O deputado João Campos (PSDB-GO), que é evangélico, propôs uma moção de repúdio, informa Gabriel Castro na VEJA.com, ao ditador da Venezuela, Nicolás Maduro (sim, ele é um ditador!) por conta de declarações escancaradamente homofóbicas. Maduro passou a espalhar que seu adversário na eleição presidencial, Henrique Caprilles, é gay. Num de seus comícios, ao lado da mulher, mandou bala: “Eu, sim, tenho mulher, escutaram? Eu gosto de mulheres”.
Alguém se
opor ao casamento gay é mero exercício de opinião, especialmente quando,
como é o caso do deputado Marco Feliciano (PSC-S), nada pode fazer a
respeito. O Supremo já tomou uma decisão. O casamento é um jeito que a
sociedade encontrou de organizar a família. Há quem entenda — é a
maioria da sociedade brasileira — que deva ser constituído de homem e
mulher. Há os que divergem. Mesmo sendo minoria, os divergentes venceram
o embate. Agora, o que resta é só intolerância com quem não concorda
com eles.
Muito bem!
Os direitos essenciais da cidadania política têm um status superior.
Afirmar que alguém não pode disputar um cargo público porque é gay
caracteriza, sim, homofobia. Há mais: as leis, também as venezuelanas,
não preveem essa restrição. Quando Maduro afirma que Caprilles não pode
ser presidente porque não tem mulher — sugerindo que o adversário é
homossexual —, está alimentando uma forma odienta de discriminação.
E o que as
nossas valorosas esquerdas fizeram a respeito? Nada! Toda aquela gente
que passou a promover baderna na Câmara — muitos deles funcionários de
deputados do PT e do PSOL, pagos com dinheiro público — não deu a menor
pelota para o assunto. Ao contrário: está com o chavismo e não abre! Se é
para combater “a direita”, os nossos “progressistas” podem se juntar,
eventualmente, a homofóbicos. O marqueteiro de Maduro é João Santana,
homem do PT. Em 2008, na disputa de Marta Suplicy com Gilberto Kassab,
ele levou ao ar a pergunta: “Kassab é casado? Tem filhos?” Sabem o que
fez o sindicalismo gay? Ficou de boca fechada.
“Ah, a
moção proposta por um deputado evangélico é apenas uma provocação”,
poderia dizer alguém. Ainda que fosse. Por que ela não foi proposta por
petistas e psolistas? Sim, meus caros, há sete petistas lá: Érika Kokay,
Domingos Dutra, Nilmário Miranda, Padre Ton, Janete Rocha Pietá, Luiz
Couto e Vicentinho. Há ainda dois representantes do PSOL: além de Jean
Wyllys, Chico Alencar.
Uau! Nove
“progressistas” reunidos não tiveram o bom senso, já que tão amantes da
causa, de propor ao menos uma moção de repúdio? Não! Por que não? Porque
são todos filobolivarianos, ora essa! Nenhum país latino-americano,
diga-se, perseguiu tanto os gays como Cuba. Vejam, a título de
ilustração, o bom filme “Antes que Anoiteça”, de Julian Schnabel, que
conta a história do escritor Reinaldo Arenas, implacavelmente perseguido
na ilha porque era… gay! Ainda hoje os homossexuais são tratados como
lixo em Cuba.
Quando é
que se ouviu uma palavra desses “progressistas” que querem rasgar a
Constituição e o Regimento da Câmara para tirar de lá, n o grito, o
deputado Feliciano? Nunca! Entrei no site Jean Wyllys para ver se ele
havia se manifestado sobre as declarações de Maduro. Nada! Não há uma
vírgula.
“Os
brasileiros não têm de se meter em assuntos externos; basta que tratem
dos assuntos internos”, poder-se-ia objetar. Uma ova! Os petistas que
estão na comissão — e, por meio do silêncio, também os psolistas —
assistiram inermes aos abraços calorosos de Lula com Mahmoud
Ahmadinejad, aquele que já declarou que não há homossexuais no Irã
porque isso é coisa da decadência ocidental. Talvez pudesse mesmo haver
mais sem o regime dos aiatolás: muitos gays foram condenados à morte,
pendurados em guindastes, em praças públicas.
Há uma
gigantesca diferença entre se opor ao casamento gay porque se tem uma
concepção de família incompatível com essa conformação ou combater o tal
PLC 122 (eivado de absurdos) e promover a perseguição aberta,
escancarada, metódica aos gays. Os esquerdistas que estão na Comissão de
Direitos Humanos e Minorias da Câmara são coniventes, por seu aplauso
ou por seu silêncio, com regimes que perseguem e matam homossexuais — ou
que anunciam, em palanque, que eles não podem exercer cargos públicos
em razão de sua condição.
É convicção?
Então resta a pergunta? É a convicção que move a gritaria e o linchamento no Brasil? Não! É o oportunismo. Na madrugada, escreverei um texto demonstrando que algo mais está em jogo nesse embate — e até esquerdistas admitem que a questão de gênero é, no fundo, mero pretexto para uma outra batalha.
Então resta a pergunta? É a convicção que move a gritaria e o linchamento no Brasil? Não! É o oportunismo. Na madrugada, escreverei um texto demonstrando que algo mais está em jogo nesse embate — e até esquerdistas admitem que a questão de gênero é, no fundo, mero pretexto para uma outra batalha.