sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Diário da Dilma: Em festa de jacu inhambu não pia

PUBLICADO NA EDIÇÃO DE NOVEMBRO DA REVISTA PIAUÍ

1º de outubro – Ê lerê. Serginho Cabral veio chorar a distribuição dos royalties. O menino está magoado, mas sabe argumentar: imitou o Lula duas vezes, fez troça com a Iriny Lopes e soltou um trocadilho com o nome do presidente da Renault. Ainda disse que eu emagreci. Me convenceu.

2 de outubro – Bulgária, terra boa e sestrosa. Antes de deixá-la, meu pai profetizou que os Rousseff retornariam, trazendo orgulho e laquê à nação. Duro é ter de ir antes à Bélgica. Esse pessoal da Fifa está passando dos limites. Querem acabar com a meia-entrada, exigem os estádios no prazo e ainda pretendem abolir o superfaturamento nacional. Por sugestão do Temer, com quem aprendi que futebol se joga com onze, contrapus que cada time jogasse com doze. Seria um modo de empregar mais gente, a base aliada ia ficar feliz. A resposta veio curta e grossa. Non! Vou mostrar a eles o que é non. Marquei uma reunião com o Blatter para dizer umas verdades.

3 de outubro – Blatter deu o bolo por causa dos boatos infundados sobre o meu jeito ríspido de negociar. Mandou o secretário-geral. Já não basta estar aterrissando em Bruxelas, que, do alto, parece mais sem graça do que um fim de semana com o Alckmin. Assim que eu entrei na sala, encarei o sujeito e soltei um “meu querido”. Se a gente não se impõe, a Fifa faz o que quer.

4 de outubro – Dei uma prensa nos dirigentes da Europa. Só porque eles representam o berço das civilizações ocidental, pensam que podem afundar o mundo numa crise econômica e estabelecer a capital deles na Bélgica. Sugeri que se mudassem para Londres, onde tem sempre um bom musical em cartaz e a gente pode esbarrar na princesa Kate. Deixei claro que, caso precisem, posso indicar um excelente consultor em Ribeirão Preto.

5 de outubro – Foi lindo voltar à terra do papai. É bom visitar a família com verba pública. Presidenta tem dessas coisas, não é só demitir ministro, não. Ganhei até a ordem Stara Planina. Não aguentei e acabei emprestando 32 bilhões de reais a fundo perdido. Fico só pensando na cara daquela sirigaita que se insinuava para Tzvetan Todorov, a Kubrika Ksibeleya, quando me vir com a Stara Planina. Vai se roer de inveja.
Será que o Tzvetan envelheceu bem? Era um pedaço de mau caminho.

6 de outubro – Ai, início do mês e já estou exausta! Se eu pudesse emendar até 12 de outubro! Mas o feriado cai bem numa quarta-feira… fica chato enforcar quinta e sexta. Podia decretar a semana do saco cheio presidencial. Estudante não tem? A bem da verdade, ainda bem que papai veio para o Brasil. Deus me livre morar na Bulgária. E aquelas primas que visitei em Gabrovo! Ô gente feia…

8 de outubro – Fui periquitar em Istambul. O chato do Luiz Sérgio pediu uns temperos para aquela sardinha na panela de pressão com banana-de-são-tomé. Isso é que dá ficar concentrando tudo. O Patriota nem para arrumar uma brecha para eu dar uma voltinha no Grand Bazaar. Dizem que tem joias baratíssimas e cada bolsa! Ninguém percebe que é falsa. Como a Turquia é bonita. Fico pensando como esses bigodes todos cairiam no Lobão.

9 de outubro – Aecinho declarou que está pronto para ser candidato à Presidência. Ansioso esse menino. Nem parece mineiro. Mas não vou me meter. Em festa de jacu inhambu não pia. Mamãe nem me viu chegar e já foi perguntando se eu trouxe miçangas, a ceroula e a touca que ela pediu. Nem boto o pé em Brasília e começam a me pedir coisas. Só me falta ter que demitir mais um ministro. Me preparei para ver A Fazenda e pimba! A pasta de ricota que tinha deixado na geladeira azedou. Não posso deixar mamãe tomar conta de casa.

10 de outubro – Você chega de viagem e é só e-mail, telefonema, greve e o Lula ligando sete vezes por dia para me perguntar onde vai ser a próxima inauguração. Tem até recado do Kassab para falar da posição dele sobre o Código Florestal: “Presidenta, o PSD é a favor de anistia ampla, geral e irrestrita aos pequenos e grandes fazendeiros que atuam de forma produtiva, sem desmatar. Mas o partido quer deixar claro que também apoia os que desmatam.” Por que perco tempo com isso?

14 de outubro – Gente, está uma calmaria isso aqui. Estou até estranhando. A Mônica Salmaso não ia lançar um cd novo? Sonhei com o Lobão de ceroula búlgara dizendo que estourou o limite do cartão corporativo. Achei catito.

15 de outubro – Fiquei morrendo de medo quando vi no jornal que o Toddynho quase matou não sei quantas crianças. Todo dia eu tomo um de madrugada. Acordo com aquela fome e faço uma boquinha com goiabada e um Toddynho, às vezes dois. Minha tia fica de olho. Quando ela pergunta, me faço de morta e digo que servi para o Gabriel. Ela finge que acredita.

16 de outubro – Já decidi: não tem meia-entrada na Copa, se quiserem podem servir até cicuta nos estádios, enfim, a Fifa que faça o que quiser.
Não entendo nada de futebol, acho uma chatice, meu interesse é zero. Foi o Lula que tratou com a Fifa e eu é que tenho que pagar a conta. Conserta aeroporto, constrói estádio, faz linha de ônibus, aguenta esse PCdoB com suas ONGs. Mas uma herança do Fofo…

17 de outubro – Ai, meu santo Stálin. Até tu, Orlando Silva? Até tu, PCdoB? É bem verdade que o último PM histriônico que apareceu na tevê era marido da Susana Vieira. Deu no que deu.

18 de outubro – Agora é na marra: vou cortar o ponto desses grevistas dos Correios. Quer moleza? Senta no pudim.

20 de outubro – Digam o que quiserem, foi-se um líder fashion das Arábias. Não fossem aquelas roupas divinas, teria apoiado bem mais cedo os insurgentes. Ando pensando em sapecar um “meu querido” no Orlando Silva. Melhor dosar para o momento certo.

21 de outubro – Não entendo esses jornais todos noticiando “Dilma mantém ministro dos Esportes”. Isso lá é notícia? Injustiça maior foi a final de A Fazenda: estava na cara que a Monique merecia ganhar.

22 de outubro – Aquele negócio de Pan já começou? É em Cochabamba, né? Ninguém atende minhas ligações lá no Ministério dos Esportes.

23 de outubro – Lá vamos nós inaugurar uma ponte estaiada. É bom deixar claro que não é só a oposição que detém a tecnologia.

24 de outubro – Santa periquita! Aquela foto de cocar é um horror! Negócio de índio dá o maior azar. De qualquer jeito, estou melhor que o Lula. Pelo amor de Deus, como está gordo o Fofo. Prosperidade dá nisso.

25 de outubro – Fiquei discutindo com a empregada o que servir no jantar dos velhinhos. Tive que convidar o Jimmy Carter e aquele bando da quarta idade para não ficar dando pinta que estava louca para encontrar o Fernando Henrique de novo. Ele é incrível! Quanta pertinácia! Pena que não ficou mais um pouco para tomar um licor lá de Uberaba.

26 de outubro – Não teve jeito: governar é demitir ministros. O Orlandinho bem que tentou continuar agarrado à rapadura, mas lhe dei um chega pra lá. Que venha outro albanês!

27 de outubro – Pelo menos não tem perigo de o Aldo Rebelo desmatar campos de futebol. Amanhã é dia de São Judas Tadeu, o das causas impossíveis. Será que se eu pedir para me livrar do Lula o santo atende?