Antigamente dava-se o nome de Suíça brasileira ao município
de Morro do Chapéu. Um evidente exagero vez que qualquer cidadezinha de Santa
Catarina, por exemplo, deixa nossa cidade para trás nesse quesito. E depois,
nem o clima ajuda mais. Na verdade estamos mais para Terra do Nunca do que para
Alice no País das Maravilhas, pois, como sabem todos, aqui nada progride, nada
avança a não ser o atraso secular. E pensar que o lema dessa atual
administração municipal é “Novos Tempos, Dias Melhores” quando na realidade
deveria ser “Velhos Tempos, Dias Piores”. O prefeito anda caçando qualquer evento, até entrega
de carrinho de lanches para ver se sacode um pouco o marasmo, já que nada tem
para inaugurar.
Para sair da pasmaceira, essa terra só se anima em época de eleição
a prefeito e vereadores. É tanta movimentação que se tem a impressão que finalmente
o município começou a trilhar o caminho do progresso e desenvolvimento. Nas
últimas eleições nossos políticos tiraram proveito do campo de experimentação
de uvas viníferas para fazer romaria no local; veio governador, veio secretário
de Estado, veio técnicos da Embrapa, diretores de autarquias diversas,
vereadores a rojão e o prefeito sempre a reboque. Até um presidente de uma cooperativa vinífera
francesa, um tal de Jojô, apareceu por lá. Mudas selecionadas de videiras foram
providenciadas para dar mais brilho aos eventos.
O governador fazendo jus à sua fama de bom vivant, degustou vinhos, queijos e bode defumado. E para a alegria daquela galera que tem de
comparecer a esses eventos para dar a impressão de grande apoio popular, sobrou
vinho espumante, bebido com aquela tradicional gulodice para ver se enganava o
estomago roncando. Tudo foi fotografado, filmado, jornais foram impressos e
entrevistas ao vivo nas emissoras de rádio locais foram providenciadas. Foi uma
festança permanente e a animação foi tanta que técnicos da Embrapa, juntamente
com o Secretário de Agricultura do Estado e aqueles senhores que detém as
rédeas do poder local, adquiriram uma área de terras para produzir uvas
viníferas. O prefeito e o deputado não cabiam em si de contentamento, já
antevendo uma reeleição tranquila para ambos, com índices de aceitação bem
robustos.
E para coroar tanto otimismo, foi providenciada a
inauguração da UPA, o governo federal premiou todas as prefeituras com Unidades
Odontológicas Móveis, tratores, caçambas, ônibus escolares, ambulâncias do
SAMU, motoniveladoras, enfim, foram muitos os investimentos. Ao longo da
campanha eleitoral só se falava numa tal de adimplência alcançada pela
prefeitura, não sabe por quais artes mágicas.
Mas o que deixou o eleitorado intrigado foi que nas
carreatas do governador do campo de pouso de avião até o contorno pela BA-052,
ele não tenha notado o longo cemitério de obras inacabadas margeando essa
rodovia. E olha que a rodovia nesse trecho estava bem iluminada para que todos
vissem o estado de abandono em que se encontra o município. E a obra mais
vistosa que dá para ver de longe é o esqueleto de uma quadra esportiva que não
pode ser demolida, nem concluída já que foi embargada por não obedecer às
normas técnicas para tal empreendimento. Para nossa perene vergonha (ainda
temos?), é o único município em toda Chapada Diamantina que ostenta tamanho
descalabro com o dinheiro público.
E o Hospital São Francisco de Assis? E o prédio que abriga a
secretaria de recursos minerais? E o outro que abrigava a Juventude não sei de
quê? E a UPA que nunca funcionou? Para
não ficarmos só nesse rosário de calamidades, deve-se registrar que a única
obra de vulto nessa rodovia, é uma pousada em vias de conclusão cujo
proprietário ninguém acredita que é quem diz ser. Seria quem? Eis o mistério.
De qualquer modo passada as eleições na qual o prefeito foi
reeleito com uma margem mínima de votos, quase levando-o ao infarto, Morro do
Chapéu voltou a deitar em seu berço esplendido. Todas as obras prometidas na
campanha política foram paralisadas. O estádio de futebol que já quase ninguém
se lembra que existe, segue em sua rotina de paralisia. A praça do Pelourinho
vai indo a passos de tartaruga; a Academia de Saúde está servindo para a
molecada praticar skate; o Hospital São Vicente vai aumentando a estatística de
bebes mortos e mau atendimento e a creche de “padrão nacional” lá na Ba-052
ameaça tornar-se mais um prédio abandonado, seguindo a triste sina dessa
rodovia. E isso aconteceria se ali não houvesse sido aplicada verbas federais.
A não ser por alguns espertalhões que estão faturando alto
com o projeto de implantação das torres de energia eólica que vai ficando para
as calendas gregas, o povo vive desesperançado e sem ânimo, como é a marca
registrada do lugar. Se não aparecer um novo Dias Coelho que atenda as
necessidades do povo, nosso município não tem lá grande futuro. Que os
morangos, as uvas viníferas e os tomates telados contrariem essa previsão.