segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Agora tudo virou lixo

Luiz Holanda
Depois que o senador Alfredo Nascimento (AM), presidente nacional do PR, afirmou que seu partido “não é lixo para ser varrido da administração pública”, tantos foram os escândalos divulgados que o governo da presidente Dilma parece ter virado uma espécie de empresa coletora. Quando se pensava que o Judiciário poderia ser o único a ser salvo dessa tragédia, eis que surge a ministra Eliana Calmon, corregedora nacional da Justiça, afirmando que após várias inspeções nos judiciários de quase todos os estados, vários tipos de problemas foram descobertos, entre os quais desvio de verbas, vendas de sentenças, nepotismo, contratos irregulares e criações de entidades para administrar as verbas do Judiciário. Os exemplos são muitos, mas alguns saltam às raias da insensatez, como o ocorrido no Espírito Santo, onde o tribunal adquiriu os serviços de degustação de café e de “análise sensorial da bebida”. Em Pernambuco e na Paraíba as mulheres dos juízes fundaram uma associação que, entre outras atribuições, exploram o estacionamento e os serviços de xerox dentro das dependências do próprio tribunal. Na Paraíba, o pagamento de jeton serve até para os membros integrantes da Junta Médica do tribunal
    Esses desmandos ocorrem praticamente em todos os tribunais do país. Segundo estatística divulgada pelo Conselho Nacional de Justiça-CNJ, das 3,5 mil investigações em curso, pelo menos 630 envolvem magistrados. Entre abril de 2008 e dezembro de 2010, esse Conselho condenou vários deles, sendo que, em 21 casos, os acusados receberam a pena máxima, ou seja, uma polpuda aposentadoria com todas as vantagens. Em outras palavras, esses intocáveis receberão dos cofres públicos o prêmio pela corrupção praticada, ou seja, viver sem precisar trabalhar. Não bastasse isso, o governo da presidente Dilma parece envolto num esquema de corrupção sem precedentes na história deste país, denunciado quase que diariamente pela imprensa. Recentemente veio a público a roubalheira institucionalizada em vários ministérios, dessa vez envolvendo o Ministério do Turismo, onde a espetacularização promovida pela Polícia Federal evidenciou uma briga interna entre o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e a própria instituição. Hoje se sabe que a PF se nega a receber ordens emanadas do seu superior hierárquico. A novidade que na realidade não houve – foi a repetição do estardalhaço feito pela PF em todas as operações que realiza. No caso da Operação Satiagraha, por exemplo, apesar do espetáculo, não deu em nada. Quem saiu ganhando foram Daniel Dantas, hoje em liberdade, o juiz De Sanctis, promovido a desembargador, e o delegado Protógenes Queiroz, atual deputado federal graças aos votos do humorista Tiririca. Perdeu a Polícia Federal, que terminou passando por violenta e arbitrária.
     Os desmandos ocorridos no governo da presidente Dilma são tantos que até a Conferência dos Bispos do Brasil, CNBB, divulgou uma nota dizendo-se indignada e perplexa diante de tanta roubalheira, sem punição para ninguém, pois o corrupto, por mais dinheiro que subtraia dos cofres públicos, apenas perde o cargo, levando consigo tudo o que roubou. E o pior é que a presidente ainda é elogiada por demitir o corrupto, que sai livre para criticar seu governo. O ocorrido no Minstério da Agricultura, que voltou à berlinda, acabou por demonstrar a fragilidade e a inação na aliança que sustenta o governo. Também evidenciou a chantagem que o PT inaugurou no sistema de governar, expondo, de maneira surpreendente, a fraqueza de nossas instituições. O altíssimo nível de corrupção que domina a máquina pública deste país impede até que as verbas destinadas a um paliativo para as calamidades sejam desviadas para os bolsos de um prefeito petista, conforme denúncias publicadas na imprensa e na internet. É louvável a presidente Dilma dizer que o seu governo “não vai abraçar a corrupção”. Mas isso não significa que ela tem força para acabar com essa praga institucionalizada em todos os setores e poderes. Afastar as pessoas envolvidas sem apurar nada significa apenas varrer o lixo para debaixo do tapete, na certa imaginando que a memória do nosso povo continua fraca como dantes, quando muitos corruptos, além de continuarem mandando, retornaram ao poder mais fortes que antes. A presidente imagina que demitir corruptos é fazer uma faxina necessária. Ora, todos os governantes têm deveres e obrigações com o seu próprio lixo, pois manter o governo limpo é mais do que um dever. O problema é que apenas demitir não significa  limpeza, mas sim uma reciclagem. Todo lixo tem uma destino; só não é a rua.