terça-feira, 12 de março de 2013

Um homem de confiança


A novela O Bem Amado, distribuído hoje em DVD e que quase a população inteira do Brasil conhece, fez muito sucesso devido a seus impagáveis personagens folclóricos; dentre eles o Dirceu Borboleta, o homem de confiança do prefeito Odorico Paraguassu. Dirceu é aquele puxa saco típico: ingênuo, medíocre, humilde, sempre pronto para qualquer tarefa que o prefeito lhe mandar executar. Ele não é daqueles que em passeatas e finais de discursos, coloca o prefeito no ombro para sentir o saco no cangote. Ele não tem força para tanto. Ele tem uma constituição frágil e é até um cara bom, o pobrezinho. Mas os puxa sacos de agora não são nada ingênuos, humildes e bonzinhos. São arrogantes, mandões e presunçosos.
Tomemos como exemplo o evento da posse do prefeito em seu segundo mandato. Tudo seguia o figurino normal nessas ocasiões, com discursos, abraços e elogios mútuos em profusão, quando aparece um Dirceu Borboleta da vida para fazer um panegírico exaltando as qualidades morais e administrativas do prefeito. Ninguém entendeu aquela puxação de saco  tão acintosa e explícita. Normalmente os baba ovos são mais discretos, mas aquele não, aquele não teve sequer um pingo de simancol e desandou a ler seu atestado de cara de pau irremediável. Foi constrangedor, para dizer o mínimo. Depois, quando da nomeação dos secretários municipais e sua atuação a partir daí é que se entendeu o propósito daquela patacoada.
Vejamos quem é esse Dirceu Borboleta versão século XXI.
Ao contrário da música de Roberto Carlos, esse cara é totalmente o contrário do romântico cantado pelo nosso Rei. Além disso, tem uma característica inconfundível que o torna o sujeito mais antipatizado de nossa cidade: a empáfia. Você olha para ele e vê um indivíduo com uma postura de quem se considera o bom da bocada; alguém com um formidável talento para alguma coisa que desconhecemos. Talvez para ator, e medíocre por sinal. Nada nele é autêntico, verdadeiro, tudo é postiço. Seu riso é um esgar que deixa transparecer uma alma profundamente imbuída de um sentimento de superioridade em relação aos comuns dos mortais. Até para falar no celular ele faz pose. E ai de quem for vítima de sua antipatia; não existe sujeito mais vingativo e perseguidor, principalmente com aqueles por quem se sente humilhado. Nada lhe traz mais rancor do que o sucesso alheio. 
Ele gostaria de escrever  bem mas a falta de intimidade com a língua portuguesa o impede de praticar a escrita. Seu maior sonho era ter um jornal: influente, bem diagramado, muito bem escrito. Mas a mediocridade e a falta de traquejo para o ramo são obstáculos invencíveis. Mas acima de tudo, de qualquer sonho ou desejo ele gostaria de ser rico, de ter posses, muitas posses. Além da falta de talento para outros ramos, há a de comandar a política alcançando postos de mando. Quem sabe eleger-se prefeito? Com aquela postura? É ruim, hein? Por isso a busca incessante por dinheiro, o sucedâneo do poder. 
Então um dia a sorte lhe sorriu: seu primo se elegeu vereador e foi eleito presidente da Câmara. Mas o que teria isso de bom para ele, posto que o irmão desse primo também fora eleito vereador? É que aquele nunca lhe deu oportunidade. E o novo presidente da Câmara nomeou-o seu homem de confiança, dando-lhe todas as prerrogativas pelas compras daquela casa legislativa. E ele passou então a executar seu plano de vingança contra seus desafetos que não eram poucos. E depois o primo foi eleito prefeito e se reelegeu. E ele lá, responsável pelo controle das compras. Não poderia haver melhor arranjo do que esse, ele que perseguira tanto o dinheiro fugidio. A prefeitura só compra de quem ele quiser. E isso nos provoca alguns pensamentos maledicentes. Mas houve uma mudança sutil; ele não é mais o Dirceu Borboleta, agora é papagaio de pirata. E o que vem a ser isso? É aquele sujeito que está sempre colado na alta autoridade para aparecer nas fotos. E sorrindo, aquele seu sorriso postiço que até aquele menino do nariz cagado nota logo. E quanto mais a conta bancária cresce, aumenta também a empáfia.
Quem sabe se algum dia um puxa saco qualquer, diante de tanta arrogância, não possa confundi-lo com uma autoridade e vá carrega-lo nos ombros? Para ele seria a suprema glória. Um puxa saco-mor  que ascendeu na carreira e agora é levado por outro nos ombros. Talvez ele até queira nomear um homem de sua confiança. Na duvide, na política os medíocres tem futuro brilhante.