O
que se viu num ringue em Nova York, na madrugada deste domingo, foi
muito mais que um grande combate pela unificação do título de campeão
mundial da categoria supergalos. Quem assistiu à luta no Radio City
Music Hall em que o cubano Guillermo Rigondeaux venceu o filipino Nonito
Donaire testemunhou, sobretudo, o triunfo de um homem livre sobre a
ditadura dos irmãos Castro e seus sabujos em ação no Brasil. Ao fim de
12 assaltos, Donaire perdeu por pontos. Fidel, Raúl, Lula e Tarso Genro
foram, mais uma vez, merecidamente nocauteados.
Em agosto de 2007, depois de fugirem do alojamento dos atletas
cubanos que participavam dos Jogos Panamericanos do Rio, Rigondeaux e o
também pugilista Erislandy Lara tentavam alcançar a Alemanha e a
liberdade quando descobriram que o ministro da Justiça do Brasil era um
capitão-do-mato a serviço de Fidel Castro. Capturados pela Polícia
Federal, ambos foram devolvidos à ilha-presídio a bordo de um avião
militar venezuelano. “Eles quiseram voltar”, mentiu Tarso Genro.
A falácia abençoada pelo presidente Lula foi implodida em janeiro de
2009 pela segunda e bem sucedida fuga das duas vítimas da política
externa da canalhice. “Enquanto ficamos na polícia, fomos proibidos de
conversar com jornalistas ou advogados”, disse Erislandy Lara ao
finalmente desembarcar na Alemanha, onde retomou o caminho que logo o
instalaria no ranking dos melhores do mundo na categoria médio-ligeiro.
Até a chegada do avião emprestado por Hugo Chávez, revelou Erislandy na
entrevista, os carcereiros procuraram alquebrar moralmente os cativos
com informações aflitivas e promessas falsas.
Souberam, por exemplo, que Fidel Castro os havia rebaixado a
“traidores da pátria”, que alguns parentes já tinham sido demitidos e
que seus amigos estavam sitiados por ameaças de morte. Mas o ditador
colérico agiria com magnanimidade, e revogaria todos os castigos, caso
voltassem para Cuba em silêncio, ressalvaram os mensageiros de Tarso
Genro. Outra cilada: já no aeroporto de Havana foram informados de que
nunca mais voltariam a lutar.
Três anos depois da deportação dos cubanos insatisfeitos com a
democracia proclamada por Fidel em 1959, o ministro da Justiça impediu
que o terrorista em recesso Cesare Battisti fosse extraditado para a
Itália e ali cumprisse a pena de prisão perpétua aplicada ao matador de
quatro “inimigos do proletariado”. Para livrá-lo da ditadura italiana
que só bandidos ou vigaristas enxergam, Tarso promoveu o amigo comunista
a “asilado político” e concedeu-lhe a cidadania brasileira.
Hoje com 32 anos, Rigondeaux só não conseguiu ganhar mais cedo o
cinturão que o eternizará na história do boxe porque foi vencido em 2007
pelo supergalo gaúcho que ganhou uma vaga na história universal da
infâmia. Tarso gosta de passear em Nova York, lembrei na madrugada deste
domingo. E, enquanto erguia um brinde ao vitorioso, não resisti à
tentação de imaginá-lo cruzando com Rigondeaux em alguma esquina de
Manhattan.
Certos castigos são muito pedagógicos, sorri ao pensar no encontro.
Tomara que o campeão reconheça o homem que o derrotou, há quase seis
anos, num duelo repulsivamente desigual. E decida que a hora da revanche
chegou.