É ridículo!
É patético!
O governo
decidiu empreender uma investigação severa (!!!) para saber quem estava
por trás dos tumultos provocados pela boataria envolvendo o pagamento do
Bolsa Família. Antes que pudesse encontrar um bode expiatório (ainda
está para aparecer um…), a verdade veio à tona: a culpada era a própria
Caixa Econômica Federal, que efetua os pagamentos. O banco antecipou a
disponibilidade de rendimentos sem prévio aviso, alguém descobriu, a
coisa começou a correr de boca em boca, de celular em celular e nas
redes sociais — afinal, os pobres e a “pobras” do Brasil já são
digitalmente incluídos, certo? —, e aí foi aquilo que se viu.
Tão forte
quanto o boato de que o programa poderia acabar era o de que havia um
pagamento extra. Ora, como a CEF fizera, de fato, a antecipação, quem
foi verificar seu saldo no caixa eletrônico viu que havia mesmo um
dinheiro inesperado lá. O pobrezinho, coitado!, sacou do bolso o celular
e ligou para o outro pobrezinho. “Ó, tem dinheiro mesmo…” E aí foi
aquela correria de gente gorda e feliz — que bom! — buscar a graninha
sem a qual, entendo, não é possível sobreviver, né? Foi um espetáculo
melancólico, sob vários aspectos.
Em
primeiro lugar, destaque-se a irresponsabilidade da Caixa e de figurões
do governo. É evidente que a antecipação de um benefício que chega a
milhões de pessoas deveria ter sido previamente comunicada aos
interessados. Bastava emitir uma nota oficial, e ela chegaria às TV e as
rádios. E fim de conversa. O banco deu de ombros, e aconteceu o
quiproquó. Maria do Rosário, José Eduardo Cardozo e Dilma Rousseff
aproveitaram o episódio para imaginar conspirações. A ministra dos
Direitos Humanos, que tem o hábito de pôr as palavras adiante do
pensamento, acusou a oposição — como se houvesse alguma maneira de os
adversários de Dilma se beneficiarem de um boato que seria de pronto
desmentido. Cardozo e Dilma preferiram ver coisas estranhas, sem acusar
ninguém. Como a ministra já havia feito o servicinho sujo, as palavras
ambíguas do ministro da Justiça e da presidente só deram curso à
suspeição infundada e estúpida.
Os bolsistas
Em segundo lugar, mas ainda mais importante porque a questão remete ao futuro, exclamo: “Que bom que não sou tucano!”. Não sendo, dispenso-me de entrar no campeonato de generosidades e posso, então, relatar o que vejo e me conceder o direito ao estranhamento. Vocês deram uma olhadinha nas fotos dos nossos “miseráveis”, que supostamente dependem do Bolsa Família para sobreviver? Uma foto, sei bem, não é estatística, estudo técnico, prancheta contábil, nada disso. E também não chamo, obviamente, a minha percepção de ciência. Estou apenas exercitando o primeiro passo de uma eventual descoberta, que é estranhar o que vejo, fazendo algumas indagações.
Em segundo lugar, mas ainda mais importante porque a questão remete ao futuro, exclamo: “Que bom que não sou tucano!”. Não sendo, dispenso-me de entrar no campeonato de generosidades e posso, então, relatar o que vejo e me conceder o direito ao estranhamento. Vocês deram uma olhadinha nas fotos dos nossos “miseráveis”, que supostamente dependem do Bolsa Família para sobreviver? Uma foto, sei bem, não é estatística, estudo técnico, prancheta contábil, nada disso. E também não chamo, obviamente, a minha percepção de ciência. Estou apenas exercitando o primeiro passo de uma eventual descoberta, que é estranhar o que vejo, fazendo algumas indagações.
Então é
essa a cara dos muito pobres? Cada família pode receber do governo, a
depender do seu perfil, um mínimo de R$ 32 e um máximo de R$ 306. O
Bolsa Família, que reuniu várias bolsas já existentes no governo FHC,
foi criado, originalmente, para atender à pobreza extrema.
Quando
Lula assumiu o poder, os programas chegavam a 5 milhões de famílias.
Hoje, são mais de 13 milhões, atingindo um universo de mais ou menos 40
milhões de… eleitores! Voltem à foto (e procurem outras na rede).
Obviamente, esses que correram para a Caixa porque se espalhou a
informação de que havia lá um dinheiro inesperado — e não por causa do
boato do suposto fim do programa — não constituem a cara da miséria
brasileira coisa nenhuma.
É claro
que existe pobreza extrema no país e que programas de renda são
necessários. Mas será mesmo que deveria atender a tanta gente? A renda
oficial, aquela que pode ser controlada pelo Fisco, não costuma ser a
renda real das pessoas e das famílias, que encontram caminhos informais
para ganhar dinheiro e sobreviver. O que o Bolsa Família faz, isto sim, e
vai durar muito tempo, é cevar milhões com o assistencialismo — com
evidente desdobramento eleitoral.
Virtuoso ou vicioso?
Aquele espetáculo patético certamente enche os olhos dos populistas: “Ah, finalmente, temos um país mobilizado em defesa de uma causa!”. É nada! Temos uma fatia do país organizada para pegar uns trocos oferecidos pelo Estado. Não! Eu não os chamo de aproveitadores ou coisa do gênero. Nada disso! Se o dinheiro está ali, disponível, dentro da mais estrita legalidade, por que não pegar? A questão é saber que país se está construindo assim e para onde isso nos leva. Não me parece que seja para um bom caminho.
Aquele espetáculo patético certamente enche os olhos dos populistas: “Ah, finalmente, temos um país mobilizado em defesa de uma causa!”. É nada! Temos uma fatia do país organizada para pegar uns trocos oferecidos pelo Estado. Não! Eu não os chamo de aproveitadores ou coisa do gênero. Nada disso! Se o dinheiro está ali, disponível, dentro da mais estrita legalidade, por que não pegar? A questão é saber que país se está construindo assim e para onde isso nos leva. Não me parece que seja para um bom caminho.
Mas como
falar contra? Como apontar que há algo de estupidamente errado nisso?
Precisaríamos ter partidos que falassem em nome de outros valores, que
dialogassem também com quem efetivamente paga a conta. Mas não há! Ao
contrário. A oposição acaba empurrada para a defensiva.
Também não estou dizendo que o Bolsa Família deixa o povo vagabundo. Quem afirmava isso era Lula, em 2003. Dizia que as bolsas deixavam os pobres preguiçosos, e eles paravam de plantar macaxeira!!!
“Olhem o
Reinaldo… Critica o Bolsa Família, mas não o Bolsa BNDES!!!” Quem disse
que não? E duramente! De novo, os arquivos estão aí. Temos um governo
que vai navegando numa fórmula que parece mágica que ensina os pobres do
Bolsa Família a ser pobres e os ricos do Bolsa BNDES e a ser ricos — e
os dois extremos são, obviamente, muito gratos.
Caminhando para o encerramento
A trapalhada feita pela Caixa, cuja direção mentiu ao informar que não havia operado mudança nenhuma nos pagamentos, serviu para trazer à tona um coquetel de mistificações. E demonstrou também a que ponto pode chegar a fala irresponsável de algumas “otoridades”.
A trapalhada feita pela Caixa, cuja direção mentiu ao informar que não havia operado mudança nenhuma nos pagamentos, serviu para trazer à tona um coquetel de mistificações. E demonstrou também a que ponto pode chegar a fala irresponsável de algumas “otoridades”.