segunda-feira, 18 de julho de 2011

O sujeito que achava que catinga era perfume

Lauro Adolfo
            Ninguém sabia dizer se aquilo era loucura, mania ou retardamento mental. O fato é que aquele elemento sentia enorme prazer em colocar a namorada no carro em dias chuvosos, pedir para ela fechar os vidros e depois soltar um ruidoso e fedorento traque. A namorada fugindo quase asfixiada e pedindo por socorro, deixava de sê-Io a partir daquele momento.
Mas quem disse que ele se corrigia? Era chover e lá ia ele com a namorada praticar seu vício nojento. Seus namoros duravam um pouco mais em época de estio, o que neste sertão dura de oito a nove meses. E foi, como não poderia deixar de ser, num período de seca inclemente que ele se casou. Contudo, foi só cair as primeiras chuvas para ele levar a infeliz esposa para dentro do carro para fazer vocês sabem o quê. O sádico sentia mais prazer ainda quando, após devorar uma enorme e indecente feijoada deixando-a fazer sua trajetória intestinal, castigar as narinas torturadas de sua esposa com sua flatulência criminosa. Os gases humanos, assim como os gases de cozinha são altamente inflamáveis, como todos sabem. De modo que a esposa daquele sujeito levava sempre uma caixa de fósforos consigo para qualquer emergência. Era ele chamá-la para dentro do carro para a sessão de tortura e ela já ia riscando o fósforo.
Quase em desespero, já a ponto de separar-se daquele débil mental, ela ouviu falar de um concurso de flatulência que seria realizado num lugar secreto. E para sua sorte deram-lhe o endereço do local onde seria realizado o indigitado campeonato. Pediu, rogou ao esposo que participasse daquela concorrência para ver se ele aprendia.
- Aprender o quê? Disse o desgraçado.
- Você vai ver o quê. Respondeu ela.
            A infeliz tinha a vã esperança que ele voltasse envergonhado para casa e passasse a usar o esfíncter de modo normal como todo mundo. E lá foi ele testar sua capacidade gasosa.
Os competidores eram profissionais no oficio. Os campeões eram Zé Trovão, Gás Mostarda, Acaba Ferrugem e o campeoníssimo Mata Rato. As notas eram dadas segundo três efeitos provocados no fiscal, ou cobaia melhor dizendo: o tonteio, o desmaio e o coma. A duração do traque bem como o som emitido também ganhavam nota. Nosso personagem caprichou na feijoada e na cachaça. De modo que no outro dia seus intestinos estavam prontos para liquidar qualquer incauto que ousasse cheirar o produto de tão horrenda mistura. Mas ele não contava com o preparo especializado dos fiscais. De modo que a única coisa que conseguiu foi um huuummm meio desenxabido. Ficou mortificado e só não foi embora com o rabo fedorento entre as pernas porque queria ver o desempenho dos campeões.
Zé Trovão demonstrou suas habilidades no ramo soltando um pum tão fenomenal que o médico, após examinar seu esfíncter, recomendou uma semana de repouso absoluto. Gás Mostarda botou a nocaute a primeira fileira de assistentes e tonteou o restante. Acaba Ferrugem era uma caso à parte. Seus gases tinham o miraculoso poder de destravar ferrolhos enferrujados, portas emperradas e parafusos renitentes. De modo que havia ali uma quantidade enorme de carros que não abriam portas e nem soltavam os parafusos das rodas firmemente apertados. Havia também muitos aparelhos enferrujados precisando de uma boa lubrificada. De modo que Acaba Ferrugem cumpriu sua tarefa com a costumeira competência.
Depois veio o campeão dos campeões: Mata Rato. Para fazer a demonstração de sua fantástica habilidade, levaram-no a um armazém  lotado de fardos de milho e também de centenas de ratos. Um fiscal entrou com ele devidamente protegido com uma máscara contra gases. E após ouvirem o som prolongado e harmonioso de seus gases intestinais, ratos saíram pelo ladrão guinchando desesperados. Mas não andavam nem dez metros e já começavam a sacudir suas perninhas nos estertores da morte. De maneira que fez uma limpeza completa no armazém recebendo uma ovação entusiástica e uma polpuda recompensa do fazendeiro proprietário do depósito.
Após tão fantásticos desempenhos será que o nosso personagem ainda teria coragem de soltar seus ridículos e inofensivos gases? Sua esposa ficou bastante esperançosa quando o viu casmurro e acabrunhado pela casa. Quando ela se atreveu a perguntar-lhe a razão daquela tristeza ele narrou sua fraca atuação.
- Bem, acho que agora você aprendeu a lição, não é?
- Aprendi. Vou treinar bastante e ainda serei conhecido não como um Mata Rato qualquer, mas sim como Mata Gato.