Na minha matéria anterior fiz o apanhado das terras de Morro
do Chapéu, foco de discórdia e embates jurídicos. E não aprofundei o assunto
porque há muitos interesses em jogo e, conforme o que dissesse, minha vida não
ia valer um tostão furado. Se vocês pensam que eu estou fazendo terrorismo,
tenho de dizer que não estou brincando. Já recebi um recado de que iriam mandar
me dar uma surra por conta de alguns comentários que fiz a respeito de um ex-poderoso
da cidade. E agora recebo outro do atual prefeito que, num telefonema para um
amigo mandou um recado dizendo que ia me mandar espancar, depois mudou de ideia
dizendo que ele mesmo ia fazer isso se não fizesse coisa pior. O recado está no
celular do amigo à disposição da justiça, vez que estou encaminhando à
promotoria proteção de vida e apontando o responsável.
Como sabemos todos, cidade pequena é uma central de fuxicos.
É um disse-me-disse sem fim e sem propósito. Puxas sacos de todos os matizes
infestam os locais de maior movimento com o intuito de pescar uma conversinha
qualquer da qual possam tirar algum proveito. Mas quem pode oferecer essa
benesse? O prefeito, é claro. Um empreguinho, um aluguel de carro para carregar
alunos ou uma viagem qualquer, um dinheirinho para tomar cachaça, um box na
feira, a compra de um bem encalhado, a manutenção do emprego com um reajuste
salarial compensador...essas coisas comezinhas as quais os fracassados recorrem
para manter suas medíocres existências.
A maioria dos fuxicos só provocam indignação e raiva, mas há
aqueles que podem gerar consequências imprevisíveis. E pior: sem um pingo de
veracidade. Foi o que ocorreu no caso que ora estou descrevendo. A revolta de
um pai diante de um boato que denigre a honra de um filho é, não só
compreensível como aceitável qualquer atitude drástica que venha a tomar em
relação ao agressor.Com honra alheia não se brinca. Ocorre que esse pai tem de buscar
meios para apurar se o boato tem algum fundo de verdade. Não é sair logo
prometendo surra e outras coisas piores, como se a pessoa, alvo da fúria fosse
um zé ninguém que se submeta sem queixas ao espancamento gratuito. Se ele está
revoltado com o boato, mais ainda estou eu pela mentira grotesca.
Como se vê, Morro do Chapéu de há muito que deixou de ser
aquele paraíso encravado nas serras. Uma cidade pacífica e ordeira, uma suíça sertaneja
conforme deixou de herança o poderoso coronel Francisco Dias Coelho. Paz aqui
nunca existiu por consenso. Dias Coelho a mantinha a custa de muito dinheiro e
aliciamento. Como o ser humano se acomoda desde que seus interesses estejam
sendo atendidos, Morro do Chapéu foi levando sua vidinha modorrenta, sempre
ficando a reboque do progresso e desenvolvimento. Enquanto Irecê se desenvolveu
espantosamente desde que se separou em 1926, Morro do Chapéu permaneceu numa
rotina de paralisia e estagnação. Aqui a
corrupção é tolerada sem uma queixa e seus políticos se elegem e reelegem,
chegando ao absurdo de governar até com liminar.
Há um ginásio esportivo que só ficou no esqueleto e está lá
à beira do asfalto com sua estrutura enferrujando para a apreciação dos
passantes e viajantes. Há um prédio condenado onde deveria funcionar a UPA,
também a beira do asfalto e que todos que passam por lá, ficam intrigados do
porque aquela unidade médica ainda não está funcionando. Havia umas casas
populares no Pachola cujas construções foram abandonadas e estavam desmoronando
pela ação do tempo. Foi preciso a intervenção da Promotoria Pública para que as
construções fossem retomadas. Há uma praça no bairro do Pelourinho cuja obra
foi iniciada e depois abandonada assim que se apuraram os votos da recente
eleição para prefeito. Há um hospital que foi fechado por má gestão e outro que virou um cemitério de recém nascidos.
O Fundo de Previdência do Servidor Público é administrado por uma pessoa que é
funcionária da prefeitura e se recusa a dar informações sobre a movimentação
financeira do órgão. Há cursos a distância no Colégio Nsa Sra da Graça que
promete diploma universitário mas que na verdade é uma farsa promovida por
espertalhões em busca do dinheiro fácil dos otários.
Como veem, enquanto o Brasil promove passeatas com o
propósito de banir de uma vez por todas os corruptos da vida pública no país,
Morro do Chapéu segue sem se manifestar. Houve uma passeata promovida pelo
pessoal que mora fora e que se transformou numa alegre carreata, que é como se
denomina aqui tais eventos. A mídia local
diz alguma coisa? Nada. E como pode, vez que, conforme o que for dito seu autor
pode sofrer ameaças de espancamento ou coisa pior conforme está ocorrendo
comigo?