quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Mensalão e eleição, nada a ver

Guilherme Fiuza

 
O julgamento do mensalão começou muito bem, com exibições em grande estilo do procurador-geral, do relator e do revisor, com citações a Chico Buarque, Cazuza, Drummond, Fernando Pessoa e Camões. Já foi pedida a condenação de alguns famosos vilões do escândalo, incluindo o diretor do Banco do Brasil que o Tribunal de Contas da União tentou proteger, num arranjo sombrio com o governo popular. O show, portanto está ótimo. Pena que o eleitorado brasileiro não esteja assistindo.
A campanha para as eleições municipais 2012 começou como se o mensalão tivesse acontecido 50 anos Antes de Cristo (ou de Lula, tanto faz). Candidatos em todo o país disputam o apoio do messias petista, e se exibem ao lado dele no horário eleitoral gratuito – mostrando que, só em gravação de propaganda política, Lula trabalhou nos últimos meses mais do que o governo inteiro. No momento em que se julga o maior escândalo da história da República, envolvendo todos os homens do então presidente, os candidatos por ele apoiados vão muito bem, obrigado, nas intenções de voto.
A tomada dos municípios, como se sabe, sempre foi a base da indústria fisiológica do PT & simpatizantes. Às vezes alguém atravessa o samba, como no assassinato do prefeito Celso Daniel, e aí o país se lembra que a revolução companheira é feita de propina e lixo, ou vice-versa, e que não é seguro deixar os revolucionários sem receber. Mas logo depois escorre tudo para a pré-história, como se vê agora com o mensalão. Chega a ser comovente que um ex-presidente citado a todo momento no maior julgamento da corte suprema, com seu nome rodeado por golpistas e salafrários hospedados em seu grupo político, ressurja como estrela das próximas eleições.
Se tudo correr bem para as “forças populares” na votação de outubro, como a campanha já indica, em 2014 o país poderá decidir seu rumo de acordo com a nova forma de alternância no poder: Dilma ou Lula.
Não será uma escolha tão difícil assim. Haverá debates profundos sobre qual dos dois é mais amigo de Hugo Chávez, ou quem alcançará primeiro o populismo desvairado de Cristina Kirchner, mas a essência é a mesma – como mostra a compra do apoio de Maluf para a candidatura Haddad, descrita em detalhes sórdidos por Luíza Erundina.
Por falar em Haddad, sua candidatura também já demonstrou imunidade ao show do mensalão – apesar de urdida na marra por Lula com supervisão de Dirceu. Enquanto o assalto dos companheiros era cantado em prosa e verso pelos juízes do Supremo, o candidato do PT saiu da patinação e cresceu 50%, graças à porção paulistana da “pátria mãe tão distraída”.
Tão distraída que nem nota a relação entre a avacalhação do ano letivo nas universidades públicas e a gestão educacional do candidato a prefeito de São Paulo. No MEC, como se sabe, Fernando Haddad fez o que faz todo ministro do PT: política. Defendeu livros com erros de português para agradar ao povão, fez comícios sobre cotas para minorias, tentou emplacar um kit gay como pedagogia eleitoreira, mergulhou na campanha presidencial de Dilma enquanto o Enem bagunçava a vida dos estudantes brasileiros – enfim, mostrou por A + B ser a pessoa certa para administrar a maior cidade do país.
Mas os méritos não são só dele. Dilma Rousseff tem sido elogiada até pela imprensa burguesa (que conspira contra o governo popular, como denunciou o nosso Delúbio) na forma de enfrentar a greve nas universidades, e no funcionalismo em geral. Dizem que com Dilma acabou a moleza para os sindicalistas. Se com esse rigor todo a população é chantageada pela Polícia Federal nos aeroportos e estradas, imagine-se como seria com a moleza.
Não adianta. O império dos coitados veio para ficar. E com essas filas imensas, nem dá mais para dizer que a melhor saída é o aeroporto.
 
Guilherme Fiuza é jornalista e autor de vários livros, entre eles “Meu Nome não é Johnny”, adaptado para o cinema. Neste blog, trata de grandes temas da atualidade, com informação e muita opinião principalmente sobre política.