quinta-feira, 5 de maio de 2011

Código Florestal – O homem não é uma besta alienígena que está aí só para atrapalhar o planeta.

Se tivermos de fazer o bem, pensam os amigos da natureza, que importa o povo? Ele que se dane! O homem, agora, não é mais natural! É uma besta alienígena, que baixou no planeta para atrapalhar a doce harmonia da Mãe Terra, sempre tão generosa com os seus frutos, não é mesmo? De tempos em tempos, é verdade, ela se zanga, manda uma catástrofe qualquer, mata alguns milhares, mas tudo bem… A intenção é essencialmente boa. “Chega!”, dizem os amantes de Géia. O homem, esse piolho nas esferas, tem de parar de infestar a Terra!
E não só isso! É preciso também rever certos conceitos. Quando Obama estava no Brasil, lá estava eu no carro, aquecendo o planeta — sou uma das bestas desprezíveis — enquanto um “amigo da natureza” falava no rádio. Ele, claro, só aquecia o coração da militância. Estava frustradíssimo com a visita do presidente americano porque, disse, a sua [de Obama] agenda ambiental era muito fraca. Teria se mostrado muito tímido, à diferença do que prometeu em campanha, na substituição dos combustíveis fósseis por fontes alternativas de energia etc e tal.
Segundo o amigo da natureza, Obama não pôde avançar mais na agenda ambiental por culpa dos americanos. Os EUA, lamentou o rapaz, são uma democracia, e o presidente depende do voto daquela população estúpida (isso, ele não disse, mas ficava implícito) para continuar no poder. Entendi, sem sombra para ambigüidades, que fazer o correto na natureza pressupõe uma ditadura — embora os grandes e desastrosos eventos, que poluíram e poluem o planeta tenham sido e seja perpetrados por tiranias, como evidenciam a União Soviética e a China. Que seja um “comunista do Brasil” a fazer um bom relatório sobre o Código Florestal é dessas ironias muito nossas.
Aldo Rebelo está certo. Ele fez uma analogia entre a margem de proteção à beira dos rios e a alíquota de Imposto de Renda. Faz sentido, sim, quando se pensa em pessoas. O leitor não é besta nem come mato. Pense numa propriedade de 4 módulos rurais à beira de um rio e numa outra, à margem deste mesmo rio, de 40 módulos. Querem os amigos da natureza que ambas reservem 30 metros de cada lado do curso d’água além de manter 20% da área (se for o Nordeste, por exemplo) para recomposição de reserva. Muito bem! Quem tem quatro módulos e inviabilizou para exploração agrícola 20% da área “colaborou” com a natureza em igualdade de condições com aquele que tem 40? Isso pode significar o seu fim. No caso das margens do rio, a questão, então, é escandalosa: em termos percentuais, o pequeno estará sendo esmagado.
É uma tese estúpida, anti-social e demofóbica.
Os amigos da natureza ficam furiosos quando se evoca a questão social. Dizem que o argumento é falacioso, mas não conseguem contestá-lo. Partem pra adjetivação e ignoram a matemática da coisa. Seus adversários precisam ser homens maus, latifundiários perversos. Vai ver é por isso que, na prática, 95% dos produtores rurais estão “fora da lei”. Todos latifundiários!
Na imprensa, cientistas e ditos “especialistas” fazem terrorismo! “Vão acabar com a água”. Sem reserva legal, a água desaparece! É por isso que a Europa não produz mais nada, certo? Falta de água. Não! Não estou dizendo que aquele deva ser o nosso modelo, mas cobro que parem com o catastrofismo estúpido. Que país do mundo tem preservada a área de florestas que tem o Brasil? Por que esse discurso ensandecido, como se estivéssemos à beira de uma catástrofe e como se a recuperação de mata nativa fosse uma questão de sobrevivência? Por acaso o Brasil está tão “pelado” de mata nativa quanto a França, a Alemanha, Inglaterra ou os EUA? Ah, tenham paciência! Se o código que Aldo propõe for aprovado e respeitado, o Brasil será um santuário ecologicamente correto!
E para encerrar: “Aumento de produtividade” passou a ser, agora, a resposta metafísica da turma, como se isso pudesse ser conseguido da noite para o dia; como se o Brasil pudesse diminuir a área plantada amanhã e depois compensar o estrago num estalar de dedos. Não, valentes! O Brasil precisa aumentar a produtividade sem perder área de produção, entenderam?
Coloquem os seres humanos na equação. O homem não é uma besta alienígena que está ali só para atrapalhar a natureza e a biodiversidade!
Por Reinaldo Azevedo