Uma das coisas mais terríveis é o chamado “receptor
da mídia”, seja ele leitor, seja telespectador. Talvez o segundo seja ainda
pior do que o primeiro porque para ler você precisa ser um pouco menos
ignorante.
Certa feita
perguntaram a um astronauta americano que esteve na Lua o que ele achava das
teorias conspiratórias segundo as quais o homem não teria ido à Lua. Ele respondeu
que existem pessoas que se levam muito a sério. Nada pior do que essas pessoas
que não sabem nada, mas não sabem que não sabem nada, e levam suas vidas banais
(toda vida é banal, mas a classe média com sua infinita baixa autoestima não
sobrevive a esse fato) como se tivessem algum grande valor que não foi
descoberto pelos outros. Não digo isso com a intenção de afirmar que, se leu
cem livros, você seja supertop por isso. Você pode ter lido muito e ser um bobo
do mesmo jeito. Mas o tipo médio de leitor de jornal ou do telespectador de TV
é um medíocre que se acha o máximo, principalmente quando leva muito a sério
suas opiniões sobre o mundo. Quase sempre não entende nada e vocifera seu não
entendimento como parte da democratização do conhecimento.
Sou um
quase descrente na capacidade da televisão de fazer algo que preste pela
cultura (não sou 100% descrente pois acredito em milagres), porque a televisão
entra em todos os lares e por isso mesmo lida com aquele idiota ao qual fiz
referencia antes. Sua ruidosa ignorância banhada em autoestima criada pela fé
na democracia gera a crença em si mesmo, e é isso que, creio, o astronauta
americano tinha em mente quando respondeu à questão sobre aqueles que acham que
a ida à Lua foi feita para ele, em sua “brilhante” inteligência, “descobrir”
como farsa.
Na verdade
é duro ser gente mesmo. E a maioria de nós é irrelevante mesmo, se arrasta pelo
mundo como uma raça de abandonados que riem com pó entre os dentes. Mas o
politicamente correto nos proíbe de dizer esta verdade: o leitor e o telespectador
são idiotas, e no fundo nós, que “somos a mídia”, pouco os levamos em conta
porque quase nada do que eles dizem valem a pena. Não fosse pela desgraça do
mundo capitalista (que nos obriga a ouvir esse sujeito porque ele é
consumidor), não precisaríamos dele e poderíamos dizer-lhe esta verdade
insuperável: você é um idiota e, se não fosse consumidor de nosso produto, esqueceríamos
que você existe.
Luis Felipe Pondé