sexta-feira, 29 de julho de 2011

Enxergando a dialética marxista num simples poema

Lauro Adolfo

Era apenas um poema narrando as brincadeiras infantis lá pelos idos dos anos 70 no sertão, onde falta tudo, até os brinquedos, com os tempos atuais de internet, videogame e sites de relacionamento social. Naturalmente  a autora do poema, relembrava nostalgicamente sua infância, atitude muito comum em qualquer ser humano. Esse seria o resumo sucinto do poema, mas um veículo da mídia local tinha que ideologizar as imagens ali transcritas. E saiu-se com isto:
“...um poema que fez relembrar as vicissitudes das crianças de antigamente com os hábitos das crianças da modernidade, numa exuberante exposição da metamorfose dos costumes, denunciando a dinâmica da dialética materialista tão bem explicada pelos pressupostos marxistas.”
Segundo se pressupõe, a ideologia marxista condena a “dialética materialista”, seja isto o que for , em favor talvez, de uma dialética espiritualista. Mas como se o marxismo condena qualquer tipo de espiritualidade, incluindo religiões populares até aquelas que se reúnem em sociedades secretas (maçonaria)?
Vejam em que terreno pantanoso um simples poema foi nos colocar. A ideologia marxista condena tanto o materialismo quanto o espiritualismo. O que resta então? Eu respondo: a completa e irrevogável eliminação da individualidade. Não existe mais um indivíduo e sim a coletividade. Ninguém possui nada pois tudo é de todos. O indivíduo é apenas uma peça numa gigantesca engrenagem. Sem direito a ter opiniões a não ser aquelas autorizadas pela nomenklatura. Um mundo cinzento, onde vivem por viver. Não há paraíso nem inferno além túmulo pois não há deuses nem anjos, nem demônios (o demônio é o capitalismo).  O que foi no passado será no presente e no futuro. Um mundo absolutamente previsível, perfeitamente adequado para se ter o controle total dos indivíduos, favorecendo o tirano de plantão.
O enfoque “marxista” do singelo poema, está adequado a visão anticapitalista de quem professa a cartilha socialista. Para essa corrente ideológica, toda a arte que não enfoque o “realismo socialista” se enquadra na vertente burguesa, e como tal, decadente. Deixa-se de lado as imagens bucólicas, sentimentais do poema em favor de uma visão ideológica rígida e implacável, em detrimento da sensibilidade artística. Sensibilidade artística é coisa de burguês decadente, segundo o marxismo,  e como tal, deve ser combatida.