O caso foi tão inusitado que mereceu destaque no jornal
online local, tendo ampla repercussão nos sites informativos e redes sociais.
Vivendo numa cidade no alto sertão baiano encravada no Polígono das Secas, um
vereador recusara a considerável quantia de 150 mil reais para dar um voto no
candidato a presidente da Câmara, integrante da base aliada do prefeito. Aliás
nem precisava dar o voto, bastava se ausentar da sessão. O vereador elevado a
condição de celebridade, vez que honestidade é hoje virtude em falta no
mercado, principalmente o político, concedeu várias entrevistas nas emissoras
de rádio locais e até uma pesquisa de opinião foi feita atestando que 70% da
população aprovara seu gesto. Já em casa, a companheira do edil não deve ter
ficado lá muito satisfeita com a perda daquela quantia que seria dada em troca
de apenas um votinho. Como sabemos todos nós acorrentados a um casamento, as
mulheres tem uma visão mais prática do que o homem quando o assunto envolve
dinheiro. Não tem esse negócio de pruridos moralistas nesse caso. Afinal elas
sabem muito bem quanto se gasta na feira, no supermercado, no pagamento da
empregada, no estudo dos filhos, no vestuário. Recusar 150 mil reais para fazer
papel bonito na política? Ainda mais quando se sabe que o vereador não é rico e
sem mantém as custas do seu salário de parlamentar?
Os petistas ficaram furiosos com a publicidade dada ao
episódio. Petista ficar enfezado por recusa de propina? Só se for por parte de
um adversário que negou apoio a uma votação de interesse do partido. Não foi o
caso em questão. O prefeito era adversário do partido e o vereador aderiu à
oposição. E depois ele cumpriu direitinho as orientações então por que o mal
estar da petezada? Vejamos.
Como todo brasileiro sabe hoje, menos os iletrados e
convenientes, grassa na Petrobras um tsunami de corrupção. É roubo que não acaba
mais. Dá-se com certo que Lula e Dilma sabiam de tudo. Diante das evidências e
sem ter como se defender, os petistas adotaram a estratégia de dizer que todos
roubam. Não só roubam, como roubaram mais do que eles, coisa quase impossível
dada a magnitude do furto. Quando o vereador tomou aquela atitude e saiu para o
abraço, toda a estratégia petista caiu por terra. Eis aí um político que não
rouba. E para piorar as coisas, não é filiado ao partido.
O partido ao qual o vereador pertence também não ficou
morrendo de amores por ele, já que começou a desfilar cheio de empáfia e
verbosidade pelas ruas. Dir-se-ia que já se arvorava a candidato a prefeito
pela chapa da oposição. Concluída a votação na qual o prefeito perdeu com
apenas um voto de diferença, o vereador imbuído de ética e honestidade passou
a ser chamado de otário. Isso dado por
aliados e adversários. É aquela velha máxima: faça suas boas obras, mas não
faça publicidade.
E depois todo mundo começou a ficar desconfiado daquela
súbita e impecável demonstração de virtude vinda de um político. Boatos
começaram a circular como rastilho de pólvora. Das mais variadas hipóteses
aventadas, uma se firmou: um grupo cobriu a oferta de 150 mil reais. O vereador
esperneou, esbravejou jurando inocência, mas não teve jeito. As rádios não
quiseram mais conversa com ele e as redes sociais passaram a ignorá-lo. A
mulher do dito cujo fez greve de cama (ele passou a dormir no sofá) e mal podia
sair nas ruas. Diante da pressão, teve de admitir que recebera oferta melhor e
assim a paz conjugal foi restabelecida e seu prestígio junto ao eleitorado,
reconquistado.
Ele pensara melhor e chegara a conclusão de que nesses
tempos bicudos, é melhor levar o nome de corrupto do que de otário.