quinta-feira, 27 de junho de 2013

Morro do Chapéu: uma terra muito perigosa



Na minha matéria anterior fiz o apanhado das terras de Morro do Chapéu, foco de discórdia e embates jurídicos. E não aprofundei o assunto porque há muitos interesses em jogo e, conforme o que dissesse, minha vida não ia valer um tostão furado. Se vocês pensam que eu estou fazendo terrorismo, tenho de dizer que não estou brincando. Já recebi um recado de que iriam mandar me dar uma surra por conta de alguns comentários que fiz a respeito de um ex-poderoso da cidade. E agora recebo outro do atual prefeito que, num telefonema para um amigo mandou um recado dizendo que ia me mandar espancar, depois mudou de ideia dizendo que ele mesmo ia fazer isso se não fizesse coisa pior. O recado está no celular do amigo à disposição da justiça, vez que estou encaminhando à promotoria proteção de vida e apontando o responsável.
Como sabemos todos, cidade pequena é uma central de fuxicos. É um disse-me-disse sem fim e sem propósito. Puxas sacos de todos os matizes infestam os locais de maior movimento com o intuito de pescar uma conversinha qualquer da qual possam tirar algum proveito. Mas quem pode oferecer essa benesse? O prefeito, é claro. Um empreguinho, um aluguel de carro para carregar alunos ou uma viagem qualquer, um dinheirinho para tomar cachaça, um box na feira, a compra de um bem encalhado, a manutenção do emprego com um reajuste salarial compensador...essas coisas comezinhas as quais os fracassados recorrem para manter suas medíocres existências. 
A maioria dos fuxicos só provocam indignação e raiva, mas há aqueles que podem gerar consequências imprevisíveis. E pior: sem um pingo de veracidade. Foi o que ocorreu no caso que ora estou descrevendo. A revolta de um pai diante de um boato que denigre a honra de um filho é, não só compreensível como aceitável qualquer atitude drástica que venha a tomar em relação ao agressor.Com honra alheia não se brinca. Ocorre que esse pai tem de buscar meios para apurar se o boato tem algum fundo de verdade. Não é sair logo prometendo surra e outras coisas piores, como se a pessoa, alvo da fúria fosse um zé ninguém que se submeta sem queixas ao espancamento gratuito. Se ele está revoltado com o boato, mais ainda estou eu pela mentira grotesca.
Como se vê, Morro do Chapéu de há muito que deixou de ser aquele paraíso encravado nas serras. Uma cidade pacífica e ordeira, uma suíça sertaneja conforme deixou de herança o poderoso coronel Francisco Dias Coelho. Paz aqui nunca existiu por consenso. Dias Coelho a mantinha a custa de muito dinheiro e aliciamento. Como o ser humano se acomoda desde que seus interesses estejam sendo atendidos, Morro do Chapéu foi levando sua vidinha modorrenta, sempre ficando a reboque do progresso e desenvolvimento. Enquanto Irecê se desenvolveu espantosamente desde que se separou em 1926, Morro do Chapéu permaneceu numa rotina de paralisia  e estagnação. Aqui a corrupção é tolerada sem uma queixa e seus políticos se elegem e reelegem, chegando ao absurdo de governar até com liminar.
Há um ginásio esportivo que só ficou no esqueleto e está lá à beira do asfalto com sua estrutura enferrujando para a apreciação dos passantes e viajantes. Há um prédio condenado onde deveria funcionar a UPA, também a beira do asfalto e que todos que passam por lá, ficam intrigados do porque aquela unidade médica ainda não está funcionando. Havia umas casas populares no Pachola cujas construções foram abandonadas e estavam desmoronando pela ação do tempo. Foi preciso a intervenção da Promotoria Pública para que as construções fossem retomadas. Há uma praça no bairro do Pelourinho cuja obra foi iniciada e depois abandonada assim que se apuraram os votos da recente eleição para prefeito. Há um hospital que foi fechado por má gestão  e outro que virou um cemitério de recém nascidos. O Fundo de Previdência do Servidor Público é administrado por uma pessoa que é funcionária da prefeitura e se recusa a dar informações sobre a movimentação financeira do órgão. Há cursos a distância no Colégio Nsa Sra da Graça que promete diploma universitário mas que na verdade é uma farsa promovida por espertalhões em busca do dinheiro fácil dos otários.
Como veem, enquanto o Brasil promove passeatas com o propósito de banir de uma vez por todas os corruptos da vida pública no país, Morro do Chapéu segue sem se manifestar. Houve uma passeata promovida pelo pessoal que mora fora e que se transformou numa alegre carreata, que é como se denomina aqui tais eventos.  A mídia local diz alguma coisa? Nada. E como pode, vez que, conforme o que for dito seu autor pode sofrer ameaças de espancamento ou coisa pior conforme está ocorrendo comigo?