Quando Paulo Coelho abriu a boca para criticar o livro Ulysses, de James Joyce, a reação mais natural de quem entende um pouco de literatura foi considerar essa manifestação uma boa oportunidade para ficar quieto. Mas isso é um erro: Paulo Coelho está lançando um livro, com tiragem superior a 100 mil exemplares, e certamente não há oportunidade melhor do que expressar opiniões que chamem a atenção da mídia.
Paulo Coelho é um escritor muito bem sucedido: respeitado internacionalmente, seus livros são mais vendidos do que a banana brasileira. Define-se como um mago, escreve histórias esotéricas, desenvolve uma filosofia rasa, impressiona pela sabedoria de bolso. É o rei das frases feitas, espalhadas como vírus nos e-mails da vida. Agrada principalmente um público que não tem hábito de leitura — pessoas que estão dispostas a ler um conteúdo que possa acalentar suas angústias.
As observações que fez ao Ulysses, ainda que oportunistas, foram reveladoras. “A obra é puro estilo, seu conteúdo não produziria mais do que um tuíte”, disse ele. É interessante confrontar a literatura com um meio de comunicação tão atual. Mas essa observação revela o quanto Paulo Coelho se preocupa com o conteúdo — e essa, definitivamente, nunca é a preocupação dos escritores. Literatura é forma, o conteúdo vem a reboque. Já a “literatura” de Paulo Coelho é só conteúdo, que serve para agradar uma multidão de não-leitores famintos por doces e mornos agrados na alma.
“Ulysses foi escrito para agradar escritores”, diz outra das críticas que fez à obra de James Joyce. De certa forma é verdade,embora tenha  maneira simplista, transformado uma qualidade em defeito. Ulysses é uma obra difícil, complexa, de longo fôlego — disso ninguém duvida. Mas não foi escrita para agradar hordas de leitores. Seu mérito maior é ter rompido limites e aberto novos caminhos para a moderna literatura mundial e a várias gerações de escritores — e, nesse sentido, claro, foi feita para escritores.
Assim, Paulo Coelho, com suas críticas, mostra o que realmente é: um escritor de multidões, com propostas pobres e popularescas, cujo verdadeiro objetivo é contemplar a si mesmo. Poderia se concentrar nisso e deixar Ulysses para quem gosta da verdadeira literatura.