quarta-feira, 11 de maio de 2011

A barraca do Jarionei

Soube dos comentários feitos na rádio Diamantina no horário do esporte sobre um certo requeijão feito de batata servido por mim na barraca de Jarionei. Bom, o que vocês querem? Eu batizei a barraca de Fome Zero. E por quê? Porque lá o tira gosto é de graça. E o sujeito nem precisa trazer os talheres. Tem um bandejão onde se coloca a tripa e outras carnes mais nobres, tasca-se farinha e vamos comer. Naturalmente que não se pode exigir muito; tipo carne lavada e temperada, tripinha lavada e passada no limão, essas coisas. Como os açougueiros dão as carnes salgadas, basta dar uma lavada para tirar o excesso de sal e botar no espeto. Quem tiver pressão alta, pode deixar o tira gosto de lado que nós não ligamos para essas coisas.
A barraca do Jarionei já teve de tudo quanto é tira gosto que vocês podem pensar. Teve uma vez que fizeram um baita de um cuscuz que parece ter sido feito numa bacia. Tascaram o danado no bandejão, semearam de mocotó (sim já teve mocotó) e uma dose generosa de pimenta e galera caiu dentro. Feijão com osso tinha quase todo domingo. Tinha gente que ia lá almoçar de graça, os famosos bocas vazias. É claro que nós enchíamos de pimenta o “almoço” do elemento para espantar a freguesia. O falecido nego Nando também servia tira gosto, mas a barraca do Jarionei era a mais freqüentada. As periguetes sempre zanzavam por ali fazendo a turma da terceira idade gastar um bocado pagando cerveja. E a gente na cola.
A barraca era montada numa área cimentada, lembrança da falida Serraria Araguaia (daí o nome) que pertenceu a Virgílio e Brochado. Negócios falidos, caindo aos pedaços e construções públicas abandonadas é o que não falta em Morro do Chapéu, não é mesmo? O cenário é tão desolador que quase não dá para acreditar que aqui vai ter energia eólica e produção de uvas para fabricação de vinhos finos. A descrença sobre os destinos de Morro do Chapéu é tanta, que a barraca do Jarionei com suas cachaças, tira gostos e periguetes sem futuro é um lenitivo. Mas depois Virgílio fazendo lá sua política em fim de carreira, “doou” a área da barraca para uma moradora local, na esperança de trazer alguns votos que depois seriam postos à venda para quem oferecesse mais, e a barraca do Jarionei mudou de endereço. Fica agora onde nego Nando tinha a sua. Também não é muito ruim. Tem amplo estacionamento, “sanitário” ao ar livre e uma relativa visão do campo, coisa que não estamos nem um pouco interessados.
De vez em quando eu colaboro com os tira gostos. O requeijão de batata que levei, era tão bonito; amarelinho, parecendo que nadava em manteiga. Mas quando o dito cujo começou a se esgarçar, vi logo que aquilo não era coisa para se botar na mesa de gente fina. Como na barraca do Jarionei a galera come o que vier, principalmente os ressaqueados das festas de fim de semana, levei para lá na esperança de fazer sucesso. Qual nada! Nem os bocas vazias queriam mastigar aquilo. Mas como as tripinhas e os úberes de vaca estavam demorando, o jeito foi traçar o “tira gosto”. E não sobrou nada.
Agora, se Deus quiser e o prefeito acatar a ordem do Criador, vamos ter o Campeonato do Araguaia no dia 22. Jarionei já avisou que vai ter bode assado. Só que tem um detalhe: esse tira gosto xique vai ser pago. Os bocas vazias podem tirar o cavalinho da chuva pois vão ter de enfiar a mão no bolso. O “nem queria” vai estar lá com sua gatona, alegrando nosso dia com sua risada escancarada. O Pintassilgo também vai estar, só que ele não pode mais beber, mas sempre dá uma beliscada no tira gosto. O Luisão e Armando também, o Leto e o Clóvis. Ah sim, não podemos esquecer do nosso amigo Bira do bar, tarado por uma tripinha assada. O Rocha também sempre pronto a apostar no Flamengo. O Dodo com o sofisiticado (para a barraca) coração de galinha. O Valmir bebendo cachaça com tira-gosto de maçã. Enfim, a barraca é eclética. Mas, lamentamos dizer que sentiremos uma grande falta do nosso amigo Zon. Ele era o primeiro a chegar na barraca. E quando eu ia aparecendo por ali, ele dizia abanando a mão: “vai passando, vai passando, peça ruim”. E quando a galera avançava o no úbere assado ele dizia: “pode comer boca vazia, que eu já passei fome e sei o que é isso. Quando estava mais enfezado, ordenava ao Jarionei que botasse a cerveja dele com a conta separada. Mas no fim sempre terminávamos bebendo juntos.
Como diz aquela música: “naquela mesa está faltando ele e a saudade dele está doendo em mim”.