O filho de um casal de amigos trouxe outro dia lição de casa que tinha como base um texto de uma revista de esquerda, um texto errado e tendencioso, que não resistiu a uma checagem no Google. Nem o texto nem o professor.
Em poucas clicadas, o casal descobriu que o professor era militante de um nanopartido da esquerda radical, tinha se candidatado a vereador em 2004 e agora tentava catequizar adolescentes completamente despolitizados de uma escola conhecida de São Paulo usando um texto tendencioso e com informações erradas que ainda por cima promovia um correligionário seu.
Os pais ficaram na dúvida se deveriam ir ou não à escola reclamar do que lhes pareceu claramente proselitismo político em sala de aula de adolescentes. Mas uma fonte informada da área de educação argumentou que as universidades de história e geografia de São Paulo, USP e PUC especialmente, são celeiros inesgotáveis desses professores militantes de esquerda e que era inevitável lidar com eles. Melhor ensinar o filho a filtrá-los do que combater o inevitável.
E filtros serão necessários. A narrativa histórica de esquerda, que demoniza o grande capital e o grande proprietário ao invés de explicá-los, ganha espaço crescente no Brasil desde que a ignorância da ditadura legou essa fama terrível à direita nacional e desde que o PT e aliados tomaram conta dos cargos e verbas que movimentam a produção e a difusão de conhecimento no país. Você conhece algum cineasta de direita?
Não teremos guerras culturais por aqui. A esquerda já venceu. Mas, brasileiramente, venceu sem o menor rigor, muito pelo contrário. Venceu abraçando o capitalismo. Porque no fim de nossa história, o partido sob o qual o capitalismo brasileiro prosperou foi o PT. Foi com a economia de mercado que o PT conquistou o eleitorado. Goste-se ou não, foi/é uma estratégia brilhante.
Em "Entreatos", o documentário de João Moreira Salles sobre a campanha que levou Lula e o PT à Presidência, em 2002, Lula explica assim sua maior vitória eleitoral sobre José Serra, que este ano completa dez anos "Ninguém tem a base de apoio no Brasil, o alicerce que eu tenho. Tenho grande parte da Igreja Católica, os estudantes, a CUT, é muita coisa, ninguém tem isso, teve isso."
A lista do que Lula tem cresceu muito desde então, não para de crescer. Principalmente à direita. A nomeação do bispo que não pesca para o Ministério da Pesca é a última materialização dessa compulsão antropofágica à composição do ex-presidente, que casou perfeitamente com o clientelismo local e deu no que parece ser cada vez mais uma hegemonia política sufocante e duradoura.
Com a conversão dos evangélicos, que agora comungam com os católicos, Lula, quer dizer, Dilma expande a enorme base governista. No seu governo "all inclusive", a extinção da direita prossegue por cooptação.
Mas fica só uma pergunta para além da política: afinal foi o lulo-petismo que subjugou a direita ou foi a direita que subjugou o lulo-petismo?
Sérgio Malbergier é jornalista. Foi editor dos cadernos "Dinheiro" (2004-2010) e "Mundo" (2000-2004), correspondente em Londres (1994) e enviado especial da Folha a países como Iraque, Israel e Venezuela, entre outros. Dirigiu dois curta-metragens, "A Árvore" (1986) e "Carô no Inferno" (1987). Escreve para a Folha.com às quintas.
Em poucas clicadas, o casal descobriu que o professor era militante de um nanopartido da esquerda radical, tinha se candidatado a vereador em 2004 e agora tentava catequizar adolescentes completamente despolitizados de uma escola conhecida de São Paulo usando um texto tendencioso e com informações erradas que ainda por cima promovia um correligionário seu.
Os pais ficaram na dúvida se deveriam ir ou não à escola reclamar do que lhes pareceu claramente proselitismo político em sala de aula de adolescentes. Mas uma fonte informada da área de educação argumentou que as universidades de história e geografia de São Paulo, USP e PUC especialmente, são celeiros inesgotáveis desses professores militantes de esquerda e que era inevitável lidar com eles. Melhor ensinar o filho a filtrá-los do que combater o inevitável.
E filtros serão necessários. A narrativa histórica de esquerda, que demoniza o grande capital e o grande proprietário ao invés de explicá-los, ganha espaço crescente no Brasil desde que a ignorância da ditadura legou essa fama terrível à direita nacional e desde que o PT e aliados tomaram conta dos cargos e verbas que movimentam a produção e a difusão de conhecimento no país. Você conhece algum cineasta de direita?
Não teremos guerras culturais por aqui. A esquerda já venceu. Mas, brasileiramente, venceu sem o menor rigor, muito pelo contrário. Venceu abraçando o capitalismo. Porque no fim de nossa história, o partido sob o qual o capitalismo brasileiro prosperou foi o PT. Foi com a economia de mercado que o PT conquistou o eleitorado. Goste-se ou não, foi/é uma estratégia brilhante.
Em "Entreatos", o documentário de João Moreira Salles sobre a campanha que levou Lula e o PT à Presidência, em 2002, Lula explica assim sua maior vitória eleitoral sobre José Serra, que este ano completa dez anos "Ninguém tem a base de apoio no Brasil, o alicerce que eu tenho. Tenho grande parte da Igreja Católica, os estudantes, a CUT, é muita coisa, ninguém tem isso, teve isso."
A lista do que Lula tem cresceu muito desde então, não para de crescer. Principalmente à direita. A nomeação do bispo que não pesca para o Ministério da Pesca é a última materialização dessa compulsão antropofágica à composição do ex-presidente, que casou perfeitamente com o clientelismo local e deu no que parece ser cada vez mais uma hegemonia política sufocante e duradoura.
Com a conversão dos evangélicos, que agora comungam com os católicos, Lula, quer dizer, Dilma expande a enorme base governista. No seu governo "all inclusive", a extinção da direita prossegue por cooptação.
Mas fica só uma pergunta para além da política: afinal foi o lulo-petismo que subjugou a direita ou foi a direita que subjugou o lulo-petismo?
Sérgio Malbergier é jornalista. Foi editor dos cadernos "Dinheiro" (2004-2010) e "Mundo" (2000-2004), correspondente em Londres (1994) e enviado especial da Folha a países como Iraque, Israel e Venezuela, entre outros. Dirigiu dois curta-metragens, "A Árvore" (1986) e "Carô no Inferno" (1987). Escreve para a Folha.com às quintas.