quarta-feira, 27 de julho de 2011

A última entrevista de Antonio Carlos Magalhães

Antonio Carlos Magalhães, o político mais longevo no poder no Estado da Bahia, despertava ódio ou admiração, não havia meias medidas. Mas a política não tem muitos mistérios. Desde quando Maquiavel lançou seu livro, que a arte de governar se tornou uma ciência. Considerando o poder exercido por ACM por tanto tempo, seus ensinamentos são de grande valia para quem se interessa por política. Alguns servem para a vida particular. Confiram. 
Perg. – Como distinguir coragem de imprudência?
ACM – O observador é quem vai julgar se o sujeito é corajoso ou imprudente. Quem gosta de você diz que é coragem. Quem é adversário acha imprudência. No fundo o que vale é a consciência de cada um. Ou melhor, certos atos nem são de coragem, mas de respeito a si mesmo, ainda que sejam imprudência.
Você não pode é, por prudência perder o brio. É muito comum um político tentar ser tão prudente que acaba pecando por insensibilidade moral. Tenho vários exemplos desse tipo de político que desapareceu da política. Nesse e em outros casos, o sujeito tem de estar atento às circunstâncias. As circunstâncias são muito mais fortes que os nossos desejos.
P – O perigo de brigar com presidentes não é muito maior do que os dividendos de ser estilingue?
ACM – Deve-se brigar sempre para cima. É muito melhor. Brigar para baixo não dá vantagem alguma, ninguém toma conhecimento e ainda lhe acham covarde. Para cima é ótimo, sobretudo se for em defesa de um aliado mais fraco. Todo mundo passa a lhe respeitar mesmo que você não tenha razão. Ao brigar para cima, especialmente se for com o presidente, normalmente se perde, mas se sai mais forte.
P – Como tratar os inimigos?
ACM – Esqueça o nome de nossos inimigos. Pense neles, mas não os mencione. Não se deve sequer falar o nome deles para que não sejam lembrados. Às vezes até atacá-los é bom para eles e prejudicial para você. Esta é a coisa  mais certa que tem na política. Hoje sou forte na Bahia por causa de meus adversários.
P – No caso de um adversário mais fraco, como avaliar quando se deve atacá-lo ou ignorá-lo?
ACM – Depende. A princípio deve-se tratar os inimigos tão mal quanto se trata bem os amigos. Só é preciso tomar cuidado para que não se cometa nenhuma covardia ao brigar com os mais fracos. Também é preciso pensar que, muitas vezes, aquele que é pequeno hoje pode crescer amanhã. O inimigo só cresce em cima de seus erros. Agora, se o sujeito tem mérito, ele cresce de qualquer forma, independentemente da vontade dos mais fortes. Cresce por seus méritos e cresce mais ainda em cima dos erros dos adversários, a regra é clara.
P – Como saber da lealdade de um amigo?
ACM – Se ao entrar numa casa uma criança lhe olha torto, pode estar certo de que ali você não é benquisto. Também não acredite na lealdade de alguém cuja mulher não gosta de você.
P – Qual é o maior pecado de um político?
ACM – O maior pecado de um político é a traição e o maior defeito de caráter de um homem é a ingratidão. Sou leal até a medula com os meus amigos.
P – Qual seu último conselho?
ACM – Se você quer que os outros sejam amigos, apesar de seus defeitos, não se pode querer que os outros não os tenham. Só guarde reclamação do inimigo. Se amigo, bote tudo para fora, resolva na hora. Com os amigos a gente chega e resolve logo. Com os inimigos, não reclame dos golpes recebidos, prepare o troco. Vale a máxima: A vingança é um prato que se come frio.