quinta-feira, 26 de julho de 2012

Para o Pepedo e ele sabe porque


 

O jornalista José Nêumanne Pinto
CARLOS BRICKMANN
Samuel Wainer x Carlos Lacerda. Paulo Prado x Júlio Mesquita. Conceição da Costa Neves x Paulo Duarte. Paulo Francis x José Guilherme Merquior. Os meios de comunicação sempre abrigaram notáveis debates, de alto ou de baixo nível, sobre os mais diversos temas, sempre com uma característica comum: os debatedores se identificavam e tinham orgulho de defender suas posições. Mesmo os patrulheiros faziam questão de mostrar publicamente suas bandeiras.
Na Internet, com todo o potencial que tem para democratizar as informações e a distribuição da opinião, está sendo distorcido o conceito de debate: escondidas atrás do anonimato, confiando na lentidão da Justiça e no custo financeiro para encontrá-las, há pessoas que passaram a dedicar-se à difamação pura e simples do adversário. Basta xingar, inventar, injuriar. E, como muitas vezes a manobra é combinada, enquanto o covarde anônimo não é encontrado grupos organizados usam a acusação para tentar desmoralizar a vítima.
Este tipo de distorção tem ocorrido contra políticos dos mais diversos partidos: ora é o parente de um líder petista que comprou caríssimas fazendas (e não adianta informar que o próprio dono da fazenda nega que a tenha vendido: a difamação se espalha sozinha, porque o adversário político está louco para acreditar nela), ora é uma enorme armação segundo a qual dirigentes do PT são parentes e usam a organização familiar para enriquecer ilicitamente; ora são fotos montadas em que o ex-presidente Lula aparece lendo um livro de cabeça para baixo ou com marca de urina na calça. E há os ataques difamatórios a jornalistas que ousam discordar do pensamento dos Covardes Anônimos.
O caso mais recente é o de José Nêumanne Pinto, editorialista, articulista, comentarista de rádio e TV, cujo crime maior, ao que se saiba, foi ter publicado um livro em que põe em dúvida a infalibilidade do ex-presidente Lula. Algum maluco acusou Nêumanne de ser pedófilo e de ter estuprado uma menina de nove anos, em Campinas, SP, com boletim de ocorrência, processo e tudo.
Não é verdade, claro. Não há qualquer registro dessa invencionice no Judiciário ou na Polícia, o que seria obrigatório caso houvesse processo ou boletim de ocorrência. Mas, no caso, o movimento era orquestrado: chegou a haver comentários em Brasília de que, finalmente, haviam conseguido pegar o Nêumanne.
Que acontece em seguida? A vítima procura a Delegacia de Crimes Virtuais, que identifica o provedor de Internet do difamador e solicita seu nome. O provedor, talvez para não desagradar o cliente, ou tentar não se envolver, adia ao máximo a resposta, até ser forçado por nova medida judicial a fornecer a informação. Leva tempo, custa caro; e, enquanto o tempo passa, a difamação continua circulando.
Brasil247 publicou boa matéria sobre o tema, do competente Cláudio Tognolli. Na entrevista, Nêumanne conta o que está acontecendo com ele e pede leis eficientes e duras para eliminar a praga da difamação anônima pela Internet (nos comentários à entrevista, muitos o acusam de não aceitar que o contraditem. É falso: nada do que escreve sugere isso. Que o contradigam à vontade, mas identificando-se, como ele se identifica).
Nêumanne participou também de audiência pública na Câmara dos Deputados, na Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado e ali contou sua história.
É impressionante: existem pessoas que, por paixão política, estão dispostos a destruir reputações e vidas, desde que para isso tenham a proteção do anonimato. E existem empresas que estão dispostas a desafiar a Justiça para proteger os covardes anônimos. A Internet é ótima: permite o acesso livre de multidões ao fornecimento de informação precisa. Mas, só vai funcionar se puder ser utilizada sem covardia, sem anonimato, de preferência com urbanidade. Entrar na discussão sem perder a educação. Será pedir muito?