quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Honesto, espertalhão ou otário?

O caso foi tão inusitado que mereceu destaque no jornal online local, tendo ampla repercussão nos sites informativos e redes sociais. Vivendo numa cidade no alto sertão baiano encravada no Polígono das Secas, um vereador recusara a considerável quantia de 150 mil reais para dar um voto no candidato a presidente da Câmara, integrante da base aliada do prefeito. Aliás nem precisava dar o voto, bastava se ausentar da sessão. O vereador elevado a condição de celebridade, vez que honestidade é hoje virtude em falta no mercado, principalmente o político, concedeu várias entrevistas nas emissoras de rádio locais e até uma pesquisa de opinião foi feita atestando que 70% da população aprovara seu gesto. Já em casa, a companheira do edil não deve ter ficado lá muito satisfeita com a perda daquela quantia que seria dada em troca de apenas um votinho. Como sabemos todos nós acorrentados a um casamento, as mulheres tem uma visão mais prática do que o homem quando o assunto envolve dinheiro. Não tem esse negócio de pruridos moralistas nesse caso. Afinal elas sabem muito bem quanto se gasta na feira, no supermercado, no pagamento da empregada, no estudo dos filhos, no vestuário. Recusar 150 mil reais para fazer papel bonito na política? Ainda mais quando se sabe que o vereador não é rico e sem mantém as custas do seu salário de parlamentar?
Os petistas ficaram furiosos com a publicidade dada ao episódio. Petista ficar enfezado por recusa de propina? Só se for por parte de um adversário que negou apoio a uma votação de interesse do partido. Não foi o caso em questão. O prefeito era adversário do partido e o vereador aderiu à oposição. E depois ele cumpriu direitinho as orientações então por que o mal estar da petezada? Vejamos.
Como todo brasileiro sabe hoje, menos os iletrados e convenientes, grassa na Petrobras um tsunami de corrupção. É roubo que não acaba mais. Dá-se com certo que Lula e Dilma sabiam de tudo. Diante das evidências e sem ter como se defender, os petistas adotaram a estratégia de dizer que todos roubam. Não só roubam, como roubaram mais do que eles, coisa quase impossível dada a magnitude do furto. Quando o vereador tomou aquela atitude e saiu para o abraço, toda a estratégia petista caiu por terra. Eis aí um político que não rouba. E para piorar as coisas, não é filiado ao partido.
O partido ao qual o vereador pertence também não ficou morrendo de amores por ele, já que começou a desfilar cheio de empáfia e verbosidade pelas ruas. Dir-se-ia que já se arvorava a candidato a prefeito pela chapa da oposição. Concluída a votação na qual o prefeito perdeu com apenas um voto de diferença, o vereador imbuído de ética e honestidade passou a  ser chamado de otário. Isso dado por aliados e adversários. É aquela velha máxima: faça suas boas obras, mas não faça publicidade.
E depois todo mundo começou a ficar desconfiado daquela súbita e impecável demonstração de virtude vinda de um político. Boatos começaram a circular como rastilho de pólvora. Das mais variadas hipóteses aventadas, uma se firmou: um grupo cobriu a oferta de 150 mil reais. O vereador esperneou, esbravejou jurando inocência, mas não teve jeito. As rádios não quiseram mais conversa com ele e as redes sociais passaram a ignorá-lo. A mulher do dito cujo fez greve de cama (ele passou a dormir no sofá) e mal podia sair nas ruas. Diante da pressão, teve de admitir que recebera oferta melhor e assim a paz conjugal foi restabelecida e seu prestígio junto ao eleitorado, reconquistado.

Ele pensara melhor e chegara a conclusão de que nesses tempos bicudos, é melhor levar o nome de corrupto do que de otário.