quarta-feira, 27 de agosto de 2014

O corrupto amigo



Lauro Adolfo
Se perguntarmos a qualquer pessoa se é a favor da corrupção a resposta com certeza será negativa. De fato, quem seria louco o suficiente para compactuar com a corrupção? No entanto, apesar dessa esmagadora unanimidade a corrupção viceja como nunca, se alastrando por todas as esferas públicas e privadas como erva daninha. Como entender esse fenômeno? Acredito que não é difícil assim encontrar suas raízes. Ela começa em nossa aldeia, em todos os rincões desse pais.
Há um processo em curso por captação ilícita de recursos para fins de campanha eleitoral movido pelo Ministério Público contra o prefeito de Morro do Chapéu, motivando sua cassação em primeira instância. O prefeito recorreu e obteve uma liminar para permanecer no cargo. Essa decisão foi muito comemorada com queima de fogos e carreata. E quem foi um dos patrocinadores dessa manifestação? O deputado José Carlos Araújo que integra o Conselho de Ética da Câmara dos Deputados em Brasília. Vejam que absurdo; um parlamentar que devia zelar pela ética e moralidade na política comemora a vitória da corrupção lá em seu curral eleitoral. Depois perguntam porque a classe política está tão desacreditada.
O deputado é apenas um dos elos da cadeia que começa lá em baixo, precisamente naquele cidadão boa praça, amigo da família que todos querem bem. No processo em que se aponta as irregularidades praticadas no financiamento de campanha contra o prefeito Cleová Barreto, há um rapaz que sempre é escalado para exaltar os feitos na área de saúde sempre que há uma solenidade em curso, como as atividades do Selo Unicef por exemplo. A plateia presente ficou abismada com sua cara de pau ao mentir deslavadamente sobre realizações fictícias da Secretaria de Saúde, elogiando médicos, enfermeiras, secretária de saúde e prefeito. Deduz-se que esse rapaz é funcionário da Secretaria da Saúde e como tal não deveria prestar serviços à prefeitura fora de sua área de atuação e ser remunerado por isso. Tudo bem se considerarmos que ele atuou para “prestação de serviços para apoio logístico bem assim como a relocação de 40 pessoas para efeito de diversas atividades” como se lê no processo. O que fez de irregular esse rapaz nisso tudo? O valor da prestação de serviço foi de R$ 24 000,00, no entanto ele assinou um recibo de R$ 2 000,00 como comprovante de recebimento. Onde foram parar os 22 000,00? A juíza Eleitoral Dra. Ivonete Souza Araújo detectou a fraude e fez constar no processo sendo uma das razões para a cassação do prefeito.
O que respondeu esse bom moço ao ser inquirido sobre essa evidente falcatrua? Ele nos perguntou qual a contribuição que demos para o bem da comunidade, como se fosse o baluarte da moral e dos bons costumes. Sob qualquer ponto de vista esse cidadão se mostrou desonesto e conivente com a corrupção. Todos sabem que é isso mesmo e no entanto, ele anda aí de cabeça erguida, contando com o apoio da sociedade como alardeia nas redes sociais. Recentemente chamei-lhe a atenção para esse fato numa rede social e foi um Deus nos acuda! Ele retrucou indignado que eu era insignificante e como tal, desconhecido na sociedade como se a descaração lhe conferisse autoridade moral para rebater a acusação.
E não foi só ele; o filho veio de lá furioso e um outro parente deu bronca dizendo que ele é amigo da família e por aí vai. Cidade pequena é isso, todos tem um amigo corrupto e ninguém está a fim de desfazer a amizade só porque o companheiro cometeu um ilícito. Pior é lá em cima não é mesmo? E assim esse bom rapaz poderá ser eleito vereador, e como já fez conchavos com a prefeitura para fraudar uma eleição e conta com a proteção dos amigos e da sociedade, conclui-se que vai prosseguir em sua trajetória de mal feitos podendo vender seu apoio para a aprovação das contas do prefeito, por exemplo.
E o prefeito nem se fala! Ao se dar conta que pode manipular as verbas destinadas à sua administração do jeito que bem entender, não se faz de rogado a bota a mão na massa. Como não faze-lo se o deputado lhe dá toda cobertura lá nos tribunais? O deputado, por sua vez, conta com o apoio de seus colegas parlamentares tendo amplo respaldo para engordar sua conta bancária por meios lícitos e ilícitos. E lá em cima do trono, assistindo a tudo e tirando proveito, assenta-se o(a) presidente da República. Desse modo a cadeia da corrupção segue firme e inabalável enquanto o eleitor brada indignado contra esse estado de coisas. Que ele próprio ajudou a construir é bom que se diga. Todos nós temos um corrupto amigo que toleramos a espera que um dia ele se redima.  Só que isso nunca vai acontecer, ao contrário, o amiguinho vai chafurdar na lama feliz da vida.
É como disse certa vez Roberto Campos: a corrupção tem um passado glorioso e um futuro promissor.