quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Petista teve de recuar e relatório do Código Florestal é aprovado em comissão; agora vai a plenário; alguns absurdos foram desfeitos

O internauta amigo sabe que, de Bismarck a esta data, evoluíram bastante as condições em que se produzem salsichas, mas nem tanto aquelas em que se produz certo tipo de jornalismo. Preste atenção ao tonzinho meio indignado com que se vai noticiar que o senador Jorge Viana (PT-AC) “cedeu à pressão dos ruralistas” e mudou seu relatório do novo Código Florestal. “Ruralistas”, minhas caras e meus caros, nesse tipo de imprensa militante, é aquela gente horrível que só pensa em derrubar florestas para encher o bolso de dinheiro… Comida, como todos sabem, nasce nas gôndolas do Pão de Açúcar e do Carrefour. A reserva cambial brota da mente divinal de Guido Mantega e, suponho, de Marina Silva. Os “ruralistas” não têm nada com isso. Existem apenas para deixar jornalista ambientalista indignado.

Vamos lá. A Comissão do Meio Ambiente aprovou o relatório de Viana, que, CONFORME ANTEVI NO POST DE ONTEM À NOITE (aqui), foi obrigado a mudar seu relatório. ATENÇÃO! ELE FOI OBRIGADO PELOS FATOS, NÃO PELOS TERRÍVEIS RURALISTAS.

À diferença do que picareteia o jornalismo ambientaleiro (”picareteia” é do verbo que acabo de inventar: “picaretear”; “ambientaleiro” é o ambientalista estilo metaleiro; que produz som pesado e gritaria), não existe “anistia” nenhuma no texto. “Anistia”, procurem no dicionário, é “perdão”. Quem desmatou depois de julho de 2008 será fatalmente multado. Quem desmatou antes terá de fazer compensação ambiental — tem tarefas a cumprir, portanto. Ou será multado. Chamar isso de anistia é picaretagem, é mentira, é enganação.

Viana queria que a possibilidade de aderir às compensações em lugar da multa fosse reservada apenas aos proprietários de até quadro módulos fiscais e que ainda se enquadrassem na categoria de “agricultura familiar”. A tese era a seguinte: crime de pequeno pode; crime de gente maiorzinha tem de ser punido. É o princípio esquedopata segundo o qual “todos são desiguais perante a lei”. Tenham paciência! Ele teve de recuar. A possibilidade de compensação vale para todos.

Também aquela loucura de proibir a pecuária em áreas com declive acima de 25 graus foi mudada, restabelecendo o texto original: a atividade volta a ser permitida em terrenos entre 26 e 45 graus, desde que cumpridas certas exigências. Atenção! Isso, à diferença do que informam os fazedores de salsichas ao estilo do século 19, não é do “interesse dos ruralistas”, mas do interesse do Brasil. Proibir a pecuária em terrenos acima de 25 graus de declive simplesmente inviabilizaria a produção de leite de Minas, por exemplo. É assim porque assim são os fatos, não porque os ruralistas queiram. Ou apontem um lugar alternativo para dar comida para as vacas que dão comida para o povo, caramba!!!

O texto segue para votação em plenário e depois tem de passar de novo pela Câmara, de onde partiu, já que foi modificado no Senado. O Greenpeace e a Marina Silva não gostaram do resultado. Que dúvida! No dia em que gostarem de tudo, perdem a causa e a visibilidade, né? Não sei se Marina tinha uma alternativa ao leite que deixaria de ser produzido em Minas… Aquela empresa de cosmético já inventou alguma papinha infantil que use como matéria prima a baba das virgens dos povos isolados? Taí uma linha de pesquisa na qual se pode investir, né?


Por Reinaldo Azevedo