quinta-feira, 5 de maio de 2011

Como alimentar a humanidade no século XXI

Quando amanhece, uma única preocupação habita a “mente” dos seres vivos: obter alimento para sobreviver por mais um dia. Os insetos devoram as folhas, e os pássaros saem á procura de insetos. A exceção é o Homo sapiens. Nossa espécie aprendeu a produzir comida com tal eficiência que a cada ano diminui o número de pessoas dedicadas a essa tarefa. Desde que nos lançamos à agricultura, nossa população explodiu. A maioria de nós não participa da produção de alimentos e desconhece quão frágil é esse sistema. Basta um desequilíbrio, como ocorreu nos últimos anos, para a quantidade de alimentos diminuir, espalhando a fome. Nessa hora vale recordar os dilemas envolvidos na produção de alimentos.
Direta ou indiretamente quase tudo o que comemos se origina da agricultura. Podemos comer o milho ou a vaca que comeu o milho, mas a cada boca humana que habita este planeta corresponde um lote imaginário de terra cultivada. É lá que cresce a sua alface, é lá que pasta a vaca que produz o leite que você bebe. Tente imaginar o lote que produz suas refeições ao longo de um dia. Agora imagine um lote como esse para cada habitante do planeta. Entre 1900 e 1950, a população humana cresceu a uma taxa correspondente a 10 milhões de pessoas por ano. Entre 1990 e o ano 2000, essa taxa subiu para 100 milhões de novas bocas por ano. Hoje somos 6 bilhões de pessoas e, embora a população cresça mais lentamente, mesmo assim a cada ano, nos próximos 25 anos, será preciso aumentar a produção de alimentos para saciar 90 milhões de novas bocas. Some a esse desafio a tarefa de acabar com os 50 milhões de famintos e você terá a real dimensão do problema.
Para alimentar esse número crescente de pessoas, só existem duas possibilidades. A primeira, aumentar a área do planeta dedicada à agricultura, criando um novo lote imaginário para cada ser humano que nasce. É fácil fazer as contas e descobrir que será preciso dobrar a área plantada. A segunda possibilidade é diminuir o tamanho do lote necessário para alimentar cada pessoa. Isso será possível aumentando a quantidade de alimentos produzidos em cada metro quadrado ou eliminando de nossa dieta alimentos que exijam áreas maiores.
A solução adota pela humanidade entre 1950 e 2000 foi aumentar a produtividade. Nesse período, a produção de alimentos multiplicou-se por três, enquanto a área plantada aumentou 30%. A razão foi a introdução de novas tecnologias, como o adubo químico, os pesticidas e novas variedades de vegetais, a combinação dessas tecnologias recebeu o nome de Revolução Verde e valeu o Prêmio Nobel da Paz para o cientista americano Norman Borlaug. No México, entre 1950 e 1990, a produção de trigo saltou de 0,6 para 4,5 toneladas por hectare. Imagine o que teria acontecido com as florestas se a produção de alimentos tivesse se expandido sem a introdução de novas tecnologias, somente aumentando a área plantada.
O desafio para as próximas décadas é semelhante, mas agora a agricultura enfrenta resistências que não existiam no passado. Parte da população dos países desenvolvidos (muito bem alimentada) é ferozmente contra o aumento da área ocupada pela produção de alimentos e a conseqüente destruição dos ecossistemas. Ao mesmo tempo, existe uma reação contra a introdução de novas tecnologias e um desejo de voltar a métodos menos intensivos de produção. O que as pessoas têm dificuldade de entender é que essas propostas são incompatíveis com o aumento da quantidade de alimentos. A realidade é que só existem três saídas: aumentar a área agrícola, aumentar a produtividade ou torcer para que uma guerra ou epidemia diminuam a população do planeta. De uma maneira ou de outra, teremos de fazer nossa escolha.