quarta-feira, 18 de julho de 2012

Tem gente que se acha muito importante em seu apartamento de dois quartos de classe média.


Uma das coisas mais terríveis é o chamado “receptor da mídia”, seja ele leitor, seja telespectador. Talvez o segundo seja ainda pior do que o primeiro porque para ler você precisa ser um pouco menos ignorante.
   Certa feita perguntaram a um astronauta americano que esteve na Lua o que ele achava das teorias conspiratórias segundo as quais o homem não teria ido à Lua. Ele respondeu que existem pessoas que se levam muito a sério. Nada pior do que essas pessoas que não sabem nada, mas não sabem que não sabem nada, e levam suas vidas banais (toda vida é banal, mas a classe média com sua infinita baixa autoestima não sobrevive a esse fato) como se tivessem algum grande valor que não foi descoberto pelos outros. Não digo isso com a intenção de afirmar que, se leu cem livros, você seja supertop por isso. Você pode ter lido muito e ser um bobo do mesmo jeito. Mas o tipo médio de leitor de jornal ou do telespectador de TV é um medíocre que se acha o máximo, principalmente quando leva muito a sério suas opiniões sobre o mundo. Quase sempre não entende nada e vocifera seu não entendimento como parte da democratização do conhecimento.
    Sou um quase descrente na capacidade da televisão de fazer algo que preste pela cultura (não sou 100% descrente pois acredito em milagres), porque a televisão entra em todos os lares e por isso mesmo lida com aquele idiota ao qual fiz referencia antes. Sua ruidosa ignorância banhada em autoestima criada pela fé na democracia gera a crença em si mesmo, e é isso que, creio, o astronauta americano tinha em mente quando respondeu à questão sobre aqueles que acham que a ida à Lua foi feita para ele, em sua “brilhante” inteligência, “descobrir” como farsa.
    Na verdade é duro ser gente mesmo. E a maioria de nós é irrelevante mesmo, se arrasta pelo mundo como uma raça de abandonados que riem com pó entre os dentes. Mas o politicamente correto nos proíbe de dizer esta verdade: o leitor e o telespectador são idiotas, e no fundo nós, que “somos a mídia”, pouco os levamos em conta porque quase nada do que eles dizem valem a pena. Não fosse pela desgraça do mundo capitalista (que nos obriga a ouvir esse sujeito porque ele é consumidor), não precisaríamos dele e poderíamos dizer-lhe esta verdade insuperável: você é um idiota e, se não fosse consumidor de nosso produto, esqueceríamos que você existe.

Luis Felipe Pondé