sou capaz de jurar que conquistou novos admiradores, em vez de perdê-los. A turma das passeatas e dos protestos já não votaria nele mesmo, certo?
A intolerância dos que se querem bons está criando um novo “paladino da família”. Tente, no entanto, advertir esses fanáticos da patrulha de que isso não é uma coisa muito inteligente… As acusações acabam se voltando contra você.
Parabéns, gênios! Vão lá, agora, tentar ensinar a Feliciano como é ter uma mãe negra, um padrasto negro…
Por Reinaldo Azevedo

‘A morte do caudilho’, por Mario Vargas Llosa


PUBLICADO NO ESTADÃO DESTE DOMINGO

MARIO VARGAS LLOSA

O comandante Hugo Chávez Frías pertencia à robusta tradição dos caudilhos que, embora mais presentes na América Latina que em outras partes, não deixaram de se assomar a toda parte, até em democracias avançadas, como a França. Ela revela aquele medo da liberdade que é uma herança do mundo primitivo, anterior à democracia e ao indivíduo, quando o homem ainda era massa e preferia que um semideus, ao qual cedia sua capacidade de iniciativa e seu livre-arbítrio, tomasse todas as decisões importantes de sua vida.
Cruzamento de super-homem e bufão, o caudilho faz e desfaz a seu bel prazer, inspirado por Deus ou por uma ideologia na qual, quase sempre, se confundem o socialismo e o fascismo ─ duas formas de estatismo e coletivismo ─ e se comunica diretamente com seu povo mediante a demagogia, a retórica, a espetáculos multitudinários e passionais de cunho mágico-religioso.
Sua popularidade costuma ser enorme, irracional, mas também efêmera, e o balanço de sua gestão, infalivelmente catastrófico. Não devemos nos impressionar em demasia pelas multidões chorosas que velam os restos de Hugo Chávez. São as mesmas que estremeciam de dor e desamparo pela morte de Perón, de Franco, de Stalin, de Trujillo e as que, amanhã, acompanharão Fidel Castro ao sepulcro.
Os caudilhos não deixam herdeiros e o que ocorrerá a partir de agora na Venezuela é totalmente incerto. Ninguém, entre as pessoas de seu entorno, e certamente em nenhum caso Nicolás Maduro, o discreto apparatchik a quem designou seu sucessor, está em condições de aglutinar e manter unida essa coalizão de facções, de indivíduos e de interesses constituídos que representa o chavismo, nem de manter o entusiasmo e a fé que o defunto comandante despertava com sua torrencial energia nas massas da Venezuela.
Uma coisa é certa: esse híbrido ideológico que Hugo Chávez urdiu chamado revolução bolivariana ou socialismo do século 21, já começou a se decompor e desaparecerá, mais cedo ou mais tarde, derrotado pela realidade concreta: a de uma Venezuela, o país potencialmente mais rico do mundo, ao qual as políticas do caudilho deixaram empobrecido, dividido e conflagrado, com a inflação, a criminalidade e a corrupção mais altas do continente, um déficit fiscal que beira a 18% do PIB e as instituições ─ as empresas públicas, a Justiça, a imprensa, o poder eleitoral, as Forças Armadas ─ semidestruídas pelo autoritarismo, a intimidação e a submissão.
Além disso, a morte de Chávez coloca um ponto de interrogação na política de intervencionismo no restante do continente latino-americano que, num sonho megalomaníaco característico dos caudilhos, o comandante defunto se propunha a tornar socialista e bolivariano a golpes de talão de cheques. Persistirá esse fantástico dispêndio dos petrodólares venezuelanos que fizeram Cuba sobreviver com os 100 mil barris diários que Chávez praticamente presenteava a seu mentor e ídolo Fidel Castro? E os subsídios e as compras de dívida de 19 países, aí incluídos seus vassalos ideológicos como o boliviano Evo Morales, o nicaraguense Daniel Ortega, as Farc colombianas e os inúmeros partidos, grupos e grupelhos que por toda a América Latina lutam para impor a revolução marxista?
O povo venezuelano parecia aceitar esse fantástico desperdício contagiado pelo otimismo de seu caudilho, mas duvido que o mais fanático dos chavistas acredite agora que Maduro possa vir a ser o próximo Simon Bolívar. Esse sonho e seus subprodutos, como a Aliança Bolivariana para as América (Alba), integrada por Bolívia, Cuba, Equador, Dominica, Nicarágua, San Vicente e Granadinas, Antígua e Barbuda, sob a direção da Venezuela, já são cadáveres insepultos.
Nos 14 anos que Chávez governou a Venezuela, o preço do barril de petróleo ficou sete vezes mais caro, o que fez desse país, potencialmente, um dos mais prósperos do planeta. No entanto, a redução da pobreza nesse período foi menor que a verificada, por exemplo, no Chile e no Peru no mesmo período. Enquanto isso, a expropriação e a nacionalização de mais de um milhar de empresas privadas, entre elas 3,5 milhões de hectares de fazendas agrícolas e pecuárias, não fez desaparecer os odiados ricos, mas criou, mediante o privilégio e o tráfico, uma verdadeira legião de novos ricos improdutivos que, em vez de fazer progredir o país, contribuiu para afundá-lo no mercantilismo, no rentismo e em todas as demais formas degradadas do capitalismo de Estado.
Chávez não estatizou toda a economia, como Cuba, e nunca fechou inteiramente todos os espaços para a dissidência e a crítica, embora sua política repressiva contra a imprensa independente e os opositores os reduziu a sua expressão mínima. Seu prontuário no que respeita aos atropelos contra os direitos humanos é enorme, como recordou, por ocasião de seu falecimento, uma organização tão objetiva e respeitável como a Human Rights Watch.
É verdade que ele realizou várias consultas eleitorais e, ao menos em algumas delas, como a última, venceu limpamente, se a lisura de uma eleição se mede apenas pelo respeito aos votos depositados e não se leva em conta o contexto político e social no qual ela se realiza, e na qual a desproporção de meios à disposição do governo e da oposição era tal que ela já entrava na disputa com uma desvantagem descomunal.
No entanto, em última instância, o fato de haver na Venezuela uma oposição ao chavismo que na eleição do ano passado obteve quase 6,5 milhões de votos é algo que se deve, mais do que à tolerância de Chávez, à galhardia e à convicção de tantos venezuelanos que nunca se deixaram intimidar pela coerção e as pressões do regime e, nesses 14 anos, mantiveram viva a lucidez e a vocação democrática, sem se deixar arrebatar pela paixão gregária e pela abdicação do espírito crítico que o caudilhismo fomenta.
Não sem tropeços, essa oposição, na qual estão representadas todas as variantes ideológicas da Venezuela está unida. E tem agora uma oportunidade extraordinária para convencer o povo venezuelano de que a verdadeira saída para os enormes problemas que ele enfrenta não é perseverar no erro populista e revolucionário que Chávez encarnava, mas a opção democrática, isto é, o único sistema capaz de conciliar a liberdade, a legalidade e o progresso, criando oportunidades para todos em um regime de coexistência e de paz.
Nem Chávez nem caudilho algum são possíveis sem um clima de ceticismo e de desgosto com a democracia como o que chegou a viver a Venezuela quando, em 4 de fevereiro de 1992, o comandante Chávez tentou o golpe de Estado contra o governo de Carlos Andrés Pérez. O golpe foi derrotado por um Exército constitucionalista que enviou Chávez ao cárcere do qual, dois anos depois, num gesto irresponsável que custaria caríssimo a seu povo, o presidente Rafael Caldera o tirou anistiando-o.
Essa democracia imperfeita, perdulária e bastante corrompida, havia frustrado profundamente os venezuelanos que, por isso, abriram seu coração aos cantos de sereia do militar golpista, algo que ocorreu, por desgraça, muitas vezes na América Latina.
Quando o impacto emocional de sua morte se atenuar, a grande tarefa da aliança opositora presidida por Henrique Capriles será persuadir esse povo de que a democracia futura da Venezuela terá se livrado dessas taras que a arruinaram e terá aproveitado a lição para depurar-se dos tráficos mercantilistas, do rentismo, dos privilégios e desperdícios que a debilitaram e tornaram tão impopular.
A democracia do futuro acabará com os abusos de poder, restabelecendo a legalidade, restaurando a independência do Judiciário que o chavismo aniquilou, acabando com essa burocracia política mastodôntica que levou à ruína as empresas públicas. Com isso, se produzirá um clima estimulante para a criação de riqueza no qual empresários possam trabalhar e investidores, investir, de modo que regressem à Venezuela os capitais que fugiram e a liberdade volte a ser a senha e contrassenha da vida política, social e cultural do país do qual há dois séculos saíram tantos milhares de homens para derramar seu sangue pela independência da América Latina.
TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK

sábado, 9 de março de 2013

Eles estão acima da lei, do estado de direito, da propriedade e até da honra alheia. E contam, na prática, com a proteção do Planalto

Vejam esta foto.

São militantes da Via Campesina, um braço do MST e da CPT (Comissão Pastoral da Terra) invadindo as instalações da usina Maravilha, na cidade de Goiana, a 70 quilômetros do Recife (foto de Hans von Manteuffel /O Globo).  O pretexto é a demora na desapropriação de terras para a reforma agrária. Eles também reclamavam que o governo de Pernambuco foi hábil em doar terrenos da região para a construção de uma unidade da Fiat — como se isso fosse um mal para a população local —, mas lento para atender aos sem-terra e coisa e tal. Essa ladainha, bovinamente veiculada pela imprensa, a gente já conhece. A empresa invadida também estaria devendo uma dinheirama em dívidas trabalhistas. Ainda que assim seja, é esse o método a que se deve recorrer? Cinicamente, a Via Campesina usou a depredação como a sua forma de marcar o Dia Internacional da Mulher. É a razão por que aquelas senhoras chegaram quebrando tudo, com porretes e facões. O que vai acontecer com elas? Nada! No Brasil, “movimento social” pode passar a mão no traseiro do guarda…
Anteontem, um grupo de mulheres da mesma Via Campesina depredou e ocupou por algumas horas uma fazenda que pertence aos filhos da senadora Kátia Abreu (PSD-TO). Destruíram nada menos de 500 mil mudas de eucalipto. Por quê? Pelo prazer de destruir. A turma de João Pedro Stedile é conta os eucaliptos… Vejam esta foto.
Acima, vocês veem as mudas arrancadas. O prejuízo, segundo os administradores da fazenda, é da ordem de R$ 500 mil. Uma certa Mariana Silva, coordenadora do MST em Tocantins, explicou assim o vandalismo:
A ruralista e senadora Kátia Abreu é símbolo do agronegócio e dos interesses da elite agrária do Brasil, além de ser contra a reforma agrária e cometer crimes ambientais em suas fazendas. Por isso estamos realizando esse ato político e simbólico em sua propriedade. Nosso objetivo foi sabotar o modelo de monocultura e mostrar a essa senadora que, em vez de destruir o meio ambiente, o melhor caminho é diversificar a produção de alimentos para o povo”.
Digam-me cá: ela fala ou não fala como uma “mulher do povo”? Para o MST, uma plantação de eucaliptos é “monocultura”. Ela admite o crime. Ela assume a “sabotagem”, tudo em primeira pessoa. Kátia Abreu é “símbolo” do agronegócio? Ainda bem! Não fosse ele, o país estaria no buraco. Mariana, muito sabida, pretende decidir, como se vê, o que Kátia e sua família devem e não devem cultivar em suas terras. Agora vejam isto:
 
Quer dizer que Kátia mandou matar gente no Pará? Por quê? Ora, porque ela é uma “ruralista”. Considerando que dona Mariana resolveu ser porta-voz do grupo e que a senadora está impedida de acionar na Justiça o MST e a Via Campesina porque não têm existência legal, só resta a Kátia processar por calúnia aquela suposta “agricultora” que mal esconde o sotaque ideológico de suas formulações.  Os comandados do senhor João Pedro Stedile não reconhecem a existência de propriedade, de leis e de honra alheia.
No governo do PT, alguns grupos estão acima das regras do estado de direito. Têm licença para ameaçar, invadir, depredar. O ministro que faz a interlocução com os ditos “movimentos sociais” é Gilberto Carvalho, aquele que anunciou no ano passado: “Em 2013, o bicho vai pegar!”. Um funcionário seu foi à reunião na embaixada cubana que preparou os atos vis de hostilidade a Yoani Sánchez.
No fim das contas, Carvalho é a fachada moderada e legalista da turma que faz o “bicho pegar” nas cidades ou no campo.
Por Reinaldo Azevedo