sábado, 30 de junho de 2012

Por que Edir Macedo e a Igreja Católica perderam fiéis e por que a Assembleia de Deus ganhou

Parodiando certo velho barbudo e fazendo um gracejo — espero que eles não fiquem bravos comigo…—, os sociólogos já explicaram o mundo o bastante, agora chegou a hora de compreendê-lo… É preciso tomar cuidado com o preconceito porque ele impede que se entenda o essencial. Eu me incomodo com certa leitura que associa a expansão dos evangélicos à ignorância. Acho que isso mais desinforma do que informa. Há um dado que vocês têm de reter aí para a leitura deste texto porque voltarei a ele: na última década, a corrente evangélica que mais cresceu foi a Assembleia de Deus. Já a Universal do Reino de Deus, do autoproclamado “bispo” Edir Macedo, perdeu 228 mil fiéis. Seus anunciados mais de 3 milhões de fiéis são 1,873 milhão — os da Assembleia são 12,314 milhões (5,6 vezes a mais). Sigamos.


Movidos por certa paixão iluminista que os deixa cegos de tanta luz, os especialistas tendem a associar a expansão dos evangélicos ao triunfo do engodo e da pilantragem. Os fiéis seriam, assim, pessoas enganadas, que se deixam seduzir por falsas promessas e por milagreiros vigaristas. Eles existem? Sim! Estão presentes na religião, na política, na economia, no jornalismo, em qualquer lugar. Afirmar, por exemplo, que uma família com renda per capita acima de R$ 300 pertence à “classe média”, como deram para fazer certos economistas, não deixa de ser uma variante da magia sub-religiosa, não é? Esses economistas, que quase acabaram com a pobreza no Brasil na base da feitiçaria estatística, operam muito mais “milagres” do que qualquer vigarista religioso… Mas não quero me desviar do essencial.
Se faz sentido associar a expansão dos evangélicos no Brasil às mudanças havidas na sociedade nos últimas 30 anos — como elevação dos aglomerados urbanos, drástica redução da população rural, intensa migração interna —, é preciso que se entenda que essa “modernização” trouxe consigo, vejam que interessante, a demanda pela TRADIÇÃO E PELA ORDEM. O que quero dizer com isso? Se os brasileiros que se deslocaram do campo para as cidades perderam seus vínculos originais com a família, tendem, deixados à própria sorte, a se tornar zumbis nas periferias. Isso os leva a buscar uma força que os agregue e que os faça PERTENCER a uma comunidade. Por que não as igrejas evangélicas?
Agora volto lá ao primeiro parágrafo. Quem se ocupa um pouco de estudar o fenômeno ou de ler a respeito sabe que as Assembleias de Deus — há várias correntes sob essa denominação, que não obedece a uma hierarquia única, como a Católica — não são propriamente igrejas “milagreiras”. Não vemos seus pastores a anunciar na televisão a cura de moléstias graves ou a expulsar demônios em ritos midiático-espetaculosos. É evidente que, a exemplo de todas as denominações cristãs, associam a salvação à fé e acreditam na intervenção da Providência. Mas a sua pregação, ATENÇÃO!, está muito mais centrada na defesa de VALORES, especialmente os ligados à unidade da família. Se é uma igreja que cresce no chamado “Brasil moderno e urbano”, esse crescimento se dá com a pregação de valores que podemos chamar “tradicionais”.
Penso agora um pouco na Igreja de Edir Macedo. Na década em que a sua TV Record se tornou, vá lá, bastante “mundana” — a Internet está aí para provar que o reality show “A Fazenda” pode chocar até o mundo animal… —, ela perdeu fiéis. Se houve, como constata o IBGE, uma perda de 228 mil fiéis, trata-se de uma queda acentuada: 11%. É bem verdade que, no período, outras correntes se formaram, como a Igreja Mundial do Poder de Deus, por exemplo, que se desgarrou da própria Universal. Certamente levou parte dos seus fiéis, daí a existência de um conflito muito pouco pio e cristão entre Edir Macedo e Valdemiro Santiago, o bem-sucedido dissidente. Precisaria de mais dados, mas me parece que essas correntes mais midiáticas operam entre si uma troca de fiéis. Parte, portanto, do rebanho transita no mercado do divino ao sabor, também, da propaganda.
A Assembleia, infiro, tende a crescer de forma sustentável e consolidada porque opera numa esfera que produz alterações que tendem a ser permanentes. As correntes que dão excessivo valor às relações de troca com Deus podem ter ascensão vertiginosa, mas esbarram, não tem jeito, no peso da realidade. O Altíssimo não sai por aí recompensando quem faz muita bobagem com sua conta bancária. Também não costuma resolver os problemas que estão afeitos à medicina. A força desse tipo de discurso é limitada.
CatolicismoE o catolicismo? A coisa é complicadíssima! Não é de hoje, fazendo uma brincadeira, que a Igreja Católica tenta fundir o Deus cristão com Aristóteles, não é mesmo? Embora a força de uma religião seja a sua mística, a Santa Madre sempre tentou emular com a ciência. Converse com o teólogo católico o mais pio, e boa parte do tempo você estará diante de um racionalista incorrigível. Há muito o catolicismo renunciou à intervenção maravilhosa do divino. O catolicismo se tornou, e não acho isso ruim necessariamente, uma ética, uma forma de ver o mundo e de se relacionar com ele. Nesse particular, assemelha-se, sim, ao protestantismo tradicional — que também não cresce, note-se — e à Assembleia de Deus, que se expande.
E por que perde influência e prestígio? Os ditos “Teólogos da Libertação” — na verdade, “escatológicos da libertação” — não hesitariam em afirmar que a Igreja precisa, vamos lá, “se aproximar mais do povo”, “estar mais atenta às suas necessidades”, “associar-se à luta por seus direitos”, essa bobajada toda! A Igreja Católica, a minha Igreja, entrou de modo errado nesse tal “mundo moderno”. Se manteve o apego a alguns fundamentos que certos tolos dizem “reacionários”, renunciou à defesa da tradição e dos valores em nome da “mudança da sociedade”. Num outro extremo, foi invadida por alguns vigaristas que confundem o púlpito com palco.
Ou por outra: a Igreja Católica perde influência quando, numa ponta, tenta ser o que não é — “partido político progressista” — e, na outra, abrigo de vocações duvidosas, mais ligadas ao espetáculo do que à fé. Em qualquer dos casos, deixa de atuar como uma força de orientação e de coesão das famílias — discurso muito presente mesmo nas vertentes pentecostais mais espalhafatosas.
À diferença do que parece, a Igreja Católica perde fiéis não porque seja muito tradicionalista, mas porque se desapegou da tradição, mantendo-a não mais do que na plasticidade meio aborrecida das missas, nas quais é dada pouca chance ao pastor (o padre) de falar verdadeiramente aos fiéis. No que é tradicional, é não mais do que burocrática; ao deixar de ser burocrática, esquece a virtude da tradição em favor de um discurso desastradamente político.
Em síntese: faz sentido que tanto a Igreja Católica quando Edir Macedo tenham perdido fiéis — proporcionalmente, ele perdeu muito mais. Nos dois casos, a tradição mandou um recado à mundanização.
Por Reinaldo Azevedo

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Servidores federais ameaçam com greve geral; 56 das 59 universidades e 36 dos 38 institutos federais estão parados

Por Marta Salomon e Lisandra Paraguassu, no Estadão:
A insatisfação dos servidores públicos com a intransigência da presidente Dilma Rousseff em conceder reajustes salariais, diante do cenário de crise econômica internacional, aumentou o risco de o governo enfrentar uma greve geral do funcionalismo. O último movimento grevista importante no Brasil ocorreu ainda no primeiro mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em reunião encerrada ontem à noite, servidores das dez agências reguladoras declararam-se em estado de greve a partir de segunda-feira. A maioria das categorias já paradas ou com indicativo de greve quer correção dos salários em 2013. Personagem das mobilizações, o secretário-geral da Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal (Condsef), Josemilton Costa, avalia que cerca de 300 mil servidores já cruzaram os braços. A greve, segundo ele, pode alcançar 500 mil servidores. “A construção é a greve geral”, adiantou. A Condsef é filiada à Central Única dos Trabalhadores (CUT) — braço sindical do PT, que apoia a greve geral do funcionalismo.

“O governo não consegue apresentar uma contraproposta, só faz protelar a discussão”, criticou o diretor da CUT Pedro Arnengol. As categorias têm reivindicações diferentes, mas a maioria quer reajuste de 22% dos salários. Os servidores têm ouvido que o governo terá uma resposta até 31 de agosto, prazo final para o envio ao Congresso da proposta de lei orçamentária de 2013.

Ontem, a ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais) insistiu que não haverá aumentos de salário para o funcionalismo neste ano. “Se as greves forem mantidas, vão gerar um impasse sem eficiência e sem eficácia. Não há possibilidade, principalmente em um momento de crise, de executar novas despesas não previstas”, afirmou a ministra.

A colega do Planejamento, Miriam Belchior, encarregada de negociar com os servidores, optou por não se manifestar. Sua assessoria informou que o processo de negociação está em curso e não há data para a apresentação de uma contraproposta. O ministério informou ainda não ter um mapa da dimensão do movimento grevista. Ontem, houve uma nova manifestação em frente ao prédio do Planejamento. O ato reuniu representantes de 22 categorias de servidores públicos.

“O governo mais uma vez protelou”, destacou o presidente do Sindicato Nacional dos Servidores das Agências Nacionais de Regulação (Sinagências), João Maria Medeiros de Oliveira, após a plenária concluída ontem à noite. Nela, a categoria que reúne 7 mil funcionários, resolveu parar a partir do dia 17, por tempo indeterminado, se a negociação não avançar até lá. Além das dez agências reguladoras, que tratam de vigilância sanitária, petróleo, aviação civil e energia elétrica, por exemplo, também aderiu ao movimento do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), que cuida das autorizações de pesquisa e lavra no País.

Professores.
A greve mais longa em curso é a dos professores universitários, parados há 43 dias. Segundo balanço dos sindicatos, das 59 universidades, 56 estão paradas. Dos 38 Institutos Federais de Educação, 36 também aderiram à greve. Os professores pedem, entre outras coisas, aumento do piso salarial para R$ 2.329,35 para 20 horas semanais de trabalho. Hoje, o valor é de R$ 1.597,92.

Nesse período, houve apenas uma reunião com o governo. Uma segunda reunião de negociação, marcada para 18 de junho, foi desmarcada pelo Ministério do Planejamento. Nesse mesmo dia, os auditores fiscais da Receita Federal — que integram as categorias com salários mais altos no serviço público iniciaram uma operação-padrão por reposição salarial de 30,18%. A partir de 1º de agosto, os auditores poderão parar. (…)

terça-feira, 26 de junho de 2012

Sem aula há 76 dias, alunos da rede pública da Bahia terão 'aulão' para 500 estudantes e ficarão sem férias de verão

Paralisação de professores é a mais longa da história da educação baiana e atinge quase 600.000   crianças e jovens.
 
Professores em greve durante passeata no dia 21 de junho, em Salvador (Manuel Porto/ Sindicato dos Professores) 

Sem aulas há 76 dias devido a uma greve de professores, alunos do ensino fundamental e médio da rede estadual da Bahia não terão férias no fim de ano. “As férias certamente estão comprometidas. As aulas de reposição vão adentrar 2013”, afirma o secretário de Educação do estado, Osvaldo Barreto. A paralisação dos docentes, que teve início no dia 11 de abril, é a mais longa da história da educação baiana. O governo do petista Jaques Wagner afirma que, dos 417 municípios do estado, 117 estão sem aulas. A concentração é maior nas cidades de Salvador e Feira de Santana. Dos 1,1 milhão de alunos da rede pública estadual, cerca de 578.000 ainda permanecem sem aula e sem prazo de retomada. 

Como parte de um plano emergencial, cerca de 22.000 estudantes do 3º ano do ensino médio de Salvador voltaram às aulas nesta segunda-feira. A medida tem um único objetivo: tentar preparar esses alunos para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), marcado para os dias 3 e 4 de novembro. 

Para isso, os alunos terão de se dirigir a unidades de ensino diferente das que costumam frequentar. Foram escolhidas 19 escolas na capital baiana para concentrar os estudantes – a lista dos locais está no site da Secretaria de Educação. Os professores também são outros: 545 docentes em estágio probatório (concursados, mas que ainda passam por um período de experiência) e 706 em Regime Especial de Direito Administrativo (Reda) foram convocados para assumir as classes, já que os titulares seguem parados. 

Nas demais cidades do estado, alunos seguem sem aula. Segundo o secretário estadual, é possível que um plano emergencial nos moldes do usado em Salvador seja adotado em Feira de Santana. Para alunos do ensino médio de outros municípios, assim como para os que cursam o ensino fundamental, não há prazo, e o retorno dependo do fim da greve. 

Enquanto isso, estudantes do 3º ano do ensino médio devem se contentar com “aulões”. Voltados para grupos de 500 a 700 alunos, com quatro horas de duração e quatro professores por sala, os “aulões” irão ocorrer em 13 bairros de Salvador e em 11 cidades do estado. O governo promete 16 encontros, sendo o primeiro na próxima quarta-feira, na capital. Serão abordados 2 temas diferentes por aula, que podem ser das áreas de matemática, linguagens, ciências da natureza e ciências humanas. Márcio Haga, professor do cursinho do XV e de colégios particulares de São Paulo, vê com ressalvas a medida. “O ensino público brasileiro já é muito deficiente. Imaginemos, então, a situação desses alunos baianos, sem aulas há mais de dois meses”, diz. 

Reivindicações – Os professores em greve reivindicam aumento de 22%, que teria sido acordado para janeiro deste ano. A última proposta do governo foi antecipar para novembro um aumento de 7% para os professores com licenciatura plena que passarem por cursos de qualificação e, mais 7%, em abril do próximo ano. Somando ao reajuste já concedido de 6,5% ao funcionalismo público, o ganho chegaria aos 22%. 

O Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado da Bahia rejeitou a proposta, alegando que ela exclui aposentados e profissionais em estágio probatório. Há uma assembleia de docentes prevista para esta terça-feira, mas o presidente do sindicato, Rui Oliveira, adianta que as chances das atividades serem retomadas são pequenas. “É uma greve de resistência”, diz. Já o secretário de Educação baiano, Osvaldo Barreto, garante que não haverá mudança nas propostas. “É impossível, e os professores sabem disso. O que oferecemos é o que cabe no orçamento do estado”, diz. 

A última reunião entre governo e representantes dos professores aconteceu no dia 4 de junho. Não há nova negociação agendada. No último dia 12, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu em favor do governo e suspendeu a liminar concedida pelo Tribunal de Justiça da Bahia que determinava o pagamento dos salários dos grevistas. Portanto, eles não recebem saláros há três meses.

sábado, 23 de junho de 2012

Quando a bandeira na UNE não cobre a malversação de dinheiro público, está endossando a repressão, a violência e a morte. Faz sentido!


  Vejam esta foto.

Um grupo de esquerdistas foi tomar café da manhã com Mahmoud Ahmadinejad, o ditador terrorista e sanguinário (parece caricatura do Casseta & Planeta, mas é tudo verdade). Ele ganhou até uma bandeira da UNE de presente. A partir de agora, o símbolo da entidade estudantil brasileira foi convertido na corda que enforca os esquerdistas iranianos, os cristãos iranianos, os democratas iranianos, os homossexuais iranianos, todos aqueles, enfim, que o regime mandou e manda ainda para a morte em nome daquele “Deus Único” que o ditador exaltou em seu discurso na “Rio+20″. Um delinquente que toca um programa nuclear secreto e tem o declarado intuito de varrer um outro país do mapa ser convidado para um evento como esse diz muito, lamento, da seriedade do encontro. Sigamos.

Que estranho mundo este, não é mesmo? Posts abaixo, publico duas fotos da manifestação que pastores evangélicos organizaram contra a presença de Admadinejad no Brasil. Eles cobram do presidente do Irã a libertação de Yousef Nadarkhani, condenado à morte por ter-se convertido ao cristianismo. A iniciativa é do pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus, atacado por certos “progressistas” porque crítico da tal PL 122, a lei que pune a homofobia. Não porque pregue discriminação contra homossexuais, é evidente, mas porque entende o óbvio: o texto pratica uma espécie de discriminação às avessas (não vou entrar nesse mérito agora porque já escrevi bastante a respeito). No Irã, homossexuais são enforcados em praça pública. Seus corpos são pendurados em guindastes para servir de exemplo. É o que se vê na foto lá do alto. Oficialmente, e Ahmadinejad declara isso, não há gays no país — a não ser aqueles que se deixam seduzir pelas ideias erradas do… Ocidente! Entenderam? Também não há comunistas. A revolução islâmica os liquidou a todos. A esquerda iraniana ajudou a depor o xá Reza Pahlevi e foi parte ativa da revolução islâmica, mas seus representantes lideraram a fila das execuções.

A tara dos esquerdistas pela tirania religiosa iraniana é antiga. Um delinquente intelectual muito influente como Michel Foucault, ainda apreciado na periferia intelectual do complexo PUCUSP, cantou as glórias de aiatolá Khomeini e seus bravos de maneira miserável. Se vocês quiserem detalhes, leiam o livro “Foucault e a Revolução Iraniana”, de Janet Afary e Kevin B. Andersonh, publicado no Brasil pela editora “É Realizações”. O livro reproduz trechos de uma entrevista que ele concedeu a dois jornalistas franceses do Libération. Num dado momento, tomado do que costumo chamar de “estupidez dialética”, observou sobre a revolução islâmica: “Havia demonstrações, verbais pelo menos, de um antissemitismo virulento. Havia demonstrações de xenofobia, e não apenas contra os americanos, mas também contra trabalhadores estrangeiros que tinham ido trabalhar no Irã. O que dá ao movimento iraniano sua intensidade tem sido um registro duplo. De um lado, uma vontade coletiva que tem sido muito fortemente expressada politicamente, e, de outro, o desejo de uma mudança radical na vida comum. Mas essa afirmação dupla só pode ser baseada nas tradições, instituições que carregam uma carga de chauvinismo, nacionalismo, exclusivismo, que eram uma atração muito poderosa para os indivíduos”.

Viram só? Foucault, o homem que estudou a “microfísica do poder”, o pensador que buscava decupar as estruturas autoritárias vigentes no regime democrático burguês, via com olhos mais do que benevolentes — verdadeiramente entusiasmados — as balizas reacionárias da revolução iraniana. Foucault (1926-1984) era gay, o que nunca admitiu claramente, e morreu de aids em 1984. No Irã, teria morrido muito antes, vítima da “revolução” cujas glórias cantou. Não foi o único cretino ocidental a se encantar com a tirania religiosa, mas foi o mais festivo, o mais entusiasmado, o mais ousado na estupidez.

Os bastardos brasileiros que foram ouvir o ditador e que lhe fizeram salamaleques pertencem, de algum modo, à mesma cadeia de equívocos que foi integrada por Foucault. Veem em Ahmadinejad o líder de um país que, oh!!!, teria ousado enfrentar o imperialismo e, quem sabe?, os “preconceitos da razão” do mundo ocidental. Também eles devem achar que do antissemitismo, do chauvinismo e da xenofobia se pode fazer algo de interessante…

Vergonha
Sinto por esses caras a vergonha que eles não têm. Tivesse um mínimo de pudor, essa gente estaria protestando contra a perseguição a que Ahmadinejad submete a esquerda em seu país. O PT não promoveria tal ato porque parceiro do asqueroso, mas cadê os “psois” da vida? Onde estão os movimentos de homossexuais do Brasil para se juntar a Malafaia — sim, junta-se a Malafaia nesse caso! — para protestar contra a brutalidade de que são vítimas seus iguais no Irã? Cadê o buliçoso deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ)? Cadê a manifestação dos oposicionistas brasileiros, tucanos e democratas especialmente, que têm o dever moral de expressar seu repúdio, dada a intimidade do petismo com o facinoroso? Nada!

Quanto à UNE, que deu uma bandeira de presente a Ahmadinejad, dizer o quê? Quando aquele pano não está cobrindo a malversação de dinheiro público, está endossando a repressão, a violência e a morte. Alguém esperaria muito mais, ou menos, dessa gente?
Por Reinaldo Azevedo

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Atentado aos cofres públicos - Comissão da Câmara aprova emenda que acaba com tetos salariais no País

Por Denise Madueño, no Estadão:

Com o Congresso em recesso branco por causa da conferência Rio+20, comissão especial da Câmara aprovou ontem proposta de emenda constitucional com potencial explosivo para as contas públicas. O projeto acaba, na prática, com o teto salarial dos servidores públicos não só da União mas também dos Estados e dos municípios. Retira ainda o poder do presidente da República de definir o maior salário pago pela administração pública no País. Essa função, pela proposta, será exclusiva do Congresso, sem a necessidade de passar pela sanção ou veto do Planalto. 

A proposta ainda vincula os salários dos parlamentares aos vencimentos dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Com isso, toda vez que o Congresso aprovar aumentos salariais para os magistrados, eles serão repassados automaticamente para os deputados e senadores sem o desgaste político de votar um outro projeto concedendo o autorreajuste. A “carona” é extensiva a outras autoridades. O texto fixa o mesmo salário para os três Poderes. Serão também beneficiados o presidente e o vice-presidente da República, os ministros de Estado, o procurador-geral da República e o defensor público-geral federal. O salário do ministro do Supremo e do procurador-geral tem efeito cascata em toda a magistratura. 

Antirreforma. O projeto aprovado precisa ser votado em dois turnos pelo plenário da Câmara antes de seguir para o Senado. A proposta, na prática, coloca por terra as reformas administrativas dos governos dos presidentes Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva, realizadas para frear o pagamento de salários dos marajás do serviço público e tentar impor limites de gastos com o funcionalismo. Ainda não há um cálculo fechado sobre o tamanho do impacto nas contas públicas que tal projeto causará caso passe em definitivo pelo crivo dos parlamentares. 

A proposta foi aprovada na comissão especial ontem por unanimidade, em reunião que durou pouco mais de meia hora. Interlocutores do governo no Congresso foram surpreendidos e consideraram que houve um golpe dos deputados, aproveitando o esvaziamento da Câmara nesta semana. Essa foi a segunda reunião da comissão especial que analisa o projeto, instalada em 10 de maio passado. 

Entre mudanças de artigos e revogação de outros, a proposta do relator, deputado Mauro Lopes (PMDB-MG), permite o acúmulo de pagamentos de várias fontes - incluindo aposentadoria, salários, benefícios, decisões judiciais - para o servidor público, mesmo que a soma exceda o teto, igual ao valor do subsídio dos ministros do Supremo, atualmente de R$ 26.723,13. O texto aprovado retira ainda os limites atuais para o salário dos servidores estaduais e municipais, mudando a regra constitucional. (…)

‘A vingança maligna de Maluf’, editorial do Estadão

PUBLICADO NO ESTADÃO DESTA QUARTA-FEIRA

Perto das imagens que estavam ontem na primeira página dos principais jornais do País, o fato de o PT de Lula ter ido buscar o apoio do PP de Paulo Maluf à candidatura do ex-ministro da Educação Fernando Haddad à Prefeitura de São Paulo chega a ser uma trivialidade. O chocante, pela abjeção, foi o líder petista se dobrar à exigência de quem ele já chamou de “ave de rapina” e “símbolo da pouca-vergonha nacional”, indo à sua casa em companhia de Haddad, e posar em obscena confraternização, para que se consumasse o apalavrado negócio eleitoral. Contrafeito de início, Lula logo silenciou os vagidos íntimos de desconforto que poderiam estragar os registros de sua rendição e cumpriu o seu papel com a naturalidade necessária, diante dos fotógrafos chamados a documentar o momento humilhante: ria e gesticulava como se estivesse com um velho amigo, enquanto o anfitrião, paternal, afagava o candidato com cara de tacho. Da mesma vez em que, já lá se vão quase 20 anos, colocou Maluf nas “nuvens de ladrões” que ameaçavam o Brasil, Lula disse que ele não passava de “um bobo alegre, um bobo da corte, um bufão”. Nunca antes ─ e talvez nunca depois ─ o petista terá errado tanto numa avaliação. 

Criatura do regime militar, desde então com uma falta de escrúpulos que o capacitaria a fazer o diabo para satisfazer as suas ambições de poder, prestígio e riqueza, Maluf aprendeu a esconder sob um histrionismo não raro grotesco a sua verdadeira identidade de homem que calculava. As voltas que o País deu o empurraram para fora do proscênio ─ menos, evidentemente, no palco policial ─, mas ele soube esperar a ocasião de mostrar ao petista quem era o bobo alegre. A sua vingança, como diria o inesquecível Chico Anísio, foi maligna. Colocou de joelhos não o Lula que desceu do Planalto para se jogar nos braços do povo embevecido, deixando lá em cima a sucessora que tirara do nada eleitoral, mas o Lula recém-saído de um câncer e cuja proverbial intuição política parece ter-se esvanecido. 

Nos jardins malufistas da seleta Rua Costa Rica, anteontem, o campeão brasileiro de popularidade capitulava diante não só de sua bête noire de tempos idos, mas principalmente da patologia da sua maior obsessão: desmantelar o reduto tucano em São Paulo, primeiro na capital, na disputa deste ano, depois no Estado, em 2014, para impor a hegemonia petista ao País com a reeleição da presidente Dilma ou – por que não? ─ a volta dele próprio ao Planalto, “se a Dilma não quiser”. Lula não é o único a acreditar que, em política, pecado é perder. Mas foi o único a dizer, em defesa das alianças profanas que fechou na Presidência, que, se viesse a fazer política no Brasil, Jesus teria de se aliar a Judas. 

Não se trata, portanto, de ficar espantado com a disposição de Lula de levar a limites extravagantes o credo de que os fins justificam os meios. O que chama a atenção é a sua confiança nos superpoderes de que se acha detentor, graças aos quais, imagina, conseguirá dar a volta por cima na hora da verdade, elegendo Haddad e sufocando a memória da indecência a que se submeteu. Não parece passar por sua cabeça que um número talvez decisivo de eleitores possa preferir outros candidatos, não pelo confronto de méritos com o petista, mas por repulsa à genuflexão de seu patrono perante a figura que representa o que a política brasileira tem de pior. Lula talvez não se dê conta de que a maioria das pessoas não é como ele: respeita quem se respeita e despreza os que se aviltam, ainda mais para ganhar uma eleição. Ele tampouco se lembrou de que, em São Paulo ─ berço do PT ─, curvar-se a Maluf tem uma carga simbólica incomparavelmente mais pesada do que adular até mesmo um Sarney, por exemplo. Não se iluda o ex-presidente com o recuo da companheira de chapa do candidato, a ex-prefeita Luiza Erundina, do PSB. Ontem ela desistiu da candidatura a vice, como dera a entender na véspera ao dizer que “não aceitava” a aliança com Maluf. Razões outras que não o zelo pela própria biografia podem tê-la compelido, no entanto, a continuar apoiando Haddad. Já os eleitores de esquerda são livres para recusar-lhe o voto pela intolerável companhia

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Rio+20: Encontrado jornalista que ainda não empregou a palavra "sustentável"

The iPiaui Herald - A Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) convocou uma coletiva de imprensa para anunciar a descoberta de um jornalista que ainda não empregou as expressões "desenvolvimento sustentável", “sustentabilidade", "economia criativa" e "salvar o Planeta". "Fizemos uma extensa pesquisa em todos os meios de comunicação até encontrá-lo. Contamos com nossos melhores repórteres. Foram meses de árdua e delicada investigação", discursou Florisberto Fernandes, representante da entidade, enquanto passava o indicador sobre a tela de seu iPad orgânico e falava em três celulares biodegradáveis ao mesmo tempo. 

A identidade do jornalista não foi revelada a pedido da família. A Abraji está dividida quanto ao que fazer em relação à inquietante descoberta. Há um grupo – majoritário, segundo os cálculos secretos da própria entidade – que vê no profissional um perigoso remanescente da economia fóssil a ser banido do ecossistema da informação. "Mas não podemos julgar sem antes ouvir o Outro Lado", ponderou Fernandes, exibindo para as câmeras a 15ª versão do Manual de Conduta Ética e Moral da entidade, impressa em folhas de cânhamo. 

Um grupo minoritário dentro da Abraji defende que o jornalista é um animal em extinção e, como tal, deveria ser incluído na lista de espécies em risco. A tese tem ganho força e já há consenso de que é necessário manter o profissional sob vigilância. "Instalaremos nele um colar eletrônico e ele ficará sob a observação de ONGs criativas, biólogos verdes e neurologistas sustentáveis, até que se possa formar um juízo melhor sobre seus hábitos e caráter. Já firmamos um convênio com o Observatório da Imprensa para coordenar os trabalhos", anunciou Florisberto, exibindo seu bloquinho de anotações produzido por uma ONG de inclusão social conveniada ao Ministério da Pesca. 

O caso do profissional insustentável será debatido na Rio+20, dentro de uma mesa cujo título é "Mundo verde e jornalismo criativo: interfaces". Com o desassombro de quem não teme a controvérsia e o vigoroso debate de ideias, Fernandes afirmou que "conhecimento e criatividade são as chaves para a sustentabilidade". Jornalistas presentes tomaram nota da frase e, ao fim da tarde, pelo menos três grupos de discussão foram constituídos para avaliar suas implicações. 

Os ingressos recicláveis para “Mundo Verde e jornalismo criativo: interfaces” poderão ser comidos com requeijão artesanal na hora do coffee-break

Para avançar na “Rio+20” – CNA propõe Áreas de Preservação Permanente para todos os países e criação de fundo de combate à terra degradada

A “Rio+20″ pode se perder nas escatologias dos eco-fim-de-mundistas — Marina Silva afirmou dia desses que somos os exterminadores do futuro (menos ela e seus amigos, claro!!!) — ou pode tomar o rumo das medidas práticas, que contribuam para a salubridade do meio ambiente, mas sem esquecer que, afinal de contas, o objetivo é o homem. Sim, caras e caros! O dado mais estupefaciente de certo preservacionismo é imaginar um planeta sem gente, como se a Terra devesse ser preservada para si mesma. A Confederação da Agricultura e da Pecuária do Brasil (CNA) tem presença ativa na “Rio+20″ e elaborou um documento a ser entregue ao governo brasileiro e aos chefes de estado presentes à conferência. Abaixo, segue uma síntese enviada à imprensa pela senadora Kátia Abreu (PSD-TO), presidente da entidade. É um primor de racionalidade e bom senso. 

Entre outras propostas, está a adoção, em escala mundial, das APPs — Áreas de Proteção Permanentes. Tanto no Código Florestal em vigor como naquele que sairá depois de votada a MP do governo federal, o Brasil protege “nascentes, margens de rios e áreas de recarga de aquíferos subterrâneos”. Mas, ora vejam!, somos dos poucos países do mundo que têm isso estabelecido em lei. Eis um conceito que precisa se universalizar. A proposta conta com o apoio da Embrapa e da ANA (Agência Nacional de Águas. A CNA também pede a criação de um fundo para cuidar da terra degradada. Leiam o texto. 

 PROPOSTAS DA CNA PARA OS CHEFES DE ESTADO E PARA A CONFERÊNCIA “RIO + 20″ Dentro do princípio de que meio ambiente é ciência e compromisso - e não ideologia -, a Confederação da Agricultura e da Pecuária do Brasil (CNA) traz a esta Conferência as propostas a seguir relacionadas, no intuito de contribuir para a riqueza e objetividade do presente debate. O setor rural — que tem na natureza sua fonte de sustento e conhecimento - vem respondendo com rapidez e eficiência às demandas contemporâneas por desenvolvimento sustentável. Por isso, a partir do Documento de Posição do Setor Agropecuário, hoje divulgado, sente-se no dever de encaminhar ao exame dos Chefes de Estado, que conferem dimensão histórica a esta “Rio + 20″, a presente contribuição. 

1. Amazônia 
Só a tecnologia pode garantir o desmatamento zero na Amazônia. Grande parte do que até aqui ocorreu na região decorre da precariedade de meios que ainda predomina. Com baixa rentabilidade do sistema produtivo, que impede a aquisição de tecnologia, esse quadro tende a se perpetuar, mantendo tensão constante entre produção e floresta. A situação afeta, sobretudo, os pequenos e médios produtores rurais. 

2. Serviços ambientais 
O passivo ambiental é fruto do descaso e despreparo das gerações que nos precederam e nos legaram os desafios presentes. Não é justo que esta geração arque sozinha com uma conta histórica, impagável de uma só vez. Portanto, os governos precisam encontrar mecanismos de atenuar os custos presentes, diluindo-os no tempo. Os países ricos foram beneficiários do desenvolvimento sem as regras e amarras que hoje pesam sobre os países de desenvolvimento tardio. É justo que contribuam pelos benefícios ambientais que recebem gratuitamente desses países. 

3. Redução de Emissões 
A CNA está lançando uma ferramenta eletrônica para dar suporte ao processo de remuneração do produtor rural pela redução de emissões de carbono e gases de efeito estufa. Trata-se da organização do Mercado Agropecuário de Redução de Emissões (MARE), contribuição valiosa para a defesa do meio ambiente. Propicia justa remuneração aos que o preservam e um mecanismo de compensação para aqueles que não podem, no curto prazo, reduzir suas emissões. 

4. APP Global 
A CNA, Embrapa e a Agência Nacional de Águas (ANA) lançaram proposta de universalizar o princípio da Área de Proteção Permanente (APP) nas nascentes, margens de rios e áreas de recarga de aquíferos subterrâneos, como forma de proteger a integridade dos cursos d’água. No Brasil, APP é lei. Sendo um conceito universal, benéfico aos rios de todo o planeta, deve ser estudado e aplicado conforme as peculiaridades de cada país. 

5. Fundos para terra degradada 
Nenhum produtor é inimigo de sua própria terra. Degradação é fruto da pobreza. É a tecnologia que gera a prosperidade. Daí a necessidade de integrar ecologia à economia, sem transformar a defesa ambiental num tribunal. A prioridade não pode ser punir, mas instruir e viabilizar a recomposição, por meio de pesquisa, financiamento e incentivos ao uso de tecnologia. 

6. Extensão Rural 
Os insumos tecnológicos agropecuários precisam ser democraticamente disseminados. Essa é a grande revolução agrícola que a humanidade carece: a distribuição do conhecimento, fonte maior da prosperidade e justiça social. 

7. Assimetrias 
É preciso reduzir as assimetrias de regulamentação ambiental entre as nações, sem ferir o princípio da soberania. Para isso, fazem-se necessárias conferências internacionais como esta, com efetivo apoio dos governos

A foto mostra a cara de um Brasil que não sabe o que é honra e perdeu a vergonha

“O símbolo da pouca vergonha nacional está dizendo que quer ser presidente. Daremos a nossa vida para impedir que Paulo Maluf seja presidente.” (LULA, junho de 1984) 

 “Como Maluf pode prometer acabar com ladrão na rua enquanto ele continua solto?” (LULA, setembro de 1986) 

“Os administradores do PT são como nuvens de gafanhotos.“ (PAULO MALUF, março de 1993) 

 “Maluf esquece de seu passado de ave de rapina. O que ameaça o Brasil não são nuvens de gafanhotos, mas nuvens de ladrões. Maluf não passa de um bobo alegre, um bobo da corte, um bufão que fica querendo assustar as elites acenando com o perigo do PT. Maluf é igualzinho ao Collor, só que mais velho e mais profissional. Por isso é mais perigoso.” (LULA, março de 1993) 

 “Ave de rapina é o Lula, que não trabalha há 15 anos e não explica como vive. Ave de rapina é o PT, que rouba 30% de seus filiados que ocupam cargos de confiança na administração. Se o Lula acha que há ladrões à solta, que os procure no PT, principalmente os que patrocinaram a municipalização do transporte coletivo de São Paulo”. (MALUF, março de 1993) 

 A foto abaixo informa que, em 18 de junho de 2012, sem que nenhum deles tivesse abjurado publicamente o que disse do outro, os velhos inimigos se juntaram para vender ao eleitorado paulistano a mercadoria que Lula contempla com o olhar orgulhoso de criador e Maluf afaga com o olhar guloso de quem vê um novo filão a explorar. Fernando Haddad tem o jeito hesitante do filhote que não consegue andar sozinho. 

 À esquerda, o sorriso de Rui Falcão atesta que o presidente do PT está feliz por confraternizar com o que sempre chamou de “direita reacionária”. À direita, o vereador Wadih Mutran, negociante de longo curso, avalia quanto vale um Haddad fantasiado de nova esquerda. 

 O chefe da seita, Aquele que Só dá Ordens, curvou-se à imposição de Maluf: além de outro cofre no Ministério das Cidades, o dono do PP fez questão de posar para a posteridade ao lado de Lula. É uma foto para se guardar. Desnuda a cara de um Brasil Maravilha que não sabe o que é honra nem tem vergonha de nada. Escancara a face horrível da Era da Impunidade.

Porque estivemos fora do ar neste dias

Os parcos leitores que frequentam esse blog notaram que ficamos alguns dias sem postar matérias. É que o provedor suspendeu os serviços. 
Não vou me alongar muito sobre a audiência desse blog e sua finalidade para não alimentar o Pepedo com seu blog repugnante. Só posso adiantar que esse blog é feito para pessoas que colocam seu neurônios para funcionar. Aqui são postadas matérias que nenhum site ou blog da Chapada Diamantina tem coragem de postar. Escrevo o coloco matérias (principalmente de Reinaldo Azevedo) segundo critérios de relevância e objetividade. 
Vivemos no alto sertão do Polígono das Secas; isso quer dizer que há poucas conexões e interatividade culturais. O ambiente é conservador onde o mando político costuma eternizar-se numa casta familiar. Não há renovação de idéias nem de práticas políticas. O governante de plantão será sempre incensado, não importa qual partido ou linha política. As pessoas giram em círculos conversando sempre os mesmos assuntos e frequentam sempre os mesmos  lugares. Vive-se por viver. E para não me comprometer ainda mais só posso dizer que não fosse a internet e televisão, viveríamos ainda na idade das trevas. 

terça-feira, 12 de junho de 2012

Toque de recolher

Dora Kramer - O Estado de S.Paulo

Há convocações e convocações. Na história recente do Brasil a oposição ao regime militar levou às ruas milhares para pedir da "anistia ampla, geral e irrestrita" e reuniu milhões para exigir eleições "Diretas-Já". 

Anos depois um presidente acuado por denúncias de corrupção foi à TV conclamar o povo a sair "vestido de verde-amarelo" em sua defesa e o que viu nos dias seguintes foi surgir uma mobilização de gente vestida de preto a pedir a interrupção de seu mandato. 

Qual a diferença entre as duas situações? Em essência, a natureza da causa. 

Inevitável pensar nesses dois acontecimentos quando se vê o principal réu do processo do mensalão, o ex-ministro e deputado cassado José Dirceu, a conclamar estudantes e movimentos sociais a se mobilizar contra não se sabe exatamente o quê. 

Dirceu não é específico. Pelo tom, pretende que as pessoas se mobilizem para pressionar o Supremo Tribunal Federal a inocentá-lo: "Todos sabem que esse julgamento é político, essa é uma batalha a ser travada nas ruas senão a gente vai ouvir uma só voz, pedindo a condenação sem provas. É a voz do monopólio da mídia". 

Pelo texto do discurso dirigido à União da Juventude Socialista reunida em seu 16.º congresso, José Dirceu gostaria que seus defensores ficassem "vigilantes" para não permitir "um julgamento fora dos autos". Para garantir que a "Justiça cumpra o seu papel" e impedir que o processo se transforme "no julgamento de nossa geração". 

Qual geração? A dele, a dos jovens estudantes ou dos dirigentes dos movimentos sociais? Primeira dúvida.  

Segunda: o que significa ficar "vigilante"? Vigiar os juízes, montar vigílias nas praças? 

Terceira dúvida: de que maneira estudantes e movimentos sociais garantem um "julgamento nos autos", dando lições de direito constitucional e penal aos magistrados? 

Quarta e última dúvida: em que momento Dirceu ouviu "a voz do monopólio da mídia" defendendo a condenação? 

Como não apontou casos específicos, cabe a pergunta genérica, pois no geral o que se tem visto e ouvido é a defesa do julgamento ao tempo próprio. Seis anos depois de oferecida a denúncia. 

José Dirceu pode dizer o que quiser e, dentro das balizas legais, fazer o que bem entender em sua defesa. Só não pode pretender fazê-lo sem contraditório. 

Pode até mesmo acreditar que as massas tomem as ruas em prol de sua absolvição, embora pareça inútil, pois as massas andam amorfas. Tomem-se dois exemplos recentes, ambos estrelados pelo presidente do PT, Rui Falcão. Primeiro ele pediu que apoiadores do partido clamassem pela instalação de uma CPI com vista a "desmascarar os autores da farsa do mensalão". Nada, silêncio sepulcral. 

Depois, no episódio do encontro entre Lula e o ministro Gilmar Mendes no escritório do advogado Nelson Jobim, convocou mobilização popular em defesa do ex-presidente. Calados estavam os populares, calados ficaram. 

Sem querer jogar água fria no entusiasmo de ninguém, resta uma evidência a ser levada em conta: se já anda difícil reunir as pessoas em prol de boas causas, muito mais difícil é lograr êxito em convocá-las a defender o indefensável. 

Em se tratando da estudantada, então, os tempos apresentam-se mais bicudos agora que o Ministério Público investiga a União Nacional dos Estudantes e a União Municipal dos Estudantes Secundaristas por malfeitos semelhantes aos cometidos pelos tão criticados políticos: uso indevido de verbas públicas. 

O jornal O Globo revelou que o procurador Marinus Marsico identificou notas frias nas contas das entidades que receberam dinheiro do governo e com parte dele compraram cerveja, vinho, cachaça, búzios, velas e telefones celulares. 

No dia seguinte, o mesmo jornal informou que nem um só tijolo da nova sede pela qual a UNE recebeu R$ 30 milhões (de um total de R$ 44 milhões) há um ano e meio, foi posto em pé. 

De onde ficam prejudicadas as cordas vocais da moçada que José Dirceu convoca a dar lições de legalidade aos 11 ministros do Supremo Tribunal Federal.

Diário da Dilma: Em festa que tem caviar não se leva sanduíche

PUBLICADO NA EDIÇÃO DE JUNHO DA REVISTA PIAUÍ

1º de maio ─ Não deu para emendar o feriadão. Na falta do que fazer, decidi azucrinar os bancos. Mamãe não resiste ao Bottini do Shoptime e só esse mês já comprou três frigideiras do George Foreman. Vai tudo para o cheque especial e quem paga os juros é a filhinha aqui. 

2 de maio ─ Quando pensam que minha criatividade acabou, eis que demito um ministro interino. Pelas minhas planilhas, só falta demitir um suplente para ticar todas as categorias. Espero que esse Brizola Neto me ajude a mexer na internet. Ando tão defasada. E não é que deu certo? Atendo o telefone e uma mocinha pergunta se pode estar falando com a dona Dilma Vânia. Digo que sou eu. A moça se oferece para negociar as taxas do meu empréstimo consignado… Digo que ligo mais tarde. Vou consultar o Guido. 

3 de maio ─ Patriota veio me dizer que passei um pito na embaixadora da Colômbia por engano. A moça falava um português impecável, achei que fosse da minha equipe. Tive de passar um pito no Patriota. 

“Veta, Dilma”, “Veta, Dilma”, só se fala nisso. Na hora de deixar o carro na garagem ou descartar sacola plástica o povo reclama. 

4 de maio ─ Lula passou o dia ligando para fazer trocadilhos porque mexi na poupança. Esse homem não tinha um instituto para tocar? Mexi, sim, e daí? Muita gente quis fazer, mas não fez. Conosco não tem enrosco! E olha que a imprensa nem falou mal. Dilminha está se saindo melhor do que a encomenda! 5 de maio ─ Vou apagar essas fotos do meu computador. Fiquei assustada com esse episódio da Carolina Dieckmann. 

6 de maio ─ Depois desse bafafá, estou curiosa para comer a tal galinhada. Mandei um ofício para o Kassab exigindo a receita. Esse novo presidente da França deveria bater o pé para ser chamado de socialisto. 

7 de maio ─ Chega segunda-feira e o Crivella vem me falar de tainhas. O pior é que não dá para mandar o homem para as profundezas do inferno. Que saudade do Luiz Sérgio. O bigode era péssimo, mas o homem era mais silencioso do que uma tilápia. 

Sérgio Cabral fez troça com a tintura de cabelo do Lobão. Mandei cortar os repasses do PAC. 

Lembrete: não autorizar viagens do Ministério de Minas e Energia para a França. Ontem vi a companheira do francês na tevê. Podre de chique. Melhor não arriscar contato com o Lobão. Seria ruim para mim e para o socialisto. 

8 de maio ─ Estava conversando com minha prima de Belo Horizonte e ela me deu um toque legal. Não posso usar aquela meia-manga nos blazers. Deixa meu braço mais curto, péssimo! Acho que vou pedir para a Helena Chagas convocar uma conferência de moda aqui no Palácio. A gente diz que é para estimular a indústria da moda, combater a crise. Quero convidar a Glorinha, a Constança e a Lilian Pacce. Como quem não quer nada, peço uns palpites. 

9 de maio ─ Gleisinha me apresentou a esse negócio de nail art. Trouxe uma moça aqui em casa para pintar estrelinhas do PT nas minhas unhas. Ficou uma graça. Durou pouco. Levei um passa-fora de mamãe, que já veio com a acetona e me obrigou a apagar tudo. “Isso é coisa de adolescente deslumbrada!”, parecia até uma gralha. Como faço para me emancipar? 

10 de maio ─ Adoro essas cozinhas contemporâneas que ficam integradas à sala. Mas aqui no Palácio é tudo antiquérrimo. Mamãe preparou a galinhada para o pessoal da Comissão da Verdade e ficou isolada na cozinha. Mandei a Gleisi pesquisar se tem que abrir licitação para contratar um decorador. 

11 de maio ─ Assisti um pirata inteiro de Homeland. Bárbaro! Ficamos eu e o Patriota até tarde vendo a série. Ele achou tudo muito verossímil! 1

12 de maio ─ Por falar em assistir: o que é esse Lacombe da Globo? Respondo: uma via real do pecado. Ontem ele apareceu fazendo ginástica. Parecia um replicante sensual de Blade Runner. Apesar de serem sete e meia da manhã, senti um calor que nem sei. Se não me apoio, caio no chão. 

13 de maio ─ Brasil Carinhoso. Eu <3 João Santana. 

14 de maio ─ Sarney disse que tem a receita para a crise europeia. Quer encontrar a Merkel e o socialisto para apresentar o Plano Cruzado. Aguento? 

15 de maio ─ Quem esses prefeitinhos pensam que são para vaiar Dilminha? Dá vontade de torrar todos esses royalties na H. Stern. Só de birra. Meti o dedo na cara do Paulo Ziulkoski e soltei: “Meu querido, tenho popularidade de 64% e sou a segunda mãe mais poderosa do mundo. Comporte-se direito ou vai ficar sem sobremesa!” 

Nota: Bem que o João Santana vive dizendo para eu não falar de improviso. 

16 de maio ─ Passou um filme na minha cabeça durante a posse da Comissão da Verdade. Tô virando manteiga derretida. Fiz um chá dançante para os ex-presidentes lá em casa só com músicas do Geraldo Vandré. O Sarney queria tocar Mercedes, mas eu disse que a noite era da MPB. Essa coisa de congraçamento é muito bonita. Senti uma paz boa por dentro. Pensei até em pedir que todos se dessem as mãos para cantarmos aquela canção tão bonita baseada na oração de são Francisco, mas me segurei em respeito ao Fernando Henrique, que é ateu. 

O Lula não parou de falar um segundo e ainda trouxe uma quentinha. Passei um pito nele. Em festa que tem caviar não se leva sanduíche. E nem cigarros aromáticos, viu FHC? 

17 de maio ─ Ainda bem que a ideia dessa CPI não foi minha. Quem pariu Mateus que o embale! O Vaccarezza precisava fazer aquilo? Bilhetinho para o Serginho, cheio de mumumu e mimimi? Para o Serginho fica aquela frase de Casablanca: sempre haverá Paris… 

18 de maio ─ “Hoje você é quem manda, falou tá falado, não tem discussão.” Acordei com essa música na cabeça. Impressionante como uma letra pode mudar de sentido com o passar dos anos. Nunca imaginei que cairia feito uma luva para mim. 

19 de maio ─ Menina, fiquei impressionada com esse IPO do Facebook. Mamãe, que continua enforcada no cheque especial, conseguiu comprar sete ações. Amém. 

20 de maio ─ Essa Xuxa, sinceramente. Liguei para a Ideli na hora para a gente comentar a entrevista. Não sei, não… Aquele negócio de ter filho com o Michael Jackson. Alguém acredita? Parece aquela história de nunca antes neste país… Ainda bem que o Lacombe apareceu depois para comentar a rodada. 

22 de maio ─ Será que o Sérgio Cabral vem para a Rio+20? 

23 de maio ─ Ai, meu Jesus Cristinho! As ações do Facebook caíram 18%. Mamãe está desconsolada porque tomou dinheiro emprestado para comprar as sete ações dela. Já disse: vai ter de vender a furadeira Black&Decker com 500 watts de potência que ela arrematou ontem de madrugada na promoção do Bottini. 

24 de maio ─ Paula me deu um box com a primeira temporada de Smash. Disse para eu me inspirar nos looks da Anjelica Huston. Comprei um guia de viagens para mamãe. Vamos ver se ela se manca. 

25 de maio ─ O Fernandinho até melhorou depois que o Kamura cortou o cabelo dele. Esse japonês é um artista! Vamos ver agora a repercussão. Tá fraco de voto o menino! 

26 de maio ─ Engordei 2 quilos. Essa briga com a balança me estressa. Vou fazer aquela dieta de cortar todos os carboidratos. 

Descobri um site inglês que é o máximo! Você manda seus dados, paga uma merreca e eles indicam a dieta. Tenho uma amiga no Itamaraty que fez e perdeu 5 quilos. Quem me dera…

Quem ama, pelo visto, mata! Desde que a vítima seja homem e rico, e a assassina, uma prostituta redimida! Eis um mundo bárbaro, boçal! Ou: O feminismo de faca na mão!

Vou tratar de um tema que, na aparência, nada tem a ver com política. Na essência, no entanto, não poderia ser mais político. Não o evento em si, mas o tratamento a que vem sendo submetido. Vejam como os tempos politicamente corretos podem ser estúpidos e condescender até mesmo com um crime bárbaro. Se acharem procedente, passem adiante e façam o debate. 

Caras e caros, confesso que estou surpreso, e um tanto estupefato, com rumo que vai tomando o noticiário sobre o assassinato e esquartejamento do empresário Marcos Matsunaga. A razão, o decoro, a civilidade e o bom senso estão sendo devorados — lá vem barulho, eu sei, mas não posso fazer nada — pelo feminino de botina e faca na mão que, tudo indica, tomou conta da imprensa. E pouco me importa se quem o pratica é homem ou mulher. Desde que Elize confessou ter matado o marido, começou o trabalho de construção da vítima e o do vilão! A vítima, no caso, é quem matou. E o vilão é o morto!!! 

Ontem, vi uma reportagem que sugeria que ela só deu um tiro na cabeça dele por legítima defesa. E por que decidiu fazê-lo em pedaços? É que tinha conhecimentos de enfermagem… Ah, bom! Quando operei o cocuruto, lembro de duas cenas com clareza: eu tentando ser engraçado instantes antes de levar Propofol na veia, que precede a anestesia pra valer, como se aquilo me acontecesse todo dia e não tivesse importância — todo mundo é meio idiota à beira do abismo, acho — e o sorriso benevolente das duas enfermeiras que me acordaram, muitas horas depois, na UTI. Não eram esquartejadoras. Não eram, não! Depois eu levei flores e chocolates para elas. Pensei até em fazer uma poesia. Mas achei que a continuidade da rotina da vida não valia tanta solenidade. Melhor celebrar com as coisas que perecem: flores e chocolate! Volto ao ponto. 

A história mexe com alguns clichês que foram sendo progressivamente abandonados até pelas novelas, dado do desgaste do enredo. A puta pobre conquistada pelo milionário já não rende mais fantasias, a menos que salte da telinha ou da telona para a vida real. É o caso. Elize era garota de programa, e Marcos, um cliente. Pelo visto, eles se apaixonaram, o que rendeu um casamento e uma filha — ele pai de uma criança de uma união anterior. Mas, oh desdita!, parece que o rapaz se sentia especialmente atraído pelo amor que ousa dizer seu preço. Já numa união estável com Elize — que sabia bem como o conheceu e tinha, portanto, pavimentado o caminho da desconfiança —, tornou-se amante de outra garota de programa, outra morena original (Elize havia se tornado uma falsa loura). Imagens gravadas por um detetive particular foram parar na televisão! À amante da vez, ele havia dado de presente um carro avaliado em R$ 100 mil! Era pródigo, pelo visto, nos amores que comprava. 

O advogado de defesa de Elize deve estar rindo de orelha a orelha. A imprensa trabalha pra ele, de graça. A esta altura, Marcos, o assassinado e esquartejado, já está caracterizado como o marido infiel, colecionador de armas, viciado em sexo pago, que não soube — e este é seu maior pecado para o feminismo de faça na mão — reconhecer o valor da puta que se redimiu e se tornou a amante extremosa. O mais escandaloso nisso tudo é que a imprensa não está se dando conta de que as informações de bastidores saem só de um lado do conflito porque o outro já não pode mais se manifestar, não é mesmo? Essa imprensa que perde os limites não precisa de controle social, não! Basta um pouco de vergonha! 

Atenção! Fosse Elize a dona de casa dedicada desde sempre, oriunda da mesma classe social de Marcos, que tivesse estudado em colégios caros, e essa asquerosa simpatia que vem granjeando na imprensa não seria tão saliente, ainda que o comportamento do marido fosse o mesmo. O fato de ter sido garota de programa e de ter se tornado mãe de família e mulher ciumenta, ciosa do casamento (!), excita a estúpida imaginação politicamente correta de parte do jornalismo. “Coitada! Ela bem que tentou uma vida regenerada, mas ele não deixou, ele não permitiu; queria humilhá-la!” Há aí algumas fantasias cretinas que vão se combinando. 

A primeira delas é a de que alguém se torna prostituta por alguma imposição do destino. Falso! Ainda que, excepcionalmente, possa ser assim, só continua no ramo quem quer — e o preço da remissão, obviamente, não há de ser um marido milionário. A segunda fantasia é a de que, na alma de toda puta, reside adormecida uma santa, esperando para acordar e passar lições de vida e moral. Não! Trata-se apenas de jeito nada digno de ganhar a vida. Ser mulher de empresário milionário certamente é mais fácil, e Elize, por óbvio, escolheu a lei do menor esforço, já que ele topou a parada. A terceira fantasia, dadas as origens dela e dele, é o confronto de classes. Se uma pobre — ou ex-pobre — mata um rico, supõe-se que, em alguma instância, isso representa uma forma de justiça e compensação. A quarta fantasia é mais difícil de detectar, mas compõe o substrato do noticiário e dá conta do espírito do tempo: de alguma maneira, Elize é a expressão, e não se espantem porque vou explicar direitinho, de um movimento de libertação da mulher — ainda que uma expressão trágica. 

Ângela Diniz e Doca Street 
Eu tinha 15 anos quando Doca Street matou Ângela Diniz, a “Pantera de Minas”, em 30 de dezembro de 1976, numa praia de Búzios, com quatro tiros. Ambos faziam parte da fina flor da elite brasileira. Ele foi julgado em 1979 e saiu livre do tribunal, condenado apenas por homicídio culposo. Beneficiado por sursis, foi solto imediatamente. Do lado de fora, foi saudado como herói. O advogado de defesa era o lendário criminalista Evandro Lins e Silva (o que Márcio Thomaz Bastos gostaria de ser quando crescer), que havia sido ministro do Supremo Tribunal Federal entre 1963 e 1969, aposentado compulsoriamente pelo AI-6. Lins e Silva era um monumento do pensamento progressista brasileiro e assim continuou, até a morte, em 2002. Em 1992, foi ele o advogado de Barbosa Lima Sobrinho, presidente da ABI ( Associação Brasileira de Imprensa), e de Marcelo Lavenère, presidente da OAB, autores da ação popular que solicitou à Câmara dos Deputados a abertura do processo de impeachment de Fernando Collor. 

Por que lembro essas credenciais do ilustre criminalista? Porque, no julgamento de Ângela, ele defendeu a tese mais reacionária que estava a seu alcance: Doca matara Ângela para defender a sua honra. Hábil, Lins e Silva levou o júri a julgar a morta, não o assassino. Ela foi caracterizada como bissexual (era verdade), viciada em drogas (provavelmente verdade), promíscua (havia indícios de que sim), chegada a orgias (idem) etc. E ele? O homem apaixonado, que deixara um casamento estável com a milionária Adelita Scarpa, seduzido pelos ardis maléficos da “pantera”. Ainda me lembro de uma frase pronunciada por Lins e Silva: Ângela seria aquela que passava “mais tempo na horizontal do que na vertical”… 

A promotoria recorreu, e um novo julgamento foi realizado dois anos depois. Aí a coisa toda já havia se invertido. Bastou esse tempo para que ficasse claro que “quem ama não mata”, nome de um movimento iniciado no país, especialmente por mulheres, que virou programa de televisão. No novo julgamento, Doca foi condenado a 15 anos de cadeia. Afinal, na história daquele “homicídio culposo”, havia um fato que a retórica inflamada de Evandro conseguiu minimizar: ele dera um primeiro tiro com a Beretta. A arma travou. Ele a destravou e desfechou mais três. 

Volto aos dias de hoje A imprensa faz com Matsunaga hoje o que Evandro Lins e Silva fez com Ângela no julgamento de 1979 — com a ajuda de certa imprensa sensacionalista. O jornalismo sério já se escandalizava, como prova reportagem de VEJA, de 24 de outubro de 1979, que julgada, naquele caso, fosse a morta, não o assassino. A exposição que se fez da vida dissoluta de Ângela Diniz parecia — e, no fim das contas, era mesmo — uma espécie de justificativa da pena de morte que o amante decidira lhe aplicar. Ora, não é o que se está fazendo agora com Marcos Matsunaga? 

Acho absolutamente indecoroso, asqueroso mesmo, que o filme gravado por detetives particulares contratados pela assassina, que mostram o empresário em companhia de uma garota de programa num restaurante, sejam exibidos na televisão. Digam-me: em que isso esclarece as circunstâncias da morte? ORA, ENTÃO ESTAMOS DE VOLTA AO ASSASSINATO “EM LEGÍTIMA DEFESA DA HONRA”? Há 31 anos, em 1981, no segundo julgamento de Doca Street, o país emitiu sinais claros de que não aceitava mais essa tese. Por que ela volta, agora, com essa força? Honra se lava com sangue? 

Então agora volto ao ponto inicial. O pensamento politicamente correto — qualquer um — é uma evidente expressão do mais detestável reacionarismo, só que com sinal trocado. Não duvidem: um marido que tivesse feito picadinho de uma adúltera estaria sendo execrado pela imprensa — e, se querem saber, com razão. Ou de que sociedade, afinal de contas, estamos falando? Este e um país que tem uma lei chamada “Maria da Penha” para coibir e punir o espancamento de mulheres. Quando os casos chegam à imprensa, ninguém se ocupa — com acerto — de saber detalhes do desentendimento conjugal que acabou resultando na agressão. E nem seria mesmo o caso. Não é para agredir e pronto! 

Mas é próprio do politicamente correto ignorar o fato e as personagens em si para se fixar num enredo protagonizado por categorias. Elize está sendo tratada, no fim das contas, como a mulher que conquistou “o direito” ao crime passional, atingida pela mesma honra ferida que levava, ou leva ainda, os homens a matar. Não me lembro de ter visto nada parecido! O caso Ângela Diniz trouxe um bom ensinamento ao país no segundo julgamento: o assassinato para lavar a honra é inaceitável, não importa se a vítima é puta ou santa. 

Marcos Matsunaga, o esquartejado, está tendo agora a honra feita aos pedaços pelos supostos bons preconceitos do politicamente correto. Se, em vez de uma amante, ele tivesse 10, faria alguma diferença? 

Encerro com um apelo: parem de levar ao ar filmes e detalhes da vida desse homem que podem servir a qualquer coisa, menos para explicar por que aquela senhora deu um tiro em sua cabeça e esperou a rigidez cadavérica para fazê-lo em pedaços, enquanto a filha brincava no quarto ao lado. Depois pegou o cartão de crédito dele e foi comprar malas Louis Vuitton. 

Por Reinaldo Azevedo

O MAL ESSENCIAL DO BRASIL É O TAMANHO DO ESTADO! OU: ATÉ O LIBERALISMO FOI ESTATIZADO NO BRASIL!

O Brasil precisa de mais transparência? 
O Brasil precisa de mais democracia? 
O Brasil precisa de menos corrupção? 
O Brasil precisa de menos impunidade? 
O Brasil precisa de mais vergonha na cara? 

Então não tem jeito: o estado tem de diminuir! Dado o seu tamanho, é ingovernável segundo padrões mínimos de moralidade e decência. Temos a combinação do capeta, que nos coloca entre os países mais corruptos do mundo: um estado-empresário gigantesco, com cargos distribuídos segundo a conveniência do governo de turno. Aí alguém objeta: “E a China?”. O que tem a China? Também disputa o topo no ranking da corrupção. Se, por aqui, a ascensão a cargos de comando se dá segundo a conveniência dos vários partidos que se associam para disputar o poder, por lá se dá segundo a lógica de ascensão no seio do partido único. 

Analisem o noticiário. Não há um só escândalo no país que não nasça da organização mafiosa de entes privados para negociar com organizações mafiosas de entes estatais. Por que há menos casos de corrupção nos EUA? Não é só por causa da legislação e da mecânica processual, que pune com mais celeridade os vagabundos. É porque a chance de fazer negócios — e, portanto, negociatas — com o estado é muito menor. Inexistem estatais por lá. Não há uma PetroUSA ou uma EletroUSA a serem extorquidas ou a extorquir. Obama tem menos poderes imperiais do que Dilma Rousseff, é fato. O sistema político, que é, na prática, bipartidário, impede a fisiologia. Não há horário eleitoral gratuito a determinar alianças políticas (santo Deus!!!). Há quase 30 mil cargos federais de livre provimento no Brasil — nos EUA, não chegam a 9 mil; no Reino Unido, são apenas 300!!! Tudo isso, é verdade, diminui enormemente a chance de, como direi?, a má natureza humana se manifestar. Mas nenhum fato é tão importante quanto a existência de empresas estatais gigantescas que podem fazer a sua própria política — sob a inspiração do loteamento de cargos entre os partidos. Aí é o pior dos mundos. 

Vejam o caso do financiamento do subjornalismo pistoleiro, um aspecto para o qual tenho chamado a atenção já faz alguns anos. Em que país do mundo democrático bancos públicos financiariam páginas, eletrônicas ou de papel cujo objetivo declarado é atacar aqueles que o partido do poder considera “inimigos”? Imaginem se órgãos federais nos EUA poderiam financiar a rede de difamação dos adversários de Obama… É um troço absolutamente impensável. Aqui, essa prática é escancarada. 

Infelizmente, nos nove anos de governo petista, a cultura do estatismo se agigantou. E contra os fatos. Foi a privatização da Telebrás que permitiu, por exemplo, o desenvolvimento acelerado da economia da informação. Não obstante, foi justamente a privatização da Telebrás o cavalo de batalha cavalgado pelo PT para satanizar o governo FHC. Nesse tempo, por intermédio da forte atuação do BNDES na fusão de grupos empresariais, sob o pretexto de criar players globais, o estado aumentou seus tentáculos também no setor privado. Dados os poderes imperiais do Executivo para regular a economia, a legislação tributária e fiscal pode eleger setores que serão beneficiados por incentivos e isenções fiscais. 

O resultado desse modelo é um só: déficit de democracia. Por quê? Porque o aparelho estatal e o setor privado passam a orbitar, necessariamente, em torno do governo, dependentes de suas vontades. Volto aos EUA. Ainda que Obama quisesse, sei lá eu, punir empresas que financiam think tanks republicanos, ele não teria como fazê-lo porque não dispõe de instrumentos para tanto. O mesmo valia para Bush com as que financiavam os democratas. No Brasil, bastaria um telefonema — o preço da rebeldia pode ser a suspensão ou não concessão de um financiamento. 

Há um setor que escapa desse massacre estatal: a imprensa independente, que se financia no mercado. Não é de oposição; não é de situação. Não é de esquerda; não é de direita. Atenção! Poderia, sim, fazer as suas opções — a exemplo do que ocorre em todo o mundo democrático. Mas não tem sido essa a prática por aqui. Busca-se, de forma obsessiva, a neutralidade — avalio, vocês sabem, que, na média, os valores à esquerda triunfam (mas deixo isso para outro momento). 

Não por acaso, o principal alvo do partido do poder, o PT, hoje em dia, é justamente essa imprensa independente, que consegue escapar ao controle estatal e não cede à chantagem do poder. Os petistas não se conformam com essa independência e falam de modo obsessivo em “controle social da mídia” — que é, na verdade, “controle partidário da informação”. Não conseguem aceitar uma forma de diálogo com a opinião pública que escape ao controle do estado — que, no caso, se confunde com o controle do próprio partido. 

Então aparecem os Dirceus e os Bastos da vida para acusar a imprensa de ser “parcial”, de tentar impor a sua visão de mundo, de ser “opressiva” etc. Ou temos, a exemplo do que fez Eduardo Paes no encontro da Juventude Socialista, autoridades que empenham solidariedade justamente àqueles que, flagrados em falta, devem explicações à sociedade. Trata-se, em suma, de ações que buscam silenciar as poucas vozes que se fazem ouvir contra as imposições dos tais “donos do poder”. 

Não há reforma política, eleitoral ou administrativa que nos conduza a um bom lugar enquanto o estado tiver esse tamanho e seus mandatários de turno puderem impor a sua vontade. Uma simples lei de acesso à informação vai para o brejo porque as estatais dizem que se trata de segredos empresariais. E onde estão, afinal de contas, os nossos liberais? Alguns deles estão lá, acafofados no Palácio, prestando vassalagem ao Poder Executivo. 

Ou por outra: até o liberalismo foi estatizado no Brasil! 
 Por Reinaldo Azevedo

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Mapeados imensos aquíferos de água doce no Saara e em toda África


Entre os medos espalhados por um falso ecologismo está o do fim da água doce e o de uma desertificação planetária. De acordo com a sua patranha propagandística, o mundo, inclusive a Amazônia, estariam a caminho de virar um imenso Saara, por culpa da ‘infausta’ obra do homem! 

Descendo, contudo, à realidade, recente mapa geológico elaborado por cientistas britânicos mostra que a África descansa sobre uma “descomunal reserva de água subterrânea” cujos maiores aquíferos ficariam no norte, quer dizer, debaixo do Saara, informou o diário “ABC” de Madri. 

O volume total de água sob a superfície atingiria meio milhão de quilômetros cúbicos ou 500 quatrilhões de litros, quantidade suficiente para alimentar a cidade de São Paulo durante 4.453 anos sem levar em conta a reposição do aquífero. 

Tal volume equivale a vinte vezes as precipitações anuais em todo o continente africano e é cem vezes maior de tudo o que se conhece na superfície africana. 

Alguns poços já podem ser explorados com mínimo investimento, pois a água se encontra a apenas 25 metros de profundidade. 

A exceção é a Líbia, onde os aquíferos se encontram a partir de 250 metros. Neles seria necessária uma infraestrutura mais cara e complexa. 

Cerca da metade dessas colossais reservas encontram-se na Líbia, na Argélia e no Chade, coincidindo com boa parte do deserto do Saara, explicou Alan MacDonald, o geólogo que liderou a investigação. 

“Estas grandes jazidas de água não só poderiam aliviar a situação de mais de 300 milhões de africanos que agora não dispõem de água potável, mas também melhorar a produtividade das plantações”, disse o especialista do instituto científico British Geological Survey. Participaram do trabalho especialistas do University College de Londres e se tratou da primeira investigação de todas as reservas de águas subterrâneas mapeadas do continente. 

Os especialistas aproveitaram também os planos hidrológicos elaborados por diversos países e os resultados de 283 estudos regionais prévios. 

No norte da África – a região desértica do continente – os depósitos de água têm uma altura de 75 metros e encontram-se protegidos por camadas rochosas de grande resistência, como o granito. 

Esses aquíferos não acumulam água de chuva filtrada através da terra, mas remontam a cerca de 5.000 anos, época em que o Saara era formado por hortos, com numerosos lagos e vegetação de savana. 

Os aquíferos do Saara não são os únicos na Africa. Os geólogos acharam grandes jazidas na costa da Mauritânia, do Senegal, da Gâmbia, em parte da Guiné-Bissau e do Congo, bem como na região partilhada entre Zâmbia, Angola, Namíbia e Botswana. 

“No Chifre da África há aquíferos menores, mas em quantidade suficiente para o consumo humano e não seria caro explorá-los por meio de poços. Além do mais, não seria necessário investir no tratamento da água, porque sua qualidade é muito boa”, esclareceu MacDonald. 

O especialista observou que embora esses sistemas possam sustentar 300 milhões de pessoas, seria prudente explorá-los com certos limites. “Na maioria da África as precipitações não são suficientes para recompor os aquíferos, por isso eu recomendaria não tirar uma quantidade de água maior que a recarregada a cada ano pela chuva”, acrescentou. 

Trata-se de um conselho de bom senso palmar, o qual falta ao ambientalismo catastrofista (que talvez finja não possuí-lo).

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Mensalão — Julgamento marcado: Lula e Dirceu perderam. Isso quer dizer que o STF e as instituições ganharam! Pena Lewandowski ter faltado!


Não sei qual será o resultado do julgamento dos mensaleiros no Supremo Tribunal Federal. A decisão cabe aos 11 membros da corte. Uma coisa, no entanto, sei com certeza: as instituições ainda não se renderam ao charme truculento de Lula ou à sua truculência charmosa, avalie cada um segundo a sua sensibilidade. A decisão tomada ontem por 9 dos 11 ministros do Supremo em sessão administrativa, estabelecendo o rito de julgamento do processo, definiu um caminho. Caberá agora ao ministro Ricardo Lewandowski, um dos ausentes à reunião — o outro foi Dias Toffoli, que tinha um compromisso social em São Paulo —, entregar o seu trabalho ainda neste mês de junho para que agosto ponha termo a um episódio que fez aniversário justamente ontem: no dia 6 de junho de 2005, há exatos sete anos, o então deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), em entrevista à Folha, acusava a existência da quadrilha do mensalão. Que ninguém ainda tenha sido criminalmente punido em razão do maior escândalo havido na história republicana, eis um fato que deveria nos envergonhar como nação. É impressionante que alguns ainda tenham a cara de pau de falar em “açodamento”.

Açodamento? Sete anos depois? Ignoro, reitero, o que fará cada ministro. Mas podemos declarar derrotadas todas as manobras, as legais e as ilegais, para tentar impedir que o mensalão fosse julgando ainda neste ano. Nesse particular, Lula e José Dirceu perderam. Venceram a autonomia do Poder Judiciário — ou, ao menos, a sua parte saudável — e, sim, a imprensa independente, que não existe para prestar serviço a candidatos a tiranos e a jagunços que ousam assombrar o estado democrático e de direito.

Dado o rito, o ministro Cezar Peluso tem plenas condições de participar do julgamento. Por quê? No dia 1º de agosto, Joaquim Barbosa, o relator, apresenta uma síntese do seu voto, um parecer. Em seguida, o procurador-geral da República formaliza a acusação. E tem início então a defesa, que se estende até o dia 14, em sessões diárias, de segunda a sexta. Aí os ministros começam a votar.

Ouvidas acusação e defesa e podendo ter acesso à integra do voto do relator e do revisor do processo, Peluso pode deixar redigido o seu voto, ainda que o processo avance setembro adentro. Mas há ministros na corte, como Gilmar Mendes e Luiz Fux, que veem condições de que tudo termine em agosto.

Lewandowski, o revisor, para quem se voltam todos os olhos, muito especialmente os do estado de direito, sabia da sessão de ontem, é evidente, e de sua pauta. Mesmo assim e sendo quem é no processo, preferiu não participar. O cronograma foi aprovado pela unanimidade dos nove presentes. Não parece plausível supor que ele frustre não a expectativa dos pares que tomaram aquela decisão, mas a do país. Vamos ver.

Ontem, a defesa de José Dirceu veio a público para asseverar que ele estava satisfeito com a definição do calendário e que é de seu gosto ser julgado logo. A função da defesa é defender, e não há muito o que especular a respeito disso. Mas é balela. Ele e Luiz Inácio Lula da Silva fizeram o permitido e, sobretudo, o não-permitido para melar esse julgamento, para inviabilizá-lo ainda neste ano. O ex-presidente, como é sabido, estava assediando ministro da corte para empurrar o julgamento para o ano que vem. No caso de Gilmar Mendes, a conversa assumiu tintas de chantagem — que nem sempre é feita manipulando fatos; ao chantagista podem bastar, como era o caso, os boatos.

A decisão dos ministros do Supremo foi tomada 10 dias depois de VEJA revelar a conversa indecorosa de Lula com Mendes e na semana em que a revista apresentou evidências de que os petistas da CPI tinham em mãos uma espécie de cartilha para tentar desqualificar o ministro, o procurador-geral da República e a imprensa, fazendo da comissão, como anunciara previamente Rui Falcão em vídeo conhecido, mero teatro de achincalhe e plataforma para acusar o que chamou de “farsa do mensalão”.

Tornado público o avanço de Lula contra a independência do Judiciário, o STF preferiu não emitir uma nota pública, mas fez, entendo, algo mais importante do que isso: evidenciou que há ali homens e mulheres — independentemente do conteúdo de seu voto, reitero (a qualidade de cada um, veremos depois) — que entendem que a corte suprema de um país não pode estar sujeita a esse tipo de pressão, de arreganho autoritário, de mandonismo primitivo. Assim, ainda que a expectativa dos decentes possa não se cumprir — ver condenados os mensaleiros —, é bom saber que o tribunal conserva o DNA da independência.

Em certa medida, talvez todos devamos ser gratos a Lula e a Dirceu — e também a Rui Falcão, braço dirceuzista na presidência do PT — pelo destrambelhamento, pelo açodamento, pela fanfarronice. Não fosse a sede com que foram ao pote; não fosse, mais uma vez, a certeza da impunidade e a onipotência com que avançaram contra as instituições, sequiosos de vingança, talvez Lewandowski enxergasse ainda mais tempo para fazer a história avançar em câmera lenta. Diante das escandalosas evidências de que a reputação do próprio Judiciário está em jogo — e, pior, tendo a sua instância máxima da berlinda —, sobrou ao tribunal evidenciar, agora de maneira clara, inequívoca, sem chances para segunda interpretação, que o país está à espera de Lewandowski. Ele teria lustrado a instituição e o bom senso se tivesse aparecido na sessão desta quarta. Mas preferiu se ausentar.

Lula já chegou a dizer que, na Venezuela de Hugo Chávez, havia “democracia até demais” — o que nos faz supor que, para seu gosto pessoal, haveria ainda menos. Quem é capaz desse juízo explica por que assedia ministros do Supremo. Imaginem… O Apedeuta deve lastimar profundamente os traços da “ditadura brasileira” que não lhe permitem impor a sua vontade aos juízes.

E encerro com uma questão que projeta esse debate para o futuro. Ministros que são titulares do Supremo, que já não dependem da vontade deste ou aquele, foram alvos daquele assédio criminoso — crime previsto no Código Penal. Por uma questão de lógica, começo cá a imaginar como são conduzidas as conversas com aqueles que disputam uma indicação. Ainda neste ano, Dilma terá de apontar dois nomes para integrar o Supremo, nas vagas de Peluso (sai em setembro) e Ayres Britto (sai em novembro). Como será o assédio àqueles ou àquelas que são apenas aspirantes às vagas? Se o jogo é bruto com quem, afinal, pode muito, a gente supõe como é com quem ainda não pode tanto…

Se haverá absolvição ou condenação em massa, isso, insisto, não sei. O que sei é que a definição do cronograma, pouco importa o voto de cada membro do STF, representou a derrota de Lula e Dirceu e a vitória das instituições democráticas. E eu incluo nesse grupo a imprensa que ousa chamar as coisas pelo nome que elas têm e milhares de brasileiros que, a exemplo dos leitores deste blog, se mobilizaram para dizer: “Entregue o seu trabalho, Lewandowski”!
Por Reinaldo Azevedo

E o que fez o PT numa universidade federal que é um pardieiro? Chamou a polícia para desalojar invasores… E nenhum deputado do partido apareceu para protestar!

Lembram-se da Reitoria da USP invadida por aqueles patriotas? Eles não reivindicavam que a Universidade de São Paulo oferecesse condições mínimas de ensino. Até porque a infraestrutura da instituição é bastante apreciável. Não é o caso do campus de Guarulhos da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), que está em condições miseráveis. Os porraloucas da USP protestavam contra a… presença da PM no campus, que busca garantir a segurança de todos, para melancolia de alguns maconheiros!

A operação foi acompanhada pela imprensa ao vivo, em tempo real, como se uma operação de guerra estivesse em curso. Os petistas vociferavam: “Vejam como o governo de São Paulo é autoritário”! Pois é… Os estudantes da Unifesp também invadiram uma área da universidade. E também foram desalojados. Leiam com atenção o que informa a Folha. Volto em seguida.

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Oficiais de justiça, acompanhados de policiais militares e federais, cumpriram por volta das 16h desta quarta-feira a reintegração de posse do prédio invadido da Diretoria Acadêmica no campus da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) em Guarulhos (Grande SP). Inicialmente os alunos disseram que cerca de 50 pessoas foram retiradas do local. De acordo com a PF, porém, 30 pessoas que se encontravam no imóvel invadido e se recusaram sair foram encaminhadas à Superintendência da PF na Lapa, zona oeste, onde foi lavrado um termo por desobediência à ordem judicial. Os estudantes e a reitoria da Unifesp informaram que não houve violência durante a operação. A reintegração de posse foi determinada após a Justiça Federal receber informações da Unifesp sobre providências adotadas para melhorar o campus de Guarulhos.

Segundo a Justiça, a Unifesp apresentou documentos que apontam que parte das reivindicações feitas pelos alunos está sendo atendida, como início da construção do prédio central, moradia para estudantes, garantia de diversidade e qualidade de alimentação, transporte de qualidade, entre outras. A decisão afirma que “eventuais questionamentos sobre a condução de tais negociações devem ser discutidos em sede própria, não sendo a via do apossamento do prédio público, por meio de greve, hábil para reivindicar critérios ou irregularidades na gestão administrativas da universidade”.

Reportagem da Folha mostrou que a situação no local ainda é precária –o portão de entrada está destruído, o refeitório funciona de maneira improvisada num galpão de madeira e parte dos 3.070 alunos são obrigados a assistir aulas numa escola municipal vizinha ao campus.

Voltei
Reitere-se: a reitoria da Unifesp recorreu à Justiça com um pedido de reintegração de posse, a exemplo do que fez a da USP, e a obteve, circunstância que obriga a polícia a agir. A demonizada — inclusive pelos petitas — PM de São Paulo fez, também neste caso, o que a lei a obriga a fazer: retirar os invasores — com o auxílio da PF. Também eles, como os da USP, tiveram de prestar contas à polícia. A Unifesp está em greve desde o dia 23 de março, e os alunos ocupavam o prédio desde o dia 5 do mês passado.

Como todos vocês notaram, essa desocupação se deu sem alarde, longe dos olhos da imprensa. Não apareceu deputado petista para acusar a truculência da PM — que, com efeito, não houve; nem ali nem na USP.

E quero deixar uma coisa clara: embora a Unifesp esteja mais para um acampamento do que para uma universidade, eu não aprovo manifestações dessa natureza, venham de onde vierem. Não acho que greve de professores ou ocupação de um prédio público sejam respostas aceitáveis, por mais lastimáveis que sejam — E SÃO! — as condições da Unifesp. Não mudo de opinião a depender de quem seja o, como direi?, demandado. Mas também não igualo as diferenças: as revindicações dos invasores da Unifesp se sustentam numa incúria real do poder publico; os alunos estão recebendo menos do que a instituição deveria oferecer. Os invasores da USP, ao contrário, não queriam que as leis que valem para todos fossem aplicadas na universidade, como se integrassem um grupo apartado da sociedade.

Assim, temos que tanto a reitoria da USP como a reitoria da Unifesp usaram o legítimo direito de recorrer à Justiça para que se chamasse a polícia. A diferença é que a polícia, na USP, foi usada para conter rebeldes sem causa — ou com uma má causa; na Unifesp, para conter os exageros decorrentes de uma reivindicação justa. Fernando Haddad não vai se pronunciar?
Por Reinaldo Azevedo