Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência, andou negando, então eu afirmo: o candidato à sucessão de Dilma Rousseff será mesmo Luiz Inácio da Silva. Por decisão da presidente, seu antecessor é o chefe da missão brasileira enviada à Guiné Equatorial para a Assembléia Geral da União Africana, que discute de hoje até o dia 1º de julho o que, por aqui, está sendo chamado “Empoderamento da Juventude para o Desenvolvimento Sustentável”. Não adianta tentar encontrar esta estrovenga — “empoderamento” — no dicionário. É só uma macaquice ongueira, uma tradução feita com os cotovelos de “empowerment”.
Alguns dizem: “Ah, Dilma está mandando Lula para longe, para dar pitaco lá na África”. Era assim no tempo em que as notícias não corriam com a mesma velocidade que levava “Rosa/ pra aprumar o balaio/ quando sentia/ que o balaio ia escorregar”. É trecho de uma bela música de Gilberto Gil, Parabolicamará. “Elogiando Gil?” O músico e o compositor, não o político e o prosélito. Adiante. É evidente que Dilma está dando palco para Lula. A equação é simples: sempre que ele cresce, ela diminui; sempre que ele avança, ela recua.
Dilma não anda lá muito feliz. Já disse a mais de um interlocutor que herança maldita mesmo, quem pegou foi ela. O que ela teme é o desmanche de uma equação macroeconômica que tem no consumo o seu principal pilar. E vê com certo pessimismo todo o resto. A presidente antevê uma corrosão lenta, mas contínua de sua popularidade e uma grande confusão na economia ali por meados de 2013. Também acha que não terá saúde para uma nova campanha. Não faço alusão velada ao câncer.
O Lula candidato em 2014 vai consolidar essa posição já na eleição de 2012. É ele quem já está cuidando hoje da criação dos palanques nas cidades que o PT considera vitais. E vai com tudo para a campanha. De novo: se ele cresce, ela diminui; se ele avança, ela recua. Dilma só não quer concluir um mandato que termine em vexame, daí a sua insistência em se comportar como uma magistrada, com o reconhecimento da obra de FHC nos 80 anos do ex-presidente ou com nota de condolências pela morte de Paulo Renato. À sua maneira, tem claro que a política pesada, de confronto e de desmoralização dos adversários, que é a essência do petismo, é fardo pesado demais pra ela. Então deixa que Lula transite na política interna como o grande articulador de 2012 e, no cenário externo, como o grande profeta do “empoderamento” dos oprimidos.
Quem aí quer ser presidente da República? José Serra? Aécio Neves? Geraldo Alckmin? Algum outro? Nas circunstâncias de hoje e até onde há visibilidade adiante, vai enfrentar Lula.
Por Reinaldo Azevedo