Fernando Reinach
No dia 26 de junho de 2000, após uma luta que durou dois anos, Bill Clinton juntou os pugilistas financiados pelo governo e os boxeadores de uma empresa privada e decretou o empate. Os dois grupos dividem o mérito de terem sequenciado o genoma humano. No meio de tanta fanfarra e euforia, pouco se comentou sobre o que ainda não sabíamos e quão difícil seria a próxima década.
Todo geneticista sabe que o "genoma humano" não existe, é uma abstração. O que existe é o genoma de cada indivíduo da espécie humana. E, como somos diferentes, o genoma de cada um de nós é diferente do genoma de todos os outros Homo sapiens que habitam o planeta (exceção para gêmeos univitelinos). Para obter uma ideia concreta do que está presente no genoma de nossa espécie, o genoma de milhares de pessoas teriam de ser sequenciados e comparados.
Os geneticistas também sabiam que a sequência de DNA, de 3 bilhões de letras, continha toda a informação necessária para construir e manter vivo um ser humano, mas observavam estarrecidos aquela enorme quantidade de dados. Da mesma forma que uma criança recém-alfabetizada observa uma enciclopédia, sabendo que ela contém informações valiosas, mas é incapaz de ler e interpretar as informações, os geneticistas observavam a sequência de DNA, imaginando como e quando terminariam de decifrá-la.
Todos imaginavam que sequenciar genomas completos abriria inúmeras possibilidades para a medicina, principalmente para o diagnóstico e tratamento de doenças ligadas diretamente a mudanças genéticas, como o câncer e doenças genéticas. Em muitas outras doenças, os genes que herdamos contribuem para o surgimento dos sintomas e o progresso da doença. É o caso de diabete, hipertensão, doença de Alzheimer e dezenas de outras em que a propensão genética é um dos fatores de risco.
Mas, no ano 2000, a possibilidade de sequenciar dezenas de genomas, compreender o papel de cada um dos nossos 23 mil genes e utilizar o sequenciamento do genoma como método diagnóstico eram sonhos. Tudo porque o custo de sequenciar um genoma era altíssimo. Para sequenciar o genoma anunciado por Bill Clinton foram gastos US$ 3 bilhões. Com esse custo, sequenciar milhares de genomas para entender a diversidade humana era proibitivo. Usar o sequenciamento completo em pesquisas que nos levassem a compreender a ação dos genes, nem pensar. Imaginar que um dia o sequenciamento completo do genoma de uma pessoa pudesse ser um método rotineiro de diagnóstico habitava a mente dos geneticista em sonhos ou delírios etílicos.
Mas o impossível ocorreu. Hoje é possível sequenciar o genoma de uma pessoa por aproximadamente US$ 3 mil, um valor que corresponde a um milionésimo do que custou o primeiro genoma, 11 anos atrás. O progresso no desenvolvimento da tecnologia de sequenciamento de DNA nos últimos dez anos foi mais rápido que o progresso no desenvolvimento dos microprocessadores. Enquanto o custo dos chips para computadores foi reduzido pela metade a cada dois anos, o custo do sequenciamento de DNA foi reduzido para 1/15 a cada dois anos.
A história desse desenvolvimento tecnológico está contado no livro Seu Genoma por Mil Dólares, de Kevin Davies. A competição entre as empresas que desenvolveram a tecnologia, a história das empresas que estão tentando criar produtos a partir dessa nova tecnologia e os dilemas éticos criados pela possibilidade de sequenciar o genoma de cada um de nós são contados de maneira simples em um livro que tem o sabor de ficção científica e aventura.
Ao contrário dos novos microprocessadores que aparecem todos os anos nos nossos laptops e celulares, a tecnologia usada no sequenciamento de DNA ainda não faz parte de nossa vida, mas com a possibilidade de sequenciar cada genoma baratinho, baratinho, nos próximos anos ela vai fazer parte de nosso cotidiano.
No dia 26 de junho de 2000, após uma luta que durou dois anos, Bill Clinton juntou os pugilistas financiados pelo governo e os boxeadores de uma empresa privada e decretou o empate. Os dois grupos dividem o mérito de terem sequenciado o genoma humano. No meio de tanta fanfarra e euforia, pouco se comentou sobre o que ainda não sabíamos e quão difícil seria a próxima década.
Todo geneticista sabe que o "genoma humano" não existe, é uma abstração. O que existe é o genoma de cada indivíduo da espécie humana. E, como somos diferentes, o genoma de cada um de nós é diferente do genoma de todos os outros Homo sapiens que habitam o planeta (exceção para gêmeos univitelinos). Para obter uma ideia concreta do que está presente no genoma de nossa espécie, o genoma de milhares de pessoas teriam de ser sequenciados e comparados.
Os geneticistas também sabiam que a sequência de DNA, de 3 bilhões de letras, continha toda a informação necessária para construir e manter vivo um ser humano, mas observavam estarrecidos aquela enorme quantidade de dados. Da mesma forma que uma criança recém-alfabetizada observa uma enciclopédia, sabendo que ela contém informações valiosas, mas é incapaz de ler e interpretar as informações, os geneticistas observavam a sequência de DNA, imaginando como e quando terminariam de decifrá-la.
Todos imaginavam que sequenciar genomas completos abriria inúmeras possibilidades para a medicina, principalmente para o diagnóstico e tratamento de doenças ligadas diretamente a mudanças genéticas, como o câncer e doenças genéticas. Em muitas outras doenças, os genes que herdamos contribuem para o surgimento dos sintomas e o progresso da doença. É o caso de diabete, hipertensão, doença de Alzheimer e dezenas de outras em que a propensão genética é um dos fatores de risco.
Mas, no ano 2000, a possibilidade de sequenciar dezenas de genomas, compreender o papel de cada um dos nossos 23 mil genes e utilizar o sequenciamento do genoma como método diagnóstico eram sonhos. Tudo porque o custo de sequenciar um genoma era altíssimo. Para sequenciar o genoma anunciado por Bill Clinton foram gastos US$ 3 bilhões. Com esse custo, sequenciar milhares de genomas para entender a diversidade humana era proibitivo. Usar o sequenciamento completo em pesquisas que nos levassem a compreender a ação dos genes, nem pensar. Imaginar que um dia o sequenciamento completo do genoma de uma pessoa pudesse ser um método rotineiro de diagnóstico habitava a mente dos geneticista em sonhos ou delírios etílicos.
Mas o impossível ocorreu. Hoje é possível sequenciar o genoma de uma pessoa por aproximadamente US$ 3 mil, um valor que corresponde a um milionésimo do que custou o primeiro genoma, 11 anos atrás. O progresso no desenvolvimento da tecnologia de sequenciamento de DNA nos últimos dez anos foi mais rápido que o progresso no desenvolvimento dos microprocessadores. Enquanto o custo dos chips para computadores foi reduzido pela metade a cada dois anos, o custo do sequenciamento de DNA foi reduzido para 1/15 a cada dois anos.
A história desse desenvolvimento tecnológico está contado no livro Seu Genoma por Mil Dólares, de Kevin Davies. A competição entre as empresas que desenvolveram a tecnologia, a história das empresas que estão tentando criar produtos a partir dessa nova tecnologia e os dilemas éticos criados pela possibilidade de sequenciar o genoma de cada um de nós são contados de maneira simples em um livro que tem o sabor de ficção científica e aventura.
Ao contrário dos novos microprocessadores que aparecem todos os anos nos nossos laptops e celulares, a tecnologia usada no sequenciamento de DNA ainda não faz parte de nossa vida, mas com a possibilidade de sequenciar cada genoma baratinho, baratinho, nos próximos anos ela vai fazer parte de nosso cotidiano.