segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Carlos Brickmann: ninguém disse o que disse — nem Bruno Covas, nem Barbiere, nem Vaccarezza, nem Dilma, nem o Banco Central. Me enganem que eu gosto

Carlos Brickman


Fica combinado assim

Não, o secretário estadual de Meio-Ambiente de São Paulo, Bruno Covas, não disse que um prefeito lhe ofereceu propina pela aprovação de uma emenda parlamentar; nem que ele, que deveria ter dado voz de prisão ao corruptor, recusou a propina e mandou o prefeito entregá-la a uma entidade beneficente. A declaração está gravada, mas ele não falou: apenas citou uma situação hipotética.

Covas e Barbiere: ninguém falou nada
Não, o deputado Roque Barbiere (PTB) não disse que uns 30% de seus colegas da Assembléia paulista vendem emendas parlamentares em troca de propina. Nada disso: até elogiou seus companheiros, gente boa, e disse que pode ser que alguns façam essa coisa feia, mas ele tem caráter e não vai denunciar ninguém. Se ele sabe e não conta, incorre em prevaricação. Mas também é gente boa, né?

Não, o governo federal não está cedendo às exigências da FIFA de passar por cima das leis na Copa do Mundo. Nada disso: a presidente Dilma até pediu uma audiência ao presidente da FIFA (foi recebida pelo sub do sub do sub, o secretário-geral) para dizer que o Brasil não se curva por causa da Copa.

O líder do governo na Câmara, deputado Cândido Vaccarezza, do PT, também não disse que dá para passar por cima das leis existentes, pois estas leis são perenes e a Lei Geral da Copa só terá valor durante a Copa. Ele jamais diria que uma legislação provisória, feita para atender aos gringos, teria mais força que a lei do país.

Joseph Blatter, presidente da Fifa, não recebeu a Dilma e Cândido Vaccarezza, líder do governo na câmara, não disse que a Lei da copa é mais importante que as leis do país
Ah, claro, a inflação não ultrapassou a meta fixada pelo Banco Central. Tirando o que subiu de preço, o resto não subiu. Então, tá: fica combinado assim.

Seria bom se não fosse

O relator da tal Lei Geral da Copa, essa que o líder do Governo acha que deve se sobrepor às leis que o país já tem, é o deputado alagoano Renan Calheiros Filho, do PMDB. A vantagem é que pelo nome, não deixa margem a dúvidas.

A história como ela é

O delegado Romeu Tuma Jr., que foi secretário nacional da Justiça no Governo Lula, volta à política num partido de oposição: o DEM. Diz que o faz em homenagem ao pai, o senador Romeu Tuma, que foi do partido.

Mas não é bem assim: o senador foi do PL, depois do PFL. Quando o partido mudou de nome para DEM, em 2007, Tuma foi para o PTB. No DEM não acumulou tempo de casa.

A Escolinha da Professora Dilma

A Escolinha da Professora Dilma já está sendo vista como piada, na Europa. O tradicional Financial Times ironiza os conselhos que a presidente dá aos europeus (em tradução livre, feita pelo colunista): “O país classificado em 152º lugar pelo Banco Mundial por seu pesado sistema tributário aconselha contra impostos restritivos”. “A sugestão de que o Brasil deveria resgatar países cuja renda per capita é o triplo da brasileira foi recebida com surpresa”. “Dilma ressaltou a necessidade de combater o protecionismo uma semana depois de aumentar impostos sobre carros importados em colossais 30 pontos percentuais”.

Alguém precisa contar a Dilma que eles são ricos, e nós não. Até agora, saíram-se melhor