quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Deputado baiano também contrata empresa-fantasma

Por Gabriel Castro, na VEJA.com:
 
Favorito para presidir a Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves (RN) não é o único parlamentar do PMDB que repassa mensalmente recursos públicos para empresas de fachada ligadas a um ex-assessor do partido. O deputado baiano Lúcio Vieira Lima, irmão do ex-ministro Geddel Vieira Lima, destinou 110 700 reais de sua verba indenizatória para as empresas Global Transportes e Executiva, ambas registradas em nome de laranjas. 
A última edição de VEJA mostrou que Henrique Eduardo Alves paga 8 300 reais por mês de verba indenizatória a uma empresa fantasma que, no papel, aluga carros executivos à serviço do gabinete do deputado. Após a reportagem, Alves afirmou que vai investigar as irregularidades.
Desde que assumiu o mandato, há dois anos, Lúcio Vieira Lima repassou 64 900 reais à Global e 45 800 reais à Executiva. Por trás das duas empresas está César Cunha, conhecido ex-assessor do PMDB.
Lúcio Vieira Lima diz que César Cunha foi motorista do seu irmão. Hoje, Geddel é vice-pesidente de Pessoa Jurídica da Caixa Econômica Federal. O deputado diz que a situação legal da empresa contratada por ele não é de sua responsabilidade: “Ele apresenta a nota eu dou à Câmara. Cabe à Câmara analisar. Para mim, ela presta o serviço, o carro está sempre à minha disposição”, disse o parlamentar ao site de VEJA. Ele afirmou também que o contrato será mantido: “Vou continuar alugando da Global, a não ser que a Câmara informe que essa empresa não está mais autorizada”.
A cota para o exercício da atividade parlamentar, que era conhecida como verba indenizatória, disponibiliza cerca de 30 000 reais por mês para gastos relativos aos mandato dos deputados. Por exemplo: passagens aéreas, contas de telefone, aluguel de carros e combustível. No caso de Henrique Eduardo Alves e Lúcio Vieira Lima, parte desses recursos foram transferidos mensalmente para empresas de fachada.
Suspeita
Reportagem publicada pela última edição de VEJA mostra que a Global Transportes, que recebe 8 300 reais por mês do gabinete de Alves, registrou endereço numa casa na periferia de Brasília. A vendedora Viviane dos Santos, que oficialmente é dona da empresa, disse que nunca soube do contrato com o deputado – e confirmou ter emprestado seu nome para uma tia, responsável pela locação dos veículos. Kelen Gomes, a tia, tentou explicar: “Nós arrumamos carros com terceiros e os alugamos”. A Global é ligada a César Cunha, ex-assessor do PMDB que já forneceu notas fiscais a Henrique Eduardo Alves, por meio de outra empresa de fachada, a Executiva. Desde 2009, o gabinete do deputado repassou às companhias de Cunha um total de 357 000 reais.
O deputado ajudou a aumentar a confusão: primeiro disse que, quando está em Brasília, utiliza carro próprio. Depois, corrigiu-se afirmando que o carro que usa na capital federal é alugado, sim, mas ele não se lembra nem mesmo do modelo. Por fim, mandou que um funcionário de seu gabinete, Wellington Costa, desse explicações. “Você acha que eu cuido disso?”, reagiu Alves. O funcionário, porém, admitiu: “Talvez o deputado não se lembre, mas foi ele quem mandou contratar essa empresa”.
Por Reinaldo Azevedo