terça-feira, 24 de maio de 2011

História de Morro do Chapéu II

ESCRITURA DE DOAÇÃO DAS TERRAS DA CIDADE DE MORRO DO CHAPÉU, FEITAS PELO PADRE FRANCISCO GOMES DE ARAÚJO E SUA IRMÃ.

     O padre Francisco Gomes de Araújo e sua irmã Ana Umbelina de Araújo, compraram as terras da atual cidade de Morro do Chapéu a Manuel de Saldanha da Gama Melo e Torres Guedes de Brito, VII Conde da Ponte.
     A escritura foi redigida nos seguintes termos:
     “Escritura de doação que para regalia dos habitantes deste arraial e Freguesia de Nossa Senhora das Graças fazem a esta os doadores o Senhor Vigário Francisco Gomes de Araújo e D. Ana Umbelina de Araújo da terra circunferência do mesmo Arraial que integra ao Frabiqueiro (o administrador de uma igreja) e a domínio desta Matriz Manoel Joaquim da Silva Miranda, que para si e seus sucessores, juntamente com o Senhor Juiz de Paz que tiver servindo conceder-lhes as licenças necessárias para o levantamento de casas e lugares de que cada qual precisar, e quanto para o futuro este arraial chegar a ser Vila, tomará a Câmara Municipal conta dele e tudo na forma que abaixo se declara:
     Saibam quantos este público instrumento de escritura de doação virem, que sendo do ano de Nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo, de mil oitocentos e quarenta e um, neste arraial e Freguesia de Nossa Senhora da Graça do termo de Jacobina, em o cartório de mim Escrivão adeante nomeado, comparecerão perante mim como doadores o Senhor Vigário Francisco Gomes de Araújo e Dona Ana Umbelina de Araújo, por eles me foi dito perante as testemunhas adeante nomeadas e no fim assinadas que eram senhores possuidores das terras de huma fazenda denominada Pedras, vizinha deste arraial as quaes houverão por compra ao Senhorio da Casa da Ponte, que tenho tombado à dita fazenda, incluindo nella as terras deste arraial, tudo comprarão por escritura como della e de reforma constará e por isto feito assim senhores e donos deste terreno doão a circunferência deste arraial, confrontado-se da parte do norte no morro vizinho, para o sul no Rio Jacuipe, para o nascente estrada abaixo que vai para o Olho D´Água, no lugar onde se fincou um marco de pedra e ao poente a partir com a fazenda do Morro no lugar de sua extrema; e assim demarcados este terreno do derredor deste arraial disserão elles doadores que de muitas livres vontades doarão todo elle a Nossa Senhora da Graça, para a regalia de todos os moradores e às pessoas que aqui quiserem formar moradas com permissão do Administrador da Igreja que estiver servindo o qual juntamente com o Sr. Juiz de Paz que então for concederão as licenças necessárias para o alevantamento de qualquer casa que porventura conseguirem edificar, assim como dos terrenos para quintais, não consentindo que cada qual ao seu alvedrio tome parte de terreno maiores do que havereis permitido e quando para o futuro este Arraial for elevado a Villa a Câmara Municipal tomará della mais não se receberá foro algum, e assim confrontado e demarcado este terreno de doação feita a Nossa Senhora da Graça, elles doadores tirão de si posse, domínio e senhorio que nelles por virtude de sua compra, cedendo e traspassando o fim indicado sem que elles doadores mesmos pessoas herdeiros possam contraditar esta doação que é feita no valor de cinqüenta mil réis em relação ao preço porque comprarão a terra por inteiro, estando presente o atual Fabriqueiro da Igreja Manoel Joaquim da Silva Miranda disse que aceitava a presente doação na forma que estava declarada. Em fé e testemunho da verdade doarão e aceitarão e requerirão a mim Escivão feito este instrumento nesta Nota, para dar traslado necessário o que satisfis como Oficial Público, aceitei, estipulei, em nome das pessoas ausentes a quem o direito tocar possa e tudo forão por testemunhos Antonio Ferreira Soares e o comandante Manoel Fulgêncio de Figueiredo as quaes assinadas com os doadores e aceitantes depois que esta foi lida perante testemunhas que foram por mim Manoel Bárbara de Souza, escrivão do Juiz de Paz que o escrevi.
Assinados Francisco Gomes de Araújo, Ana Umbelina de Araújo, Manoel Joaquim da Silva Miranda, Antonio Ferreira Soares e Manoel Fulgêncio de Figueiredo”.

DESCREVENDO OS LIMITES

   O terreno doado pelo padre Francisco Gomes de Araújo e Dona Ana Umbelina de Araújo não tinham  os limites muito bem definidos: “ao norte no morro vizinho, para o sul no Rio Jacuipe, para o nascente estrada abaixo que vai para o Olho D´Água, no lugar onde se fincou um marco de pedra e ao poente a partir com a fazenda do Morro no lugar de sua extrema”. O morro vizinho (qual?) deve ser onde hoje está localizado o cemitério. Depois para o nascente estrada abaixo que vai para o Olho D´Água no lugar onde se fincou um marco de pedra. Estrada abaixo deve ser a partir da fazenda Morro Velho até um lugar onde se acha um marco de pedra. É evidente que esse “marco de pedra” era maleável podendo se fixar em qualquer lugar. E onde era o lugar de extrema (de uma ponta a outra) da fazenda Morro Velho? Com o tempo esses limites incertos foram se estendendo muito além do que foram estabelecidos, abarcando terras distantes dos marcos iniciais. É só imaginar as possibilidades que havia para quem detinha o poder de legalizar as doações.Convenhamos; o padre Francisco Gomes de Araújo foi bem intencionado, mas muito ingênuo.