Quando um homem se aposenta isso pode ser um premio ou um castigo.
Afinal a maioria cai no ostracismo, conformando-se com o fato de não ter mais
futuro. Só o que se espera é gozar as férias permanentes num banco de praça ou
numa cadeira na calçada observando o movimento. Os companheiros são os velhotes
também aposentados. E a vida torna-se monótona, tediosa e cheia de
achaques.
Mas a vida pode continuar, possibilitando até a realização
de projetos que foram adiados em vista de alguns obstáculos intransponíveis.
Para quem escreve como eu, e tem espírito combativo e rebelde, a aposentadoria
é a oportunidade de dizer as coisas que ficaram engasgadas durante toda vida.
Na juventude perdi muitas oportunidades por conta de minha
rebeldia indomável. Depois constitui família e o espírito guerreiro teve de ser
sufocado para que não perdesse o emprego. Depois entrei no mundo empresarial e
aí a situação piorou ainda mais porque
comecei a receber encomendas das prefeituras. Ocorre que algumas prefeituras
atrasam pagamentos, outras não pagam de jeito nenhum e o empreendimento vai
indo para o buraco. Depois há as perseguições políticas e o melhor a fazer é
fechar as portas.
Sabemos que o ser humano é fraco, servil e covarde. Enquanto
você está numa boa, são todos seus amigos fraternais. Avizinhando-se as
dificuldades fogem todos como se você tivesse contraído a peste. E nenhum ser
humano é mais medroso e pusilânime que funcionário municipal, com raras
exceções. E isso estou constatando todos os dias; depois que fiz algumas
críticas ao prefeito, alguns ex-colegas de trabalho passam por mim sem me
cumprimentar. Muitos até negam que tenham sido meus amigos. E como estou
aposentado ficando portanto, longe das eventuais perseguições e vinganças, a
companheirada alimenta um ódio invejoso dessa minha condição.
Morro do Chapéu tem em sua principal avenida uma estátua de
um coronel da Guarda Nacional. Negro, mas um coronel. E coronel é a primeira
acusação que fazem a um político ditatorial e que se perpetua no poder, como
ACM por exemplo. A escolha de um coronel como símbolo máximo de sua
subserviência, denigre a imagem do morrense que se quer pacifico e ordeiro. O
coronel é Francisco Dias Coelho que enquanto viveu manteve Morro do Chapéu sob
suas ordens. Ninguém ousava enfrentá-lo na política, quanto mais critica-lo.
Quando morreu, tomou seu lugar o coronel Antonio Souza Benta que também
comandou os destinos da comuna até sua morte. Depois veio Jubilno Cunegundes,
os Gomes, os Dourados, Rocha e, Barreto.
A cidade tem um jornal. Um jornal que nunca fez criticas à
qualquer administração municipal, com exceção de Wilson Dourado. Temos duas
emissoras de rádio chapa branca e o máximo que se faz de critica é um tal de
Virgulino no programa “Língua de trapo.” Por isso quando publiquei na internet
algumas criticas à atual administração municipal, o espanto foi grande. Alguns
ficaram com medo por mim. Em minhas andanças por aí, cheguei até a receber
ameaças veladas. Alguns ficaram felizes pela não renovação de meu contrato com
a prefeitura.
Tudo isso só demonstra o grau de pavor em que vive o ser humano
normal. Pavor der perder o emprego, pavor de não poder sustentar a família,
pavor da miséria e da desonra (como se o medo já não fosse uma desonra maior),
pavor da perseguição política, pavor de viver no ostracismo e na
insignificância, pavor de ser traído. Livrar-se desses medos, de todos os
medos, é a tarefa a ser empreendida por qualquer se humano que se preze. E é essa luta que venho
enfrentando todos os dias. E que Deus me dê forças para vencê-la.