Não adianta muito o secretário de Política Econômica, Márcio Holland,
rebater a avaliação da Standard & Poor's, a agência de análise de
riscos, segundo a qual houve "alguma perda na credibilidade da política
econômica", o que leva a S&P a ameaçar com o rebaixamento da nota
brasileira.
Holland pode citar fatos à vontade, como a colocação pela Petrobras de
US$ 1 bilhão em papéis ou os US$ 4,2 bi da BB Seguridade, operações
realizadas em abril, como suposta prova de que os investidores mantêm a
confiança na economia brasileira.
Fatos contam menos do que percepções. Cito, a propósito, frase que ouvi
muitos anos atrás desse sábio chamado José Mindlin (1914-2010): "Para
certas pessoas, contra argumentos não há fatos".
Bela e perfeita frase. Para os agentes do mercado e a mídia
"mainstream", o que conta é a percepção de que a política econômica de
Dilma Rousseff desandou de vez. O último prego no caixão da simpatia é a
nova nota da "Economist", reiterando críticas que já havia feito seis
meses atrás.
Melhorou algo, é verdade: em dezembro, a revista dizia que a economia
brasileira estava "moribunda". Imaginei que, agora, seria o epitáfio.
Não foi. De "moribunda", uma qualificação completamente tola, passou a
"medíocre", o que até dá para dizer sem se expor ao ridículo.
Se eu fosse presunçoso, até diria que a "Economist" está puxando briga
comigo, porque utiliza como subtítulo de seu texto principal sobre o
Brasil o título que usei neste espaço para rebater a crítica de dezembro
("Fica, Mantega, fica", transposta para o inglês, obviamente, como
"Stay, Mr Mantega, stay").
Deve ser humor inglês, geralmente bom, achar que, como a revista pediu a
cabeça do ministro em dezembro, e ela não foi entregue, quem sabe se
ela respaldá-lo Mantega cai.
Pode até cair exatamente porque o governo perdeu a batalha da
comunicação: a percepção disseminada na mídia convencional é a de que o
país está sem rumo e sem horizontes.
É uma derrota previsível, levados em conta, entre outros, os seguintes fatores:
1 - As más notícias são em maior número do que as boas. O "pibinho" de
0,6%, por exemplo, ofusca o bom resultado da indústria em abril. Os
"dilmistas" podem até dizer que é má vontade da mídia, o que é apenas
meia verdade: o resultado do todo (o PIB) é inexoravelmente mais
relevante do que o da parte (a indústria).
2 - Feita essa ressalva, é óbvio que existe má vontade em relação a
Dilma, pelo fato de que os economistas ortodoxos e seus porta-vozes na
mídia são fracamente majoritários - e não gostam das políticas mais ou
menos heterodoxas da presidente.
Por isso, a avaliação da S&P ganha mais força do que o fato de que a
produção de veículos em maio foi a maior em pelo menos um ano.
Se a credibilidade da política econômica de fato estivesse seriamente
comprometida, as montadores enfiariam o pé no breque, em vez de
acelerar, não?
3 - Dilma é má comunicadora. Não tem o jogo de cintura nem a verborragia
de Lula para fazer o tal de "spin", como os ingleses chamam a prática
de torturar uma dada notícia para dela extrair um lado bom, mesmo quando
parece ser negativa.
Até agora, a derrota na comunicação não aproxima Dilma de derrota
idêntica na trilha eleitoral. Enquanto houver pleno emprego e
aumento/manutenção da renda, a presidente pode dormir sossegada.
Mas está entrando em uma fase em que as más notícias podem turvar o "feel good factor" que foi responsável por sua eleição.
Clóvis Rossi é repórter especial e membro do Conselho Editorial da Folha,
ganhador dos prêmios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundación por un
Nuevo Periodismo Iberoamericano. Assina coluna às terças, quintas e
domingos no caderno "Mundo". É autor, entre outras obras, de "Enviado
Especial: 25 Anos ao Redor do Mundo" e "O Que é Jornalismo". Escreve às
terças, quintas e domingos na versão impressa do caderno "Mundo" e às
sextas no site.