sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Um recado para meus inimigos.

Os blogs e sites do Morro do Chapéu estão faturando muito. Naturalmente que para isso tem de se ter cuidado com as postagens. Há muita censura, muito proselitismo esquerdista, muitas ofensas. Agora mesmo estou sendo atacado em alguns deles. O pessoal está furioso, principalmente o PT, vez que politicamente no municipio o partido é um zero à esquerda. E de quebra estou fazendo o informativo da prefeitura, coisa que eles não queriam de jeito nenhum. E já estou preparando outro para novembro. E assim vai ser. Aos poucos minhas qualidades vão aparecendo, vou ficando mais exposto. Sei do que é capaz a turma da esquerda, uma turma raivosa, perseguidora, implacável. Mas estamos aqui firmes e fortes.
Há um imbecil que ainda não tirou as quatro patas do chão, que disse que faço serviços gráficos para a prefeitura numa gráfica de Irecê. Desafiei-o a provar. Dez caixas de cerveja ou 500,00, ele escolhe. Naturalmente que ele vai sair de baixo, conheço o tipo. Mas é assim mesmo. Quem diabo liga? A madeira vai continuar deitando, não adianta. Muitos inimigos, muita honra" como dizia o velho Francisco Matarazzo.

A internet na China comunista

Em 2009, a então estudante Jessie Yang tentou acessar o Facebook e não conseguiu. Pelos alertas que piscavam no seu correio eletrônico, ela percebia quando os amigos estrangeiros lhe enviavam uma mensagem, mas não podia responder nem ficar visível para eles. “Era como estar enterrada viva, angustiante”, lembra. O governo chinês, temendo a repercussão dos vinte anos do Massacre da Praça Celestial, baniu naquele ano a rede social do país. Mas autorizou a criação do Renren, versão chinesa do serviço, e do Weibo, o equivalente ao igualmente banido Twitter.
Para controlar os 420 milhões de usuários da internet, a China usa primeiro a lei e depois a tecnologia. As normas visam a limitar o uso da rede e facilitar o rastreamento dos internautas. Por exemplo, jovens entre 16 e 18 anos só podem frequentar lanhouses nos feriados ou em determinados horários. As casas são obrigadas a catalogar cada cliente pelo seu número de identidade, manter um arquivo dos sites acessados e usar os softwares que filtram as páginas proibidas – em torno de 600 000 hoje. Quem quer fazer um blog precisa se inscrever junto ao Ministério da Informação e, nas universidades, ninguém além dos estudantes (registrados) pode participar de grupos de discussão on-line. Para lembrar ao usuário que alguém está sempre de olho nele, o Departamento de Supervisão da Internet de Shenzen criou a “polícia virtual”, bonequinhos batizados de Jingjing e Chacha (a palavra “jingcha” significa “polícia”), que surgem no canto da tela informando a quem estiver diante dela que é o responsável por tudo o que acessa ou põe no ar.
Por fim, há o Grande Firewal, como é chamado o serviço encarregado do bloqueio de sites “sensíveis”, remoção de comentários indesejáveis e sequestro de mensagens de e-mail contrárias aos interesses do regime. Ninguém sabe ao certo quantos são os censores destacados para essa tarefa. Em 2008, Anne-Marie Brady, cientista política neozelandesa especializada no estudo da propaganda chinesa, falava em um exército de 40 000 pessoas. E ele segue aumentando.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Floresta não é tudo

Setembro e outubro são os meses para o debate ambiental no Brasil. É aniversário de 30 anos da política nacional de meio ambiente e o início da discussão sobre o novo código florestal no Senado Federal. Os senadores enfrentarão o compromisso público de avaliar seriamente o projeto. Em outras palavras, eles precisam dar a devida atenção ao que dizem especialistas em áreas como ecologia, biologia, engenharia florestal, e deixar de priorizar a repercussão econômica da mudança. O projeto, por exemplo, não considera as características intrínsecas aos diferentes biomas do país. Estabelece a metragem da área de preservação permanente (APP) à margem dos rios, sem considerar as diferenças entre as principais bacias hidrográficas.
Os senadores também precisam evitar fragilidades jurídicas no novo projeto. A lei de crimes ambientais é um exemplo do descaso com a correção e o respeito à norma. Na lei, os legisladores simplesmente esqueceram de explicitar a punição para a pessoa jurídica que cometer algum crime ambiental. Os juízes têm aplicado a pena dada à pessoa física – subtraindo, obviamente, a detenção do individuo. No código florestal vigente desde 1965, um outro problema. Não há a especificação da metragem da APP, detalhe que foi estabelecido em resolução do Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente). Isso não está certo. A determinação quanto ao uso de uma propriedade privada só pode ser estabelecido por lei e não por uma norma inferior. Um magistrado legalista poderá dar ganho de causa ao proprietário basicamente pelo desrespeito à hierarquia entre as normas, mesmo que ele tenha infringido uma lei ambiental.
Descuidos como esses e a priorização da demanda econômica não cabem na discussão de um assunto tão sério e urgente para o país. Um código não pode gerar dúvidas para os empresários. Deve, obviamente, dar segurança para quem planeja investir no Brasil. E esse investimento deve dar segurança à sustentabilidade dos recursos naturais e ambientais.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Grupo de Haddad ameaça aliados de Marta no PT com corte de verba

Por Bernardo Mello Franco, na Folha:

Aliados do ministro Fernando Haddad (Educação) aumentaram a pressão para tentar atrair petistas ligados à senadora Marta Suplicy na disputa interna que definirá o candidato do PT à Prefeitura de São Paulo em 2012. Integrantes do grupo dele usam os nomes do ex-presidente Lula e da presidente Dilma Rousseff e dizem que os colegas que permanecerem fiéis à ex-prefeita podem ser retaliados com perda de espaço no governo e até de verba para futuras campanhas. O objetivo é agravar o isolamento de Marta no partido e forçá-la a abrir mão da candidatura, o que evitaria a realização de prévias na sigla.

Haddad disse que não tomou conhecimento da prática e não autorizou nem apoia qualquer ameaça a rivais. A Folha apurou que, em conversas de bastidor, articuladores dele têm dito que a fidelidade a Marta será vista como uma insubordinação ao ex-presidente, que faz campanha aberta para lançá-lo. A pressão combina dois argumentos: 1) Lula pode exercer poder de veto com doadores em futuras campanhas; 2) Quem permanecer ao lado da senadora também enfrentaria dificuldades nas relações com o Planalto -uma referência indireta à distribuição de cargos e verbas federais. Um dos principais articuladores de Haddad repetiu esses dois pontos à reportagem “No PT, não existe vitória se Lula for derrotado”, disse. Aqui

Comento
Terminei de ler na segunda-feira um livrão, em vários sentidos, sobre o comunismo. Ainda conversaremos mais a respeito. O PT, evidentemente, não é comunista, mas é um dos herdeiros daquela tradição. A disputa de correntes dentro do partido nunca passou de uma mímica canhestra de democracia interna — já que a externa, de verdade, eles deploram; daí que tentem sempre sabotá-la. Na prática, vigora ali o centralismo democrático, esse delicioso oximoro que significa que a direção decide, e o resto cala a boca.

No PT, “o partido” é Lula. Raramente uma direção ou um líder locais conseguiram contrariar a sua vontade. O Apedeuta faz na seção paulista do partido o que fez na maranhense: lá, impôs a aliança com Roseana Sarney, e os que não aceitaram a determinação foram, na prática, punidos. Como já lembrei aqui muitas vezes, todas as pessoas que ousaram desafiar Lula na legenda foram esmagadas. Ele aceita de bom grado que um ex-inimigo se ajoelhe a seu pés, em sinal de sujeição, a exemplo de Collor e do próprio Sarney. Mas jamais aceitará ser nem mesmo contraditado por um amigo. E ponto final.

Eu jamais votaria em Marta — na verdade, jamais votaria num petista, como todos sabem. Mas, dada a história do partido, é evidente que a senadora está sendo vítima de uma prática extremamente truculenta, injusta mesmo. Afinal, ela tem muitos serviços prestados à causa. Lula não inova. Sempre foi assim. Quando três de oito deputados petistas votaram em Tancredo Neves no Colégio Eleitoral, contra Paulo Maluf, o Babalorixá de Banânia comandou pessoalmente os esforços para expulsá-los: José Eudes, Beth Mendes e Airton Soares. Cristovam Buarque e Eduardo Suplicy ousaram, certa feita, se considerar candidatos a candidatos à Presidência. Lula os fulminou. Um teve de sair do partido; o outro é tratado a tapas e pontapés.

Não sei se Marta resiste à pressão. Acho que não! Afinal, o partido tem dono. Mesmo esmagada, dificilmente deixaria o partido. O ritual de humilhação faz parte da mística da esquerda. O centralismo democrático, mesmo quando reduzido à decisão de um só — antes de Lula, houve Stálin… —, é que é a verdadeira infalibidade papal. O Santo Padre, à diferença do que se supõe, sempre decide de forma colegiada.

Eis aí: estamos vendo o que Lula faz com amigos recalcitrantes. Dá para imaginar como trata aqueles que considera inimigos. Ou melhor, ninguém precisa imaginar: dossiês, quebras de sigilo e afins evidenciam os métodos dessa gente.

Por Reinaldo Azevedo

O acidente de metrô na China e o buraco baiano

FABIANO MAISONNAVE

DE PEQUIM

Mais um terrível acidente sobre trilhos na China. Desta vez, dois trens de metrô da linha 10 de Xangai se chocaram nesta terça-feira, deixando ao menos 260 feridos, 20 em estado grave. Como na tragédia envolvendo trens-bala em julho, com 40 mortos, o país debate intensamente se a culpa está no ritmo alucinante de construção.

Xangai começou seu metrô apenas 16 anos atrás. No ano passado, se tornou o maior sistema do mundo, com 420 km. O recorde foi alcançado justamente com a inauguração da automatizada linha 10, construída a toque de caixa para ficar pronta a tempo da Expo Xangai.

Da mesma forma como reagiu ao choque dos trens-bala, grande parte da opinião pública chinesa, via microblogs, atribui os choques à pressa do governo. “Ambos os acidentes ocorreram por causa do projeto de ritmo acelerado da China, focado na velocidade e no progresso. A atenção à segurança é sempre negligenciada”, escreveu o blogueiro Bearbearoxox, no site Sina Weibo.

O governo chinês vê sentido de urgência no metrô e nas obras de infraestrutura em geral: com a estimativa de mais 400 milhões de chineses migrando para a cidade nas próximas duas décadas, é preciso se preparar para toda essa gente. Já ouvi mais de uma vez que o exemplo negativo vem da América Latina e sua caótica urbanização desordenada e violenta.

Invertendo o sentido, o Brasil das Olimpíadas e da Copa também deve ver a velocidade chinesa como mau exemplo? Nem tanto: hoje, comparar os dois ritmos atuais extrapola o dilema da lebre e da tartaruga.

Tomemos o metrô de Salvador, cidade que é uma das sedes de 2014. Em obras desde 1999, até hoje não entrou em operação _e isso que a linha 1 terá apenas 6 km. Se, num enorme exercício de boa-fé, acreditarmos que seja de fato inaugurada no ano que vem, terão sido 13 anos de espera.

Numa conta simples: se o mesmo consórcio da Bahia tivesse sido contratado por Xangai, a malha atual do centro financeiro chinês só ficaria pronta daqui a 913 anos, em 2908! E fossem os chineses abrindo buracos em Salvador, a linha 1 seria inaugurada em meros três meses!

Em nível nacional, a soma de todos os metrôs brasileiros é de 226 km, ou pouco mais da metade da malha de Xangai. A China conta com 1.395 km em funcionamento em 12 cidades. Até 2015, estima gastar mais US$ 155 bilhões para construir 96 linhas de transporte ferroviário urbano.

Os cínicos dirão que, pelo menos, os soteropolitanos não correm risco de acidente no metrô. Mas nem isso: em fevereiro, uma explosão no canteiro de obras deixou três feridos em Salvador, dois em estado grave.

Os paulistanos também se lembrarão da cratera que matou sete pessoas em Pinheiros, em 2007. Foi na Linha Amarela, que funciona com 9 km após sete anos de construção, média de 1,2 km/ano. O tatuzão brasileiro está mais para lesma do que para tartaruga.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Nossos aspirantes a fantasmas

Os fantasmas tomaram conta dos sites noticiosos de Morro do Chapéu, principalmente de um que coloca tudo o que esse povo escreve. Essa preferência de assim se apresentar talvez esconda um secreto desejo de desencarnar e tornar-se um fantasma de fato. Se assim é, eu sugeriria que essas almas atormentadas adotassem nomes que espelhassem suas personalidades. Não pense que o fantasma só faz aparecer e dizer bu. Nos dias que correm isso só vai assustar criancinhas ainda no berço. A galera anda meio descrente dessas coisas, e se o fantasma for brasileiro, é capaz de ser enxotado de casa raivosamente. Quando eu era pequeno, ouvia histórias de fantasmas os mais diversos. No mundo do além, assim como aqui, o fantasma tem sua personalidade perfeitamente delineada. Há o fantasma que gosta de freqüentar as casas arrastando uma corrente enferrujada fazendo um barulho assustador. Outros vão abrindo e fechando portas como um adolescente endiabrado. Mais um outro gosta de frequentar a cozinha derrubando louças e talheres. Uns chatos.
Nossos aspirantes a fantasma prometem um desempenho muito melhor que esses fantasmas antiquados que só assustam as pobres velhinhas indefesas. Eu tenho até uma lista de nomes que poderão adotar e levá-los aos degraus da fama, trazendo para a cidade, renomados exorcistas que seriam mais uma atração turística a ser explorada.
Vejamos
O infante insepulto
A múmia da capelinha
O vampiro mascarado
André, o sanguinolento ou blasfemador
O ogro assassino
Benedito sem sangue
O monge vampiro
O esqueleto do suicida
O zumbi da torre eólica

Como vêem, são todos representações assustadoras de fantasmas poderosos. Acredito que de todos eles, o aspirante a fantasma que vai provocar arrepios de horror é o André sanguinolento ou blasfemador. O rapaz parece que deu uma passada no mundo das almas penadas e lá aprendeu as mais terríveis blasfêmias que um padre pode imaginar. É cada insulto de deixar de queixo caído até o capeta mais endiabrado.
Acredito que o palco ideal para tão memoráveis representações seria o Ventura. Mas lá não tem mais gente e eles vão assustar a quem? Lá então seria um lugar de repouso depois de noites de espanto e terror na cidade. Eu como jornalista estarei de câmera e gravador em punho registrando tudo para depois postar no You Tube e Facebook. E Morro do Chapéu conheceria dias gloriosos com a exploração do turismo nessa área. Talvez até retome minha carreira de empresário, estabelecendo contratos ainda em vida para que cada hotel tivesse seu fantasma particular. E depois já pensaram quanto dinheiro não iria ganhar montando um a fábrica de água benta? De qualquer modo as perspectivas são excelentes e só temos que torcer para que nossos internautas fantasmas aprimorem seus dons em suas postagens nos nossos sites, para que, quando desencarnarem, estejam em ponto de bala para exercerem suas novas funções no mundo do além.

Rock in Rio é Woodstock capitalista

De festival de música, o Rock in Rio transformou-se num negócio internacional que movimentará mais de 125 milhões de reais em sua próxima edição

Anna Carolina Rodrigues, da EXAME.com
15h45 22/09/2011


Em julho de 1984, faltando apenas seis meses para a primeira edição do Rock in Rio, o publicitário carioca Roberto Medina estava prestes a desistir do evento. Tinha ouvido “nãos” de todas as 70 bandas que havia procurado para tocar no festival. Até então, para muita gente, eventos musicais no Brasil eram sinônimo de calotes, sumiço de equipamentos e caos.

Sem a confirmação de um único artista, Medina deu sua última cartada: apelou a Frank Sinatra. Os dois se conheceram em 1980, quando Medina produziu o show do cantor no Maracanã, o maior de sua carreira, com público de 180 000 pessoas. O apelo funcionou. Sinatra convocou uma coletiva de imprensa em Los Angeles, na qual apoiava a realização do festival no Rio de Janeiro.

No dia seguinte à coletiva, vários jornais noticiaram mundo afora que a cidade sediaria o maior festival de música do mundo. Em sua primeira versão, o Rock in Rio recebeu mais de 1,3 milhão de pessoas em dez dias de shows e eternizou imagens que correram o mundo, como a de Fred Mercury, então vocalista do Queen, regendo um público que cantava “Love of my life” quase em êxtase.

Vinte e seis anos depois, o Rio de Janeiro se prepara para abrigar a décima edição do festival, que ocorrerá em setembro — nos últimos seis anos, o evento só aconteceu em Lisboa (quatro vezes) e em Madri (duas).

Há anos o Rock in Rio deixou de ser apenas um festival de música para se tornar uma empresa com aproximadamente 100 funcionários, que se dividem entre Portugal, Espanha e Brasil, e uma marca poderosa, que movimenta centenas de milhões de reais. É como se o mítico festival de Woodstock, ocorrido em 1969, nos Estados Unidos, reunindo 500 000 pessoas durante três dias para assistir a artistas como Jimi Hendrix, Janis Joplin e Joe Cocker, tivesse tomado um banho de capitalismo.

Só o custo do Rock in Rio deste ano será de 95 milhões de reais. O valor sustenta uma operação que inclui a administração de centenas de contratos com artistas como Elton John, Metallica e Rihanna, serviços de transporte de equipamentos e publicidade do evento. O festival deve gerar mais de 30 milhões de reais em vendas de produtos com a marca Rock in Rio, que vão de óculos a barracas de praia.

A bilheteria prevê arrecadar 68 milhões de reais com a venda de ingressos — em dezembro do ano passado, 100 000 ingressos foram vendidos com a divulgação de apenas dez das mais de 100 atrações que vão se apresentar em setembro, e outros 500 000 ingressos ainda serão colocados no mercado.

A prefeitura do Rio estima que, em 2001, o evento tenha movimentado cerca de 300 milhões de dólares na economia do município, particularmente em serviços de hotelaria e alimentação. Neste ano, a cifra deve ser ainda maior. Dos ingressos já vendidos, 60 000 foram comprados por pessoas de fora do Rio.

Patrocínios milionários

Para associar seu nome ao evento, um total de 14 empresas, como Itaú, Heineken, Coca-Cola, Volkswagen e Claro, já investiram 50 milhões de reais para patrocinar o festival. (Cada cota de patrocínio custa entre 5 milhões e 10 milhões de reais.) Esse grupo de companhias tem interesse não apenas nos cinco dias de shows mas também na possibilidade de expor suas marcas ao lado do Rock in Rio durante quase um ano.

“As empresas topam pagar patrocínios maiores porque têm a oportunidade de associar suas marcas à juventude e à música por muito mais tempo do que aconteceria num evento convencional”, afirma Rodolfo Medina, primogênito de Roberto e vice-presidente comercial do Rock in Rio. A Coca-Cola, por exemplo, destacou uma equipe de 15 pessoas de seu setor de eventos para trabalhar exclusivamente em ações ligadas ao festival até setembro — por enquanto, as ações programadas são mantidas em segredo.

A Claro começou a realizar gincanas esportivas nas praias de São Paulo, Rio de Janeiro e Santa Catarina, onde expõe o slogan “Rock in Rio. É Claro que eu vou”. Há poucas semanas, a Kraft colocou nas ruas uma goma de mascar lançada especialmente para o evento: o Trident Global Connection Rio. A Volkswagen anunciou que lançará uma edição especial dos modelos Fox ou Gol, no segundo semestre deste ano, inspirada no festival. “O Rock in Rio é ‘o’ evento de música do país e justifica um investimento maior que o de costume”, afirma Herlander Zola, executivo de marketing da montadora.

Os diferentes tipos de negócio ligados ao Rock in Rio nasceram das dificuldades de Medina em colocar seu primeiro evento em pé. A ideia do festival surgiu de um pedido da antiga Brahma, então cliente de Medina, que queria rejuvenescer sua marca. Para o publicitário, o Rock in Rio serviria perfeitamente ao propósito da cervejaria e, de quebra, o ajudaria a realizar um antigo sonho: fazer um grande festival de música no Brasil.

O problema é que a Brahma não estava nem um pouco inclinada a bancar um show gigantesco sozinha. Foi então que Medina decidiu esticar o calendário de marketing e criar várias categorias de patrocinadores — um modelo que vigora até hoje. Neste ano, o Itaú, patrocinador máster do festival, tem direito a fazer pré-venda de ingressos a seus clientes, anunciar em grandes veículos de mídia associando seu nome ao do festival e expor sua marca numa área privilegiada na Cidade do Rock, palco do evento.

Na outra ponta, os chamados patrocinadores de apoio — a varejista Leader, a rede de lanchonetes Bob’s, a cadeia de roupas Taco, o site de comércio eletrônico Submarino, a TAM Viagens, a rede de escolas de inglês Wizard, a marca de produtos de beleza Niely e a universidade Estácio de Sá — só podem anunciar em seus pontos de venda e nos próprios produtos.

O Bob’s, por exemplo, terá cinco pontos de venda dentro da Cidade do Rock durante os dias de shows. “Desde 1993 estamos no Sambódromo carioca no Carnaval. Agora, vamos levar essa experiência para o Rock in Rio”, diz Marcello Farrel, diretor-geral do Bob’s. A rede também vai criar um sanduíche especial com o nome Rock in Rio que será vendido em suas quase 800 lojas.

Embora carregue o nome de sua cidade de origem, o Rock in Rio tornou-se uma marca internacional. Em Portugal, país que sedia o festival a cada dois anos desde 2004, uma pesquisa do instituto alemão GFK Metris revelou que, no ano passado, para os portugueses o Rock in Rio foi mais importante do que a Copa do Mundo da África do Sul.

Na Espanha a situação é parecida. Segundo o instituto de pesquisas Acziona, em 2008 o Rock in Rio foi considerado por 22% dos entrevistados o evento musical mais importante do ano. Os resultados animaram a família Medina a acelerar a internacionalização do negócio.

“Estamos com estudos adiantados para levar o Rock in Rio para a Colômbia”, diz Rodolfo Medina. “Além disso, México, Argentina e Polônia estão no nosso radar.” Agora só falta acabar com a única semelhança que ainda resta entre o Rock in Rio e Woodstock: a lama provocada pelas chuvas que caíram nas últimas edições cariocas.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

‘Nada a ver’

J. R. Guzzo

Houve um tempo em que existiam coisas certas e coisas erradas. As coisas certas eram o contrário das coisas erradas, as coisas erra­das o contrário das coisas certas, e ninguém precisava recorrer à Corte Internacional de Haia ou consultar comissões de ética para saber a dife­rença entre umas e outras. Na vida pública brasi­leira, ao longo dos últimos anos, surgiu uma ter­ceira categoria: as coisas que não têm nada a ver. À primeira vista elas parecem tão erradas quanto o pecado original, mas, depois que recebem o ca­rimbo de “nada a ver”, passam a desfrutar de ab­solvição automática e integral. Transformam-se imediatamente em atos corretos, ou pelo menos neutros; o que não se admite, em nenhuma hipó­tese, é que possam estar errados. Esse tipo de pirueta faz um sucesso cada vez maior no mundo oficial, sempre que alguém tem de explicar uma situação enjoada. O resultado é que o Brasil, hoje em dia, é o país do nada a ver.

Funciona assim, por exemplo: um peixe graú­do da administração pública, desses que estão em um dos 25000 empregos para os quais as supre­mas autoridades da República podem nomear quem bem entenderem, tem um parente próximo (mulher, irmão, filho etc.) que é dono de alguma empresa; essa empresa, por sua vez, ganha do go­verno contratos para lhe vender produtos, prestar serviços ou construir obras, às vezes diretamente na área dirigida pelo alto burocrata em questão. Na época das coisas certas e erradas, algo assim era considerado quase uma piada, em matéria de erro; só os espíritos mais audaciosos, ou desespe­rados, tentavam algo parecido. Não mais. Hoje, quando se dá um flagrante desses, a posição oficial do governo é dizer que uma coisa não tem nada a ver com a outra. Sim, o dr. Fulano ocupa a posição tal; sim, a empresa dos seus familiares recebe di­nheiro do governo, para fornecer isso ou aquilo – e daí? Sua mulher, irmão, filho etc. têm todo o direito de assinar contratos com a administração. Trata-se de empresários como quaisquer outros. Participam de licitações públicas. Proibi-los de fazer negócios com o governo seria discriminação. O fato de ganharem o contrato não tem nada a ver com o fato de que há um marido, irmão, pai etc. no governo. Caso encerrado.

Ninguém mais está disposto a perder muito tempo, atualmente, montando esquemas compli­cados para esconder seus “malfeitos”, como diria a presidente Dilma Rousseff. Basta prestar um pouco de atenção às “organizações não governa­mentais” que os políticos utilizam para tocar seus negócios. Nada mais simples. Um parlamentar faz aprovar pelos colegas uma emenda mandando es­se ou aquele órgão do governo entregar alguns milhões de reais a uma ONG, que em troca do dinheiro recebido se encarregaria de prestar servi­ços ao poder público; uma das fórmulas preferi­das, no momento, é dar “treinamento”. Treina­mento para quê, ou para quem? Tanto faz: qual­quer invenção serve, pois ninguém vai treinar ninguém para nada. A única providência que real­mente interessa é entregar a verba à ONG escolhi­da. Ela vai repassá-la a uma empresa-laranja, à qual caberia fazer o treinamento previsto na emen­da; nenhuma tarefa é executada e o dinheiro some no espaço, sem deixar vestígio. Quando o fato é descoberto, o parlamentar responsá­vel pela trapaça diz que uma coisa – a sua emenda – não tem nada a ver com a outra – o sumiço da verba. Tudo o que ele fez foi providenciar os recursos. Não lhe cabe fiscalizar sua aplicação – se no meio do caminho meteram a mão no dinheiro, o que ele tem a ver com isso?

A filosofia do nada a ver tem mil e uma utilida­des. Serve para permitir, por exemplo, que um gran­de escritório de advocacia pague diárias num hotel de luxo na ilha de Capri – isso mesmo, Capri – a um ministro do Supremo Tribunal Federal. O STF não poderia julgar causas patrocinadas pelo tal es­critório? Poderia, é claro. Mas as duas coisas não têm nada a ver entre si; segundo o ministro em questão, trata-se de um “assunto pessoal”. O nada a ver também serve para que grandes eminências da política nacional viajem em jatinhos de emprei­teiras, banqueiros e outros magnatas – ou que recebam deles até 500 000 reais para lhes fazer uma palestra. Que problema poderia haver nisso?

A consciência do homem público brasileiro, hoje em dia, é algo que se satisfaz com pouco. É como o camelo: basta lhe dar aquele tanto de água e o bicho atravessa um deserto inteiro, sem recla­mar de nada. No Brasil de 2011 é preciso cada vez menos para explicar que o erro não está errado. É só dizer: “Nada a ver”.

domingo, 25 de setembro de 2011

Rejeição do registro do PSD equivaleria a uma cassação pior do que o AI-5

Saulo Queiroz

Pelas regras em vigor participar da formação de um novo partido é sem dúvida um ato ousado e corajoso porque há evidente risco para a carreira política de quem se aventura neste gesto republicano.
Como o novo partido só pode receber filiação após seu registro final, homologado pelo TSE, quem participa entra em uma zona cinzenta em sua atuação, onde não é ninguém, porque não tem o cobertor do partido para lhe dar posição e espaço.
Torna-se um fantasma que só vai se materializar quando o TSE registrar o novo partido. Se for um deputado, por exemplo, fica vagando pela câmara sem direito a líder, a espaço físico, a voz partidária, a participação em comissões, ao exercício pleno do mandato. Tudo muito difícil.
Todos os passos na formação do partido são de conflito absoluto, porque a decisão de participar tira o desafiante de seu leito, mas não lhe dá nem uma rede para descansar.
Se é político de expressão no âmbito municipal, regional ou nacional, terá que participar dos comandos do novo partido, nas comissões provisórias ou diretórios e, por ética e dever moral, se afastar de posições correlatas no partido de origem.
Até porque se não se afastar será alijado, por ação legítima do partido que está deixando.
Vejam um exemplo: Julio Cesar, deputado federal pelo DEM, decidiu aderir à formação do novo partido.
Parlamentar de muitos mandatos foi indicado e eleito presidente da comissão de agricultura na Câmara e ainda participaria, indicado pelo partido, da comissão do orçamento onde teria uma sub-relatoria.
Abdicou de tudo isso e, mais, levou para o novo partido todos os políticos de sua base, comandantes do DEM no Estado e municípios. Sabia do risco para ele e para seus companheiros, mas todos foram em frente.
Conseguiram com muito trabalho, enfrentando todos os contratempos, até greve do poder judiciário, cumprir todos os requisitos exigidos pela lei como atestou a relatora do pedido de registro do PSD, ministra Nancy Andrighi, em seu voto favorável à concessão.
Pelo esforço de todos, em milhares de municípios, em praticamente todos os estados, foi cumprido tudo o que a lei exige, sem qualquer exceção: o número de apoios no plano nacional e o mínimo nos Estados, e o registro de diretórios em número muito maior do que exigido pela lei.
Todos sabiam, porque militantes políticos, que era indispensável conseguir o registro a tempo de participar das eleições municipais.
Não existe partido sem base nos municípios, sem prefeitos, vereadores e militantes, tudo que a eleição municipal produz.
Com o retorno da fidelidade partidária o partido que não elege não tem vereador, prefeito e não tem presente e nem futuro. Por isso, se empenharam tanto.
A alternativa ao fracasso, pela regra, seria retornar ao partido de origem sem nada para reivindicar. Humilhado, como rabo entre as pernas.
Se o TSE, por mero tecnicismo não conceder o registro indicado pela relatora, além de desmerecer o esforço de tantos que ousaram valorizar a participação política, reescreverá uma página já esmaecida na memória da história da política brasileira: cassará mais mandatos, sonhos e futuros do que o AI-5 promoveu.
Será um lamentável retorno a tempos esquecidos, gerado exatamente pelos que têm que zelar pelos valores do regime democrático, plural e inovador.

sábado, 24 de setembro de 2011

O branco, o afro-brasileiro e o mulato

IVAN LESSA
COLUNISTA DA BBC BRASIL, EM LONDRES

"Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria." Seguramente a mais citada frase do esplêndido Machado de Assis. Está em "Memórias Póstumas de Brás Cubas" (1881).

Machadinho, como assinava em suas cartas à amada companheira e esposa, Carolina. E Machadinho, que é como o chamam seus leitores mais íntimos, e eu sou um deles, na vida dita real não deixou filhos: seu legado foi-se com ele, também conhecido como O bruxo do Cosme Velho por outra escola de admiradores e estudiosos.

A não ser mediante um comercial para a CEF (Caixa Econômica Federal), que, essa sim, deixou miséria como legado, ao que tudo indica.

O comercial foi bolado e caprichosamente filmado pela agência publicitária Borghier/Lowe que, a se julgar pelo nome, tem seu legado originado em outro país que não o Brasil. Serão os famosos superheróis Mad Men?

No comercial, Machado (façamos uma conta de chegar) entra num banco, é efusivamente cumprimentado por um caixa e, a seguir, vemos parte de uma carta-testamento de nosso (é de bom estilo não se repetir, diria o escritor) maior e mais internacional beletrista. Está no UOL para quem quiser conferir.

Deu-se, desde a lâmpada que se acendeu numa festa de luz sobre as nobres cabeças dos publicitários às voltas com a melhor maneira de comemorar os 150 anos (sesquicentenário, devem ter pensado lá eles) da Caixa Econômica.

Roteiro, diálogos, cuidados mil, pesquisa por um banco com jeito antigão, roupas da época, tudo enfim. Só faltou uma coisa --e isso vem sendo amplamente divulgado em nossa imprensa-- a cor de pele de Machado. Botaram um ator branco de peruca torta e mal feita, beirando o ridículo, para fazer o papel de nosso maior escritor.

A coisa foi para o ar. No que passou totalmente despercebida pela população com e sem legados para receber e deixar.

Menos para a Seppir (Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial) que prontamente disparou uma bala na testa da Caixa e da agência que bola seus anúncios.

A Caixa, que tem um legado a zelar, respondeu de bate-pronto desculpando-se em nota oficial, na qual dizia pedir desculpas "a toda população e, em especial, aos movimentos ligados às causas raciais, por não ter caracterizado o escritor, que era afro-brasileiro, com sua origem racial."

A Seppir fincou o pé e, na segunda-feira passada, classificou o comercial como uma "solução publicitária de todo inadequada por contribuir para a invibilização dos afro-brasileiros, distorcendo evidências pessoais e coletivas para a compreensão da personalidade literária de Machado de Assis, sua obra e seu contexto histórico." Invibilização é bom.

Ou seja, a Seppir foi de uma inabilidade (Machadinho chamaria de burrice) ímpar e par também.

A Caixa Econômica não quis ficar atrás: divulgou nota cheia de dedos e rebarbativa (boa palavra machadiana) se desculpando e só faltou doar uma boa quantia para aqueles que, também para ela, passaram a ser "afro-brasileiros" destituídos de fama, talento ou dinheiro.

De besteira, Machado só fez mesmo fundar a Academia Brasileira de Letras, mas ele não poderia saber --afinal, não era tão bruxo assim-- no que aquilo diria dar.

Em nenhum registro da momentosa questão (até os que torcem por Euclides da Cunha notaram) usou-se a palavra adequada para Machadinho: era mulato.

Se o chamassem de "afro-brasileiro" garanto que, mesmo franzino, como se pode constatar de suas fotos, descia o braço no cidadão que se atrevesse.

Repetindo: Machado de Assis era mulato. O que na época, e hoje também, não tem absolutamente nada demais e nunca foi nem será xingamento ou menosprezo.

Arrisco um palpite: legado miserável mesmo é o da nossa ignorância. Duvido que qualquer um das dezenas de publicitários (manjo o time) que se envolveram na tolíssima produção soubesse que Machado fosse mu-la-to.

Aí sim, está o preconceito

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

A turminha feroz que enxovalha nossa cultura

Morro do Chapéu tem fama de terra de gente culta, e vê-se nos vários sites e blogs locais, o regozijo dos internautas por esta condição. No entanto, se formos atentar para os posts que ali são colocados, veremos de tudo menos cultura. Reina um provincianismo deprimente, onde as ideias ali colocadas não ultrapassam os quintais das casas de seus autores.
Há pouco tempo um vereador do PT, apresentou uma denúncia na Câmara, apontando supostas irregularidades da administração municipal. Diante da repercussão quase nula, ele apelou para a internet, sempre recheada de ferozes “defensores do bem público”, desde que o acusado não seja o PT ou a Coopaf. E ali estava ela, a turminha de sempre que só frequenta os sites e blogs que publicam suas postagens. E há um site que publica tudo, desde que não haja palavrão. E ali ela faz a festa, como agora.
Na última semana, a única diversão que tiveram foi o meu embate com os costumeiros internautas fantasmas. Para que a coisa não se torne tediosa, estão sempre inventando novos nomes. Lá estava o indefectível ACM, que como sempre, resolveu me provocar com seu linguajar característico que faz a delícia daqueles que estão no mesmo nível. Para dar um chega pra lá neste fantasma persistente, resolvi postar os crimes cometidos pelos esquerdistas no regime militar. Explosão de carro bomba (sim, teve isso), assassinato de um tenente a coronhadas na cabeça, e a coisa ia mais longe (tenho a lista toda), se não tivessem ficado mudos de espanto. Houve um deles (não é fantasma como os outros) que chegou a dizer que eu estava cometendo um crime contra a democracia. Vejam quem falava; um esquerdista cujos governos que têm como modelos são ferozes ditaduras (Cuba, China, Venezuela, etc).
Um fantasminha recém-matriculado naquele site, como eu havia falado de Lula, disse que a popularidade dele é tão grande, que quase ninguém se atreve a criticá-lo. E aproveitou a oportunidade para tentar me desqualificar, método típico de todo esquerdista. Em que mundo essa gente vive? A imprensa que não está a soldo, vem denunciando a herança maldita do governo Lula (aquele que ia para a ONU, lembram-se?) que foi passada a Dilma. Nada menos que cinco ministros já foram afastados e por aqui reina um silencio ensurdecedor. As maracutaias são tantas que chega a dar cansaço.
Esse povo vive na ociosidade e para espantar o tédio, ficam zanzando pela internet, não em busca de notícias globais ou algo que mexa com seus neurônios, mas sim à cata de alguma denúncia contra a administração municipal. Consideram que fazendo críticas contra a prefeitura já estão cumprindo o seu papel social. Não veem nada de bom, só o que é ruim. Em quem ousar defender o prefeito, é violentamente atacado.
Um engenheiro alemão que era meu mestre espiritual e mundano em São Paulo me dizia que se não usarmos nosso cérebro, as sinapses vão diminuindo até chegar a quase paralisia. Aí então se instala um processo de imbecilização irreversível. Acho que essa turminha já entrou nesse estágio.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Dívida pública cresce 1,96% em agosto e chega a R$ 1,768 trilhão

ANA CAROLINA OLIVEIRA
DE BRASÍLIA

A dívida pública federal cresceu 1,96% no mês de agosto, passando de R$ 1,734 trilhão para R$ 1,768 trilhão. A informação foi dada nesta quinta-feira pela Secretaria do Tesouro Nacional.

Essa elevação ocorreu por conta de aumentos nas dívidas interna e externa do país. A primeira teve crescimento de 2% e passou de R$ 1,659 trilhão para R$ 1,692 trilhão. Esse resultado só foi possível devido a emissão de liquida no valor de R$ 16,34 bilhões no mês passado.

Já a dívida externa, apresentou leve alta de 1,07% sobre o estoque apurado no mês de julho e fechou agosto em R$ 75,43 bilhões.

Os títulos da dívida com remuneração pré-fixada tiveram aumento e passaram de 34,49% em julho para 34,82% em agosto. Os papéis atrelados à taxa básica de juros (Selic) tiveram sua participação reduzida, passando de 32,61% para 32,49% em agosto.

Os títulos indexados à inflação também tiveram uma leve redução em sua participação. Passaram de 28,77% para 28,59%

Os artigo 5º e 220 da Constituição proíbem qualquer forma de censura à livre circulação de informação. Leiam:

Art. 220. A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto nesta Constituição.
§ 1º - Nenhuma lei conterá dispositivo que possa constituir embaraço à plena liberdade de informação jornalística em qualquer veículo de comunicação social, observado o disposto no art. 5º, IV, V, X, XIII e XIV.
§ 2º - É vedada toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e artística.

Ana Arraes nem está formalmente eleita e já deixa claro a que veio

Mal venceu a disputa para a vaga no TCU — com a inauguração do “matrismo” em lugar do “nepotismo” —, a deputada Ana Arraes (PSB-PE) já disse a que veio. Segundo ela, paralisar uma obra com suspeita de irregularidade sai mais caro aos cofres públicos. “Quando não paralisa, não causa prejuízo financeiro, não causa prejuízo social. A paralisação, às vezes, sai mais cara”. Repete, assim, crítica já feita por Luiz Inácio Apedeuta da Silva e pela própria Dilma Rousseff quando chefe da Casa Civil.

Ana Arraes é parte de uma ação determinada do Estado Petista — e ela contou com a ajuda de políticos da oposição para chegar lá, destaque-se — de afrouxar todos os mecanismos existentes para controlar e punir o desvio de dinheiro em obras públicas. Lula passou boa parte dos seus oito anos de mandato atacando o TCU. Atuou para tirar determinadas obras da supervisão do tribunal; acusou uma espécie de conspiração contra o seu governo. Decidiu mudar de estratégia. Melhor controlar o tribunal do que brigar com ele.

A ação é organizada. A Lei de Licitações também foi jogada na obsolescência sem que se tenha votado uma outra no lugar. O governo, diga-se, continuou a dar verba para obras em que o TCU viu desvio de recursos. E governo e políticos, não obstante, falam em transparência. Ana Arraes tenha o opinião que quiser. Mas também é inédito na história que uma ministra eleita do TCU, em sua primeira declaração, atue claramente contra uma prerrogativa do TCU. Como se vê, assumirá a vaga para ser porta-voz do Executivo de plantão.

É a isso que chamo rebaixamento de uma instituição, entenderam?

Por Reinaldo Azevedo

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Comissão de Constituição e Justiça aprova relatório sobre o Código Florestal

MÁRCIO FALCÃO
DE BRASÍLIA

A CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) do Senado aprovou nesta quarta-feira (21) o relatório do senador Luiz Henrique da Silveira (PMDB-SC) que trata da reforma do Código Florestal. O projeto recebeu cinco votos contrários.
O texto determina como deve ser a preservação de rios, florestas e encostas, combinada com a produção de alimentos e a criação de gado. A proposta é polêmica e coloca em lados opostos ambientalistas e ruralistas.
Agora, a matéria será analisada pelas comissões de Agricultura, Ciência e Tecnologia e Meio Ambiente. Se a reforma for aprovada nas comissões, será votada no plenário da Casa.
A votação do texto de Silveira, que também é relator em outras duas comissões, só foi possível depois de um apelo do peemedebista e do senador Tião Viana (PT-AC), relator na comissão de Meio Ambiente, para que a proposta fosse aprovada e que as mudanças do texto fossem discutidas nas outras comissões que vão analisar o mérito do texto.
A CCJ é responsável por avaliar se uma proposta está ou não de acordo com a Constituição. Em mais de quatro horas de discussão, pelo menos sete senadores levantaram dúvidas sobre a constitucionalidade do relatório e pediram mudanças de mérito.
O senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) chegou a apresentar um voto em separada pedindo a rejeição do texto alegando inconstitucionalidades, como o desrespeito ao preceito de um meio ambiente equilibrado, mas acabou derrotado.
Para viabilizar a aprovação, Silveira se comprometeu a devolver parte da proposta para a CCJ, caso os debates nas outras comissões apontem por inconstitucionalidades.
Outro entendimento que permitiu a análise do texto foi a decisão de estabelecer "regras transitórias" na proposta. Ou seja, dispositivos da lei específicos que só vão valer por determinado período como no caso de agricultores que desmataram ilegalmente, especialmente em APPs (áreas de preservação permanente).
As APPs são áreas sensíveis que recebem proteção especial por estarem localizadas em topos de morro e várzeas de rios, importantes para a produção de água e a proteção do solo contra a erosão.
A ideia é que esses agricultores que desmataram ilegalmente serão legalizados desde que participem de um programa de regularização ambiental. O que deve levar até quatro anos.
Na semana passada, o relator tinha feito concessões ao Planalto e alterado o texto permitindo apenas que um decreto do Presidente da República poderá definir critérios de desmate em áreas protegidas.
Antes da votação na CCJ, ativistas do Greenpeace fizeram um protesto. Em frente ao anexo do prédio do Senado, eles pregaram uma faixa com os dizeres:"Senado desliga a motosserra" e distribuíram um panfleto atacando o texto de Silveira.
"Esse texto desprotege as florestas e extinguirá a possibilidade de o Brasil ser a primeira potência econômica e ambiental do mundo", afirma o documento.
A reforma na lei florestal tem causado polêmica desde o ano passado, quando foi aprovada por uma comissão especial da Câmara dos Deputados. O texto do relator, deputado Aldo Rebelo (PC do B-SP), agradou à bancada ruralista e irritou ambientalistas e o Ministério do Meio Ambiente que reclamavam de brechas para novos desmates e legalização de desmatamentos ilegais. Mesmo com a resistência do Planalto, o texto foi aprovado pelo plenário da Câmara e chegou em maio no Senado.
Como o Senado pretender alterar a proposta, a reforma terá que passar por uma nova votação na Câmara.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

‘Pode ser que me engane…’

TEXTO PUBLICADO NA FOLHA DESTE DOMINGO

Ferreira Gullar

Dando curso a minha tentativa de entender quem é esse cara chamado Lula, acrescento à crônica que publiquei aqui, faz algumas semanas, novas observações.

Por exemplo, fica evidente que Lula e seu pessoal, ao chegar ao poder, elaboraram um plano para nele permanecer. Aliás, José Dirceu chegou a afirmar isso, poucos meses depois da posse de Lula na Presidência: “Vamos ficar no poder pelo menos 20 anos”.

O mensalão era parte do plano. Descartar o PMDB e aliar-se a partidos pequenos para, em vez de lhes dar cargos ministeriais, lhes dar dinheiro. Sim, porque, para permanecer 20 anos no poder, era necessário ocupar a máquina do Estado, tê-la nas mãos, de modo a usá-la com finalidade eleitoral.

Por isso, um dos primeiros atos de Lula foi revogar o decreto de Fernando Henrique que obrigava a nomeação de técnicos para cargos técnicos. Eliminada essa exigência, pôde nomear para qualquer função os companheiros de partido, tivesse ou não qualificação para exercer o cargo.

Ocorreu que Roberto Jefferson, presidente do PTB, sublevou-se contra o mensalão e pôs a boca no mundo. Quase acaba com o governo Lula. Passado o susto, ele teve que render-se ao PMDB e distribuir ministérios e cargos oficiais a todos os partidos da base aliada. Não por acaso, os 26 ministérios que recebera de FHC cresceram para 37, mais 11.

No primeiro momento, ele próprio deve ter visto isso como uma derrota, mas, esperto como é, logo percebeu que aquele poderia ser um novo caminho para alcançar seu principal objetivo, isto é, manter-se no poder.

Se já não podia comprar os partidos aliados com a grana do mensalão, passou a comprá-los com outra moeda, entregando-lhes os ministérios para que os usassem como bem lhes aprouvesse: dinheiro ali é o que não falta. E assim, como se vê agora, nos ministérios dos Transportes, da Agricultura, do Turismo, cada partido aliado montou seu feudo e passou a explorá-los sem nenhum escrúpulo.

Lula, pragmático como sempre foi, fazia que não via, interessado apenas em contar com o apoio político que lhe permitiria garantir a sucessão, isto é, eleger Dilma. Essa candidatura inusitada – que surpreendeu e desagradou ao próprio PT – era a que convinha a ele, pelo fato mesmo de que se tratava de alguém que jamais sonhara com tal coisa e que, por isso mesmo, jamais se voltaria contra ele ou contrariaria seus propósitos. Não é por acaso que, regularmente, eles se encontram em jantares a dois, para acertarem os ponteiros e ele lhe dizer o que fazer.

Não estou inventando nada. Não só ambos já admitiram esses encontros como ela, recentemente, respondendo a uma jornalista que lhe perguntou se discordava de Lula, respondeu: “Não posso discordar de mim mesma”. Isso não exclui, porém, um fator contraditório: a necessidade que ela tem, como a primeira mulher presidente do Brasil, de afirmar sua autonomia.

Cabem aqui algumas considerações. Todos sabem que o PT, nascido partido da esquerda revolucionária, não admitia deixar o poder, uma vez tendo-o conquistado. Os demais partidos aceitam a alternância no poder porque estão de acordo com o regime. Já o partido revolucionário vem para implantar outro regime, que exclui os demais partidos. É claro que esse era o PT de 1980, que não existe mais, mesmo porque, afora o pirado do Chávez, ninguém em sã consciência acha que vai recomeçar o socialismo em Macondo, quando ele já acabou no mundo inteiro.

Disso resulta que os principais fundadores do PT abandonaram o sonho da sociedade igualitária e cuidam de seu próprio enriquecimento. Por esperteza e conveniência, porém, tentam fingir que se mantêm fieis aos ideais socialistas. Desse modo, dizendo uma coisa e fazendo outra, enganam os mal informados, enquanto usam o poder político e institucional para intermediar interesses de grupos econômicos nos contratos com o Estado brasileiro.

Ideologicamente, é preciso distinguir Lula do PT, ou de parte dele, que não consegue aceitá-lo como um partido igual aos outros nem perceber Lula como ele efetivamente se tornou. Nada mais esclarecedor do que vê-lo chegar a Cuba em companhia do dono da Odebrecht, no avião particular deste, para acertar as coisas com Fidel Castro

Alô, professores e alunos da Universidade Federal da Bahia: podem mandar fotos mostrando como está a instituição. E o título para o Apedeuta

Escrevi ontem um post sobre o título de doutor Honoris Apaídeutos Causa que Lula recebe hoje da Universidade Federal da Bahia, onde parte dos funcionários está em greve, a exemplo do que ocorre em mais de metade dos campi federais universitários e de ensino técnico. Chamei a atenção para as precariedades da universidade. Para não variar, alguns puxa-sacos, gente da base do partido, ficou brava. Alguns vigaristas tentam fazer de conta que ataquei, calculem vocês, a Bahia! Outro cretino me acusa de “denegrir” a imagem da universidade — usando, de resto, uma palavra com conteúdo racista naquele que deve ser o estado mais negro do Brasil. É a esquerda reacionária se manifestando; é a esquerda fascista; são os herdeiros do stalinismo que, uma vez no poder, não toleram a crítica. Um desses sites dinheiristas, alimentado com grana pública, afirma que uma foto que postei é velha e não reflete a realidade da universidade e coisa e tal…

Recebo de um professor da Universidade Federal da Bahia um comentário, a saber:
Como professor da UFBA, posso, melhor do que ninguém, atestar o seu abandono. É uma vergonha o estado em que se encontra a universidade. No meu campus, faltam colegas professores e material para ensino e pesquisa, a biblioteca está defasada, e há baixos salários. Tio Rei, mais uma vez, está de parabéns (…) Se você quiser, posso lhe mandar as fotos tiradas amanhã da minha unidade para que você possa constatar o abandono e ver que em nada difere da foto por você publicada.

Voltei
O professor citou um site vagabundo aí que me atacou. Omito o nome porque não dou trela a penas de aluguel. Pode me mandar a foto, sim. Aliás, se outros professores e estudantes das federais do Brasil inteiro quiserem fazer o mesmo, estarão prestando um serviço à educação. Como já demonstrei aqui, em nenhuma área da gestão federal se mente tanto — e de maneira tão organizada. Os quase quatro meses de greve simplesmente não foram notícia.

Ajudem, então, os leitores a contar a verdade sobre as universidades federais.

Por Reinaldo Azevedo

domingo, 18 de setembro de 2011

E os caras pintadas, hein? Fizeram papel de bobos.

Anjos exigem de Deus mesmo tratamento de base aliada

Michel Temer negocia com o Santo Pai a ida de Jader Barbalho para o lugar do Espírito Santo.

PARAÍSO – Em reunião plenária realizada ontem, a corte celeste aprovou, por unanimidade, o texto de uma carta a ser enviada ao Santo Pai, na qual o primeiro escalão divinal reivindica uma mais justa repartição do poder eterno. “Há tempos acompanhamos o modelo brasileiro, e o nosso pensamento é pedir ao Sumo Bem que nos trate com a mesma deferência com que a presidenta Dilma lida com sua base aliada”, declarou o Arcanjo Gabriel, um dos líderes do movimento.

No texto, a hoste de santos e anjos responsável pelo dia-a-dia do Céu e pelo bom funcionamento da economia do perdão e da fé exige que o Misericordioso compartilhe ao menos um dos seus três dons, “dos quais, queremos deixar claro, preferimos, de longe, o da onipotência”. Onisciência e onipresença poderão ser mantidas como monopólio da Divina Potestade, ou, no caso de distúrbios na base, repartidos entre serafins e querubins do segundo e terceiro escalões.

Em passagem mais dura, santos exigem um rodízio entre os que se sentam à direita do Pai. “Em breve, a imprensa acordará para o fato de que nesta matéria o que impera na eternidade é um gritante nepotismo. Isso aqui não é o Conselho de Segurança da ONU para que alguém tenha direito a assento permanente. Até para preservar a sua reputação e a do seu Pai, o Filho do Homem precisará largar o osso”, externou, indignado, São Bernardo de Claraval, fundador da ordem cisterciense. A proposta em curso prevê que, a cada seis meses, jesuítas, beneditinos e dominicanos se revezarão na cadeira excelsa. “Trapistas e franciscanos, que são mais desprendidos e não fazem tanta questão dessas coisas, poderão ocupar a almofadinha ao pé do Mais Justo”, explicou Santo Inácio de Loyola.

Caso o Eterno Taumaturgo não responda em no máximo trinta dias, pelo menos sete ordens religiosas ameaçam abandonar a base aliada e passar para a oposição. Fontes ligadas às carmelitas descalças garantem que já há conversas em curso com Maomé e o Bispo Macedo.

Em notícia paralela, São Bento de Núrsia, fundador do monasticismo, negou que o ex-ministro Pedro Novais acaba de se filiar à ordem que leva o seu nome com o intuito de controlar a verba de capacitação de novas vocações religiosas. “Fomos contatados, sim, pelo senhor Pedro Novais, mas já no primeiro milagre de conversão de água em vinho sumiram dezessete garrafas de um Merlot da melhor qualidade”, constatou, com dor, o santo

Lula, o amoralista que enganou o Zé Lagarto. Ou: Apedeuta quer ensinar a vaiar até quando é o vaiado

Luiz Inácio Apedeuta da Silva e o ministro da Educação, Fernando Haddad, foram vaiados anteontem por um grupo de alunos na Universidade Federal do ABC. O chefão do PT não gostou e decidiu passar um carão nos estudantes: “Gritar é bom, mas ter responsabilidade é muito melhor”, disse o agora ex-líder oposicionista que gritou contra o voto em Tancredo Neves no Colégio Eleitoral, que gritou contra a Constituição de 1988, que gritou contra o Plano Real, que gritou contra a Lei de Responsabilidade Fiscal, que gritou contra o superávit primário, que gritou contra o Proer, que gritou contra as privatizações. Era o tempo em que Lula achava que não lhe cabia ser “responsável”. Em certa medida, sua IRRESPONSABILIDADE foi premiada.

Escrevi na sexta-feira um longo texto intitulado Desconstruindo a rasa moral profunda das esquerdas. Ou: Em nome do pai. Do meu pai!, em que faço uma espécie de genealogia do padrão moral, ou amoral, das esquerdas, do petismo e do próprio Lula. Em livro lançado recentemente, “O que sei de Lula” — sobre o qual ainda farei um post; estou terminando de ler —, o jornalista e escritor José Nêumanne Pinto relembra um episódio narrado pelo próprio Lula em entrevista a Mário Morel, que está no livro “Lula - O Início”. Para que vocês entendam: Lula trabalhava num torno no turno da noite; de dia, na mesma máquina, outro trabalhador realizava trabalho idêntico. A empresa tinha, pois, como comparar objetivamente a produtividade de um e de outro. Reproduzo em azul o que escreve Nêumanne. Prestem atenção:

A memória de Lula registrava, quando depôs para o livro do jornalista, o nome do parceiro: Zé Lagarto. E também sua enorme capacidade de produção, com a qual não tinha forças para concorrer. Fez urna comparação numérica: enquanto o outro fazia 80 anéis de ferro fundido durante o dia, ele mesmo não conseguia fazer 30, menos da metade, no turno da noite. Escolado na estratégia (nem sempre bem-sucedida) de pedir aumento de salário comparando sua produtividade com a de colegas mais velhos e mais lerdos, ele teve de mudar a tática e apelar para a solidariedade de classe, que não exercera antes nos casos lembrados por ele próprio ao biógrafo de seu início de vida profissional. Para evitar a comparação desfavorável com o parceiro rápido e produtivo, (…) o tosco Karl Marx da Vila Carioca [ bairro onde Lula morava] argumentou pacientemente a seu parceiro ágil e eficiente que a ultrapassagem da cota média normal da produção de rotina só acrescentava ganho ao lucro do patrão, sem produzir benefícios para o salário do empregado. O interessante a observar na versão do Friedrich Engels da periferia paulistana é que ele reconhecia desde então que esse apelo à solidariedade do parceiro era motivado por mesquinho interesse próprio, o mesmo que o fazia expor a baixa produtividade de colegas que ganhavam mais para aumentar sua paga.” [págs. 83 e 84]

Voltei
Eis Lula na sua inteireza. Notem que a amoralidade não parece ser um traço apreendido, mas uma característica inata. O jovem trabalhador que não tinha pejo de denunciar a baixa produtividade alheia para aumentar o próprio ganho recorria à solidariedade de classe quando desafiado por alguém mais competente do que ele próprio. Não teve vergonha de transformar a sua incompetência numa categoria universal, numa versão mequetrefe e rebaixada — a tendência ao simplismo e à vulgaridade é outra de suas notáveis habilidades — da “mais-valia” marxista. Ali estava o oportunismo ainda na sua fase de crisálida.

É bem provável que o pobre Zé Lagarto tenha caído na sua conversa — a exemplo de milhares de trabalhadores do ABC mais tarde, que acabaram perdendo seus empregos para construir “o partido”. Aqui é preciso deixar um registro. O Lula pintado com as tintas do martírio tem muito de mitologia. Foi, sim, um menino pobre, passou dificuldades etc e tal. Mas atenção: Ele trabalhou “no chão da fábrica”, pela última vez, em 1969. Tornou-se dirigente sindical aos 24 anos e nunca mais pegou no pesado. Como exige a legislação, ganhou estabilidade e passou a receber o salário para atuar no sindicato. Quando se tornou dirigente partidário, passou a ser financiado pelo PT. Aos 66 anos, o “símbolo” dos trabalhadores brasileiros não precisa se preocupar com o próprio sustento há 42 anos! DE QUE EMPRESÁRIO OU “BURGUÊS” BRASILEIRO NA SUA IDADE SE PODE FALAR O MESMO? Preconceito? Uma ova! Fato! Ah, sim: ele também recebe há anos algo em torno de R$ 5 mil mensais como homem “perseguido pela ditadura”…

Voltemos à vaia
Irritado com os estudantes, que também vaiaram Haddad, Lula afirmou ainda: “Se tem uma coisa que aprendi a respeitar é o direito das pessoas reivindicarem porque, se não fosse assim, eu não teria virado presidente da República. Se eu tivesse medo de greve, eu não teria feito as maiores e as melhores do País”.

Há aí a jactância habitual — Lula é sempre campeão em tudo e, se não é, dá um jeito de enganar o Zé Lagarto… —, mas também há uma referência objetiva: professores e funcionários da administração de mais de metade das instituições federais de ensino (universidades e ensino técnico) estão em greve desde o dia 6 de junho. Há uma possibilidade de que só voltem ao trabalho no dia 26 — depois de quatro meses de paralisação. Como vocês podem notar, foi um movimento praticamente invisível, que não rendeu notícia naquilo que o PT chama “mídia’. Essa greve, evidentemente, não presta e é coisa de reacionários. Já as que Lula promovia quando na oposição…


Haddad, aliás, defendido por Lula e seu candidato à Prefeitura de São Paulo — que o Babalorixá tentou impor no dedaço, sem prévias; parece que não vai conseguir —, mostrou a matéria de que é feito. Ironizando a reivindicação do grupo de estudantes, que pediam a aplicação de 10% do Orçamento federal em educação, afirmou o ministro com uma longa lista de incompetências e desatinos no Ministério da Educação: “Infelizmente, a direita conservadora conta com o apoio da esquerda conservadora para evitar o progresso do nosso País”.

“Conservadores”, como se nota, são todos aqueles que não estão com o PT. A “obra” deste rapaz na educação ainda não foi devidamente dimensionada. O aumento significativo de alunos no ensino superior no Brasil se deu em razão da expansão das instituições privadas de ensino — expansão realizada com repasse de dinheiro público, por intermédio do ProUni, que, na prática, compra à matroca as vagas que vão sendo abertas. A milagrosa multiplicação de universidades federais e de vagas em instituições públicas é das mais vistosas balelas da gestão Haddad. Já escrevi algumas vezes sobre o assunto. Alguns dados: (íntegra de um post a respeito haqui):
1 - Poucos sabem, certa imprensa não diz, mas o fato é que a taxa média de crescimento de matrículas nas universidades federais entre 1995 e 2002 (governo FHC) foi de 6% ao ano, contra 3,2% entre 2003 e 2008 - seis anos de mandato de Lula;
2 - Só no segundo mandato de FHC, entre 1998 e 2003, houve 158.461 novas matrículas nas universidades federais, contra 76.000 em seis anos de governo Lula (2003 a 2008);
4 - Nos oito anos de governo FHC, as vagas em cursos noturnos, nas federais, cresceram 100%; entre 2003 e 2008, 15%;
5 - Sabem o que cresceu para valer no governo Lula? As vagas ociosas em razão de um planejamento porco. Eu provo: em 2003, as federais tiveram 84.341 formandos; em 2008, 84.036;
5 - O que aumentou brutalmente no governo Lula foi a evasão: as vagas ociosas passaram de 0,73% em 2003 para 4,35% em 2008. As matrículas trancadas, desligamentos e afastamentos saltaram de 44.023 em 2003 para 57.802 em 2008;

Só isso? Não! Há mais: cresceu o número de analfabetos no país sob o governo Lula — e eu não estou fazendo graça ou uma variante do trocadilho (íntegra do post aqui). Os números estão estampados no PNAD (Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios), do IBGE. No governo FHC, a redução do número de analfabetos avançou num ritmo de 0,5% ao ano; na primeira metade do governo Lula, já caiu a 0,35% — E FOI DE APENAS 0,1% ENTRE 2007 e 2008. Sabem o que isso significa? Crescimento do número absoluto de analfabetos no país. Fernando Haddad sabe que isso é verdade, não sabe?

O combate ao analfabetismo é uma responsabilidade federal. Em 2003, o próprio governo lançou o programa “Brasil Alfabetizado” como estandarte de sua política educacional. Uma dinheirama foi transferida para as ONGs sem resultado - isso a imprensa noticiou. O MEC foi deixando a coisa de lado e acabou passando a tarefa aos municípios, com os resultados pífios que se vêem. A erradicação do analfabetismo desapareceu das metas do Ministério da Educação.

Encerro
Esses são os dados. Por que não há números de 2008 para cá? Porque o Ministério da Educação, por enquanto, os sonega. Mas, como se nota, quando alguém protesta contra o governo petista ou cobra o cumprimento de promessas, está sendo “irresponsável”. Responsável é Lula. Responsável é Haddad, com uma greve nas costas que já dura quase quatro meses.

Talvez seja uma boa idéia o PT lançar Haddad como candidato à Prefeitura de São Paulo. É hora de a obra real deste rapaz vir a céu aberto, como o esgoto no campus de Garanhuns da Universidade Federal Rural. Também será uma boa oportunidade para perguntar se ele já devolveu o dinheiro gasto a mais com a fraude na edição retrasada do Enem, com os cadernos errados na edição passada e com aquele suposto kit anti-homofobia que ficava a um passo de considerar a heterossexualidade uma anormalidade da “direita conservadora”.

Lula está convicto de que o Brasil inteiro será sempre enganado, como foi o pobre Zé Lagarto.


Por Reinaldo Azevedo

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Brasil terá feijão transgênico em 2014

A CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança) aprovou ontem a primeira semente de feijão transgênico para cultivo no país. Ela deve estar disponível para o plantio em 2014.

Desenvolvida pela Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), a variedade transgênica é a primeira totalmente produzida por uma instituição pública.

O feijão geneticamente modificado é resistente ao vírus do mosaico dourado, um dos principais inimigos dos agricultores. Estima-se que essa praga provoque a perda de 90 mil a 280 mil toneladas de feijão por ano --o país produz 3,5 milhões de toneladas.

"Na média, a perda seria suficiente para alimentar 10 milhões de pessoas", diz Francisco Aragão, pesquisador da Embrapa e um dos responsáveis pelo projeto.

A nova tecnologia pode, portanto, resultar em maior oferta de feijão no país e oscilações menos bruscas de preço ao consumidor.

O feijão foi um dos vilões da inflação em 2010 e a previsão é que a alta se repita nos próximos meses.

A adoção da semente transgênica pelo agricultor também pode diminuir o número de aplicações de inseticidas, o que resultará em economia de custo e aumento na renda do produtor.

Segundo Aragão, a semente transgênica deve ser vendida por valor próximo ao da convencional, pois não haverá cobrança de royalties.

POLÊMICA

A CTNBio aprovou o feijão transgênico por 15 votos a favor, duas abstenções e cinco pedidos de diligência (necessidade de complementação). Mas o debate sobre o tema deve continuar acalorado.

Com posição contrária à liberação, Darci Frigo, coordenador da ONG Terra de Direitos, pretende levar o caso à Justiça Federal, pois considera que houve irregularidades no processo de aprovação.

"Não foram realizados testes suficientes para garantir a segurança do produto. Esse é um assunto sério, pois envolve a alimentação básica do brasileiro", afirma.

O Consea (Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional), órgão que assessora a Presidência da República, também se opõe à aprovação da semente.

"Não foi seguido o princípio da precaução, de que é melhor obter estudos mais avançados antes do plantio comercial", diz Renato Maluf, presidente do Consea.

Segundo Aragão, foram realizados testes de 2004 a 2010 em todos os ecossistemas onde o feijão comum é cultivado. "Temos convicção de que não há danos à saúde e também não identificamos diferenças nos fatores nutricionais mais importantes, como ferro e proteínas", diz.

Regiane Alves diz que ser periguete hoje é quase profissão

O termo "periguete" já até entrou na nova edição do dicionário "Aurélio".

Depois do sucesso de Natalie Lamour (Deborah Secco) em "Insensato Coração", agora é a vez de Regiane Alves, 33, representar a classe, definida como sendo de moças ou mulheres que, "não tendo namorado, demonstram interesse por qualquer um".

"Não tem como não lembrar da Natalie Lamour, mas dentro da dramaturgia tem vários personagens assim. Tem a chata, a engraçada, a vilã, mas a figura da 'periguete' é nova, acompanhou a modernidade. No início ela é assim, mas depois passa a ser outra coisa", explica Regiane.

Ela será a ex-personal trainer Cris em "A Vida da Gente", nova novela das 18h da Globo, que estreia dia 26.

Paulista de Santo André, ela lembra que, desde a infância, conheceu tipos como a Cris, que tentavam, a todo custo, subir na vida.

"Lá tem essa coisa de morar em bairro e lembro das mulheres mais velhas que queriam sair com o cara que tivesse condição. Isso é quase uma profissão. Acho um absurdo a mulher querer depender do cara pra viver", diz.

Mas Regiane garante que Cris conquistará o público e não será mau caráter, como a personagem de Deborah Secco se mostrou em algumas situações.

"É fácil gostar dela. No início pensam que ela vai dar o golpe, mas depois não", adianta.

A personagem será o pivô da separação do casal Eva (Ana Beatriz Nogueira) e Jonas (Paulo Betti) e fará de tudo para engravidar do amado, que é estéril.

João Miguel Júnior/Divulgação/TV Globo

Regiane Alves será a nova periguete da TV

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Eu, um homem do povo, digo à presidente de elite: A SENHORA ESTÁ ERRADA! Os pobres não são os culpados pela falta de ética!

Considero este um dos posts mais importantes que terei publicado aqui em cinco anos. Vocês entenderão por quê.

Eu sei o que alguns bobalhões dizem a meu respeito (sim, também há gente inteligente que não gosta de mim; posso suportar; não sou um homem carente): “Esse Reinaldo é muito agressivo”. Não sou, não! Sou um senhor até bastante educado. Eu fico um tantinho irritado porque eu acredito, de verdade!, em alguns valores que “eles” usam apenas como elemento de propaganda. Em parte, isso explica por que fui de esquerda durante um tempo, na adolescência e primeira juventude: dava mais relevo ao discurso generoso do esquerdismo — a igualdade — e entendia que a liberdade era um bem derivado daquele outro, que me parecia essencial. Feitas algumas sinapses, constatei o que hoje me parece óbvio: a liberdade é o nosso mais importante e inegociável bem.

Mas eu continuo, sim, empenhado, a meu modo e dentro dos meus limites, na luta pela igualdade; vale dizer: em ter um país em que todos sejam, na prática, iguais perante a lei. Para que se realize esse propósito, é preciso que o dinheiro do povo seja aplicado com decência. Para que se seja eficiente nessa aplicação, é preciso mudar a forma como se elegem os nossos representantes. As esquerdas são essencialmente mentirosas quando se dizem partidárias do povo ou suas legítimas representantes.

Qualquer leitor que tenha se interessado pela história dessa gente sabe muito bem: os que falaram, ao longo do tempo, como líderes das massas sempre nutriram um profundo desprezo pelos pobres; tomam-nos como um bando de alimárias morais, que precisam ser civilizadas. Não há um só pensador relevante de esquerda — nem para ser a exceção que contraria a regra — que não tenha partido do princípio de que o “povo” é composto de bestas que podem ser conduzidas pra cá ou pra lá.

Entendam: é claro que deixados os homens entregues à sua própria natureza, cada um e todos eles dedicados apenas à defesa dos seus interesses, assistiremos à guerra de todos contra todos, ao caos. Ao longo do tempo, foram se criando instituições para mediar os conflitos. Sem elas, morremos todos no fim da história. É por isso que este “polemista”, como me definiu uma repórter da revista “TPM”, dá tanta importância às leis democraticamente instituídas e mete a botina no traseiro dos que especulam contra elas.

A política é a nossa única chance de civilização. Não há outra. Isso que chamo “civilização” compreende o acesso aos bens da cultura, àquilo que de melhor, humanos, conseguimos produzir. A luta pela democratização dessas conquistas é uma tarefa coletiva, um imperativo moral. A educação é o principal instrumento para compartilhar esse patrimônio. Ponto parágrafo. Leiam agora esta fala da presidente Dilma. Volto em seguida:

“Um país pode ser medido pela capacidade de atender às mães e as crianças. Se tivermos nossas crianças bem-educadas, com apoio, acolhimento e carinho, certamente teremos uma sociedade bem mais virtuosa, tanto do ponto de vista ético como no direito de cada um dos brasileiros a ter as mesmas oportunidades”.

Ela participava de uma solenidade, no Palácio do Planalto, para anunciar investimentos em educação. Está quase tudo errado nessa fala. É claro que as crianças e as mães precisam ser bem-atendidas; é claro que o esforço para eliminar a pobreza deve ser permanente, MAS É PURO PRECONCEITO, DOS MAIS DETESTÁVEIS E DOS MAIS REACIONÁRIOS, a afirmação de que a educação torna as pessoas mais éticas.

Dilma já teve de demitir cinco ministros, quatro por problemas éticos. A nenhum deles faltou educação esmerada; a nenhum deles faltaram as melhores condições para progredir e se desenvolver; a nenhum deles faltou o acesso aos bens universais da cultura; a nenhum deles faltaram as condições objetivas para uma vida digna, reta e feliz.

Corrupção, desmandos, malversação do dinheiro público, relações de compadrio… Nada disso é protagonizado pelo povo ignorante e deseducado. Ao contrário! O povo brasileiro — e, convenham, assim são os povos mundo afora — tem muito mais vergonha na cara do que suas elites. Com mais informação, com mais referências, com mais oportunidades, é bem possível que manejasse melhor o seu padrão ético, não votando em canalhas e vigaristas, por exemplo. Mas seu senso de moral é até mais severo do que o de boa parte das pessoas com educação formal, tendentes ao relativismo.

Se os pobres brasileiros se comportassem como se comporta a elite política — na qual o PT é hoje força hegemônica —, seria impossível botar o nariz fora da porta. Uma minoria extrema dos pobres escolhe o caminho do crime — e tal escolha nada tem a ver com a pobreza. Não vou aqui abrir espaço para o “coitadismo” tão em voga no Brasil, mas eu conheço “o povo” de perto — Dilma não conhece. Ela vem daquilo que os petistas chamam “elite”. Tanto é assim que tentou instalar no país uma ditadura de esquerda para pôr a população no caminho reto; por isso queria ser a vanguarda das massas, que, naquela concepção, não chegariam sozinhas a lugar nenhum…

Não é a primeira vez que entro em contato com esse pensamento. A maioria dos “amigos do povo” que se distribuem na academia, no jornalismo e no debate público — UMA GENTE MUITO GENEROSA — parte do princípio estúpido, mentiroso, preconceituoso, de que o tal “povo” é constituído de zumbis à espera de uma alma, que lhe será concedida pela educação e pela cultura.

É falso! Falso e cruel! Os pobres também são capazes de fazer escolhas morais e escolhas éticas. Aliás, ao longo do dia, dos dias, da vida, têm muito mais oportunidades de optar entre o certo e o errado do que os que nasceram em famílias abastadas. Estas costumam proteger seus rebentos por um bom tempo das situações-limite.

Essa concepção vocalizada por Dilma Rousseff não é irrelevante e tem conseqüências perversas para os pobres. Ela se revela, por exemplo, no descaso de sucessivos governos com a segurança pública. O país é um dos campeões mundiais em homicídios por 100 mil habitantes. Entende-se que o crime é uma das expressões da falta de escola, da falta de saneamento, da falta de moradia. Não! A esmagadora maioria dos pobres segue as leis. O crime é expressão da falta de uma política decente de segurança pública, que proteja os pobres dos maus pobres e dos maus ricos. Cadeia não substitui escola, mas escola não substitui cadeia, como quer certo onguismo picareta.


Precisamos de uma escola boa e de educação universalizada para que os brasileiros estudem matemática, ciências, língua portuguesa, história; para que possam desenvolver seu potencial criativo; para que dediquem seus melhores talentos ao pensamento e à investigação científica. O povo tem moral, presidente! O povo tem ética! Ele precisa de escola, sim, mas não para isso. A escola não é a nova VAR-Palmares da moral popular.

Infelizmente, presidente, são os bem-educados da política que atuam hoje como fatores da deseducação do povo.

Por Reinaldo Azevedo

Dilma criará imposto para taxar corrupção

Recém demitido do Atlético Paranaense, Renato Gaúcho é cotado para assumir a articulação política

SUCUPIRA - A presidenta Dilma Rousseff abandonou a ideia de ressuscitar a CPMF para financiar os gastos com a saúde. "Num ataque de bom senso bastante incomum, achei que não pegava bem exigir esse sacrifício da população em meio a tantas denúncias por aqui. Pedi para a Ideli fazer umas contas e achamos melhor taxar em 5% as verbas desviadas. Decidimos, portanto, criar o ICP: Imposto sobre Circulação de Propinas", tergiversou a presidenta.

Uma estimativa feita pela ONG Sou Laranja estimou que os recursos oriundos do ICP serão capazes de financiar a construção de 127 hospitais, 9.343 postos de saúde, 343 creches. Com o que sobrar, ainda será possível lançar campanhas de vacinação tão amplas que incluem até mesmo a imunização de animais de estimação, plânctons e personagens de ficção. "Mesmo levando em conta orçamentos superfaturados e o descumprimento da maioria dos prazos, estimamos que o impulso dado ao PIB por este novo impostos é da ordem de pelo menos 15 pontos percentuais ", disse Eliézer Roriz, doutorando em Caixa 2.

O novo imposto caiu como uma bomba no Congresso. Membros da base aliada organizaram uma áspera manifestação em frente ao Palácio do Jaburu. Um representante do PP chegou a fazer ameaças ao governo: "Se o Planalto insistir em manter esse imposto vil e pouco republicano, tomaremos medidas drásticas. Alguns deputados já falam até em trabalhar de segunda a sexta. Outros dizem que vão colocar o bem coletivo no lugar de seus interesses pessoais", esbravejou o Senador Alfredo Nascimento.

A manifestação teve apoio enérgico do Ministro do Turismo, Pedro Novais, cujo mítico vigor e empreendedorismo, segundo o próprio, será posto a serviço do combate “a mais esse desmando presidencial“.

Aturdido, ACM Neto teve uma síncope e foi socorrido por uma junta de enfermeiros. Ao se levantar, pediu o impeachment da presidenta. Álvaro Dias contraiu os músculos da face e teve uma distensão de nível 2 no botox frontal. Para espanto dos coloristas de Brasília, o seu cabelo exemplarmente tingindo de negro ficou branco em menos de cinco minutos

Os vendedores de nuvens tentam esconder a falência do sistema de ensino público

Em setembro de 2010, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) comprovou que o Brasil tem 14,1 milhões de analfabetos com mais de 15 anos de idade. A imensidão de gente que sequer distingue uma vogal de uma consoante aumenta perturbadoramente quando somados os que só conseguem rabiscar a assinatura. Em agosto, a Prova ABC constatou que mais de 50% dos alunos matriculados na terceira série do fundamental não são alfabetizados. Nesta semana, os resultados do Enem-2010 revelaram que 53% dos estudantes das escolas públicas estão abaixo da média. Em cada dez unidades da rede oficial, oito foram reprovadas.

Um trecho da crônica de Lya Luft na mais recente edição de VEJA, reproduzida na seção Feira Livre, escancara a falência do sistema educacional. “Metade das crianças brasileiras na terceira série do elementar não sabe ler nem escrever. Não entende para o que serve a pontuação num texto. Não sabe ler horas e minutos num relógio, não sabe que centímetro é uma medida de comprimento. Quase a metade dos mais adiantados escreve mal, lê mal, quase 60% têm dificuldades graves com números. Grande contingente de jovens chega às universidades sem saber redigir um texto simples, pois não sabem pensar, muito menos expressar-se por escrito. Parafraseando um especialista, estamos produzindo estudantes analfabetos”.

Atropelados pelo país real, os vendedores de nuvens refugiaram-se no Brasil Maravilha do cartório. “A presidente não está insatisfeita com as notas”, declamou Cândido Vaccarezza, líder do governo no Congresso e confidente de Jaqueline Roriz. “Nós atingimos a meta, é um dado positivo”. Só se a meta for a criação do maior viveiro de analfabetos funcionais do planeta. “Não há uma iniciativa, uma bala de prata que vai ferir de morte a baixa qualidade”, caprichou no palavrório o ministro Fernando Haddad. “Existem ações articuladas voltadas para a qualificação da escola”. Com embalagens variadas, a mesma discurseira se repete há oito anos e meio. “Cansei de falas grandiloquentes sobre educação, enquanto não se faz quase nada”, escreveu Lya Luft. “Falar já gastou, já cansou, já desiludiu, já perdeu a graça”. A grande escritora falou por todos os brasileiros que já não suportam a conversa fiada dos camelôs de si próprios.

“É praticamente impossível ter piorado a qualidade da educação na escola pública”, anda choramingando Fernando Haddad. A frase mal costurada confirma que, como tudo no sistema de ensino, também os ministros ficaram bem piores. Só estudei em escolas públicas. Haddad se formou em escolas particulares. Passei quatro anos no velho Grupo Escolar Domingues da Silva em companhia de dezenas de alunos pobres. Ou paupérrimos, como os que vinham caminhando, descalços, dos sítios e fazendas onde sobreviviam. No fim do segundo ano, como os filhos da classe média de Taquaritinga, também os meninos da roça sabiam ler, escrever e falar. Todos sabíamos.

Nenhum professor nos ensinou que falar errado está certo. Nunca fomos autorizados por livros supostamente didáticos a espancar a língua culta. No terceiro ano do curso primário, nós não pegava os peixe. Nós pegávamos peixes. E assim acabamos aprendendo a pescar as palavras corretas, caçar conhecimentos e escapar das sombras da ignorância.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Manifesto das piriguetes

O manifesto das piriguetes foi dinamite pura. A turminha fez de conta que não leu e estão pedindo a Deus que suas companheiras passem longe do texto, se não como vão se explicar? Eu como sou observador dos hábitos e costumes do ser humano, estou tranquilo.

Atenção piriguetes do Campinho Preto, voces agora estão arriscadas a ficar de bico seco.

Nossos pobres são mais pobres

Clovis Rossi

Os números sobre o aumento da pobreza nos Estados Unidos só demonstram a profundidade da crise pela qual passa o modelo contemporâneo de capitalismo, assentado no predomínio do sistema financeiro.

Aliás, Juan Somavia, diretor-geral da Organização Internacional do Trabalho, braço da ONU, lançou um apelo nesta quarta-feira: "Chegou o momento de colocar a economia real no comando da economia mundial, com um sistema financeiro a serviço dela".

Detalhou: "Isso significa colocar os investimentos produtivos na economia real no centro da formulação de políticas, propiciar um ambiente adequado para as empresas sustentáveis e uma menor oferta de produtos financeiros arriscados e improdutivos", disse em discurso ao Parlamento Europeu. Poderia ter dito "basta de cassino".

De acordo, Somavia, mas duvido que seu apelo seja ouvido. A "pátria financeira" tem hoje o domínio da agenda global.

Mas voltemos à pobreza nos Estados Unidos. Os números, eloquentes por si só, ganham um significado ainda mais sombrio quando são comparados com um dos pilares do chamado sonho americano, qual seja o que de que os filhos teriam uma vida melhor do que a dos pais (na média, claro).

Se a pobreza só faz aumentar (há três anos consecutivos), desaparece essa segurança de horizontes.

Mas, atenção, não é porque o Brasil está conseguindo reduzir a pobreza há já bastante tempo que temos motivos para festejar.

Como bem mostraram a Folha-papel e a Folha.com, primeiro a porcentagem de pobres no Brasil é imensamente maior: 15% da população nos Estados Unidos é praticamente três vezes mais no Brasil (43% para ser preciso).

Pior: os pobres brasileiros são muito mais pobres que os pobres norte-americanos. Lá, é pobre quem ganha no máximo o equivalente a R$ 700. Aqui, R$ 140.

Nem adianta argumentar que o custo de vida lá é mais alto. Não é tão mais alto, não, de que dá prova o fato de que os brasileiros estão preferindo comprar imóveis em Miami porque são mais baratos do que no Rio ou em São Paulo.

OK, é justo reconhecer que os Estados Unidos têm uns 200 anos, pelo menos, de progresso econômico que acaba reduzindo a pobreza, ao passo que o Brasil, nesse período, foi uma imensa gangorra de sobes e desces na economia, para apenas nos 15 últimos anos, pouco mais ou menos, estabilizar-se --condição sine qua non para melhorar a vida das pessoas.

Mas, mesmo feita essa ressalva, não cabe complacência. Ainda mais que um dos grandes instrumentos para reduzir a pobreza --a educação-- está em situação trágica no Brasil. Chega a ser humilhante verificar que um estudo da OCDE com 42 países colocou o Brasil no último lugar em estudantes universitários, na faixa etária de 25 a 34 anos. Só 12% dos jovens chegam à universidade.

Tudo somado, ainda falta um mundo para que o Brasil justifique de fato o rótulo de "emergente".


Clóvis Rossi é repórter especial e membro do Conselho Editorial da Folha, ganhador dos prêmios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundación por un Nuevo Periodismo Iberoamericano. Assina coluna às terças, quintas e domingos no caderno Mundo. É autor, entre outras obras, de "Enviado Especial: 25 Anos ao Redor do Mundo e "O Que é Jornalismo".

terça-feira, 13 de setembro de 2011

As piriguetes fazem seu manifesto

Nós, as piriguetes ouvimos pela rádio Diamantina, o protesto dos bocas vazias e também queremos falar. Pra começo de conversa, queremos dizer que já estamos no dicionário. Isso quer dizer que merecemos mais respeito. Hoje em dia os gays, o povo de cor, os jovens, os velhos e mais uma porrada de gente, tem seus direitos e é crime discriminar qualquer um deles. Então viemos reclamar também nossos direitos, pois somos muito mal faladas porque essa gente não entende nosso jeito de ser.
Somos vividas, somos aquela garota comum, sem frescura, sem modismo, democrática, muito ao contrário dessas patricinhas “seguras”, “modernas”, “independentes”, cheias de não me toques e que só frequentam lugares chiques ou que estão na moda. Tão pensando que nos enganam? Vez ou outra uma delas cai no piriguetismo. Mas é tudo feito escondidinho para não dar escândalo. Com nós, tudo é feito para todo mundo ver.
Mas esse povo fica pensando que piriguete só vive atrás de homem. Nada disso! Os bocas vazias ficam pensando que só eles animam o Araguaia. Uma pinóia. E nós as piriguetes lá na beira do campo torcendo pelo seu time? E depois do jogo quem vai beber e farrear com os jogadores? Quem é que anima os shows dos cantores e bandas? O que seria das micaretas sem nós? Jogador de futebol, cantor, artista, solteiro, e principalmente, homens casados, largados e viúvos nos adoram. Querem beber num barzinho aí escondidinho? Querem confessar suas infelicidades com suas mulherzinhas indaguentas? Lá estamos nós. É claro que o sujeito tem de pagar as bebidas e tira gosto se tiver. Vocês estão pensando que é mole ficar ouvindo prosa ruim em mesa de boteco? Tem gente que não entende e vive dizendo que nós vivemos lisas e esfomeadas. Não é isso. Querem alugar nossos ouvidos e também desfrutar de nossos corpos sem gastar nada? Sai fora.
As patricinhas quando estão paquerando um cara, dizem que estão “ficando”. Cada dia é um “ficada” diferente. Ninguém diz nada, tá na moda. Agora se nós fazemos a mesma coisa lá vem esculhambação. Nós as piriguetes somos umas injustiçadas. Se a mulherada soubesse o bem que nós fazemos aos seus casamentos falidos, elas mesmas mandavamseus companheiros nos procurar. Elas tem paciência para escutar prosa ruim? Não tem. Elas topam beber como umas condenadas num boteco qualquer? De jeito nenhum. Elas traçam um prato de mocotó ou buchada? Deus me livre. Se não tiver tira gosto, aceitam abrir uma lata de sardinha, salsicha ou quitute? Credo. É isso. Nós topamos tudo, não por desespero, mas porque gostamos da farra. E se as patricinhas depois da “ficada” resolvem ir com o cara lá no carro ou motel fazer o que todo mundo gosta de fazer, nós também. Qual é o problema?
É por isso que nós queremos nosso estatuto. Não somos mulheres de vida fácil, somos discriminadas e mal faladas e precisamos de proteção. De qual mulher as músicas bregas estão falando? De nós, é claro. Somos românticas e queremos ser amadas com mais respeito. Se o cara nos respeitar vão ter uma mulher carinhosa e dedicada. E principalmente, sem indaga nojenta.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Oito em cada 10 escolas públicas ficam abaixo da média no Enem. Abismo: das 20 melhores, 18 são privadas

Por Demétrio Weber, no Globo:

Oito em cada dez escolas públicas ficaram abaixo da média no último Exame Nacional do Ensino Médio (2010). É o que revelam os resultados do Enem por estabelecimento de ensino, que o Ministério da Educação divulga hoje. O cálculo considera escolas em que, pelo menos, 25% dos alunos participaram do exame. Entre os colégios particulares, 8% não conseguiram superar a média nacional — um décimo do índice verificado na rede pública. A média geral dos estudantes do último ano do ensino médio foi de 553,73 pontos, numa escala até 1.000. A nota considera o desempenho tanto nas provas objetivas quanto na redação. E é ela que serve de referência para determinar quantas escolas ficaram abaixo da média nacional: nada menos do que 8.926 estabelecimentos públicos e 397 privados.

Considerando apenas a nota geral nas provas objetivas — 511,21 pontos —, 80% das escolas públicas ficam abaixo da média. A diferença entre a rede pública e a particular é um desafio para o sistema de educação brasileiro. E o Enem 2010 apresenta novos dados sobre o problema. Das 20 escolas com maiores médias, 18 são privadas e as duas públicas são vinculadas a universidades federais. Na outra ponta, todas as 20 piores são públicas, assim como as 100 unidades com notas mais baixas. Entre as mil escolas com piores médias, 995 são públicas e apenas cinco, privadas.

Vem aí o manifesto das piriguetes

Vem aí o manifesto das piriguetes. Fiquem atentos.

MP denuncia Edir Macedo por lavagem de dinheiro

Por Sérgio Roxo, no Globo:
O Ministério Público Federal em São Paulo denunciou o bispo Edir Macedo e mais três dirigentes da Igreja Universal do Reino de Deus, acusados de formação de quadrilha e lavagem de dinheiro arrecadado dos fiéis. De acordo com a investigação, o grupo teria utilizado os serviços de uma casa de câmbio de São Paulo para mandar recursos de forma ilegal para os Estados Unidos, entre 1999 e 2005.

Os frequentadores da Universal seriam, segundo a denúncia, vítimas de estelionato. Os denunciados são acusados de só declarar à Receita parte dos recursos arrecadados com doações.

Em 2009, o Ministério Público Estadual de São Paulo chegou a apresentar denúncia contra Macedo e oito dirigentes da Igreja por lavagem de dinheiro, mas o Tribunal de Justiça do estado anulou o processo, em outubro de 2010, porque entendeu que a investigação deveria ser remetida para a Justiça Federal.

A nova denúncia foi apresentada no dia 1 de setembro pelo procurador da República Sílvio Luís Martins de Oliveira e utiliza fatos que foram levantados pela investigação do Ministério Público Estadual. Para o procurador, os “pregadores valem-se da fé, do desespero ou da ambição dos fiéis para lhes venderem a ideia de que Deus e Jesus Cristo apenas olham pelos que contribuem financeiramente com a Igreja e que a contrapartida de propriedade espiritual ou econômica que buscam depende exclusivamente da quantidade de bens materiais que entregam”.O Ministério Público Federal em São Paulo denunciou o bispo Edir Macedo e mais três dirigentes da Igreja Universal do Reino de Deus, acusados de formação de quadrilha e lavagem de dinheiro arrecadado dos fiéis. De acordo com a investigação, o grupo teria utilizado os serviços de uma casa de câmbio de São Paulo para mandar recursos de forma ilegal para os Estados Unidos, entre 1999 e 2005.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Três embustes do Brasil Maravilha

Em sua coluna desta quarta-feira, o jornalista Carlos Brickmann implodiu com três notas de poucas linhas dois embustes cultivados com especial carinho pelos inventores do Brasil Maravilha: o milagre do álcool, a autossuficiência em petróleo e a eficiência espetacular da Petrobras. Na discurseira de Lula e Dilma Rousseff, são espantos de matar de inveja um magnata de filme americano. No país real, só existem na papelada registrada em cartório pelo palanque ambulante. (AN)

O álcool…


Lembra da revolução energética anunciada pelo presidente Lula, em que o álcool de cana brasileiro seria um dos combustíveis mais importantes? Bom, o Brasil está importando álcool faz tempo ─ principalmente dos Estados Unidos. Neste ano, a importação representa cinco vezes a de 2010: no total, 1,03 bilhão de litros contra 200 milhões do ano passado. E era para ser ainda maior, se o Governo não tivesse reduzido a mistura do álcool na gasolina de 25 para 20%.

…a gasolina…

Lembra da autossuficiência do Brasil em petróleo, também anunciada pelo presidente Lula? Neste ano, o Brasil já importou 3,1 milhões de barris de gasolina; e além das importações normais virão mais 550 mil barris por mês, para substituir os 5% de álcool a menos na mistura.

…o custo

No segundo trimestre do ano passado, o prejuízo da Petrobras com a importação de gasolina foi de R$ 108 milhões. No segundo trimestre deste ano, de R$ 2,28 bilhões. Traduzindo: o prejuízo foi multiplicado por 20.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

ESTÁ CRIADO O MSP, O MOVIMENTO DOS SEM-POLÍTICO! INDIVÍDUOS LIVRES GANHAM AS RUAS! CUMPRE A CADA UM ROMPER O CERCO DA EMPULHAÇÃO E DA MÁQUINA OFICIAL


No dia em que milhares de brasileiros saíram às ruas para protestar contra a corrupção, a UNE não saiu, não!
É que a UNE estava contando dinheiro.
O governo petista já repassou aos pelegos mais de R$ 10 milhões e vai dar outros R$ 40 milhões para eles construírem uma sede de 13 andares, que serão ocupados pelo seu vazio de idéias, pelo seu vazio moral, pelo seu vazio ético.

No dia em que milhares de brasileiros saíram às ruas para protestar contra a corrupção, a CUT não saiu, não!
É que a CUT estava contando dinheiro.
O governo petista decidiu repassar para as centrais sindicais uma parte do indecoroso imposto cobrado mesmo de trabalhadores não-sindicalizados. Além disso, boa parte dos quadros das centrais exerce cargos de confiança na máquina federal.

No dia em que milhares de brasileiros saíram às ruas para protestar contra a corrupção, o MST não saiu, não!
É que o MST estava contando dinheiro.
O movimento só existe porque o governo o mantém com recursos públicos. Preferiu fazer protestos contra a modernização da agricultura.

No dia em que milhares de brasileiros saíram às ruas para protestar contra a corrupção, os ditos movimentos sociais não saíram, não!
É que os ditos movimentos sociais estavam contando dinheiro.
Preferiram insistir no seu estranho protesto a favor, chamado “Grito dos Excluídos”. Na verdade, são os “incluídos” da ordem petista.

Os milhares que saíram às ruas, com raras exceções, não têm partido, não pertencem a grupos, não reconhecem um líder, não seguem a manada, não se comportam como bando, não brandem bandeiras vermelhas, não cultuam cadáveres de falsos mártires nem se encantam com profetas pés-de-chinelo.

Os milhares que saíram às ruas estudam, trabalham, pagam impostos, têm sonhos, querem um país melhor, estão enfarados da roubalheira, repudiam a ignorância, a pilantragem, lutam por uma vida melhor e sabem que a verdadeira conquista é a que se dá pelo esforço.

Os milhares que saíram às ruas não agüentam mais o conchavo, têm asco dos vigaristas que tomaram de assalto o país, não acreditam mais na propaganda oficial, repudiam a política como exercício da mentira, chamam de farsantes os que, em nome do combate à pobreza, pilham o país, dedicam-se a negociatas, metem-se em maquinações políticas que passam longe do interesse público.

O MSP - O Movimento dos Sem-Político
Vocês viram que os milhares que saíram às ruas estavam acompanhados apenas de seus pares, que, como eles, também saíram às ruas. Era o verdadeiro Movimento dos Sem-Político. Não que eles não pudessem aparecer por ali. O PSOL até tentou “embandeirar” os protestos, mas os presentes não aceitaram. Aquele era um movimento das ruas, não dos utopista do século retrasado, que ainda vêm nos falar, santo Deus!, de “socialismo com liberdade”.

Se políticos aparecerem para também protestar — não para guiar o povo —, teriam sido bem-recebidos, mas eles não apareceram porque nem se deram conta ainda de que alguma coisa está em gestação, de que um movimento está em curso, de que algo se move no ventre da sociedade brasileira.

Na semana em que milhares de brasileiros evidenciavam nas redes sociais e nos blogs e sites jornalísticos que estão enfarados de lambança, governistas e oposicionistas estavam mantendo conversinhas ao pé do ouvido para tentar preencher a próxima vaga do Tribunal de Contas da União. A escolha do nome virou parte das articulações para a disputa pela Presidência da República em 2014… Governistas e oposicionistas que se metem nesse tipo de articulação, da forma como se dá, não estão percebendo que começa a nascer um movimento, que já reúne milhares de pessoas, que não mais aceita esse minueto de governistas arrogantes e oposicionistas espertalhões. Essa gente, de um lado e de outro, ficou irremediavelmente velha de espírito.

Os caras-pintadas, desta feita, não puderam contar com a máquina dos governos de oposição, como aconteceu com o Movimento das Diretas-Já e do impeachment de Collor. Ontem, e assim será por um bom tempo, eram as pessoas por elas mesmas. Sim, algo se move na sociedade. E é inútil se apresentar para “dirigir” o movimento. Marina Silva até percebeu a onda, mas errou ao apostar que os outros não perceberam a sua onda. Esse movimento, dona Marina, não nasce com assessoria de imprensa, assessoria de imagem, assessoria política e forte suporte financeiro. O seu apartidarismo, candidata, é transitório; o dos brasileiros que foram às ruas é uma condição da liberdade.

O maior em nove anos
Os milhares que saíram às ruas ontem, tratados com desdém nos telejornais, fizeram a maior manifestação de protesto contra o “regime petista” em seus nove anos de duração. E algo me diz que vai continuar e tende a crescer. Pagamos um dos maiores impostos do mundo para ter um dos piores serviços públicos do mundo. Sustentamos os políticos que estão entre os mais caros do mundo para ter uma das piores classes políticas do mundo. Temos, acreditem, uma das educações mais caras do mundo para ter uma das piores escolas do mundo. Temos um dos estados mais fortes do mundo para ter uma das maiores cleptocracias do mundo.

O Movimento dos Sem-Partido não rejeita a democracia dos partidos — até porque, sem eles, só existe a ditadura do Partido Único —, mas quer saber se alguém se dispõe efetivamente a romper esse ciclo de conveniências e conivências. Os milhares que foram às ruas desafiaram o risco de ser demonizados pelos esbirros do oficialismo. Perderam o medo.

Sim, em passado nem tão recente, em 2007, um grupo tentou organizar uma reação à corrupção, que se generalizava. Não chegou a crescer como este de agora, mas se fez notar. Tinha uma espécie de palavra-chave para identificar os indignados: “Cansei!” O movimento foi impiedosamente ridicularizado. Escrevi a respeito à época. Foi tratado como coisa de dondocas, de deslumbrados insatisfeitos com o que se dizia ser a “democratização” do Brasil. Houve estúpidos que afirmaram que eram ricos que não suportavam ver pobres no aviões — como se o caos aéreo punisse apenas os endinheirados.

A menor tentativa de esboçar uma reação aos desmandos dos ditos “progressistas” era tratada a pauladas. Na Folha, Laura Capriglione chegou a ridicularizar uma passeata de estudantes da USP, feita no campus da universidade, que protestavam contra as greves. Os que queriam estudar foram tratados como um bando de reacionários. Os indignados com a corrupção e com a mistificação perderam o medo.

Enfrentar a desqualificação
A tentativa de desqualificação virá — na verdade, já veio. Veículos a soldo, dedicados ao subjornalismo oficialista, alimentado com dinheiro público, já fazem pouco caso das manifestações. As TVs ontem deram menos visibilidade aos protestos do que dariam a uma manifestação de descontentamento no, deixe-me ver, Bahrein! Parece que há gente que acha que democracia é uma coisa importante no Egito, na Líbia e na Síria, mas não no Brasil.

É inútil! Os milhares que foram às ruas ontem não precisam da oposição, não precisam do subjornalismo, não precisam do jornalismo simpático às manifestações de protesto do Iêmen… A dinâmica hoje em dia é outra.

Que os sem-partido, sem-grupos, sem-líder, sem-bando, sem-bandeiras vermelhas, sem-mártires e sem-profetas insistam. A oposição, se quiser, que se junte. Quem sabe até ela aprenda a ser livre e também diga com clareza: “Não, vocês não podem!”


Por Reinaldo Azevedo