terça-feira, 4 de outubro de 2011

EU GOSTO MESMO É DE ANDAR NA CONTRAMÃO! ALGUNS DOS QUE ME DETESTAM TÊM RAZÃO! Ou: Cuidado com o poder das vítimas de manual!

Aprendi que a gente não pode nem ter maus pensamentos — vendo a Shakira rebolar, por exemplo (*) — que o planeta aquece. É um bicho sensível. Quantas toneladas de carbono se produziram, Deus meu!, sustentando que o simples debate sobre o novo Código Florestal aumentou o desmatamento! Os ongueiros, que são os verdadeiros pauteiros da imprensa nessa área, deitaram e rolaram. Tentaram ligar até a tragédia de Petrópolis ao novo texto, como se Sérgio Cabral não tivesse vindo antes…

Pois é… Um dos estudantes da São Francisco que me esculhambaram, tentando defender o indefensável, afirmou que eu só saí em defesa do reitor da USP porque, segundo ele, era “a causa mais difícil”. Ele viu nisso um defeito. Em parte, dou razão a ele, e acho que essa é uma das minhas melhores qualidades. Quando noto que há aquela maioria, festiva ou furiosa, defendendo uma idéia, ligo o meu espírito de porco: “Será que é mesmo assim?” É um mecanismo de defesa. Eu tenho como um dado permanente e um elemento de advertência na minha abordagem do mundo o fato de que os vários fascismos, inclusive o nazismo, foram movimentos de maiorias. COMO SOU INTELECTUAL E VISCERALMENTE ANTIFASCISTA, basta eu notar aquela gentarada toda babando uma mesma verdade, e sinto a incontornável necessidade de desafinar o coro dos contentes — ou o coro dos descontentes.

Aquele rapaz que tentou me atacar, pois, está parcialmente correto. Eu tendo a enxergar um quê de covardia na entusiasmada defesa da “vontade da maioria”. Fazer o quê. “Ah, então quer dizer que, se a maioria é contra a violência, você é a favor?” Não seja ridículo, petralha! Há valores na sociedade que são consensuais, que não estão em debate — e, se querem saber, nem devem mesmo ser debatidos. Eu me nego, por exemplo, a discutir com alguém se a democracia é necessária ou negociável. Se o sujeito quer especular a respeito desse tema, já é um vagabundo desprezível. Eu me refiro, é claro, a embates em que a solução não é óbvia. Sigamos.

Tantas vezes acertei assim, não é?, sugerindo que se tomassem certos cuidados. Vocês se lembram de algumas “teses” difíceis abraçadas por este blog e de alguns questionamentos feitos contra o “clamor” público. O último evento notório foi a tal acusação de estupro contra Dominique Strauss-Kahn. Fui tão óbvio que pareci quase pornográfico: sexo oral forçado, e com, como direi?, conclusão num quarto de hotel, sem que o senhor de 60 estivesse com um revólver ou uma faca muito afiada a ameaçar a moça de 30? Bem, só poderia acreditar na patacoada quem não estava ligando o nome à coisa. Talvez o sexo oral seja menos freqüente do que imaginamos, sei lá… Mas volto ao ponto.

Quando Marina Silva, a Santa Imaculada da Floresta, afirmou que a expectativa do Novo Código Florestal aumentava o desmatamento — e um rebanho de jornalistas fiéis seguiu bovinamente a sua litania —, apontei a falta de lógica da afirmação. Era uma coisa estúpida. O texto não livrava a cara de desmatadores antigos e menos ainda de novos, que não teriam nem sequer a chance da compensação ambiental para reparar o malfeito. A acusação era uma estupidez militante. Ao seguir Marina, a imprensa MILITOU, não INFORMOU.

Eis aí. Houve queda no desmatamento da Amazônia — e não foi pequena, conforme post já publicado. No G1, informa-se: “A ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, afirmou nesta segunda-feira (3) que o debate sobre o Código Florestal no Senado não vai estimular o aumento do desmatamento como foi relatado por secretários estaduais de Meio Ambiente no início do ano, quando o projeto foi discutido e aprovado pela Câmara dos Deputados. A discussão dos deputados sobre o texto da lei que estipula regras para a preservação ambiental em propriedades rurais teria criado uma ‘expectativa de anistia’.”

Quando os secretários vieram com aquele bobagem, lembrei neste blog que a acusação era puro achismo; que eles não tinham dados em mãos que comprovassem a afirmação.

Sim, queridos! É claro que seria uma burrice pensar simplesmente: “Ah, se a maioria é contra, então sou a favor; se a favor, então sou contra” Não é isso! Reitero que há consensos necessários para que a sociedade opere com um mínimo de funcionalidade. Eu recomendo que se ligue o desconfiômetro quando há esses embates polêmicos, em que as “vítimas eleitas pelo pensamento politicamente correto” dizem as suas verdades e choram as suas lamúrias. geralmente tentando transformar em poesia seus atos autoritários e até violentos.

POUCAS COISAS EMBURRECEM TANTO O PENSAMENTO COMO O PODER DAS VÍTIMAS.

(*) Mensagem quase cifrada - Weimar, meu amigo lá da Bahia, ombudsman deste blog e conselheiro espiritual do Tio Rei, andou tomando uns cascudos em casa por causa da Shakira. Pois é… Weimar não é do tipo que sente “tesão” castigando adversários, como o professor Sérgio Salomão Shecaira, da Faculdade de Direito da USP. O Shecaira, suponho, continua sem Shakira…

Por Reinaldo Azevedo