PUBLICADO NA FOLHA DE S. PAULO DESTE DOMINGO
FERREIRA GULLAR
Sabe a razão pela
qual a empresa estatal dificilmente alcança alto rendimento? Porque o dono dela
─que é o povo ─ está ausente, não manda nela, não decide nada. Claro que não
pode dar certo.
Já a empresa privada, não. Quem manda nela é o dono, quem decide o que
deve ser feito ─quais salários pagar, que preço dar pela matéria-prima, por
quanto vender o que produz─, tudo é decidido pelo dono.
E mais que isso: é a grana dele que está investida ali. Se a empresa der
lucro, ele ganha, fica mais rico e a amplia; se der prejuízo, ele perde, pode
até ir à falência.
Por tudo isso e por muitas outras razões mais, a empresa privada tem
muito maior chance de dar certo do que uma empresa dirigida por alguém que nada
(ou quase nada) ganhará se ela der lucro, e nada (ou quase nada) perderá se ela
der prejuízo.
Sem dúvida, pode haver, e já houve, casos em que o dirigente de uma
empresa estatal se revelou competente e dedicado, logrando com isso dirigi-la
com êxito. Mas é exceção. Na maioria dos casos, indicam-se para dirigir essas
empresas pessoas que atendem antes a interesses políticos que empresariais.
Isso sem falar nos casos ─atualmente muito frequentes─ de gerentes que
estão ali para atender a demandas partidárias.
Tais coisas dificilmente ocorrem nas empresas privadas, onde cada um que
ali está sabe que sua permanência depende fundamentalmente da qualidade de seu
desempenho. Ao contrário da empresa estatal que, por razões óbvias, tende a se
tornar cabide de empregos, a empresa privada busca o menor gasto em tudo, seja
em pessoal, seja em equipamentos ou publicidade.
E não é por que na empresa privada reine a ética e a probidade. Nada
disso, é só porque o capitalista quer sempre despender menos e lucrar mais. Não
é por ética, é por ganância.
A empresa pública, por não ser de ninguém ‼─já que o dono está ausente─
é “nossa”, isto é, de quem a dirige, e muitas vezes ali se forma uma casta que
passa a sugá-la em tudo o que pode.
A Petrobras pagava a funcionários seus, se não me engano, 17 salários
por ano e o Banco do Brasil, 15. Os funcionários da Petrobras gozavam também de
um fundo de pensão (afora a aposentadoria do INSS), instituído da seguinte
maneira: cada funcionário contribuía com uma parte e a empresa, com quatro
partes.
Conheci um desses funcionários que, depois que se aposentou, passou a
ganhar mais do que quando estava na ativa. Numa empresa privada, isso jamais
acontece, não é? No governo Fernando Henrique aquelas mamatas acabaram, mas
outras continuam.
Não obstante, o PT sempre foi contra a privatização de empresas
estatais, “et pour cause”. Lembram-se da privatização da telefonia? Os petistas
foram para a rua denunciar o crime que o governo praticava contra o patrimônio
público.
Naquela época, telefone era um bem tão precioso que se declarava no
Imposto de Renda. Hoje, graças àquele “crime”, todo mundo tem telefone, e a
preço de banana.
Mas o preconceito ideológico se mantém. Os governos petistas nada
fizeram para resolver os graves problemas estruturais que comprometem a
competitividade do produto brasileiro e impedem o crescimento econômico, já que
teriam de recorrer à privatização de rodovias e ferrovias.
Dilma fez o que pôde para adiá-la, lançando mão de medidas paliativas
que estimulassem o consumo, mas chegou a um ponto em que não dava mais.
O PIB vem caindo a cada mês, o que a levou à hilária afirmação de que,
mais importante, era o amparo a crianças e jovens… Disse isso mas, ao mesmo
tempo, mandou que seu pessoal preparasse às pressas ─já que as eleições estão
chegando─ um plano para a recuperação da infraestrutura: investimentos que
somarão R$ 133 bilhões em 25 anos. Ótimo.
Como privatização é “crime”, pôs o nome de “concessão” e impôs uma série
de exigências que limitam o lucro dos que investirem nos projetos e, devido a
isso, podem comprometê-los.
Nessa mesma linha de atitude, afirmou que não está, como outros,
alienando o patrimônio público. Conversa fiada. A Vale do Rio Doce, depois de
privatizada, tornou-se a maior empresa de minério do mundo e das que mais
contribuem para o PIB nacional. Uma coisa, porém, é verdade: cabe ao Estado
trazer a empresa privada em rédea curta.