domingo, 1 de junho de 2014

Dormindo em berço esplêndido



       Antigamente dava-se o nome de Suíça brasileira ao município de Morro do Chapéu. Um evidente exagero vez que qualquer cidadezinha de Santa Catarina, por exemplo, deixa nossa cidade para trás nesse quesito. E depois, nem o clima ajuda mais. Na verdade estamos mais para Terra do Nunca do que para Alice no País das Maravilhas, pois, como sabem todos, aqui nada progride, nada avança a não ser o atraso secular. E pensar que o lema dessa atual administração municipal é “Novos Tempos, Dias Melhores” quando na realidade deveria ser “Velhos Tempos, Dias Piores”.  O prefeito anda caçando qualquer evento, até entrega de carrinho de lanches para ver se sacode um pouco o marasmo, já que nada tem para inaugurar.
     Para sair da pasmaceira, essa terra só se anima em época de eleição a prefeito e vereadores. É tanta movimentação que se tem a impressão que finalmente o município começou a trilhar o caminho do progresso e desenvolvimento. Nas últimas eleições nossos políticos tiraram proveito do campo de experimentação de uvas viníferas para fazer romaria no local; veio governador, veio secretário de Estado, veio técnicos da Embrapa, diretores de autarquias diversas, vereadores a rojão e o prefeito sempre a reboque.  Até um presidente de uma cooperativa vinífera francesa, um tal de Jojô, apareceu por lá. Mudas selecionadas de videiras foram providenciadas para dar mais brilho aos eventos.
     O governador fazendo jus à sua fama de bom vivant, degustou vinhos, queijos e bode defumado.  E para a alegria daquela galera que tem de comparecer a esses eventos para dar a impressão de grande apoio popular, sobrou vinho espumante, bebido com aquela tradicional gulodice para ver se enganava o estomago roncando. Tudo foi fotografado, filmado, jornais foram impressos e entrevistas ao vivo nas emissoras de rádio locais foram providenciadas. Foi uma festança permanente e a animação foi tanta que técnicos da Embrapa, juntamente com o Secretário de Agricultura do Estado e aqueles senhores que detém as rédeas do poder local, adquiriram uma área de terras para produzir uvas viníferas. O prefeito e o deputado não cabiam em si de contentamento, já antevendo uma reeleição tranquila para ambos, com índices de aceitação bem robustos.
E para coroar tanto otimismo, foi providenciada a inauguração da UPA, o governo federal premiou todas as prefeituras com Unidades Odontológicas Móveis, tratores, caçambas, ônibus escolares, ambulâncias do SAMU, motoniveladoras, enfim, foram muitos os investimentos. Ao longo da campanha eleitoral só se falava numa tal de adimplência alcançada pela prefeitura, não sabe por quais artes mágicas.
      Mas o que deixou o eleitorado intrigado foi que nas carreatas do governador do campo de pouso de avião até o contorno pela BA-052, ele não tenha notado o longo cemitério de obras inacabadas margeando essa rodovia. E olha que a rodovia nesse trecho estava bem iluminada para que todos vissem o estado de abandono em que se encontra o município. E a obra mais vistosa que dá para ver de longe é o esqueleto de uma quadra esportiva que não pode ser demolida, nem concluída já que foi embargada por não obedecer às normas técnicas para tal empreendimento. Para nossa perene vergonha (ainda temos?), é o único município em toda Chapada Diamantina que ostenta tamanho descalabro com o dinheiro público.
     E o Hospital São Francisco de Assis? E o prédio que abriga a secretaria de recursos minerais? E o outro que abrigava a Juventude não sei de quê? E a UPA  que nunca funcionou? Para não ficarmos só nesse rosário de calamidades, deve-se registrar que a única obra de vulto nessa rodovia, é uma pousada em vias de conclusão cujo proprietário ninguém acredita que é quem diz ser. Seria quem? Eis o mistério.
     De qualquer modo passada as eleições na qual o prefeito foi reeleito com uma margem mínima de votos, quase levando-o ao infarto, Morro do Chapéu voltou a deitar em seu berço esplendido. Todas as obras prometidas na campanha política foram paralisadas. O estádio de futebol que já quase ninguém se lembra que existe, segue em sua rotina de paralisia. A praça do Pelourinho vai indo a passos de tartaruga; a Academia de Saúde está servindo para a molecada praticar skate; o Hospital São Vicente vai aumentando a estatística de bebes mortos e mau atendimento e a creche de “padrão nacional” lá na Ba-052 ameaça tornar-se mais um prédio abandonado, seguindo a triste sina dessa rodovia. E isso aconteceria se ali não houvesse sido aplicada verbas federais.
    A não ser por alguns espertalhões que estão faturando alto com o projeto de implantação das torres de energia eólica que vai ficando para as calendas gregas, o povo vive desesperançado e sem ânimo, como é a marca registrada do lugar. Se não aparecer um novo Dias Coelho que atenda as necessidades do povo, nosso município não tem lá grande futuro. Que os morangos, as uvas viníferas e os tomates telados contrariem essa previsão.