Morro do Chapéu sempre foi uma sociedade entre amigos. Aqui todos se entendem desde tempos imemoriais. A polêmica, o debate, a discussão séria, são coisas a que todos estão mal acostumados. Discussão só quando os temas são aprovados antecipadamente. E a internet inaugura um fenômeno, os blogs, que está deixando todos meio zonzos, sem compreender o alcance desta nova maneira de dizer as coisas. O blog está ao alcance de todos. Qualquer um pode construir um instantaneamente e passar a dizer o que bem entender. Mas aquele que não tem nada a dizer, encontra dificuldade em escrever algo inteligível. A maioria quer é esculhambar, fofocar, dizer besteiras e atrair adeptos. Eu não procuro adeptos e nem persigo a unanimidade, basta ver as matérias postadas em meu blog. Tem uma turminha aí que cujas identidades na internet são falsas e, inconformados com a descoberta, andam atrás do que escrevo para sair bradando impropérios contra minha pessoa. Estou me lixando para essa gente. Eu não tenho mente de escravo, não me submeto a ditadura da opinião alheia.
Para todos aqueles que se escondem atrás de um grupo, temerosos de mostrar suas verdadeiras identidades, dedico este artigo do jornalista americano H. L. Mencken (pesquisem no Google).
A TURBA
Gustave Le Bon e seus discípulos, ao discutir a psicologia das multidões, formularam a idéia de que o individuo, quando ombro a ombro com a multidão, desce um grau ou dois intelectualmente e tende a exibir as mesmas reações mentais e emocionais de pessoas que lhe são inferiores. É assim que eles explicam a bem conhecida violência e imbecilidade das multidões. A turba, enquanto turba, chega a extremos de que seus membros, como indivíduos, nunca poderiam ser acusados. Sua inteligência média é mínima; mas é infecciosa, contagiante, quase simiesca. As multidões, bem trabalhadas por um esperto demagogo, acreditam em qualquer coisa e são capazes de tudo.
Ouso dizer que Le Bon está parcialmente certo, mas também parcialmente errado. Sua teoria é provavelmente elogiosa demais para com o ignorante médio. Ao misturar este ignorante com o homem superior nos excessos de uma multidão, dá a entender que também o ignorante, no meio delas, faz coisas que nunca pensaria em fazer sozinho. O fato pode ser aceito, mas o raciocínio levanta uma dúvida. O ignorante se descontrola na multidão, não porque tenha sido inoculado por ela, mas com o vírus da violência, mas porque a sua própria violência tem ali a única chance de exprimir-se em segurança. Em outras palavras, o ignorante é perverso, porém covarde. Ele evita qualquer tentativa de um linchamento a capella, não porque precise de estímulo para querer linchar alguém, mas porque precisa da proteção de uma multidão para fazê-lo sentir-se corajoso o suficiente para tentar.
O que acontece quando uma multidão se descontrola não é exatamente o que Le Bon e seus seguidores descrevem. Os poucos homens superiores dentro dela não são reduzidos imediatamente ao nível dos fanfarrões. Ao contrário, costumam manter a cabeça fria e tentam até conter a multidão. Mas os fanfarrões são maioria; a cerca é derrubada ou o negro é queimado. E por quê? Não porque os fanfarrões, normalmente virtuosos, tornam-se subitamente uns insanos criminosos. E sim porque se dão conta de repente do seu poder em número e porque ali há uma brecha para exercerem sua selvageria. Em outras palavras, o poder suíno de uma multidão já existe permanentemente na maioria de seus membros – digamos, uns 90%. Todos os estudos sobre a psicologia das multidões tropeçam nesta subestimação da selvageria. Os escalões inferiores do homem são, na realidade, incuravelmente perversos, seja individual ou coletivamente. Decência, autocontrole, senso de justiça, coragem – estas virtudes pertencem a uma pequena minoria de homens. Esta minoria raramente se descontrola. Seus traços mais distintos, aliás, é a resistência ao descontrole. O homem de terceira classe, embora possa disfarçar-se com as barbas de um homem de primeira, será sempre descoberto por sua incapacidade de manter a cabeça diante de um apelo às emoções. O mesmo grito que se dá para estimular um animal a correr põe a nu o seu disfarce.