quinta-feira, 12 de maio de 2011

A herança do MST na Bahia




No sul do estado, 3 000 pessoas vivem do roubo de eucalipto, que é convertido

em carvão e, depois, consumido por siderúrgicas do Sudeste.

O sul da Bahia lidera a produção de celulose no país. Em uma área vinte vezes maior que a da capital do estado, Salvador, os gigantes Fibria, Veracel e Suzano empregam 15000 pessoas e produzem 22% da pasta de madeira nacional. Até o fim da década passada, essas três indústrias sofreram duas dezenas de ataques do MST, que destruíram propriedades e devastaram as lavouras de eucalipto. Há cerca de três anos, o MST concentrou-se em uma região mais próxima da capital – mas deixou no sul do estado um legado de saques contínuos que, agora ameaçam a economia e o ambiente. A Polícia Militar da Bahia estima que 3 000 pessoas passaram a viver do abate sistemático de árvores. A madeira abastece 4 000 fornos ilegais usados para a confecção de carvão e manuseadas por crianças. As tentativas das autoridades de impedir o crime não vêm surtindo resultado. Há dez dias, policiais conseguiram apreender quarenta caminhões carregados de troncos roubados da Fibria e da Suzano. Mas ninguém foi preso. “Eles têm informantes ao longo das estradas e fogem antes de chagarmos”, diz o major da Polícia Militar Ivanildo da Silva, responsável pela segurança da região. A Suzano teve prejuízos de 135 milhões de reais desde 2007 e a Fibria, de 13 milhões de reais só no ano passado.
A cadeia da bandidagem é complexa. Na base, estão os pobres dos municípios de Mucuri, Nova Viçosa e Alcobaça, que obtêm renda de 600 reais mensais para produzir carvão ilegal para atravessadores que abastecem siderúrgicas de Minas Gerais e do Espirito Santo. Confiantes na impunidade, carvoeiros aliciadores de mão de obra e chefes da Máfia do Carvão agem à luz do dia e procuram justificar seus crimes com o surrado discurso do problema social. “Tem muito eucalipto aqui e eu não tenho outra coisa para fazer. Roubo mesmo”, diz Robson dos Santos Lima. Toda vez que a polícia baiana aprende carvão ilegal, a quadrilha reage. Em seu mais recente ato de retaliação, os criminosos atearam fogo em um ônibus que transportava 25 funcionários da Fibria. Ameaças e incêndios são rotina. As queimadas já atingiram 19 000 hectares de florestas de eucalipto. Além de lançarem no ar uma quantidade de monóxido de carbono equivalente a quatro meses de emissões da frota baiana de veículos, os criminosos impedem que as empresas explorem a madeira de maneira sustentável na fabricação de celulose.
Vinícius Segalla